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Quando um belo Trem Azul vira jingle banal

Por Fabian Chacur

Faz tempo que tenho vontade de escrever um texto sobre esse assunto (músicas populares que se tornam jingles publicitários), mas sempre achei um tema controverso e repleto de prós e contras envolvidos. Mas não resisti, e irei dar agora uma “viajada na maionese” levando em conta esse assunto polêmico.

Nas últimas semanas, entrou no ar campanha publicitária de uma operadora de telefonia celular usando como jingle os primeiros versos e a melodia de Trem Azul (Lô Borges-Ronaldo Bastos), música que muitos conheceram na voz inesquecível e maravilhosa de Elis Regina.

De clássico da MPB, essa belíssima canção agora vira um mero jinglezinho para tentar vender produtos, e ainda em uma regravação pavorosa, soando como uma banda ruim tentando soar como outra banda diluidora, o Jota Quest. Bobeou, é o próprio. O horror!

Certamente os autores autorizaram essa utilização e estão recebendo uma boa remuneração por ela, via uma editora de músicas. Até aí, nada de mais. Cada um faz o que quer com aquilo que é de sua propriedade autoral e intelectual. Mas é triste ver uma canção tão bela ser desvirtuada de forma tão sem imaginação.

Isso acontece toda hora, e com outras músicas igualmente incríveis.Já ocorreu com Revolution e Come Together, dos Beatles, por exemplo. Acaba de ocorrer com The Message, clássico do rap de Grandmaster Flash & The Furious Five (felizmente, usaram só a introdução instrumental, mas usaram a gravação original, pode?). Lacoste e rap, tudo a ver? Sei não…

Não nego que, em alguns casos, essa utilização de músicas conhecidas em comerciais dá super certo, e em outros até torna populares faixas que muita gente não conhecia. Mas no geral os publicitários sempre se valem de canções bem manjadas, sendo que algumas mais de uma vez.

Quando moleque, lembro-me de gênios como Zé Rodrix, Renato Teixeira e Archimedes Messina se valendo de seus talentos para criar jingles sob medida para produtos, com tanto talento que aquilo nascido só para vender produtos entrava em nossas memórias afetivas para sempre. Bons tempos. “Só tem amor quem tem amor prá dar”!

Será que aquela frase de Guerra de Gigantes, de Humberto Gessinger e gravada pelos Engenheiros do Hawaii (“juventude é uma banda numa propaganda de refrigerantes”) acabou se tornando a melhor definição para essa exploração de músicas famosas em publicidade?

Talvez eu seja muito idealista. Quero que as grandes canções sejam minhas e dos fãs de música, e não quero dividi-las com as grandes corporações. Quero ouvir Trem Azul e pensar em Elis Regina, Tom Jobim, Milton Nascimento, em situações bacanas vividas tendo essa maravilhosa canção como tema. E não em planos de utilização de telefonia celular. O sol na cabeça, sim, o celular na cabeça, não!

O Trem Azul, com Elis Regina:

9 Comments

  1. O problema maior nem foi usar a música no comercial, mas a alteração de seu significado. Se o Trem Azul era uma alusão aos televisores e a luz azul que refletia deles a noite, passando para a telefonia celular ficou bobinho e sem criatividade . Desculpe ser saudosista, mas a minha geração tá o cúmulo da falta de criatividade.

    p.s: o “Só tem amor quem tem amor pra dar” eu vi esta propaganda na faculdade e achei um barato.

    Saudações, Chacur!

  2. Esse comercial, que era da Pepsi, virou um marco na publicidade brasileira, e o jingle foi escrito e gravado pelo saudoso Zé Rodriz. Coisa fina!!!! Muito obrigado pela visita e volte sempre!!!!

  3. Acabo de receber um telefonema do Rodrix dizendo: “É muita bondade do Chacur, mas aquele jingle não era meu. Era do Sá e do Guti”:
    http://www.youtube.com/watch?v=iX5_ai6OKp0&feature=player_detailpage

  4. Bem, mirei no Zé Rodrix e acertei no Sá, é isso? rsrsrsrs Mas de qualquer forma, acho que quem canta isso é ele, heim? A voz parece… De qualquer forma, valeu pelo toque, Cláudio, e mais ainda, pelo link com o jingle, que é sensacional e inesquecível!!! Grande abraço e tuuuudo de bom!!!

  5. Nem Rodrix nem Sá! Esse link aqui diz que é só do Guti!
    http://www.youtube.com/watch?v=wHTqdPEIQfA&feature=player_detailpage
    (não deixe de ouvir, é uma versão extendida)
    Acho que a autoria desses jingles não é registrada em nenhuma editora musical, o músico simplesmente vende seu produto pra agencia de publicidade. Mas lembro-me da época em que esse jingle foi pro ar, o Rodrix tinha saído da banda e pairavam dúvidas sobre se os outros 2 conseguiriam emplacar como duo, e lembro que logo correu o rumor (confirmado depois) que esse não era um trabalho de um profissional especializado em jingles mas sim de conhecidos artistas da MPB, justamente o Sá & Guarabyra… mas a gente não tava falando de um trem? Cadê ele? Ou tá atrasado ou já passou…

  6. Para colaborar com a solução do impasse do jingle da Pepsi: composição de Guarabyra, arranjos de Zé Rodrix, interpretado por Sá, Rodrix & Guarabyra. Como Rodrix era do ramo, ficou como autor. Tanto que o áudio abaixo traz a manchete “Jingle da Pepsi criado por Zé Rodrix”. Mas o grande artista dá o devido crédito ao amigo:

    http://mais.uol.com.br/view/9p4y0ig452qu/jingle-da-pepsi-criado-por-ze-rodrix-0402CD9B326EC8914326?types=A&

    No mais, estou totalmente de acordo com o post: o sol na cabeça, sim. Espero que o jingle da telefonia ao menos desperte a curiosidade de algum moleque para conhecer a música original.

  7. Caros Neder e Cláudio: se há algo que me dá orgulho em fazer esse Mondo Pop é o fato de eu ter consciência de que tenho poucos leitores, mas que todos são extremamente qualificados, boa parte deles bem mais qualificado do que eu. Sinal de que estou conseguindo ganhar na qualidade, e não na quantidade. o que acho ótimo. Muito obrigado pelo esclarecimento, Neder, que é mais ou menos como eu me lembrava dessa história, e também a você, Cláudio, por ter levantado a lebre. O bacana é termos teclado aqui sobre gente brilhante como Sá, Rodrix, Guarabira e Guti. E nunca nos esqueçamos disso: só tem amor quem tem amor pra dar!!! Grande abraço e ótim 2013 para vocês!!!!

  8. Chacour, boa noite. Vi hoje esse debate e achei bacana, quero colaborar com a seguinte informação: algum tempo depois de a campanha sair doar, foi lançado um compacto simples (vinil com uma música de cada lado), com o lado A – principal – vinha “Só tem amor, quem trem…”, tamanho o sucesso do jingle. Ah, o compacto era de Sá, Rodrix & Guarabira. Eu comprei. Abraço.

  9. Claudio Foá

    May 5, 2013 at 2:34 am

    Luiz Antonio, nesse seu compacto qual é o nome do compositor? (entre parênteses, abaixo do nome da música) – não falo do intérprete, que deve estar em letras maiores, e é “Sá, Rodrix & Guarabyra”. Tá afim de negociar esse disquinho? Ou, aproveitando seu erro de digitação, por que não DOAR ele pra mim, hahaha.
    Afinal de contas, como diz o próprio artista: “Só tem compacto quem tem compacto pra doar”, hehehe.
    Abçs a todos, perdão pelo besteirol, huhu…

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