the doobie brothers capa cd-400x

Por Fabian Chacur

Em junho deste ano, celebrei por aqui o anúncio do lançamento de Live From The Beacon Theater, álbum duplo lançado pela Warner Music no Brasil nos formatos digitais e físico (CD duplo). Você pode ler todos os detalhes em termos de informação aqui. Agora, após ter tido a oportunidade de ouvir esse trabalho de forma muito atenta, chegou a hora da resenha desse lançamento histórico de uma das grandes bandas do rock americano.

Comecemos pela formação que se incumbiu da gravação deste trabalho, registro de shows realizados nos dias 15 e 16 de novembro de 2018 no Beacon Theater, em Nova York. Hoje, os Doobie Brothers são um trio, composto pelos fundadores Tom Johnston (guitarra e vocal) e Patrick Simmons (guitarra e vocal, o único que nunca saiu da banda) e mais John McFee (guitarra, pedal steel, dobro, violino, cello, harmônica, banjo e vocais, ufa!), que esteve no time entre 1979 e 1982 e retornou de vez em 1993.

Para darem suporte a eles, temos um timaço liderado pelo tecladista Bill Payne, considerado um dos grandes músicos no setor. Ele integrou nos anos 1970 e 1980 a badalada banda Little Feat, e também gravou com Bryan Adams, Stevie Nicks, Bob Seger, Pink Floyd, Toto, James Taylor e Bonnie Raitt. Aliás, Payne pilotou os teclados dos Doobies nos dois álbuns de estúdio reproduzidos ao vivo aqui, ou seja, ninguém mais qualificado para essa importante missão do que ele.

O elenco de músicos também traz Marc Russo (saxofone), Ed Toth (bateria), John Cowan (baixo e vocais) e Marc Quinones (percussão e vocais). Foram adicionados especialmente para os shows do Beacon Theater os músicos Roger Rosenberg (saxofone) e Michael Leonhart (trompete), que aliados a Marc Russo geraram um naipe de metais afiadíssimo.

Com dez músicos em cena, o grupo americano seguiu uma diretriz das mais interessantes: manteve a estrutura básica dos arranjos originais das canções, acrescentando algumas passagens de metais inéditas e abrindo espaços para solos e improvisos. Como a qualidade dos profissionais envolvidos é imensa, o resultado se mostra delicioso, tendo tudo para satisfazer tanto os fãs mais fieis como aqueles que ainda não conheciam essas canções.

Ao contrário de algumas bandas contemporâneas deles, os Doobie Brothers sempre tiveram a capacidade de criar não só singles matadores, como Listen To The Music, Rockin’ Down The Highway, China Grove e Long Train Runnin’, mas também de gravar álbuns consistentes e nos quais você não encontra uma única faixa fraca daquelas feitas apenas para “encher linguiça”.

Dessa forma, a missão de tocar Toulouse Street (1972) e The Captain And Me (1973) mostra-se das mais deliciosas, pois além de muito boas, as músicas também formam uma amostra preciosa da amplitude da sonoridade desta banda seminal.Se os singles citados trazem como marca a energia roqueira e os riffs de guitarra (com um toque latino em Long Train Runnin’), outras facetas surgem nas faixas que fazem companhia a elas.

O blues, por exemplo, marca presença em Don’t Start Me To Talkin’ e Dark Eyed Cajun Woman. O folk com tons saudosistas e emocionais surge em Toulouse Street e Clear As The Driven Snow. O hard rock pesadão surge em Disciple, Evil Woman e Without You, a levada shuffle marca a deliciosa Ukiah, a leveza mais pop em Natural Thing e o folk progressivo na intensa The Captain And Me.

Das 23 músicas apresentadas, 11 são de Tom Johnston, 6 de Patrick Simmons, uma é assinada por cinco integrantes da banda na época (Without You) e cinco são covers, como o rock gospel Jesus Is Just Alright (de Arthur Reynolds e gravada em 1969 pelos Byrds), Don’t Start Me To Talkin’ (do bluesman Sonny Boy Williamson) e Cotton Mouth (composição da dupla Seals & Crofts, conhecida pelos hits Summer Breese e Diamond Girl)

Se o entrosamento da banda conta muito para esse resultado brilhante, os pontos altos ficam por conta de seus protagonistas. Com 70 anos de idade completados em 2018, Tom Johnston impressiona por sua vitalidade. Seu vozeirão continua intacto, assim como seus riffs e solos de guitarra e uma presença de palco confiante e cativante. A delicadeza do dedilhado na guitarra e violão de Patrick Simmons, assim como sua voz mais suave, também estão intactos, assim como a versatilidade de John McFee.

Após tocar os dois álbuns na íntegra, os Doobies nos oferecem um bis com três músicas: Take Me In Your Arms (Rock Me), cover da Motown que eles emplacaram nas paradas de sucesso em 1975, e a envolvente canção folk-country Black Water, que atingiu o primeiro lugar na parada de singles americana naquele mesmo 1975. Para finalizar a festa, tocaram novamente Listen To The Music, para levar a plateia à loucura.

Os Doobie Brothers nunca tocaram no Brasil, em seus quase 50 anos de estrada. Com o vigor e a qualidade que permanecem firmes em sua fase atual, certamente atrairiam um público bacana se enfim nos visitassem.

Rockin’ Down The Highway (live)- The Doobie Brothers: