miriam martinez 400x

Por Fabian Chacur

Em julho de 1985, fui a um coquetel de lançamento de disco na antiga gravadora RCA (depois BMG) com o meu amigo Valdimir D’Angelo. Nesse evento, realizado no bairro paulistano de Santa Cecília, conheci uma mulher simpática e bem humorada que trabalhava na assessoria daquela empresa discográfica. Mal sabia eu que a pessoa em questão, uma certa Miriam Martinez, iria mudar a minha vida, e para melhor. Hoje, 27 de setembro, é o primeiro aniversário dela no qual não poderei cumprimentá-la, pois ela partiu no dia 5 de outubro de 2020. Muita saudade!

Quando a conheci, era um jornalista iniciante que exercia a profissão paralelamente ao emprego que tinha, como funcionário do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) prestando serviços na Agência da Receita Federal de Vila Mariana. Mal sabia eu que, menos de dois anos depois, eu estaria trabalhando naquela mesma BMG, na assessoria de imprensa do selo Plug, e graças a uma indicação da Miriam. Seria a primeira, mas não a última vez em que ela me ajudaria em termos profissionais. A partir de 1987, só trabalhei na área jornalística, um sonho que ela me ajudou a concretizar.

Durante os 35 anos em que tive a honra de conviver com essa figura ágil, inquieta e divertida, vivi as mais diferentes experiências, em shows, coletivas de imprensa, entrevistas individuais, lançamentos de discos, festivais etc (e tome etc!). Sendo como colega de trabalho ou me atendendo profissionalmente, ela sempre nos oferecia sua atenção, carinho, incentivos e eficiência, sempre disposta a nos ajudar, de uma forma ou de outra.

Conheci poucos profissionais que vestiam a camisa dos contratantes como ela. Do astro mais famoso ao cantor iniciante e inseguro, o tratamento era sempre no volume máximo. A busca pelo melhor trabalho possível, a melhor divulgação e a conquista dos melhores espaços nunca mudava conforme o cacife e os cifrões envolvidos. Miriam encarava cada pessoa que trabalhava com ela como seres humanos, que respeitava profundamente.

Foi dessa forma que ela conquistou um grande números de admiradores, sempre dispostos a retribuir toda aquela atenção e carinho. Dessa forma, tornou-se uma das melhores assessoras de imprensa de São Paulo e, por consequência, deste Brasil. Como tive a honra de conviver com ela nos bastidores de muitos desses trabalhos, posso garantir que sua forma de tratar a todos nunca se deixou levar por interesses ou falsidade. Pelo contrário.

Miriam esteve comigo nos melhores e piores momentos, nesses anos todos. Sempre prestativa, ajudando, apoiando. Sua dedicação como profissional e como amiga era comovente. Em determinados momentos, ela acreditava na minha capacidade profissional mais do que eu mesmo, e posso garantir que muitas pessoas partilham dessa gratidão comigo. Assessorar é, na prática, ajudar ao outro, e isso essa mulher fez sempre, em cada minuto da sua vida.

Lógico que ninguém é perfeito. Trabalhar com a Miriam às vezes não era fácil devido à ansiedade dela em concretizar seus trabalhos com rapidez e da melhor forma possível. Às veze, era como se ela achasse que era só apertar um botão e concretizar um release de um momento para o outro, por exemplo. Mas, no fim das contas, tudo sempre dava certo porque ela sabia ouvir quem trabalhava com ela. Na base do diálogo, da garra e da paciência.

Artistas dos mais diversos tiveram a honra de ter Miriam Martinez como assessora de imprensa, e garanto que se lembram dela com saudade, pois poucos profissionais abraçaram essa profissão com canto amor e competência como ela. Quando ela nos deixou, fiquei tão desconsertado que não fui capaz de escrever uma linha para homenageá-la.

Pois agora, fica aqui o meu pedido de desculpas a ela. Querida, que você esteja em um plano melhor. Que tudo de bom que fez por mim e por tanta gente possa ter lhe valido um acolhimento bacana. E que a sua luz intensa possa continuar nos iluminando por aqui, especialmente nesses dias sombrios que vivemos atualmente. Bendito aquele dia em que te conheci naquele julho de 1985. E um dia contarei aqui algumas das histórias que vivemos juntos.

Como diria você, de forma descontraída e inesquecível, “um beijo na boca e um tapa na bunda!” Que não dá para encerrar um texto sobre você sem ser de forma bem-humorada.

Canção da América (ao vivo)- Milton Nascimento: