amy winehouse

Por Fabian Chacur

Quando trabalhei no canal de música do portal R7, entre julho de 2009 e junho de 2011, lembro muito bem que uma de nossas principais fontes de notícias era uma certa Amy Winehouse. Eu brincava comigo mesmo de que tínhamos por volta de umas cinco ocorrências diárias envolvendo essa cantora, compositora e musicista britânica. Quando ela fez shows no Brasil, no início de 2011, isso aumentou ainda mais. Parece irônico pensar que meu fim naquela empresa ocorreria tão próximo ao da vida dela. Dia 1º de julho, adeus R7. No dia 23 de julho, Amy se foi. Triste, nos dois casos, pelas circunstâncias. Vamos às da cantora de Rehab, que é o que interessa aqui.

Sejamos francos logo de cara: a morte prematura de uma das grandes estrelas da música mundial não surpreendeu a ninguém. Chocou, emocionou, tocou, mas não surpreendeu. Afinal de contas, estava claro que o sucesso e o assédio de público e principalmente de mídia não eram devidamente administrados por ela. Parece óbvio que, se pudesse escolher, Amy teria preferido cantar em bares, para poucos sortudos, sem se expor. Mas como seria isso possível, com tanto talento e carisma? E tem aquela coisa da “artista certa na hora certa”.

Quando Amy Winehouse estourou mundialmente com seu segundo álbum, Back To Black (2006), ela deu um verdadeiro chega pra lá nas cantoras pop mais certinhas e de eventual rebeldia fabricada, mergulhando fundo em uma sonoridade resgatada dos anos 1960 de grupos vocais como The Shangri-las, Shirelles e no qual era preciso saber cantar, como bem sabia Ronnie Spector, uma de suas principais influências.

O coquetel soul-jazz-pop proposto por Winehouse não tinha ninguém da nova geração com acesso às grandes gravadoras passível de competir com ela. Graças ao apoio que encontrou nos produtores Mark Ronson e Salaam Remi, pôs para fora um trabalho impactante que conseguia ser acessível ao grande público e também ao mais sofisticado. Frank (2003) equivaleu a uma boa estreia, mas Back to Black foi muito além, entupindo a artista de prêmios, milhões de cópias vendidas mundo afora e do holofote da mídia.

Não por acaso, Amy Winehouse nos deixou aos 27 anos, mesma idade de saída de cena de Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Brian Jones e Kurt Cobain, só para citar alguns integrantes notórios desse clube macabro. Qual seria a explicação? Vale lembrar que existem vários livros sobre o tema, e uma das explicações defendidas é a do fato de esses artistas serem expostos de forma muito intensa ao trinômio sexo-drogas-rock ‘n roll acrescido de muito dinheiro também, o que os afastou de uma vida minimamente regrada que fosse.

Muitos artistas expostos a esses excessos que eram cotados como possíveis vítimas precoces ultrapassaram de longe essa idade fatal, como Keith Richards, Mick Jagger, Lou Reed, David Bowie e tantos outros. Cada um sabe onde dói o seu calo, como diriam os antigos. Mas o fato é que tanta adulação e tanto abuso de limites impõem preços que podem ser cobrados muito antes do que seria de se esperar. Especialmente se as suas companhias não forem das melhores…

Amy Winehouse nos deixou uma obra pequena, que tem mais itens póstumos do que os lançados enquanto ela ainda estava entre nós. No entanto, esse trabalho dificilmente será esquecido, embora seja difícil imaginar o surgimento de uma continuadora. Fica a lição de o quanto a vida pode ser breve e de o quanto precisamos nos cuidar para podermos viver mais e melhor. Mas o que vale mais, viver 27 anos no limite ou 80 de forma bovina e pastosa? Melhor não julgar ninguém, e curtir o legado de uma artista realmente maravilhosa.

Back To Black (live)- Amy Winehouse: