Por Fabian Chacur

Quando entrevistei Zeca Pagodinho pela primeira vez, em 1988 ou 1989, no escritório da gravadora BMG em São Paulo (ficava na rua Dona Veridiana), ele me falou uma frase marcante:

“Sei falar com o povão e sei falar com os bacanas”.

Essa frase se encaixa feito luva para definir como encarei a primeira entrevista que tive a oportunidade de fazer com Seu Jorge nesta quarta (20), para falar de seu novo CD, Música Para Churrascos Vol.1, primeiro de sua associação com a Universal Music.

Simples e simpático, o cantor, compositor e músico carioca é daquele tipo de pessoa que cativa pela impressionante capacidade que tem de expressar suas ideias de um jeito que qualquer um pode entender.

Alie-se essa característica ao fato de ele ser um ótimo músico e um ótimo ator, e temos aí um astro de verdade, desses que não precisa de mil seguranças, um milhão de assessores e muita marra para se impor por aí. Sua presença basta para segurar a onda.

Isso explica o porque esse cara é um nome conhecido mundialmente e também o porque se tornou extremamente popular aqui no Brasil nos últimos tempos.

Seu novo projeto inclui dez músicas e é o primeiro de uma trilogia dedicada ao tema.

“Esse título para o projeto surgiu quando pensei no que um churrasco no Rio na verdade é, que é mais a coisa do mutirão, palavra que vi que nem existe em outra língua, quando pesquisei no google. O pessoal se reúne no fim de semana para dar uma relaxada, aí um traz a carne, outro a cerveja, outro o gelo…”

As canções retratam personagens como o do casal de velhos que tinha tudo para se dar bem, mas cuja mulher fica viciada em bingos e gasta uma grana.

Tem a boazuda doida que acaba ficando com o cara errado, a amiga da mulher que enlouquece o pobre maridão, e por aí vai.

“Retratei situações que ocorrem nesses encontros. O disco traz temas para a gente se divertir, um bom começo para a trilha sonoro dessas reuniões, onde Zeca Pagodinho e Fundo de Quintal nunca podem faltar”.

O artista carioca vê apenas um elemento constante em seus trabalhos, desde os tempos em que foi vocalista do grupo Farofa Carioca, no final dos anos 90.

“O cavaquinho no centro do som é o que une esse trabalho aos outros. Acho que o cavaquinho pode entrar em qualquer contexto musical, não só no samba. O repertório e cada disco são diferentes entre si, pois tem o tempo, as minhas experiências, o amadurecimento”.

Com cinco músicas já prontas para o segundo volume da trilogia, Seu Jorge pensa em gravar esse próximo disco em Los Angeles, com o mesmo elenco de músicos.

“Tenho uma parceria forte com o produtor Mario Caldato Jr. (que mixou o novo CD, n.da r.), e ele tem um belo estúdio lá, com muitos instrumentos bacanas que teríamos dificuldades para trazer para o Brasil. Vamos visitar outras sonoridades, com o mesmo time”.

Música Para Churrasco tem toda a cara de virar projeto multimídia, e Seu Jorge não descarta essa possibilidade.

“Pode virar um roteiro para cinema e TV, sim, mas não comigo escrevendo, pegaria gente competente dessa área para fazer, alguns amigos, como o Lázaro Ramos. Gostaria de explorar a diversão e o drama. Pode ser como o Ó, Paí, Ó, que tem esses dois lados. Chamo essa ideia de Rua X”.

Após belas e bem-sucedidas experiências de gravar ao lado de Ivete Sangalo e Alexandre Pires, Seu Jorge se diz mais aberto do que nunca a experiências com outros gêneros musicais.

“É preciso haver intercâmbios sempre, pois informação e inovação empurram o mundo para a frente. Não tenho problemas com nenhum outro estilo musical, sou a favor da aproximação dos generos musicais”.

Além de ter participado com sucesso de Tropa de Elite 2, maior bilheteria da história do cinema nacional, Seu Jorge também teve uma coletânea na série Perfil, da Som Livre, que só aborda artistas do primeiríssimo time.

Ele aproveita para fazer um elogio ao universo da música sertaneja.

“Acho que o Chitãozinho & Xororó, o Zezé Di Camargo & Luciano e o Leonardo souberam se organizar, plantaram um cenário exemplar, e hoje Luan Santana e Paula Fernandes, entre outros, colhem esses frutos, também”.