Por Fabian Chacur

Continua repercutindo de forma intensa a notícia de que Maria Bethânia teria obtido (e obteve mesmo, pelo visto) a autorização para captar aproximadamente  R$ 1.3 milhão através da Lei Rouanet (promulgada pelo governo federal) para montar um blog de poesia.

Tudo quanto é tipo de opinião já rolou nas mídias impressas e virtuais.

Algumas delas: é muito dinheiro para uma mídia tão enxuta como um blog, Bethânia é artista consagrada e não precisaria desse dinheiro, o projeto tem relevância cultural e merece o apoio, estão fazendo tempestade em um copo cheio d’água, pegaram a memeia para Cristo etc.

Vou apontar o que, para mim, é o nervo do dente nessa história toda.

Em minha busca por viabilizar vários projetos que criei para livros (já tenho um publicado, para quem não sabe – Os Ídolos do Pop Rock, em 2001), tive algum contato com as leis de incentivo cultural.

As três esferas de governo (municipais, estaduais e o federal) contam com legislações que permitem esse tipo de captação de recursos para obras culturais.

Após dar uma analisada, cheguei a uma triste conclusão: esse é um jogo com regras extremamente complicadas e obscuras nas quais só consegue se dar bem quem tiver megaespecialistas trabalhando a seu favor.

Logo, nada mais lógico do que ver personalidades como Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque conseguirem se beneficiar dessas oportunidades maravilhosas.

Sem um escritório especializado em leis culturais trabalhando a seu favor, são duas opções: ou estudar como se não houvesse amanhã e virar um especialista nisso, ou ver os riquinhos dominarem a cena…

Que tal leis mais claras, legítimas e passíveis de serem aproveitadas por todos, e não só por quem consegue superar suas intermináveis minúcias? Com a palavra, a classe política e os governantes do nosso país.

E a Bethânia, que não tem nada a ver com isso, fará seu blog de 1.3 milhão com suas poesias e textos dos Fauzi Araps da vida…

Fera Ferida, de Roberto e Erasmo Carlos, com Bethânia (ao vivo):