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Cazuza, a falta que esse exagerado faz

Por Fabian Chacur

Nesta semana, mais precisamente na quarta-feira (7), completaremos 20 longos anos sem Cazuza. O roqueiro se foi naquele triste sete de julho de 1990 e deixou um vazio não só no rock, como na música brasileira como um todo.

Tive a honra de entrevistá-lo duas vezes, e de ver um de seus shows na carreira solo. Vou relembrar alguns momentos desses três contatos de forma aleatória, sem querer ser detalhista demais. O que me vier à mente.

Em 1987, vivi o início de minha carreira jornalística em tempo integral, após dois anos de frilas conciliados com um emprego, digamos, convencional. E naquele ano, participei da entrevista coletiva que Cazuza concedeu em São Paulo para divulgar  Só Se For a Dois, seu segundo trabalho solo.

A coletiva ocorreu no bairro do Paraíso, onde ficava na época a sede paulistana da gravadora Polygram, hoje Universal Music. Era a estreia dele pelo selo, após lançar o álbum que inclui Exagerado em 1985 na Som Livre.

Gravei a entrevista. Tenho essa fita até hoje, e um dia a transcreverei na íntegra para os leitores de Mondo Pop. Por enquanto, ofereço recordações superficiais. Ele foi extremamente simpático com todos.

Ele respondeu todas as nossas perguntas, sem frescuras, e após o final, tirou fotos e deu autógrafos a todos que os solicitaram, eu incluso. Também tirei fotos com ele. Uma saiu meio ruim por causa do flash, e infelizmente é a única que me sobrou, pois a outra foi roubada por uma sobrinha mala. Que ódio! E tenho fotos da coletiva, essas bem legais. Preciso escaneá-las, também.

Naquele mesmo dia de 1987, tive a oportunidade de conhecer um de meus ídolos na área do jornalismo musical, o inimitável Ezequiel Neves, com quem também tirei foto, junto com o amigo Humberto Finatti.

Na época, trabalhava na editora Imprima, coordenando as revistas de textos de lá, que se notabilizou pelas revistinhas com cifras para violão e guitarra. Um tempo bom, de aprendizado e de ter a chance de conhecer muita gente.

Em 1988, quando começava no Diário Popular (hoje Diário de S. Paulo), pude rever Cazuza quando ele veio divulgar, com show no extinto (e então badaladíssimo) Aeroanta, no largo da Batata, em Pinheiros.

Lembro que tomei um susto (que disfarcei) ao vê-lo bem mais magro do que no encontro anterior. Mas a energia, a simpatia e as ideias bacanas continuavam ali, firmes. O fato de ele portar o vírus HIV ainda não havia se tornado público. Pena que vacilei e não vi aquele show.

Para minha sorte, no final de 1988 Cazuza voltou a São Paulo, desta vez para tocar no antigo Palace (hoje CitiBank Hall) e divulgar seu fantástico O Tempo Não Para- Cazuza Ao Vivo. Um show inesquecível.

No início, apesar da energia do roqueiro e de sua banda, a plateia reagiu de forma um pouco fria. Isso, mesmo com o início arrepiante, com o cover de Vida Louca Vida, de Lobão, que no entanto a interpretação apaixonada do autor de Exagerado tornou sua para sempre.

Mesmo irritado, ele tocou o barco. Aos poucos, o público foi entrando no espírito anárquico do artista e se soltou, dançando, pulando, cantando junto e transformando o emepebístico Palace em uma arena rock and roll.

Aí, Cazuza se soltou, agradecendo o apoio, dizendo que queria fazer shows para pessoas bem loucas e descontraídas, sem frescuras, e proporcionando aos presente um show de maravilhoso rock and roll.

Exagerado, Faz Parte do Meu Show, a então recém-lançada O Tempo Não Para (que Simone regravou de forma canhestra), Brasil (idem com Gal Bosta, digo, Costa) e Codinome Beija-Flor, só para citar alguns dos clássicos tocados por ele, fizeram a minha noite e a dos milhares de fãs presentes inesquecível.

No Diário Popular, no extinto caderno cultural intitulado Revista, coisa inédita para a publicação: duas críticas. Uma de minha autoria elogiando o show e a atitude de Cazuza em pedir a participação de todos.

Outra do editor (e meu mestre) Osvaldo Faustino criticando o cantor pelo fato de ele ter intimado os presentes a participar. Belo exercício de democracia.

E então, meses de sofrimento de vê-lo doente, da campanha idiota da revista Veja contra ele, o lançamento do inconsistente e duplo Burguesia em 1989 (na verdade uma desculpa para alguém muito doente conseguir se manter vivo, sem sombra de dúvidas) e, em 1990, a morte precoce aos 32 anos.

Duas curiosidades, uma engraçada, outra mórbida. A primeira: no lançamento de Burguesia, a Polygram realizou uma festa na qual todos recebiam o LP de vinil duplo. Seis deles vieram com cupons, incluindo o meu. Dois desses seis foram sorteados e ganharam viagens para os Estados Unidos. Eu perdi. Foi o mais perto que fiquei, até hoje, de ir até o exterior…

A outra é quase macabra. No início de 1989, a morte do roqueiro do bem parecia iminente. Então, meu editor na época, Danilo Angrimani Sobrinho, pediu-me uma matéria sobra a carreira de Cazuza, para ficar na gaveta e ser publicada rapidamente no caso da morte do artista. Fiz a contragosto, rezando para que nunca fosse publicada.

Se a morte acabou sendo inevitável, ao menos demorou um ano e meio para que aquela matéria “mortuária” chegasse às páginas do jornal. Mas uma ironia: na época, a redação ainda era na base das laudas, edição na raça etc. E a matéria havia sido feita quando ainda não se sabia como seria Burguesia.

Nem o seu título, que durante meses foi divulgado como A Volta do Barão. Quem publicou a matéria não se preocupou em revisar isso, e foi como saiu. Ou seja, o leitor do finado Dipo “ganhou” um álbum inexistente de Cazuza…

Cazuza foi um roqueiro perfeito. Voz cheia de energia que superava defeitos técnicos do tipo língua presa, letras maravilhosas e melodias sempre trazidas por parceiros inspirados. O que ele não teria feito nesses 20 anos, se ainda estivesse entre nós… Paciência, não era para ser. Descanse em paz, exagerado!

3 Comments

  1. Vê lá como fala da Gal mocinho!

    Saudações Chacur por ter compartilhado conosco estas lembranças.

  2. admin

    July 16, 2010 at 2:16 am

    A Gal já não acerta a mão há muitos e muitos anos, cara Carla. Virou uma chata de galochas furadas ehehehehehe Mas respeito o passado de glórias da moça,nas décadas de 60 e 70. E não tem o que agradecer, eu é que fico contente de alguém ter lido essas maltraçadas linhas de computador. Volte sempre!

  3. Claudio Romano

    July 21, 2010 at 9:04 pm

    Puxa vida!!!! Quantas boas lembrancas…………
    De exagerado, Cazuza nao tinha nada, sua musicas, seu jeito, no mais completo balanco com o Universo.
    Desejaria que muitos artistas de hoje em dia tivessem um pouquinho de Cazuza…………..

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