Por Fabian Chacur

Aos 65 anos, Bryan Ferry continua sendo o rei da classe no cenário do pop rock mundial.

Para quem tem dúvidas, recomendo ouvir agora mesmo Olympia, que a EMI acaba de lançar no Brasil.

Minha única queixa será feita logo de cara, só para entrar logo a seguir no que de fato interessa: a edição brazuca não inclui as faixas bônus lançadas no exterior, que são releituras de Whatever Gets You Thru The Night, de John Lennon (do álbum Walls & Bridges, de 1974) e One Night, hit na voz de Elvis Presley.

De resto, é uma festa só. Ferry se mantém fiel à sonoridade que moldou ainda no Roxy Music lá pelos idos de 1976 com o álbum Siren, depois arredondada em maravilhas como Manifesto (1979) e Avalon (1982).

A vibe de Ferry é bem noturna, com um clima dançante com ecos de soul, disco music e pop sempre vestido com sonoridades inovadoras, eletrônicas e também acústicas e sofisticação acessível.

As baladas matadoras, daquelas de cortar os pulsos, sempre aparecem, assim como releituras cirúrgicas de clássicos pinçados do repertório da música pop/rock/folk/country.

Olympia, mais uma vez com uma bela mulher na capa (a modelo Kate Moss), tem início com a arrasadora You Can Dance, de botar fogo em qualquer pista de dança logo de cara.

Alphaville vem a seguir para prosseguir na missão pista cheia, sendo seguida pelas mudanças de andamento de rock para quase reggae para pop total de Heartache By Numbers.

O primeiro momento balada é a lancinante Me Oh My, com citações de hits pop e interpretada no fio da navalha por esse fantástico crooner rocker, uma das vozes mais belas e mais bem utilizadas da história da música popular em qualquer formato e qualquer época.

Shameless nos traz de volta aos momentos chacoalhantes, encerrando o que seria o lado um de um disco de vinil.

O lado B imaginário para quem tem CD começa com a releitura de Song To The Siren, lançada em 1967 por Tim Buckley e cujo título remete ao seminal álbum Siren já citado acima, aquele de Both Ends Burning e Just Another High.

Após ouvir a versão de Mr. Ferry e confessando não conhecer a gravação original, creio ser difícil acreditar que essa música não é dele, tal a forma que o cara se apossou da canção alheia.

Outro cover vem a seguir: No Face No Name No Number, do genial Steve Winwood e sucesso com o Traffic também em 1967.

BF Bas (Ode To Olympia) é o último momento dançante do disco, e finaliza essa vertente no trabalho com rara habilidade.

Reason Or Rhyme segue aquela linha blueseira e de clima noturno que ele fez várias vezes nesses seus quase 40 anos de carreira, e com a mesma inspiração de sempre.

Para encerrar um disco perfeito, Tender Is The Night soa como a canção do finalzinho da noite, com acompanhamento esparso, interpretação cirúrgica e melodia delicada e belíssima.

Olympia é arte, é música pop, é para as pistas de dança, é para se ouvir com atenção, é para vibrar, é para curtir até cansar.

Como de praxe, Mr. Ferry reuniu muitos craques da música para acompanhá-lo, entre os quais Nile Rodgers (Chic), Dave Gilmour (Pink Floyd), colegas de Roxy Music (que volta e meia faz shows, bem que podiam vir ao Brasil…), Flea (Red Hot Chili Peppers)…

Nem é preciso dizer que meu atual sonho de consumo é achar o disco com as duas faixas bônus que ficaram de fora do CD nacional…