Por Fabian Chacur

Aline Calixto é uma carioca radicada há muitos anos em Minas Gerais que estreou em disco há dois anos.

Estreia promissora, que nos apresentou uma cantora de 28 anos esbanjando maturidade, categoria e um jogo de cintura impressionantes.

A bela moça de cabelos encaracolados volta à cena com Flor Morena, pela Warner mais uma vez, e confirma todas as expectativas positivas criadas pelo trabalho anterior.

O espírito dos discos é semelhante, investindo em uma mistura de composições de autores famosos com jovens também promissores, e de músicos conhecidos com outros que aparecem de forma vigorosa em sua juventude.

As diferenças são sutis, mas existem e merecem ser exaltadas.

A produção, desta vez a cargo do experiente e talentoso baixista Arthur Maia (o anterior foi pilotado por Leandro Sapucahy), apostou em arranjos delicados, ênfase na bela voz de Aline e uma concentração em torno da variação instrumental de faixa para faixa.

Flor Morena não cai na mesmice em momento algum, investindo em várias vertentes de samba e trazendo, também, elementos de música latina, bossa nova e da melhor MPB no tempero.

Um dos grandes trunfos de Aline é ter uma voz cujo timbre não nos remete de imediato a alguma outra colega consagrada, o que não é pouco no universo atual em que a gente parece ouvir Marisas, Gals, Calcanhotos e Zélias covers a cada momento.

Outra virtude é a moça cantar cada palavra e cada letra deixando claro saber o sentido de tudo o que interpreta, passando ao ouvinte muita emoção e convicção sem apelar para gritaria ou excessos técnicistas dispensáveis.

O repertório é bom como um todo, mas posso destacar Gemada Carioca (feita sob encomenda para ela por Martinho da Vila), Cabila, Ecumenismo, Conversa Fiada e Coração Vulgar. Vale ouvir da faixa 1 à 14, sem interrupções, para sorver cada acorde, cada frase melódica, cada batuque.

Entre os músicos, merece ser destacado o excelente violonista Thiago Delegado, que acompanha a intérprete desde o começo de sua carreira.

Chegando aos 30 anos de idade, Aline Calixto mostra uma rara capacidade de ser ao mesmo tempo sofisticada e popular, simples e elaborada, emocionante e contida, inteligente e acessível.

Se toda cantora que se metesse a cantar “samba meu” tivesse o alto nível de qualidade de Flor Morena, seria lindo!