Por Fabian Chacur

Muitas vezes se questiona qual a razão de a música instrumental normalmente não alcançar a popularidade das canções com letras e refrão. Com uma certa frequência, a resposta mais simples costuma atribuir a esse tipo de trabalho musical uma preocupação maior com o virtuosismo e a sofisticação, deixando às vezes a fluência e o swing em segundo plano.

Felizmente, o músico, arranjador, compositor e produtor Rogério Rochlitz não sofre desse problema. Em seu quarto álbum solo, Móbile, o ex-integrante do grupo Jambêndola dá uma verdadeira aula de como se fazer música sem palavras ou vocais sem cair no exibicionismo ou na chamada “música para músicos”. Para curti-lo, basta sensibilidade.

Em suas 15 faixas, Móbile traz uma sonoridade quente e diversificada que inclui diversas vertentes da música brasileira, como forró, samba, chorinho e bossa nova, fundidas com jazz, funk de verdade, rock, pop e o que mais vier, tendo sempre como âncora boas melodias e arranjos que fogem do óbvio e nos proporcionam agradáveis surpresas a cada compasso, tudo construído com muito swing e consistência.

Rogério se divide entre teclados, baixo, samples, violão e outros instrumentos, e conta com o apoio de ótimos músicos, entre os quais Gileno Foinquinos (guitarras), João Parahyba (percussão), Guga Stroeter (vibrafone), Bina Coquet (violão de 7 cordas), Guilherme Held (guitarra), Bocato (trombone) e Tião Carvalho (berimbau), só para citar alguns.

Cada tema instrumental equivale a um novo e diferenciado roteiro sonoro, impedindo que o ouvinte caia na monotonia ou na mesmice um instante sequer. Prince no Sambão, por exemplo, mistura samba, funk e urbanidade/urgência pop, enquanto Berimboca adiciona latinidade a um tempero soul bastante envolvente.

O trombone inconfundível de Bocato dá o norte à swingada Bocato No País das Maravilhas, enquanto a cuíca é o eixo da misteriosa e envolvente Prótons, que ganha elementos minimalistas e por vezes soa como uma possível versão século XXI do som instrumental exótico dos anos 50 do músico americano Martin Denny. A delicada Amor Amora equivale a uma versão levemente sinfônica da música gaúcha de raiz.

Momento máximo do álbum, Paralao soa como uma espécie de bossa nova com cobertura soul psicodélica, guardando parentesco com o trabalho do genial maestro brasileiro Arthur Verocai. Mas Móbile revela novos segredos a cada nova audição.

Poderia ganhar as programções das rádios, caso elas tivessem abertura suficiente para isso. Mas pode tocar na sua própria emissora pessoal, se você quiser. Experimente e mergulhe de cabeça na deliciosa música de Rogério Rochlitz.

Prince no Sambão (clipe) – Rogério Rochlitz: