Nara Leão (1942-1989) pode ser considerada como uma das figuras chave da história da música brasileira.
Em seus curtíssimos 47 anos de vida, a cantora nascida no Espírito Santo e criada no Rio de Janeiro ajudou a revelar novos compositores, resgatou outros importantes e teve participação importante no surgimento da bossa nova.
Recentemente, sua obra foi resgatada com brilhantismo em CD e DVD por Fernanda Takai, em projeto concebido de forma brilhante por Nelson Motta.
Para quem deseja mergulhar no universo musical desse ícone da nossa música, uma boa dica é ler Nara Leão – Uma Biografia, escrita por Sérgio Cabral (o pai), um profundo conhecedor de nossa música.
De forma sisuda mas fluente, Cabral dá uma ótima geral por toda a vida de Nara, incluindo o complicado relacionamento com a irmã Danuza, seus complexos, seus problemas emocionais e a vida particular, sempre abordada de forma classuda e sem cair em sensacionalismos baratos.
A forma como o autor fala sobre o tumor cerebral que acompanhou a cantora em seus últimos dez anos de vida é de uma classe elogiável.
Ainda muito jovem, no final dos anos 50, a dona dos joelhos mais famosos do Brasil na década seguinte participou de forma decisiva no surgimento da bossa nova, abrigando encontros de grandes nomes que seriam decisivos para o estilo.
Depois, soube se manter aberta à aproximação com outros estilos musicais, ajudando a resgatar nomes seminais de outras gerações como Cartola e a lançar e divulgar gente como Zé Keti, João do Vale, Edu Lobo, Chico Buarque, Fagner e inúmeros outros.
Seu talento e bom gosto, aliados a uma voz gostosíssima e que fugia do clichê vozeirão à toda altura, foram decisivos para empurrar a MPB rumo a um nível de excelência encarado por poucas músicas populares do mundo.
Afora algumas informações incorretas e nomes grafados errados, felizmente em quantidade pequena, Nara Leão – Uma Biografia é um livro indispensável para quem é apaixonado por nossa música.
Outro grande mérito da biografia é uma detalhada discografia, feita com extrema competência e detalhismo por Paulo Cesar Andrade.
Ouça João e Maria, com Nara Leão e Chico Buarque:
May 14, 2011 at 2:53 am
Eu procuro já faz um tempo aquele box/cubo com os discos clássicos da primeira fase . Se tivesse que definir a Nara em poucas palavras , eu diria que ela é uma perfeita mistura entre inteligência e elegância musical , traduzida através de uma voz teoricamente “pequena” , mas muito PRECISA . Várias vezes na vida , menos é mais .
May 17, 2011 at 1:30 am
Prefiro o “fiozinho de voz” da Nara Leão do que certos vozeirões exagerados e sem rumo que existem por aí. Você matou a charada: a mulher era de uma inteligência e sensibilidade musical que a fazia engolir a concorrência. E vamos combinar: esse cubo, que eu também não tenho, é beeeeeem bacana. Por enquanto, vou me contentando com as duas coletâneas que tenho por aqui…. Grande abraço e volte sempre, Marcelo, sua visita qualificada é sempre benvinda!!!!