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Por Fabian Chacur

Há anos que se tornam icônicos pelas mais diversas razões. O de 1979 é um deles no Brasil, em termos políticos e musicais. Como forma de mergulhar naquele período tão importante e efervescente em termos gerais e gerar um belo registro histórico, o jornalista Célio Albuquerque criou o projeto que gerou o livro 1979 O Ano Que Ressignificou a MPB, coordenado por ele e lançado pela Garota FM Books (saiba mais detalhes e onde encontrar aqui).

Com 576 páginas e uma apresentação visual impecável, este livro nos oferece quatro textos introdutórios que situam o leitor em relação ao período em questão e 100 resenhas de álbuns de artistas brasileiros lançados durante aqueles meses.

Uma das boas sacadas é a escalação do elenco de colaboradores, bastante abrangente. Temos aqui desde jornalistas e pesquisadores da área musical até músicos, amigos e parentes dos artistas enfocados, com abordagens as mais distintas possíveis.

Alguns preferiram fazer análises críticas. Outros entrevistaram pessoas envolvidas com cada lançamento. Alguns deram os seus depoimentos por terem tido envolvimento direto com os LPs em questão. Uma coisa, no entanto, une todos os textos: a qualidade em termos estéticos e o grande volume de informações, que permite ao leitor ter uma ideia bem concreta sobre esses trabalhos musicais.

Cada texto também inclui a relação completa das músicas, seus autores e as fichas técnicas, com nomes de músicos, produtores etc. A seleção desses 100 LPs foi muito bem planejada, indo desde nomes já consagrados como Elis Regina, Chico Buarque e Milton Nascimento até outros que iniciavam suas trajetórias, como Boca Livre, Joanna, Gretchen e Marina Lima.

Se há álbuns enfocados que venderam milhares de cópias, há também outros mais obscuros, embora não menos importantes, como Equatorial, da cantora Teti, e Mar Revolto, do grupo homônimo. A abrangência de estilos musicais também é louvável, indo da música instrumental aos artistas mais populares, passando por MPB, rock, soul, samba, música romântica e o que mais pintar.

Todos os textos contextualizam aquele período, durante o qual ditadura militar que nos infernizava há 15 anos começava a dar sinais de cansaço e abertura, tendo como marco a recém-promulgada Lei da Anistia, que permitiu a diversos exilados famosos voltarem ao seu país de origem, embalados por músicas que acabaram virando hinos daquele período, como O Bêbado e a Equilibrista (João Bosco e Aldyr Blanc) e Tô Voltando (Maurício Tapajós e Paulo Cesar Pinheiro).

A seleção de discos traz marcos bem representativos de características inerentes daquele período histórico no Brasil, como a produção independente de discos, o aumento das mulheres na cena musical, a influência da disco music na produção local, a liberação de músicas pela censura após anos de chumbo e a intensa colaboração entre os artistas, participando dos discos uns dos outros de forma espontânea, sem o artificialismo atual registrado pelo termo empolado “feats”.

A escolha dos colaboradores também primou pela busca do talento e do conhecimento, fosse de veteranos que já estavam há muito na estrada em 1979 e chegando até a quem nem era nascido em tal período. E vale registrar a presença, entre os colaboradores, de nomes estelares em suas respectivas áreas, como Joyce Moreno, José Emilio Rondeau, Juca Filho, Rodrigo Faour, Rildo Hora e Roberto Muggiatti, só para citar de passagem alguns deles.

1979 O Ano Que Ressignificou A MPB equivale a uma deliciosa e densa aula de história, na qual fica nítido o quanto o músico brasileiro soube dar a volta por cima em um dos piores momentos vividos por este país em termos políticos, valendo-se de resistência, criatividade, paciência e sobretudo muita fé. Que sirva como espelho para a era de reconstrução que, se Deus quiser, iremos viver nos próximos anos neste país tropical abençoado por Deus, mas tão duro e difícil por natureza.

Tô Voltando– Simone: