charlie watts

Por Fabian Chacur

Classe. Eis um termo perfeito para definir a postura, o jeito de ser e especialmente a forma como um certo Charlie Watts tocava o instrumento musical que lhe deu fama mundial, a bateria. O sujeito definitivamente tinha classe, e muita! Esse incrível músico infelizmente nos deixou nesta terça-feira (24) aos 80 anos, conforme informação divulgada por seu assessor de imprensa. A causa não foi divulgada. Ele havia sofrido uma operação de emergência no início deste mês. Com ele, certamente vai junto uma era do rock and roll.

Nunca me esquecerei dos três shows que tive a oportunidade de ver dos Rolling Stones em janeiro de 1995, no estádio do Pacaembu (SP), durante uma edição do festival Hollywood Rock. Em meio a dias chuvosos, tivemos três shows sensacionais, nos quais um dos momentos marcantes ocorria quando Mick Jagger apresentava Charlie, fato que era seguido por uma verdadeira avalancha de aplausos, aos quais o músico agradecia de forma contida e discreta. Ele era assim. Elegante no trato, elegante no vestir, elegante ao utilizar as baquetas.

Nascido em 2 de junho de 1941, Charlie começou a tocar ainda molequinho. Enquanto se formava e começava a trabalhar como designer gráfico, ele paralelamente se desenvolvia como músico. Após tocar com a banda do influente músico de blues Alex Korner, a Blues Incorporated, ele recebeu o convite para tocar com um outro time emergente, uns tais de Rolling Stones. Em janeiro de 1963, ele aceitou o convite, mal sabendo que mudaria a sua vida para sempre.

O resto da história, todos sabem. O grupo de Mick Jagger e Keith Richards se tornou o principal rival dos Beatles, emplacou hits como (I Can’t Get No) Satisfaction, Get Off Of My Cloud, The Last Time, Jumping Jack Flash, Honky Tonk Women, Start Me Up e dezenas de outros e virou lenda viva. Neles, a marca registrada de Charlie Watts sempre se fez presente.

Watts era ao mesmo tempo um dínamo e um porto seguro e sólido para a banda. Nunca perdia o ritmo e sempre sabia se valer de sutilezas rítmicas que aprendeu como fã incondicional de jazz. Deixava o exibicionismo de lado e dava à banda uma batida sólida, contagiante, que permitiu a Jagger e sua turma invadirem o mundo com shows e gravações sempre espetaculares. Com ele lá atrás, discreto, quieto, mas cativando a todos. E sempre esbanjando elegância.

Paralelamente ao trabalho com os Stones, Watts se dedicava ao desenho (alguns apareceram nos discos da banda) e também ao jazz, lançando mais de dez álbuns com um quinteto, uma orquestra e um em parceria com outro grande baterista, Jim Keltner. Um desses discos foi dedicado a um de seus grandes ídolos, o grande e saudoso músico de jazz Charlie Bird Parker.

Os Rolling Stones estavam iniciando a preparação para uma nova turnê pós-pandêmica. Agora sem Watts, acho bem provável que seus agora ex-colegas deem uma balançada, mas considero quase inevitável que escalem alguém para segurar a onda e permitir à banda seguir em frente. Seja como for, desta vez vai ser difícil encarar esse grupo do mesmo jeito, por melhor que seja seu eventual substituto. Descanse em paz. Uma salva de palmas eterna para Charlie Watts!

Get Off Of My Cloud (clipe)- The Rolling Stones: