Por Fabian Chacur

Quem é viciado em fuçar fichas técnicas de discos de sucesso certamente já viu o nome David Foster impresso nelas inúmeras, mas inúmeras vezes mesmo. O currículo deste produtor, compositor e músico canadense equivale a uma verdadeira lista telefônica de gente vip. Impressionante.

Em Hitman (lançado no exterior pela editora Pocket Books, ainda sem edição brasileira) autobiografia escrita com o apoio do roteirista e ghostwritter Pablo F. Fenjves, ele mergulha de cabeça no que de melhor fez nesses mais de 40 anos de trajetória dedicada à mais nobre das artes, a música.

O enredo parece ficção, de tão repleto de contratempos, viradas inesperadas e encontros marcantes.

Logo no início da carreira, nos anos 60, ele teve a oportunidade de viajar para Londres e tocar na banda de apoio de Chuck Berry, conhecer os Beatles e, já com o retorno marcado, tocar com o então iniciante Cat Stevens e ser obrigado a recusar convite para acompanhá-lo em shows.

Depois, integrou a banda de Ronnie Hawkins, o mesmo que teve a acompanhá-lo músicos que depois montariam a seminal The Band, e foi posteriormente demitido com louvor pelo ex-chefe, meses depois, com direito a ser rotulado como um “cadáver” nos shows, por sua falta de presença no palco.

Viveu momentos de sucesso próprio como integrante da banda Skylark, one hit wonder graças à música Wild Flower, e aos poucos foi virando músico de estúdio e produtor.

Após trabalhar como músico e mesmo como produtor em discos de nomes do naipe de George Harrison e Daryl Hall & John Oates, começou a se tornar famoso ao participar com destaque do álbum I Am (1979) um dos grandes sucessos da carreira do Earth, Wind & Fire.

Na célebre banda funk, ele virou parceiro do líder Maurice White no papel de tecladista e coautor de clássicos como After The Love Is Gone e In The Stone. O Grammy que ganhou como um dos autores de After The Love Is Gone tornou-se um belo cartão de visitas para ele.

A partir daí, a carreira de Foster como produtor ganhou impulso e o consagrou durante os anos 80 e 90. Ele trabalhou com Chicago, Celine Dion, Whitney Houston, Andrea Bocelli, Michael Bublé, The Corrs, Michael Jackson, Natalie Cole e Josh Groban, entre dezenas de outros.

O livro é delicioso de se ler, pois além de incluir muitas coisas de bastidores, é bastante bem-humorado, e mostra em vários momentos o autor admitindo erros de avaliação e vaciladas incríveis.

Ele, por exemplo, não aceitou o convite para produzir a trilha do filme Footloose, e insistiu para que o então apenas músico, compositor e assistente de produção Richard Marx não gravasse como artista solo, pois ele “não era cantor”. O cara não o ouviu e vendeu milhões de discos mundo afora, com sucessos como Right Here Waiting e Now And Forever.

Em relação a essas e outras vaciladas, ele tem uma frase hilariante para justificá-las: “quando erro, eu erro feio!”.

Entre outros momentos interessantes, ele conta sobre sua participação em discos de George Harrison, sobre as gravações que fez com Paul McCartney que, segundo ele, não renderam bons frutos e o fato de, embora ter feito inúmeros trabalhos e ajudado mesmo a descobrir Celine Dion, não produziu My Heart Will Go On, tema do filme Titanic que ele achava fraco…

Foster tem tanta moral no meio musical que já lançou dois CDs/DVDs com suas músicas sendo interpretadas por boa parte dos astros com os quais já trabalhou, com ele pilotando tudo nos teclados e regência.

Hitman, o livro, vale tanto para quem é viciado em conhecer tudo sobre os grandes nomes da música como por entretenimento puro, pois é uma delícia de ser lido. Boa dica de presente de final de ano, pois pode ser encontrado no Brasil em livrarias como a Cultura.

Veja After The Love Is Gone, com David Foster And Friends e Brian McKnight como intérprete principal: