Por Fabian Chacur

A segunda noite da edição 2014 do Samsung Best Of Blues Festival trouxe como grande atração o lendário Jeff Beck, que aos 69 anos exibiu a energia e o tesão de um garoto no palco, encantando os fãs e mostrando que ninguém é considerado um dos maiores nomes da história do rock de graça. Foi o auge de uma noite de música muito, mas muito bacana mesmo, em fria noite de sábado (10) no WTC Golden Hall, em São Paulo, com casa cheia.

Tudo começou às 20h20 com uma performance bem bacana da cantora e compositora Céu, com seu som fortemente influenciado pelo reggae e repleto de elementos de MPB, rock, pop, psicodelismo e o que mais pintar. A voz da moça se mantém doce e encantadora, e sua banda de apoio esbanja pique e competência. O show acabou às 21h13 e equivaleu a uma bela abertura para o que viria depois.

Com a matadora dobradinha The Chokin’ Kind e Super Duper Love, Joss Stone entrou em cena às 21h40 com pinta de quem não estava ali para vacilar. De vestido branco, muito bem humorada e com muito pique, a jovem soul woman britânica logo soltou a voz e mostrou o porque é considerada uma das grandes revelações da última década. Com direito a maravilhas como (For God’s Sake) Give More Power To The People (hit dos Chi-Lites nos anos 70), a moça levou o público à loucura.

E aí, veio o momento histórico. Em sua terceira passagem pelo Brasil, Jeff Beck resolveu nos proporcionar um show mais roqueiro, com espaços para soul aqui e ali. Loaded abriu os trabalhos com força, destacando um ótimo vocalista e com o ex-integrante dos Yardbirds já dando provas do que viria no decorrer da apresentação, iniciada às 23h40.

Entre faixas instrumentais e outras com vocais, o repertório trouxe maravilhas do álbum Truth (1968), do Jeff Beck Group, como I Ain’t Superstitious e You Shook Me, homenagens a Jimi Hendrix do naipe de Little Wing e Foxy Lady e uma fantástica releitura instrumental de A Day In The Life, que ele gravou no álbum In My Life (1998), de George Martin, produtor dos Beatles e do próprio Beck.

Joss Stone participou do show em uma versão arrepiante do clássico I Put a Spell On You, hit de Screamin’ Jay Hawkins e também regravada pelo Creedence Clearwater Revival. Tivemos também A Change Is Gonna Come (de Sam Cooke), Wild Thing (dos Troggs e também regravada por Jimi Hendrix) e, acreditem, Nessum Dorma, clássico da música operística.

A técnica de Jeff Beck como guitarrista é uma coisa absurda. Ele tem um amplo ferramental que permitem ir desde solos melódicos mais, digamos assim, “convencionais”, até escalas rapidíssimas, riffs pesados e acordes jazzísticos, tocados sempre na hora certa e sem exibicionismo. Aliás, ele abriu bons espaços para seus excelentes músicos de apoio.

Quando o espetáculo chegou ao fim, às 01h08, deu vontade de ajoelhar e agradecer a Deus por ter tido a chance de presenciar uma performance tão intensa, tão demencial e tão tecnicamente perfeita ao mesmo tempo. Fica a torcida para que esse gênio possa voltar mais vezes ao Brasil para mostrar toda essa genialidade para que nós, mortais, possamos apreciar novamente.

I Put a Spell On You, com Jeff Beck e Joss Stone: