hai kai 2 400x

Por Fabian Chacur

A banda Hai Kai é integrada pelas irmãs Tetê Braga (vocal), Renata Braga (baixo) e Cacau Braga (bateria) e por Lucas Iessi (guitarra). Há alguns anos na estrada, vai se consolidando como uma das boas novidades do rock brasileiro da atualidade.

Tendo como base a cidade paulista de Sorocaba, o quarteto aposta em um rock ágil, bom de se ouvir e que não abre mão de letras bacanas, melodias interessantes e ritmos sacudidos.

Com o seu novo CD, No Seu Jardim, lançado pela via independente, a Hai Kai tem tudo para ampliar ainda mais seus horizontes em termos de reconhecimento perante fãs e imprensa. Em entrevista exclusiva concedida ao Mondo Pop via e-mail, seus integrantes nos dão detalhes sobre carreira, CD etc.

Mondo Pop- A banda Hai Kai foi criada em Sorocaba (SP). Como foi que o Lucas entrou no time? Ele é de lá? Ou conheceu a Renata na Unicamp e depois entrou no time?
Tetê Braga– A banda se formou em 2000 aqui em Sorocaba, e o Lucas estudava na minha classe de ensino médio. Nós começamos a tocar primeiramente somente as irmãs, e depois ele entrou e fechou o time. A Unicamp foi mesmo uma consequência da banda para o Lucas e para a Renata, foi um aprimoramento para ambos.

O CD do Hai Kai é bastante centrado nas canções, uma espécie de “rock and roll de canções”, pois todos os integrantes colocam suas energias em torno delas, sem estrelismos. Essa foi a minha impressão ao ouvir o disco. Bate com o conceito de vocês?
Tetê Braga– Sim, todos participam ativamente da composição e arranjo das músicas, cada um contribuindo com o que faz de melhor. Eu adoro criar melodias, a Rê também, a Cacau faz muitas das letras, sozinha e comigo também. Os textos dela renderam até uma comenda! O Lucas é o cara dos arranjos e produção musical.

Como foi selecionado o repertório do CD? As músicas são todas recentes ou tem origem mais antiga? E como funciona o processo de composição de vocês, já que todas as músicas são assinadas de forma coletiva?
Cacau Braga– O CD tem algumas músicas mais antigas que ganharam arranjos novos e a produção do Lucas, mas a maioria é nova. Realmente assinamos todas as músicas, pois nenhuma delas foi feita exclusivamente por um integrante só. Entendemos que, sem a contribuição dos outros, as músicas não seriam as mesmas.

O som da banda é uma mistura do rock dos anos 70 com elementos do rock atual. Quais são as principais influências que vocês sentem existir em seu som?
Cacau Braga– Não sabemos se isso acabou existindo no nosso som, mas nossas influências pessoais são muitos artistas dos anos 70 mesmo. Nós gostamos dos solos de guitarra do Led Zeppelin, Pink Floyd e também gostamos dos arranjos dos Beatles e das melodias de todos eles. Também escutamos muitos artistas que estão na ativa hoje, mas não muito guiados pelas rádios. Estamos sempre em busca de novos sons.

Vocês realizaram há pouco uma turnê pelo Canadá. Como foi essa experiência? Quantos shows, onde tocaram e que tipo de intercâmbio rolou por lá? E como surgiu o convite?
Renata Braga– Fomos convidados por tocarmos aqui no Brasil em um evento de uma agência de intercâmbios, em que os responsáveis canadenses nos assistiram e se interessaram por nosso trabalho. A partir daí, começamos a combinar uma ida para aquele país, para apresentarmos show e workshops nas high schools da província da Nova Scotia. Em outubro de 2012, ficamos um mês excursionando por toda a província, totalizando aproximadamente 30 workshops e mais de 20 shows, todos lotados e com uma receptividade maravilhosa! A experiência foi ainda mais interessante, por ficarmos hospedados em “host families”, tendo a oportunidade de conhecer a cultura canadense de forma bastante intensa, fazendo grandes amigos e muito som. Um grande amigo nosso, o cineasta, Giuliano Rossi, nos acompanhou nessa viagem, registrando nossos shows, workshops, passeios turísticos, as reações e depoimentos do público e amigos que fizemos por lá. Toda essa experiência resultou no videoclipe da música No Seu Jardim, que pode ser encontrada no disco homônimo.

As letras das canções do grupo são em sua maioria da Cacau, algo não muito comum e que aproxima a Hai Kai, nesse quesito, do Rush. Isso rolou desde o começo? Vocês encaram isso como outro diferencial interessante da banda?
Cacau Braga– No começo nós escrevíamos as letras juntos. Com o tempo, eu comecei a me aproximar mais desse meio literário e fazer mais materiais sozinha. Nunca tínhamos pensado nessa comparação com o Rush, mas é algo bem interessante sim, e acho que pode ser considerado um diferencial. A proposta da Hai Kai foi sempre ser muito ligada à literatura e cada vez mais nós estamos conseguindo isso. Tenho vários textos em mais de 20 coletâneas pelo país, além de ser membro fundador da Academia de Letras, Música e Artes de Salvador. Também em 2014 tive a honra de ganhar a Comenda Luis Vaz de Camões, reconhecida pelo Real Gabinete de Lisboa.

Como surgiu a ideia de nomear a banda como Hai Kai? Tem a ver com o estilo compacto e conciso do som e das letras feitas por vocês?
Cacau Braga– Conhecemos o estilo poético Haicai por meio da nossa mãe, que é professora de língua portuguesa. Para nós, abriu-se um universo novo, que trazia grande musicalidade poética em poucos versos e muitos significados. Achamos que isso tinha tudo a ver com o rock, com a música em si e com a nossa proposta de som. Queríamos uma música com letras mais poéticas, sem nada mastigado, que levasse o público à reflexão sobre o mundo.

Vocês já dividiram o palco com artistas como Pitty, Capital Inicial, Ira!, Kiko Zambianchi e outros. Falem um pouco sobre a importância desse tipo de intercâmbio para vocês.
Tetê Braga– É muito legal poder dividir palco com esses nomes que são referências musicais para nós. Aprendemos muito com a experiência deles e formamos boas amizades como com o Kiko Zambianchi e com o Yves Passarel.

Temos poucos grupos de rock com três ou mais garotas no Brasil. Isso tem funcionado como um bom diferencial para o Hai Kai? E porque, na opinião de vocês, a maioria das mulheres no Brasil acaba enveredando pela MPB ao invés do rock?
Tetê Braga– Não acho que ter mulheres na banda seja um diferencial, esperamos que o diferencial esteja no som, mas acredito que possamos incentivar que mais garotas toquem rock. Tem muita mulher na MPB, mas também tem muita mulher no rock and roll! Sem contar com a Pitty, posso citar várias bandas de rock de mulheres brasileiras incríveis! Acho que todas as pessoas tem que começar a ouvir mais as vozes femininas escondidas pelo Brasil!

Nos shows vocês só tocam músicas próprias ou também rolam alguns covers? Se rolam covers, de quais artistas?
Tetê Braga– Tocamos prioritariamente nossas músicas, mas fazemos sons de artistas que nos influenciam, como por exemplo Beatles, Janis Joplin, Led Zeppelin etc

A apresentação visual do CD de vocês é muito legal, tanto a capa como o encarte. Gostaria que vocês falassem um pouco da importância do visual no trabalho de vocês, em termos de identidade artística nos shows e em seus produtos/shows.
Tetê Braga– Pensamos muito em como fazer a capa do disco. Conhecemos muitos artistas plásticos daqui da nossa região, e queríamos chamar alguém que representasse a poesia delicada e também o a energia do nosso rock. Convidamos a Lia Fenix, grafiteira e artista plástica da cidade de Salto. Mostramos as músicas e destacamos uma parede da nossa casa em que ela fez o desenho da capa. Ficou lindo, e é exatamente o que pensamos. Depois, um outro grafiteiro, o Marco Aurélio, fez um outro grafite em outra parede de casa. Nesse, inclusive, fizemos pintura corporal numa performance super legal! Usamos o grafitti dele como textura da parte interna e eu mesma junto com o design Titto Rosseto fizemos a diagramação de tudo. É tudo artesanal, mas de qualidade ímpar e totalmente dentro do conceito do CD. É uma poesia de cores!

Ouça Casa da Lua, com a Banda Hai Kai: