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Por Fabian Chacur

Acompanhar o perfil no Facebook de Ivan Conti Mamão era uma delícia. Sempre imagens bacanas de sua intimidade com a família e amigos, e também registros dos inúmeros shows realizados por ele com a banda que o tornou mundialmente famoso, a Azymuth. Imaginem o susto que tomei ao ler, nesse mesmo perfil, o anúncio de sua morte, ocorrida nesta segunda-feira (17), aos 76 anos.

Sem causa divulgada, a partida deste grande baterista e compositor carioca choca por ocorrer em meio à turnê que celebrava os 50 anos de carreira do seu grupo, com muitas datas ainda a serem cumpridas. Ninguém imaginava que o simpático e talentosíssimo Mamão estava em vias de nos deixar. Assim é a vida, mas fica difícil vê-lo nos deixar ainda tão produtivo e feliz.

Nascido em 16 de agosto de 1946, Ivan Miguel Conti Maranhão iniciou a sua carreira como músico profissional tocando em grupos e participando de gravações com outros artistas. Nesse período, montou um grupo ao lado dos amigos Alex Malheiros (baixo) e José Roberto Bertrami (teclados). E em uma dessas sessões, por volta de 1972, conheceram o grande Marcos Valle.

Esse encontro se mostraria providencial. Eles gravaram dois discos não creditados com o músico, e receberam o convite para participar da trilha do filme O Fabuloso Fittipaldi (1973), de Roberto Farias. Por razões contratuais, Valle ficou oculto, e o álbum com a trilha sonora foi creditado ao trio, que acabou batizado com o nome de uma música de sua autoria de 1969 resgatada por Marcos Valle para este trabalho.

E que batismo abençoado! Em 1975, o grupo lançou o seu primeiro álbum oficial, Azymuth, e sua música Linha do Horizonte (ouça aqui) estourou nacionalmente, incluída na trilha sonora da novela global Cuca Legal.

Essa canção virou um belo cartão de apresentações para o trio, com seu som misturando pop, soul, jazz, música brasileira e o que mais pintasse. Logo a seguir, Melô da Cuíca (ouça aqui), da trilha de Pecado Capital, trouxe ainda mais brazilidade swingada ao som deles.

Em 1977, Águia Não Come Mosca manteve a ascensão dos rapazes no mercado brasileiro, com direito a mais um hit em trilha de “telelágrimas” (como alguns chamavam as novelas de TV na época, de forma irônica), a não menos incrível Voo Sobre o Horizonte (ouça aqui).

Naquele mesmo 1977, foram convidados e participaram do badalado Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, e em seguida fizeram uma turnê pelos EUA ao lado dos conterrâneos Airto e Flora Purim. Pronto. As portas do mercado internacional estavam abertas, e o Azymuth entrou com tudo.

Com o álbum Light as a Feather (1979), consolidaram essa abertura internacional, com a faixa Jazz Carnival (ouça aqui) tornando-se rapidamente um grande hit no mercado internacional, especialmente no Reino Unido, onde emplacou o Top 20 como single em plena era disco.

Nos anos 1980, o trio emplacou diversos álbuns no mercado internacional, até que em 1989 Bertrami resolveu sair do time. Após alguns anos com outras formações, o resgate de gravações antigas da banda por DJs britânicos reacendeu não só o interesse pelo grupo como também resgatou a sua formação clássica, que voltou na metade dos anos 1990 e se manteve até 2012, com a morte de José Roberto Bertrami.

Nessa última década, Mamão e Malheiros tiveram a seu lado o ótimo tecladista Kiko Continentino, com quem se mantinham em franca atividade. Paralelamente ao trabalho com o grupo, Mamão gravou com inúmeros artistas, entre os quais Hyldon, Odair José, Roberto Carlos, Jorge Ben Jor, Gal Costa, Paulinho da Viola, Raul Seixas e Chico Buarque.

O músico também desenvolveu uma carreira solo, lançando os álbuns The Human Factor (1984), Pulsar (1997) e Poison Fruit (2018).

Vai fazer muita falta esse verdadeiro dínamo que era o Mamão enquanto músico, um mestre do ritmo. E fará ainda mais falta o cara simpático, acessível, sem estrelismos e que adorava seus amigos e sua família. Meu abraço solidário a todos eles, e a mim também, que sempre curti e muito a sua música envolvente e encantadora. Difícil ficar triste ouvindo o Azymuth.

RIP, querido Mamão!

Jazz Carnival (live)- Azymuth: