jack-bruce-400-pix

Por Fabian Chacur

Nem acreditei quando fui escalado, em 2012, para entrevistar via telefone o célebre cantor, compositor e baixista britânico Jack Bruce. Ele estava agendado para tocar no Brasil, o que ocorreu em outubro daquele ano. A entrevista foi deliciosa (leia aqui) e o show do mestre da música em São Paulo, idem na mesma data (leia crítica aqui). Infelizmente, não o veremos mais. Ele nos deixou neste sábado (25) aos 71 anos, vítima de doença hepática. Descanse em paz, gênio brilhante!

Nascido em 14 de maio de 1943 em Glasgow, Escócia, Jack Bruce teve uma carreira brilhante como cantor e compositor, e é considerado um dos grandes virtuoses do baixo não só no rock, como em qualquer outro estilo musical. Mondo Pop deu uma geral em sua carreira e em seus pontos altos quando ele nos visitou em 2012 (leia aqui).

Normalmente, as matérias publicadas em jornais são editadas a partir de um texto de maior tamanho enviado pelo jornalista. No caso de minha entrevista com Jack Bruce para a Folha de S.Paulo, não foi diferente. A edição ficou bacana, mas omitiu algumas declarações do agora saudoso músico britânico. Para os curiosos, segue abaixo, na íntegra, o texto original da entrevista, sem os cortes posteriores:

“Jack Bruce, baixista e vocalista de um dos mais importantes grupos da história do rock, o Cream, enfim irá tocar no Brasil. Ele se apresenta em São Paulo no dia 24 de outubro (quarta-feira) no Teatro Bradesco ao lado da sua Big Blues Band.
Em entrevista exclusiva por telefone à Folha, o músico escocês confessou que não sabe o que esperar do público brasileiro.
“Não tenho a mínima ideia do que eu encontrarei aí, mas faz tempo que eu desejo tocar no Brasil”, diz.
Ele virá acompanhado por uma banda composta por sete músicos, com a qual gravou recentemente um álbum duplo ao vivo (“Live 2012”), e promete dar uma geral em suas cinco décadas de estrada, incluindo hits do Cream como “Sunshine Of Your Love”.
Os arranjos das músicas tendem para o blues, embora tenham fortes elementos de rock, soul e jazz no meio. Bruce diz que não é chegado a rótulos.
“Comecei a tocar ainda jovem, e desde o começo o meu grande prazer era improvisar, independente do gênero musical que toco. Aliás, eu não toco jazz, toco Jack”, diz, rindo.
Entre os inúmeros músicos com quem já trabalhou em sua carreira, Bruce destaca o baterista Tony Williams (1945-1997), considerado um dos melhores da história do jazz e com o qual tocou na banda Lifetime na década de 1970.
“Ele morreu jovem demais! Era um gênio, o maior gênio com quem toquei durante a minha carreira. Gravei o álbum “Spectrum Road” (2012) em homenagem a ele, ao lado de Vernon Reid (Living Colour, guitarra), John Medesky (Medesky, Martin & Wood, teclados) e Cindy Blackman Santana (bateria)”, diz.
“Não me culpem pelo heavy metal!”
Mesmo tendo um currículo longo e repleto de realizações, Jack Bruce costuma ser lembrado com mais frequência por ter feito parte do Cream, ao lado de Eric Clapton e Ginger Baker. Ele acha isso normal.
“O Cream foi uma ótima banda. Levamos a linguagem do blues para um rumo pop. Acho Eric Clapton um grande guitarrista, seus solos são ótimos, ele toca com muita paixão e amor. Foi a minha grande oportunidade de tocar em uma banda de rock de sucesso. Mas eu queria fazer outras coisas, por isso o grupo durou pouco”.
Ele só faz uma ressalva em relação a quem considera o trio britânico, que esteve na ativa entre 1966 e 1968 e teve um breve retorno em 2005, um dos criadores do heavy metal.
“Não me acho o pai do heavy metal, não. Culpem o Led Zeppelin por isso!”, disse, rindo bastante.
Outra parceria que Bruce relembra com carinho foi a que o ligou a Ringo Starr nos anos 1990. Ele integrou uma das várias formações da All Starr Band, ao lado de Ringo, Peter Frampton, Todd Rundgren e Gary Brooker, entre outros.
Das novas gerações, Bruce elogia muito o guitarrista Joe Bonamassa, com quem tocou ao vivo há alguns anos, e revela que adoraria gravar com ele, assim como com a cantora Christina Aguilera.”

Dance The Night Away – Cream:

Sunshine Of Your Love- Cream: