Por Fabian Chacur

Com Possibilidades, que acaba de sair no Brasil pela nova gravadora Label a., a cantora e compositora Tita Lima nos convida a viajar pelas 11 faixas do álbum no setor V.I.P., sem impor condições ou restrições. Venha. E eu fui. E me dei bem!

Tita estudou e morou no exterior, trabalhou com cinema e como técnica de som, foi mãe, enfim, fez muita coisa, embora ainda seja bem nova. Após participar de alguns discos alheios, lançou o seu próprio nos EUA em 2007, 11:11, infelizmente inédito no Brasil.

Possibilidades dá continuidade a essa história e é considerado como melhor resolvido do que o primeiro por sua autora. Como entrei nessa história aqui, por ora acredito nela e vou seguindo adiante. Uma hora eu o ouço para tirar minhas próprias conclusões.

A abertura de Possibilidades fica por conta da jazzy faixa título, que muda de andamento e língua (tem até francês no meio) como se fosse uma espécie de catálogo de possibilidades musicais, sonoras, de rumo. Um belo abre.

Mundo Pequeno vem a seguir e é a minha favorita, com seu baixo anguloso e funkeado, o diálogo entre guitarra, baixo e percussão e a voz doce de Tita nos impulsionando rumo a um mundo de sonhos e de êxtase.

Espécie de sambossa enigmático, Smile mostra como é possível fazer música brasileira em outra língua (no caso, inglês) sem cair na caricatura, com direito a sutilezas instrumentais e suavidade.

Ciranda é um baião, um dos ritmos mais fantásticos dessa fantástica música brasileira, e felizmente de novo explorado no pop brasileira, nos últimos tempos. Gonzagão e Gonzaguinha curtiriam ouvi-lo, pois sentiriam que ele é um baião no Tita Lima way. Nada de cópias.

Held’s Trip Interlúdio, do inteligente e talentoso guitarrista Guilherme Held, poderia estar em After Bathing At Baxter’s (1967), do Jefferson Airplane, e esse é um baita elogio vindo de mim, fã intenso dessa banda psicodélica americana.

Só o Começo, do compositor e tecladista Rogério Rochlitz, começa serena para depois entrar em um ritmo balançado bem brazuca e bem pop, para dançar e se sentir no início dos anos 70, entre velhos e novos e eternos baianos tropicalistas.

Da mesma lavra de Mundo Pequeno (e da mesma dupla, Tita Lima/Adrian Quesada), Vendendo Saúde e Fé vem para enfiar mais funk de verdade, psicodelismo e swing em nossas veias. Sensacional!

Reler música alheia é para quem sabe. Um Girassol Da Cor do Seu Cabelo, dos irmãos Borges e conhecida na voz de Beto Guedes, ganhou ar introspectivo e delicado, quase folk eletrônico, de Tita. Muito bacana.

Interlúdio (do guitarrista Alex Painter) é rapidinha e blueseira, e serve como introdução à envolvente Jardim, com ecos de Ry Cooder, blues psicodélico e até um dedinho de pós-punk.

O disco acaba com uma espécie de bossa-xote, Maria Tô Pra Voltar, de Carlos Pontual, espécie de lugar-tenente de Nando Reis e ótimo guitarrista, violonista e compositor. Pronto, acabou.

E aí a gente ouve de novo, de novo, de novo…

Ah, quase ia me esquecendo: Tita é filha de Liminha, ex-mutante e lendário produtor de Titãs, Paralamas, Gil e quem você imaginar. Ele, por sinal, toca baixo em Jardim. Mas aqui ele é apenas coadjuvante. Sua filha é protagonista, e das boas. O ouvido está coçando para conferir o que virá a seguir…