Uganga 2014_Low-400x

Por Fabian Chacur

O cenário do rock pesado brasileiro é um dos mais bem estruturados da música brasileira como um todo. É repleto de talentos, independe da grande mídia para sobreviver e construiu um circuito de selos, shows e estúdios que lhe permite evoluir e ampliar seus horizontes. Isso explica o porque uma banda como a Uganga consegue lançar um álbum tão bom como Opressor, lançamento da gravadora Sapólio Rádio com distribuição de Voice Music e Hellion Records. Coisa fina!

Com 20 anos na ativa, o grupo mineiro tem em seu currículo quatro álbuns de estúdio (incluindo o mais recente) e um ao vivo, o impressionante Eurocaos Ao Vivo (2013), gravado ao vivo durante a primeira turnê europeia do quinteto e uma espécie de atestado de bons antecedentes em relação à alta qualidade de seus músicos em cena.

Lançar algo com a mesma ou ainda mais qualidade depois desse live album seria um grande desafio, e o Uganga conseguiu seu intuito. Gravado no estúdio Rocklab, em Goiânia (GO), conta com a produção de Gustavo Vazques (que já trabalhou com Macaco Bong, Black Drawning Chalks e outras bandas bacanas), que deu um show de bola/som.

A mixagem de Opressor é do tipo “na cara”, bem poderosa, mas cada instrumento pode ser apreciado separadamente, sem confusões, sendo que a massa sonora transpira energia, agressividade e eficiência. Os duelos entre as guitarras (de Christian Franco e Thiago Soraggi), sempre concisos e cirúrgicos, e o entrosamento perfeito da cozinha rítmica (Raphael Ras Franco no baixo e Marco Henriques na bateria) dão ao trabalho padrão internacional.

A cereja do bolo fica por conta do vocalista Manu Joker, ex-integrante da Sarcófago, uma das pioneiras do heavy mineiro ao lado do Sepultura. O cara tem uma voz potente e uma qualidade rara na cena: sua dicção perfeita permite ao ouvinte entender cada letra de cada canção de forma cristalina e sem margem a dúvidas. Um cantor completo.

Outra marca do quinteto é o fato de se valer de ótimas letras em português, provando que é possível usar nosso idioma em estilos mais radicais do rock and roll sem perder a força. O tema opressão permeia as canções, falando de problemas atuais como violência policial, corrupção dos políticos, drogas, guerras e tudo o que inferniza o século XXI.

O estilo do Uganga pode ser definido como thrashcore (fusão de thrash metal com hardcore), mas se trata de um rótulo totalmente dispensável. Como toda grande banda, eles se valem de elementos sonoros de várias origens, e o resultado final é, na verdade, o mais puro rock and roll pesado. Sem amarras nem frescuras ou limitações estilísticas.

Opressor ganha o ouvinte com faixas fortes como Guerra, O Campo (com letra inspirada no campo de concentração de Auschwitz, por onde eles passaram durante a tour europeia), Moleque de Pedra, Casa, Modus Vivendi e Aos Pés da Grande Árvore. O lado melódico aparece na balada Guerreiro, que tem direito a uma inesperada coda que se inicia alguns segundos após o seu final e que acaba com os versos “santa caminhada”.

Uma banda como a Uganga deveria ser considerada logo de cara na hora da escalação de um festival do tipo Rock in Rio ou Monsters Of Rock, pois representa como poucas a qualidade e a excelência do rock pesado que se faz por aqui. Opressor é discografia básica para os fãs do rock brazuca, e explica o porque eles tem tanto prestígio no exterior.

Casa (videoclipe)- Uganga:

Opressor- Uganga (ouça o CD inteiro em streaming):

Eurocaos Ao Vivo- Documentário Uganga: