the who-400x

Por Fabian Chacur

Ah, a juventude. Nela, dizemos coisas que nem sempre são realmente sinceras. Em 1965, Pete Townshend afirmou, na letra de seu hit My Generation: “hope I die before I get old” (espero morrer antes de ficar velho). Que bom esse “desejo” não ter se concretizado. Dessa forma, enfim os brasileiros puderam ver o seu grupo, o The Who, mais de 50 anos após o seu surgimento. E valeu a pena aguardar tanto. Que maturidade e que categoria!

Em São Paulo, na noite desta quinta-feira (21), o público presente ao Allianz Parque estava lá para ver o The Who. Antes, tivemos a eficiência insossa do hard rock grungeado do Alter Bridge e a vibração e pegada do hard gótico do The Cult. Este segundo agradou bastante, com hits como She Sells Sanctuary, Love Removal Machine, Phoenix, Sweet Soul Sister e Wild Flower. Fizeram um show compacto e ótimo. Mas eles já nos visitaram algumas vezes. A novidade era outra.

E pontualmente às 21h30, com I Can’t Explain (exatamente o primeiro single da carreira da banda, de 1965), enfim Roger Daltrey e Pete Townshend pisaram em um palco brasileiro. Infelizmente, Keith Moon e John Entwistle já não se encontram mais entre nós, mas seus ex-colegas sabem como carregar um legado tão poderoso como o desta banda britânica, acompanhados por um timaço que traz Simon Townshend (irmão de Pete) e Zack Starkey.

Zack, filho de Ringo Starr, é uma das explicações pela qual a atual encarnação do The Who está tão empolgante. Ele conseguiu pegar a essência do estilo do inimitável dínamo Keith Moon, e com a energia de quem tem 20 anos a menos do que seus dois patrões, equivale ao motorzinho do time, energizando os colegas e não deixando a peteca ir ao chão em momento algum.

O show deu um mergulho na história da banda de 1965 a 1982. A amostra dessa obra tão consistente é um ode ao talento de Townshend como compositor. Versátil, o cara começou com rocks ágeis e simples, precursores do que depois recebeu o rótulo de power pop.

Depois, mergulhou na psicodelia, ajudou a formatar as óperas-rock, flertou com o rock progressivo e o hard rock, inspirou o punk rock, escreveu baladas maravilhosas, e investiu em versos que vão do amor à filosofia, com direito ao atualíssimo protesto de Won’t Get Fooled again, por exemplo. Rock eletrônico, new wave, essa mistura é original e única.

Townshend é um compositor que usa a guitarra a favor das canções. Seu estilo de tocar é sem frescuras nem exibicionismos fúteis, embora capaz de empolgar com seus power chords ou solos envolventes. De quebra, ainda canta, e muito bem, por sinal, embora a concorrência na banda seja bastante desleal

Por outro lado, reafirmo pela milésima vez: Roger Daltrey é um dos vocalistas mais subestimados da história do rock. Dificilmente é citado entre os melhores. Uma baita injustiça. A capacidade que esse cara tem de emocionar os fãs com sua bela voz é algo de impressionar. E também sem exibicionismos ou tecnicismos bestas. A voz também a favor das canções. Coisa linda!

Em Sampa City, foram aproximadamente duas horas de rock and roll que simplesmente deixaram o público presente ao Allianz Parque de queixo caído. Sim, com seus celulares o tempo todo filmando e tirando fotos, costume às vezes irritante. Mas gostando e urrando, em especial durante as músicas mais conhecidas da maioria, como Who Are You, Baba O’Riley, Won’t Get Fooled Again, Pinball Wizard e See Me Feel Me.

O show deste sábado (23), no Rock in Rio, teve de ser reduzido em mais de 20 minutos devido ao fato de, horror dos horrores, esse time histórico e clássico ter sido escalado para ficar encaixotado entre o roquinho insosso do Sucubus e a milésima apresentação do Guns N’ Roses no Brasil. Mesmo assim, e diante de uma plateia que estava lá para ver Axl, Slash e sua turma, deram conta do recado com a categoria de quem soube envelhecer com honra. Baita show! Mas Medina e sua turma não deram a chance de nem um bis para o grupo. Vergonha!

Quem por ventura perdeu, que dê uma de Kleiton & Kledir: vá para Porto Alegre e tchau. Pete Townshend e sua trupe do bem tocam na cidade nesta terça (26). E quem perder, provavelmente vai ficar chupando o dedo, pois pelo teor do papo do guitarrista em entrevista ao Multishow logo após a sua excelente performance, a ideia dele é tirar um período sabático e cuidar de carreira solo. Mas mesmo que seja o fim, que fim para uma incrível jornada!

Setlist do show de São Paulo:
Início: 21h30

I Can’t Explain
The Seeker
Who Are You
The Kids Are Alright
I Can See For Miles
My Generation (com trechos de Cry If You Want)
Bargain
Behind Blue Eyes
Join Together
You Better You Bet
I’m One
The Rock
Love Reign O’er Me
Eminence Front
Amazing Journey
Sparks
Pinball Wizard
See Me, Feel Me
Baba O’Riley
Won’t Get Fooled Again

bis

5:15
Substitute final: 23h30 (aproximado)

Set List Rock In Rio

Início: 22h41

I Can’t Explain
Substitute
The Kids Are Alright
I Can See For Miles
My Generation (com trechos de Cry If You Want)
Bargain
Behind Blue Eyes
Join Together
You Better You Bet
I’m One
5:15
Love Reign O’er Me
Amazing Journey
Sparks
Pinball Wizard
See Me Feel Me
Baba O’Riley
Won’t Get Fooled Again
final: 00h17

Baba O’Riley (ao vivo-SP)- The Who: