Por Fabian Chacur

De todos os músicos brasileiros em todas as eras, Sebastião Rodrigues Maia (1942-1998) foi quem melhor conseguiu assimilar os parâmetros da soul/funk/black music americana.

Mais. Tim Maia conseguiu misturar essa sonoridade ao caudaloso manancial da música brasileira, gerando um produto único.

O legado desse eterno síndico da MPB sem fronteiras continua indispensável.

A gravadora Universal acaba de lançar uma caixa com 8 CDs e um DVD que compila uma parte importante desse potente e inesgotável acervo sonoro.

São oito álbuns de carreira, a saber: Tim Maia (1970), Tim Maia (1971), Tim Maia (1972), Tim Maia (1973), Tim Maia (1976), Tim Maia (1980), O Descobridor dos Sete Mares (1983) e Sufocante (1984).

Se ele não tinha criatividade para dar nome a seus álbuns, o mesmo não ocorria na hora de compor as canções e gravá-las nos mesmos.

Os discos lançados entre 1970 e 1973 foram seus quatro primeiros, nos quais não só solidificou rapidamente sua fusão de funk, soul e jazz com samba, forró, baião e o que mais pintasse, como se mostrou uma verdadeira usina de sucessos.

Inteligente, Dom Maia sempre soube se cercar de músicos e compositores com seu mesmo nível de exigência artística, nomes como Hyldon, Cassiano e Márcio Leonardo, entre outros.

Resultado: uma sequência de tirar o fôlego de clássicos do pop brasileiro, entre os quais Primavera (Vai Chuva), Azul da Cor do Mar, Cristina, Coroné Antonio Bento, A Festa de Santo Reis, Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar), Canário do Reino e Réu Confesso, só para citar alguns.

Após essa fase inicial iluminada, Tim entrou na seita Universo em Desencanto e lançou dois discos independentes fortemente ligados ao soul psicodélico, os antológicos Tim Maia Racional Volumes 1 e 2.

Livre dessa crença, Tim voltou à antiga Polygram em 1976 com um disco no qual mantinha fortes elementos da sonoridade dos álbuns “Racionais”, com direito às marcantes Rodésia e Dance Enquanto é Tempo.

Em 1980, após gravar discos de sucesso na Som Livre, Warner e EMI Odeon, Dom Maia retornou à Polygram para mais um trabalho impecável, no qual se destacam os hits Está Difícil de Esquecer e Você e Eu Eu e Você (Juntinhos).

Em 1983, Tim resolveu experimentar de novo a independência, assinando com o pequeno selo Lança, cujo acervo depois seria incorporado ao da Polygram/Universal.

Embora com uma pegada um pouco mais pop, o Síndico não perdeu a inspiração, gravando pelo menos dois momentos antológicos de sua carreira neste álbum, a sacolejante O Descobridor dos Sete Mares e a balada matadora Me Dê Motivo.

Sua ligação com a Lança acabou em 1984 com o lançamento de Sufocante, disco que, embora seja ótimo, é provavelmente o mais fraco desse pacote. Mas garanto que ele é melhor do que discografias inteiras de muitos artistas metidos a besta por aí… Destaco as faixas Bons Momentos e Quero Te Dar (Desejos) como os pontos altos.

Como belo complemento ao pacote de áudio, a caixa Universal inclui um DVD que havia sido lançado anteriormente pela Sony BMG em 2007.

Trata-se de Tim Maia In Concert, show gravado ao vivo em 1989 no Hotel Nacional do Rio no qual foi acompanhado por uma orquestra e sua banda Vitória Régia.

Com qualidade técnica ótima, o show foi exibido como especial pela Globo na época, e traz no repertório momentos marcantes do repertório do genial cantor, compositor e músico, como Vale Tudo, Do Leme Ao Pontal, Sossego, Coroné Antonio Bento e Me Dê Motivo.

Os CDs incluem encartes com letras e fichas técnicas. Também faz parte do pacote um livreto com 16 páginas trazendo fotos e informações sobre a carreira de Dom Maia e dos discos.

Universal, a caixa, é um verdadeiro tesouro que vale cada centavo que você pagar nela. E o mais incrível é pensar que, mesmo contendo oito CDs e tantas músicas boas, inclui apenas uma parte da história. O cara era, com o perdão da palavra chula, foda mesmo!

Veja Você no especial da Globo, com Dom Maia arrasando: