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Steve Priest, 72 anos, baixista da banda glam setentista The Sweet

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Por Fabian Chacur

Como diz a maravilhosa música de Milton Nascimento Encontros e Despedidas, bela parceria com o saudoso Fernando Brant, “São só dois lados da mesma viagem, o trem que chega é o mesmo trem da partida, a hora do encontro é também de despedida, a plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar, é a vida desse meu lugar”. Nesta quarta (3), celebramos os 70 anos de idade de Suzi Quatro. Nesta quinta (4), chega a vez de nos despedirmos de Steve Priest, baixista da banda britânica The Sweet.

Priest tinha 72 anos, e sua morte foi informado pelos parentes e em seu site oficial. Ele e Suzi são estrelas de uma mesma época, a década de 1970, do glam rock, e também compartilhavam o fato de terem gravado inúmeros hits assinados pela dupla de compositores Nicky Chinn e Mike Chapman.

O músico permanecia na ativa com a sua versão do The Sweet, e inclusive estava com pelo menos nove shows agendados nos EUA e Canadá, incluindo um que seria no próximo dia 12, não fosse a pandemia do novo coronavírus.

Astros do bubblegun rock

Nascido na Inglaterra em 23 de fevereiro de 1948, Priest iniciou a banda que lhe deu fama internacional em 1968, ao lado do cantor Brian Connoly (1944-1997), do baterista Mick Tucker (1947-2002) e do guitarrista Frank Torpey, inicialmente com o nome The Sweetshop. Eles lançaram seu primeiro single, Slow Motion, naquele mesmo ano, pelo selo Fontana, e nada aconteceu. A seguir, Torpey saiu do time, dando seu lugar a Mick Stewart.

O selo Parlophone, do conglomerado EMI, o mesmo que lançou os Beatles, apostou neles, mas, após três singles que também passaram batidos, levaram o chamado cartão vermelho daquela empresa fonográfica. É aí, em 1970, que eles encontram o produtor e representante de uma editora musical Phil Wainman, que resolve tentar a sorte com aquela banda.

A editora tinha uma dobradinha de compositores ávida por sucesso, o australiano Mike Chapman e o inglês Nicky Chinn, e Wainman os escalou para compor alguma coisa para o agora The Sweeet.

Inspirados no grande sucesso daquele momento, Sugar Sugar, dos Archies (grupo fictício de desenho animado cujas músicas eram gravadas por músicos de estúdio), a dupla compôs Funny Funny. O estilo daquele tipo de música até ganhou um apelido, bubblegun rock (rock goma de mascar), graças a seu ritmo dançante e pegajoso e suas letras infantiloides e fáceis de decorar.

Deu super certo. O primeiro single do grupo com o novo time de produção e composição, a citada Funny Funny, atingiu o 11º lugar na parada britânica. O seguinte, Co-Co, foi ainda melhor, batendo no segundo posto no Reino Unido.

Tinha início a fase áurea do quarteto. Pouco antes, Mick Stewart saiu, substituído por Andy Scott (1951), uma espécie de Ringo Starr, pois entrou justo na hora em que as coisas começaram a engrenar para eles.

A marca registrada do The Sweet nesse período foi o fato de ser basicamente uma banda de singles, com o lado A sempre destinado a canções de Chinn-Chapman e o lado B às composições dos integrantes da banda. Em 1972, eles tomaram de vez os charts britânicos, com as vibrantes Poppa Joe (nº 11, foi usada na época como tema de abertura de um programa infantil de TV no Brasil), Little Willy (nº 1, o primeiro da banda) e Wig Wan Ban (nº 4).

Embora as músicas de Chinn e Chapman melhorassem a cada novo lançamento, Priest e sua turma queriam se livrar do rótulo de “banda de bubblegun”, e lados B bacanas compostos por eles como Jeannie, New York Connection e Burning (esta, uma cópia descarada, mas deliciosa, de Immigrant Song, do Led Zeppelin) provavam que os caras não eram ruins na arte de escrever canções.

Outro fator decisivo para o sucesso do The Sweet reside em seu visual andrógino, repleto de roupas de couro, cabelos longos e uma performance ao vivo repleta de sensualidade e energia.

Em 1973, finalmente o The Sweet conquistou seu primeiro hit nos EUA, com Little Willy atingindo o nº 3 na terra do Tio Sam. Na Inglaterra, a energética Blockbuster (valendo-se do marcante riff de guitarra de Mannish Boy, de Muddy Waters, que também geraria na época The Jean Genie, de David Bowie, e diversas outras músicas) chegou ao nº 1, seguidas por outros hits certeiros: Hellraiser (nº 2) e Ballroom Blitz (nº 2), esta última considerada precursora da new wave.

Em 1974, Teenage Rampage chegaria ao nº 2 no Reino Unido. Naquele momento, a parceria da banda com seus mentores começou a fazer água, pela ambição dos roqueiros em serem mais respeitados pelos críticos e público. Naquele ano, lançaram Sweet Fanny Adams, álbum mais voltado ao hard rock no qual seis das nove faixas eram da autoria deles. E, a seguir, Chinn-Chapman e Phil Waimman saíram do comando da banda.

Uma turnê de três meses pelos EUA impulsionou o Sweet no mercado americano, e o resultado foi o sucesso tardio de Ballroom Blitz (nº5) e o estouro do primeiro single com um lado A escrito por eles, a empolgante e hard Fox On The Run, que chegou ao 5º lugar por lá e ao 2º posto no mercado britânico. O álbum Desolation Boulevard (1975) também foi bem no mercado americano.

Aí, o glam rock viu sua popularidade cair, e o Sweet não saiu ileso disso. Lançou vários discos até o final dos anos 1970, mas a única faixa que realmente pegou no breu foi a espécie de power ballad Love Is Like Oxygen, que foi top 10 nos EUA e Inglaterra, o único de suas carreiras.

Como consequência de anos de convivência e também da queda do sucesso, o vocalista Brian Connoly saiu fora para investir em uma carreira-solo, com Priest e Scott se incumbindo dos vocais em seu lugar. A banda prosseguiu gravando e fazendo shows até 1982, quando, após lançar o álbum ironicamente intitulado Identity Crisis, encerrou as suas atividades da forma como os conhecemos.

Em 1988, Mike Chapman conseguiu reunir os quatro músicos com o objetivo de um disco de inéditas e uma turnê, mas não demorou muito para que os planos fossem deixados de lado. Connoly tentou criar a sua versão do The Sweet e Andy Scott fez o mesmo, mas inicialmente não deu muito certo, e infelizmente o cantor se foi em 1997, após ter lutado contra vários problemas de saúde.

Steve Priest lançou uma autobiografia em 1994 intitulada Are You Ready Steve?, cujo título foi extraído da introdução de Ballroom Blitz. Após vários projetos malsucedidos, incluindo um disco solo, Priest Precious Poems, ele resolveu fazer um projeto mais lucrativo, valendo-se do nome de sua ex-banda.

Em 2008, tinha início o Steve Priest’s The Sweet, radicado nos EUA, que gravou o disco ao vivo Live in America (2009). Enquanto isso, ainda sediado na Inglaterra, Andy Scott defendia o leitinho das crianças com o seu Andy Scott’s The Sweet. O acordo era que um não faria shows na seara do outro. E nos anos 2010, eles voltaram a se falar, após anos de desavenças, mas uma reunião nunca ocorreria.

O Steve Priest’s The Sweet fez shows em 2018 para celebrar os 50 anos da célebre banda glam, e continuava na estrada nos últimos tempos.

Veja mais clipes do The Sweet aqui.

Ballroom Blitz (clipe)- The Sweet:

3 Comments

  1. vladimir rizzetto

    June 7, 2020 at 4:59 pm

    Que pena, Fabian…
    Gosto muito do Sweet e alguns de seus discos me divertiram demais: Strung Up, Sweet Fanny Adams, Off the Record, entre outros.
    Eu acho que os anos de 1970 são a mais empolgante e criativa fase do rock, mas tudo passa né? Passa em termos, pois a música é eterna.

    Abração.

  2. Fabian Chacur

    June 8, 2020 at 3:50 pm

    O ser humano enquanto matéria passa, mesmo, mas a obra que ele deixa como herança, se tiver relevância e qualidade, certamente se manterá firme e forte. Muito bom ter sua presença por aqui, meu querido Vladimir Rizzetto, roqueiro consistente e palmeirense dos bons! Grande abraço!

  3. vladimir rizzetto

    June 12, 2020 at 9:49 pm

    Obrigado, caro Fabian, saiba que a consideração e admiração são recíproca.

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