Por Fabian Chacur

Há 32 anos, ele disse que “amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito”. Pois esse nosso grande amigo, um dos mais importantes nomes da história da MPB, está completando 70 anos nesta sexta-feira (26). Parabéns, Milton Nascimento, por uma carreira maravilhosa e por nos emocionar durante todos esses longos e frutíferos anos.

Milton Nascimento é na verdade várias entidades embutidas em um único ser humano. Tem a voz, que Elis Regina imaginava ser a que os anjos deveriam ter. Doce, intensa, potente, com uma forte origem naqueles timbres expressivos e envolventes oriundos das igrejas, da música gospel/religiosa de verdade, dos negros americanos, repletas de paixão, dor e esperança.

O compositor é aquele sujeito que, ao lado de parceiros iluminados como Fernando Brant, Lô Borges, Márcio Borges, Ronaldo Bastos e tantos outros, misturou Beatles, Genesis, Tom Jobim, Dolores Duran, latinidades diversas, jazz e sabe-se lá mais o quê e criou um cancioneiro repleto de canções envolventes, intensas, que nos inspiram a mostrar aquilo que temos de melhor. Que nos emocionam, nos confortam, nos animam a seguir em frente nessa vida boa e dura.

A generosidade sempre esteve nele como uma marca registrada, abrindo caminho para outros colegas, investindo em belas parcerias, cativando talentos do seu mesmo naipe, como Elis Regina, Chico Buarque, Gilberto Gil, Nana Caymmi e tantos, tantos, mas tantos outros.

Ou você seria capaz de gravar Clube da Esquina (1972) dividindo o álbum com um então adolescente e desconhecido Lô Borges, já sendo famoso mundialmente? Poucos seriam. Ele gravou, correndo um enorme risco de se dar mal. Apostou e ganhou! Bom exemplo.

A rigor, tudo o que o Bituca de Três Pontas (cidade mineira onde foi criado) gravou entre 1967 e 1985 é recomendável. Poucos artistas tiveram uma fase produtiva tão extensa como essa. Posteriormente, manteve produção irregular, mas repleta de momentos iluminados suficientes para continuarmos cultuando o seu trabalho. Vide o álbum …E A Gente Sonhando, por exemplo, um de seus CDs mais recentes. Coisa finíssima!

E para fechar é bom exaltar o intérprete, capaz de revestir clássicos alheios como A Noite do Meu Bem, Irmãos Coragem e Hello Goodbye e dar a eles nuances e instantes mágicos que nunca seriamos capazes de acreditar que existiam antes de suas regravações inspiradas.

O título de um dos discos que lançou nos anos 80, Miltons, no qual procurava mostrar várias possibiidades de sua música, dava também margem a um trocadilho, mil tons. Pois é exatamente assim que encaro Milton Nascimento. Um cara capaz de investir nos mil e tantos tons que a música possibilita apenas aos gênios como ele.

Salve, Bituca! Muita saúde, muitos anos de vida e que você ainda possa nos emocionar com sua música com eme maiúsculo. E qualquer dia a gente vai se reencontrar por aí!

Ouçam Canção da América, com Milton Nascimento: