sarah mckenzie-400x

Por Fabian Chacur

É muito bom ouvir música transgressiva de qualidade, na qual o artista busca investir em rumos inusitados para gerar a criação de algo novo e expressivo. No entanto, também é excelente poder curtir um tipo de criação que soe extremamente familiar, embora tenha bastante talento e bom gosto envolvido na sua elaboração. A australiana Sarah McKenzie se encaixa feito luva no segundo exemplo, como prova com veemência seu quarto CD, Paris In The Rain, que acaba de sair no Brasil via Universal Music. Um banho de bom gosto e adorável dèja vú.

Com 28 anos de idade, esta bela loirinha tem forte formação acadêmica em artes, com direito a graduação na West Australian Academy Of Performing Arts (onde Hugh Jackman e Lisa McCune, entre outros, se graduaram também) e a célebre Berklee College Of Music americana. De quebra, participou como backing vocalist da turnê Call Me Irresponsible, do astro Michael Bublé, e fez apresentações em grandes festivais, entre os quais o de Montreux, na Suíça.

Ela lançou dois álbuns na Austrália, Don’t Tempt Me (2011) e Close Your Eyes (2012), até que foi contratada pelo célebre selo jazzístico Impulse! (hoje pertencente ao conglomerado Universal Music), no qual estreou com o CD We Could Be Lovers (2015). A produção do novo trabalho ficou a cargo e Jay Newland e Brian Bacchus, este último conhecido por atuar com Norah Jones e Gregory Porter, entre outros.

Ao contrário de outras estrelas recentes ligadas ao jazz, como Norah Jones, Sarah McKenzie não flerta com sonoridades distantes do gênero musical que decidiu abraçar. Paris In The Rain não traz elementos de rock, música eletrônica, soul ou rap, concentrando-se em uma musicalidade ligada à tradição dos standards americanos, repleta de elegância, melodias apuradas e arranjos sempre repletos de sutilezas extremamente agradáveis de serem apreciadas.

O repertório de 13 canções se divide entre clássicos do porte de Tea For Two (Vincente Youmans/Irving Caesar), Day In Day Out (Rube Bloom/Johnny Mercer), Triste (do nosso Tom Jobim) e I’m Old Fashioned (Jerome Kern/Johnny Mercer) e cinco ótimas composições da própria McKenzie, entre as quais a faixa-título do CD, One Jealous Moon e a instrumental Road Chops.

Com uma voz suave e melodiosa e uma execução segura e fluente no piano, ela é acompanhada por músicos talentosos e virtuosos, entre os quais o violonista brasileiro Romero Lubambo, que marca presença com estilo em Triste e In The Name Of Love (Kenny Rankin/Levitt Estelle). Vale lembrar que todos os belíssimos arranjos das músicas foram assinadas pela própria Sarah, o que dá uma ideia do porte de seu talento.

Paris In The Rain não equivale a uma revolução no cenário jazzístico e tem aquele tempero de “já ouvi isso e sei onde”, mas é delicioso de se ouvir, ainda mais em um tempo no qual o marketing parece dar as cartas em detrimento da consistência musical. Aqui, quem manda são as melodias, as harmonias, a emoção. Vale lembrar que a artista esteve em agosto no Brasil, participando da inauguração do Blue Note Rio.

Paris In The Rain– Sarah McKenzie: