Mondo Pop

O pop de ontem, hoje, e amanhã...

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João Donato, 88 anos, um genial e irreverente criador musical

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Por Fabian Chacur

O nome João Donato entrou no meu radar em 1975, quando, ainda adolescente, comprei a trilha sonora nacional da novela global Pecado Capital. Das várias músicas ótimas constantes na mesma, uma das minhas favoritas era a balançada Que Besteira, parceria dele com Gilberto Gil na qual seu swing e irreverência ficavam muito claros.

Esse grande cantor, compositor, arranjador e multi-instrumentista que no deixou na madrugada desta segunda-feira (17) aos 88 anos teve como marca essa capacidade de misturar estilos musicais à sua própria moda. Tem forte ligação com a bossa nova, mas foi muito além da mesma, somando a essa sonoridade jazz, música latina, música regional e o que mais pintasse.

Tive a oportunidade de entrevistá-lo em meados dos anos 1990 em um hotel em São Paulo, e foi uma experiência muito curiosa. Fui junto com a fotógrafa Nadirene, cujo nome ele repetiu algumas vezes, admirado. Eles nos atendeu à porta com uma toalha pendurada na barriga, obviamente recém-saído do banho, e amaria ter um registro da cara que eu e a fotógrafa fizemos ao vê-lo assim, totalmente surpreendidos.

Lembro de ele ter sido bem simpático e boa praça, falando conosco ao lado de Leila, a famosa musa que inspirou um de seus trabalhos mais instigantes, Leilíadas (1986), que teria algumas de suas faixas instrumentais letradas posteriormente, uma delas a absolutamente maravilhosa A Paz (ouça aqui ), que ganhou os versos de um de seus parceiros mais constantes, Gilberto Gil.

Nascido em Rio Branco, Acre, em 17 de agosto de 1934, Donato se mudou com a sua família para o Rio de Janeiro em 1945, e por lá iniciou a sua carreira musical, ainda criança/adolescente. Seu primeiro álbum, Chá Dançante (1956), teve a produção do então ascendente Tom Jobim. A partir dali, sua carreira se mostrou repleta de possibilidades bem concretizadas.

Morou nos EUA, onde consolidou sua reputação como um artista dos mais competentes e lançou um álbum até hoje muito cultuado, A Bad Donato (1970), que ele tocou na íntegra em São Paulo no Teatro Municipal, durante a Virada Cultural de 2007. Gravou discos solo e também alguns com parceiros como Marcos Valle, Carlos Lyra, Emilio Santiago, Roberto Menescal, Bud Shanks, Paulo Moura e Eumir Deodato, só para citar alguns.

Dos inúmeros dons que tinha, o da composição rendeu maravilhas do porte da já comentada A Paz e também Lugar Comum (parceria com Gil, ouça aqui), A Rã (ouça aqui), Nasci Para Bailar (ouça aqui) e Bananeira (ouça aqui), bons exemplos de uma frutífera produção.

Mesmo enfrentando problemas de saúde, João Donato se manteve produtivo até o fim, lançando, entre outras coisas, um álbum com o talentoso filho Donatinho (Sintetizamor– 2017), o recente Serotonina (de agosto de 2022) e Síntese do Lance (2021), este último em parceria com Jards Macalé e na capa do qual os dois aparecem sem camisa, algo que surpreendeu a muitos, mas obviamente não a mim, relembrando aquele dia dos anos 1990…

Link para sensacional entrevista de João Donato para JÔ Soares aqui.

Que Besteira– João Donato:

Billie Eilish lança clipe com a sua bela música para o filme Barbie

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Por Fabian Chacur

Aos 21 anos, Billie Eilish pode se gabar de ter um Oscar, um Globo de Ouro e diversos Grammys, além de ter sido a mais jovem artista a gravar o tema principal de um filme da franquia James Bond e a ver seus dois álbuns lançados até o momento atingirem o topo das paradas de sucesso mundiais. E essa escalada parece continuar na ascendente, vide o seu novo lançamento, para a trilha de Barbie The Movie.

Escrita pela cantora e compositora norte-americana em parceria com o seu também talentoso irmão Finneas, What Was I Made For? é uma introspectiva e bem sentimental canção romântica, interpretada de forma bem emotiva por Billie e com toda a pinta de um grande hit.

Dirigido por Greta Gerwig e estrelado por Margot Robbie e Ryan Gosling, Barbie The Movie traz uma trilha com grandes nomes da música pop atual, como a própria Billie Eilish e também Dua Lipa, Tame Impala, Sam Smith, Nicki Minaj e Ava Max, além de uma faixa com o próprio ator Ryan Gosling.

What Was I Made For? (clipe)– Billie Eilish:

Tom Speight lançará seu álbum Love & Light em 11 de agosto

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Por Fabian Chacur

O cantor, compositor e músico britânico Tom Speight vem se firmando como um dos nomes mais consistentes da sua geração. Seguindo uma linha musical muito próxima das canções pop com viés folk-rock de eras anteriores, ele já esteve no Brasil, e possui muitos fãs por aqui. Seu 3º álbum, Love & Light, será lançado em 11 de agosto pelo selo Nettwerk. E temos uma prévia bem interessante já disponível.

O single Trick Of The Light traz como atrativos o ritmo contagiante, ótima melodia e um coral daqueles que gruda no ouvido e não sai nunca mais. Em press release enviado à imprensa, o artista explica a motivação em torno dessa nova e ótima canção:

“Foi uma das músicas mais rápidas que já escrevi. Co-escrita com Matt Hales, tivemos uma explosão de inspiração depois que criei o riff de guitarra. É uma música sobre o encontro inicial com alguém que parece de outro mundo… a sensação de que: essa pessoa é mesmo real? Sonoramente inspirada em War On Drugs e Springsteen com a abordagem de sintetizadores e wall of sound. Acho que vai ser uma grande música ao vivo para mim”.

Trick Of The Light (clipe)– Tom Speight:

Rita Lee tem Build Up de volta em um vinil azul marmorizado

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Por Fabian Chacur

Aos poucos, a gravadora Universal Music tem feito relançamentos luxuosos em vinil da discografia de Rita Lee. Processo, vale registrar, cujo início foi bem antes da sua prematura partida, no último dia 8 de maio. Desta vez, o álbum escolhido é Build Up, que em 1970 equivaleu ao primeiro item da cantora e compositora paulistana como artista-solo, quando ainda era integrante dos Mutantes.

Duas particularidades certamente deixarão os colecionadores bastante a fim de adquirir essa reedição do álbum inicial da querida e saudosa Tia Rita. Uma é o fato de o LP ter uma prensagem em vinil azul marmorizado. A outra é resgatar a capa dupla da ínfima primeira tiragem original do LP, que em todas as reedições posteriores viria sempre com uma capa simples.

A faixa mais conhecida deste trabalho é José, versão em português assinada por Nara Leão para Joseph, do saudoso cantor e compositor grego radicado na França Georges Moustaki (1934-2013), que tocou bastante em rádios. Outro destaque é uma releitura bem roqueira de And I Love Her, dos Beatles.

Saiba mais sobre esse relançamento aqui.

José (Joseph)– Rita Lee:

Corinne Bailey Rae surpreende com um ácido single punk rock

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Por Fabian Chacur

Corinne Bailey Rae tornou-se mundialmente conhecida com o seu autointitulado álbum de estreia, que inclui os hits Put Your Records On e Like a Star. Desde então, consolidou uma boa trajetória na cena do neosoul e do r&b, com elementos de jazz, reggae e pop. Portanto, não serão poucos aqueles que tomarão um susto com o seu novo single. Trata-se de New York Transit Queen, faixa com menos de 2 minutos de duração que é simplesmente um punk rock vibrante e descabelado, prévia do álbum Black Rainbows, que o selo Thirty Tiger promete para 15 de setembro.

Black Rainbows trará 10 faixas inspiradas em objetos do Arts Bank relacionadas aos negros como livros, esculturas, fotos, registros e outros. O novo single, por exemplo, teve como foco a foto de 1957 de Audrey Smaltz, vencedora do concurso Miss New York Transit. A cantora explica:

“A música de Audrey Smaltz se tornou uma faixa punk riot grrrl porque ela tem esse olhar brincalhão e infernal. O sexy ou o caseiro seriam reimaginados como panfletos poderosos/fortes/sexy/fora do olhar masculino para as noites de todas as bandas femininas.”

New York Transit Queen (clipe)– Corinne Bailey Rae:

Bidu Sous mergulha no blues em show no Bourbon Street

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Por Fabian Chacur

O blues possui um público fiel no Brasil. Além de acolher de forma muito afetiva os grandes nomes internacionais que passam por aqui, ainda temos o surgimento de um número significativos de cantores, cantoras e grupos extremamente consistentes nesse gênero musical. Um nome que desponta com força é o da cantora Bidu Sous, que se apresentará em São Paulo nesta quarta-feira (12) às 22h no Bourbon Street (rua dos Chanés, nº 194- Moema- fone 0xx11-5095-6100), com couvert artístico a R$ 65,00.

Oriunda de São Francisco Xavier, distrito de São José dos Campos (SP), Bidu Sous é filha de um violeiro, e ao descobrir o blues não só sentiu semelhanças com a nossa música rural como mergulhou de cabeça nessa seara. Com o decorrer do tempo, foi se tornando figurinha fácil em festivais de blues e ao lado de artistas do calibre de Nuno Mindelis e Adriano Grineberg.

Ela gravou o álbum Don’t Wake Me Up Early em parceria com o excelente guitarrista Lancaster Ferreira, trabalho que mereceu muitos elogios na cena. Esse repertório será a base do show, no qual será acompanhada por Lucas Espildora (guitarra), Marcos Manfredini (baixo) e André Georges (bateria), e participações especiais também estão programadas.

Don’t Wake Me Up Early (ao vivo)– Bidu Sous e Lancaster Ferreira:

Synchronicity- The Police (A&M Records, 1983): o adeus no auge

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Por Fabian Chacur

Na semana que se encerrou no dia 23 de julho de 1983, o álbum Synchronicity assumiu o 1º lugar na parada de sucessos dos EUA. Seriam 17 semanas não consecutivas de liderança no mercado mais disputado do mundo e também em vários outros países, encarando de frente adversários como Thriller, de Michael Jackson. O 5º álbum da carreira do The Police marcaria o seu auge em termos comerciais e criativos.

Duas faixas dele (Synchronicity I e Synchronicity II) tiveram como inspiração a teoria da sincronicidade, do psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), que a grosso modo trata do que ele definia como “coincidências significativas”. E, de certa forma, foi uma coincidência significativa que deu início a este seminal trio.

Em 1976, o baterista norte-americano Stewart Copeland, filho de um funcionário da temida CIA e que viveu em vários países, incluindo Líbano e Egito, estava então radicado na Inglaterra e integrava o grupo progressivo britânico Curved Air. Após um show na cidade de Newcastle, aceitou o convite de um amigo jornalista e foi conferir o som de uma banda local.

O jazz rock do Last Exit não o entusiasmou muito, mas ele não teve como não notar a ótima voz e o inegável carisma de seu baixista, um certo Gordon Matthew Sumner. Como naquele momento ele pensava em sair do Curved Air para investir em um trabalho próprio, deu o seu telefone para o tal músico, dizendo para visitá-lo quando por ventura fosse a Londres, onde Copeland morava naquela época.

Gordon, que então já era mais conhecido pelo apelido Sting, por sua vez estava cansado da rotina na sua cidade, e pretendia se mudar para Londres com seu grupo para tentar a sorte grande. Após um show de despedida de Newcastle no final de 1976, ele fez as malas e partiu, com a esposa Frances e o filho, esperando que os colegas de banda o seguissem, o que não ocorreu.

Enquanto morava na casa de uma amiga e buscava alternativas para sobreviver, Sting um dia se viu próximo do endereço de Copeland, e resolveu ligar para ele. Em uma “coincidência significativa”, descobriu que o orelhão de onde falava (estamos no início de 1977) ficava a apenas alguns metros da casa do baterista. Em questão de minutos, estavam frente a frente.

Não demorou para se enfiarem em uma jam session que demorou muito tempo. Logo, Copeland expôs seu plano de largar mão do rock progressivo para tentar alguma coisa com o espírito do punk rock, que vivia um momento efervescente na cena britânica. De quebra, imaginava incluir elementos de outro gênero musical então em ascensão, o reggae. Sting, também meio entediado com o jazz rock, curtiu a ideia. Nascia o The Police.

O baterista queria que a banda investisse no formato trio, e então chamaram pro time o guitarrista corso Henri Padovani, que tinha toda a panca de músico punk. No entanto, após algumas apresentações e a gravação de um single indie, com as músicas Fall Out e Nothing Achieving, ficou claro que o grupo não iria adiante com um músico tão limitado na guitarra.

Aí, outra “coincidência significativa” se incumbiu de trazer pro time o cara que faltava. Mike Howlett, ex-integrante da banda franco-britânica Gong, buscava um novo rumo pra sua carreira.

Ele convidou Sting, que também havia conhecido ao ver um show da Last Exit, para participar de uma nova formação que estava criando, intitulada Strontium 90, que marcaria presença em um show na França que reuniria os ex-integrantes do Gong, cada um com seus novos trabalhos e depois todos tocando juntos, no final do evento, que contou com mais de 6 mil fãs.

Sting conseguiu incluir Copeland na oportunidade. Howlett precisava de um guitarrista, e se lembrou de um certo Andy Summers, músico já veterano que havia tocado com Eric Burdon & The Animals, Soft Machine e Mike Oldfield, entre outros, e que voltara para a Inglaterra após alguns anos radicado nos EUA. Ele adorou a chance de se enturmar novamente em Londres.

Rapidamente, Sting e Copeland perceberam, após poucos ensaios com o Strontium 90, que Summers era o cara ideal para o The Police, embora cerca de 10 anos mais velho do que eles. Mas como se livrar do simpático Padovani? No início, convidaram o novo amigo para entrar no grupo, que então virou um quarteto durante algumas semanas.

Como o Strontium 90 logo saiu de pauta, Summers resolveu a parada com um ultimato: ou Henry saía, ou seria ele quem pularia fora. E como Copeland era apaixonado pelo formato trio, a decisão se tornou inevitável. E coube a Sting dar a triste notícia a Padovani, que depois tocaria com Wayne County e posteriormente montaria sua própria banda, The Flying Padovanis.

Desde o começo, o The Police teve como marcas a ambição e a ousadia. Embora tenham se valido do espírito e da energia do punk, nunca compartilharam do niilismo dos seus seguidores mais irados. A musicalidade sempre deu as cartas na banda, e isso ficou claro logo em seu álbum de estreia, Outlandos D’Amour (1978), com os hits Roxanne e So Lonely.

Em função da bagagem musical anterior e do extremo talento de seus integrantes, fica difícil dizer que o trio britânico evoluiu de disco para disco. Na verdade, eles já começaram em um patamar bem alto, e apenas foram ampliando horizontes em cada novo trabalho, acrescentando sonoridades e temas em suas letras, tendo Sting como principal compositor, mas com os outros dois vivendo bons momentos neste setor.

Por sua vez, com o apoio do irmão de Stewart, o empresário Miles Copeland III, a banda arregaçou as mangas e se mandou pra estrada. Sua primeira turnê foi bancada por eles próprios, sem o apoio da gravadora que os havia contratado, a A&M Records, que ficou espantada com a ousadia dos rapazes. E valeu a raça, pois do começo em clubes suspeitos eles foram evoluindo a cada novo ano e novo lançamento.

Após o grande sucesso de Ghost In The Machine (1981), que acrescentou teclados e metais à sonoridade da banda (tudo tocado por eles mesmos- all noises by The Police, como escreviam na contracapa de seus álbuns), ficou no ar o clima de que seu próximo lançamento os alçaria ao topo do mundo pop. E foi precisamento o que ocorreu.

Em 1982, o The Police não lançou um novo álbum, tendo apenas participado, com dois temas instrumentais, da trilha do filme Brimstone And Treacle (1982), que também trouxe faixas individuais de Sting, entre as quais I Burn For You e Spread a Little Happiness, esta última seu primeiro hit solo na Inglaterra no formato single.

Sting também atuou como ator em Brimstone And Treacle , e marcou presença na trilha de Party Party (1982). Stewart Copeland compôs as trilhas sonoras para o filme Rumble Fish (1983), de Francis Ford Copolla e o espetáculo de dança King Lear, do San Francisco Ballet. E Andy Summers gravou I Advance Masked (1982) com Robert Fripp, do King Crimson.

Após tantos trabalhos paralelos, o trio voltou a se reunir em dezembro daquele mesmo ano para as gravações de seu novo álbum, mais uma vez contando com a coprodução de Hugh Padgham (ele estreou no álbum anterior) e realizadas no Air Studios em Montserrat, no Caribe, e no Le Studio, em Quebec, Canadá. Foram seis semanas de trabalhos, período até curto para um trabalho com tanta expectativa.

Vale registrar que naquele 1982, em função de o The Police ter momentaneamente sumido de cena, outros grupos influenciados pela sua sonoridade aproveitaram o vácuo momentâneo e se deram bem, especialmente os australianos do Men At Work, que com seu álbum Business As Usual ficaram durante 15 semanas no topo da parada americana entre novembro daquele ano e fevereiro de 1983.

Antes das gravações, Sting tirou uns dias e foi para a Jamaica, onde ficou em uma casa que pertenceu ao escritor britânico Ian Fleming (1908-1964), o criador do célebre personagem James Bond. A ideia era poder se concentrar na composição de canções para o novo álbum. E ele precisava mesmo se isolar um pouco, pois vivia um momento dos mais conturbados em sua vida.

Por um lado, conseguiu finalizar uma longa e desgastante disputa com a editora Virgin referente aos direitos autorais de suas canções, devido a um contrato draconiano assinado ainda nos tempos de vacas magras. Do outro, encarou uma dolorosa separação de Francis, com quem teve dois filhos, para ficar com a também atriz Trudie Styler, vizinha e melhor amiga de Francis.

Sting também começou a ler muitos livros, o que o inspirou a fazer letras mais profundas. A soma disso tudo levou o artista a criar um conteúdo um pouco mais intelectualizado, algo que se consolidaria ainda mais na sua carreira-solo a partir de 1985.

Synchronicity foi concebido para o formato LP, e suas 10 faixas foram distribuídas em duas metades bem distintas.

O lado A abre e fecha com canções baseadas na teoria da sincronicidade. Synchroniticy I (ouça aqui) investe em fúria e muita energia, como uma espécie de introdução a tudo o que viria a seguir no disco.

Walking in your Footsteps (ouça aqui) dá início às surpresas do álbum, com uma sonoridade tribal e percussiva, com direito a sopros certeiros e uma letra na qual Sting ironiza o ser humano, analisando a extinção dos dinossauros e insinuando que esse poderá se tornar o mesmo caminho da destruição da raça humana, apesar de nossa evidente arrogância.

Oh My God (ouça aqui), outro belo exemplar da fusão reggae-rock do grupo, traz versos de Sting que não só questionam a relação com Deus como exigem algum tipo de ação do mesmo, atitude que certamente pode ter horrorizado os mais carolas. O ritmo é envolvente e dançante.

Mother(ouça aqui), composição de Andy Summers, traz o guitarrista gritando, digo, cantando de forma desesperada, como se estivesse no divã de um psiquiatra, tendo como tema a obsessão pela mãe, claramente inspirada no filme Psicose (1960), de Alfred Hitchcock. Experimentalismo dos bons.

A insegurança gerada pela Guerra Fria entre os EUA e a então União Soviética é abordada de forma bem-humorada e sarcástica em Miss Gradenko (ouça aqui), composição de Stewart Copeland com forte influência da música africana, vertente que o baterista exploraria de forma ainda mais intensa em seu ótimo álbum solo The Rhythmatist (1985).

A primeira parte do álbum é encerrada com Synchronicity II (ouça aqui), que aborda o tema da sincronicidade de uma forma mais apocalíptica, clima muito bem explorado em seu clipe, que flagra os três músicos em um navio típico dos piratas conduzido em plena tempestade. O single foi nº 16 nos EUA e nº 17 no Reino Unido.

Propositadamente ou não, o lado B de Synchroniticy traz quatro canções de Sting que, analisadas a posteriori, equivalem às primeiras amostras do que seria a carreira-solo dele, com um material mais próximo do soft rock.

O início fica por conta do maior hit da história do The Police, Every Breath You Take (ouça aqui), que no formato single se manteve por 8 semanas no topo da parada americana. Um clássico do rock, que merece uma análise mais apurada em torno de suas contradições.

A estrutura desta canção é muito simples, e lembra a do rock balada do finalzinho dos anos 1950, que gerou hits como Diana (Paul Anka) e Oh Carol (Neil Sedaka). Essa similaridade é marcada pelo brilhante e ao mesmo tempo simples arranjo de guitarra de Andy Summers, que dá um charme todo especial, assim como a batida quase marcial da bateria de Copeland.

A bela melodia e a interpretação empolgada de Sting explicam o porque o público nos quatro cantos do mundo abraçou esta como uma linda canção de amor apaixonado, sendo tocada em bailinhos e mesmo em casamentos. No entanto, se notarmos bem sua letra, veremos que não é bem assim.

Na verdade, Sting assume nesses versos o papel de um cara obcecado por uma mulher que o deixou, dando verdadeiros recados levemente sinistros nos versos, como se fosse um stalker que vigiaria até o fim dos tempos a ex-parceira. Ele garante que não se inspirou em fatos reais, mas quem não acreditar nele não pode ser ironizado ou avacalhado…

Acredito não ter sido uma “coincidência significativa” o fato de Sting ter composto e gravado no seu álbum solo The Dream Of The Blue Turtles (1985) a sensacional If You Love Somebody Set Them Free (ouça aqui), cuja letra defende exatamente o contrário do hit anterior.

A forte carga emocional gerada pela sua separação certamente inspirou a faixa mais forte nesse aspecto do álbum, King Of Pain (ouça aqui). Ela se alterna entre um clima ora tenso e lento, ora de verdadeiro desabafo.

No formato single, King Of Pain foi o 2º maior hit do álbum, atingindo o 3º lugar nos EUA e um mais humilde 17º posto no Reino Unido. Um dos momentos mais aguardados dos shows da turnê Synchronicity era quando Stewart Copeland iniciava a música tocando vibrafone e saía correndo rumo à bateria, sem perder um único compasso e arrancando aplausos do público.

Wrapped Around Your Finger (ouça aqui), com seu clima sonoro introspectivo e reflexivo, traz como tema um tenso e cerebral duelo entre um mestre e seu discípulo, inspirada no pacto com o diabo do personagem mitológico alemão Fausto, celebrizado pela peça de Goethe. O clipe, com suas inúmeras velas, dá uma ambientação excelente para tal canção, que foi nº 8 nos EUA e nº 7 no Reino Unido, no formato single.

A versão original de Synchronicity é encerrada por Tea In The Sahara (ouça aqui), com seu espírito minimalista, andamento hipnótico e letra baseada no livro The Sheltering Sky (1949), de Paul Bowles. Essencialmente, fala sobre promessas não cumpridas. O livro foi adaptado para o cinema em 1990 por Bernardo Bertolucci e exibido no Brasil como O Céu Que Nos Protege.

As sessões de gravação de Synchronicity geraram mais três faixas muito boas, que vieram à tona inicialmente como lados B de singles e depois foram incluídas na espetacular e essencial caixa com 4 CDs Message in a Box- The Complete Recordings (1993).

Murder By Numbers (ouça aqui), belíssima e com sofisticada estrutura jazzística escrita em parceria por Sting e Andy Summers, foi incluída na versão em CD do álbum como a faixa de nº 11.

Someone To Talk To (ouça aqui) é de Andy Summers e traz como curiosidade o fato de Sting ter se recusado a cantá-la por não curtir a letra, algo que deixou o guitarrista (que teve de se incumbir da tarefa, com categoria, vale ressaltar) um pouco ressentido. Outra parceria de Sting com Andy Summers, Once Upon a Daydream (ouça aqui) envolve com sua linda melodia e uma interpretação doce e sutil do baixista.

A turnê de divulgação de Synchronicity foi até o início de 1984 e se tornou a mais bem-sucedida daquele período, com direito a um show em 18 de agosto de 1983 no Shea Stadium para cerca de 70 mil pessoas, quase 20 mil a mais do que o mitológico show dos Beatles no mesmo local em 1965. Foram 105 apresentações, realizadas de 23 de julho de 1983 a 4 de março de 1984 nos EUA, Europa, Austrália e Ásia.

O espetacular show em Atlanta foi registrado e lançado em VHS em 1984 com o título Synchronicity Live Atlanta 1983 (1984) e em versão remasterizada em DVD e com faixas adicionais em 2005, como Synchronicity Concert. No palco, a banda teve para auxiliá-los as backing vocalists Michelle Cobb, Tessa Niles e Dolette McDonald.

Quem poderia imaginar que Synchronicity seria o último disco de estúdio do The Police? Desde o seu lançamento, a banda fez em 1986 um pocket show para a Anistia Internacional e uma regravação de Don’t Stand So Close To Me. Em 2006 e 2007, realizaram uma turnê mundial, mas sequer foi cogitado gravar um novo álbum. Bem, ao menos acabaram no auge.

Ouça Synchronicity na íntegra em streaming:

Patricia Coelho e Sérgio Britto gravam single Viver de Ilusão

Patricia Coelho & Sérgio Britto 400x

Por Fabian Chacur

Em meio a projetos bem-sucedidos de releituras de músicas de Rita Lee e do grupo que integrou no início de sua carreira, o Sect(leia mais aqui), Patricia Coelho agora nos oferece um single inédito repleto de atrativos. O primeiro é o fato de ser uma música inédita de Sérgio Britto, dos Titãs, contando com o cantor e compositor em um dueto delicioso. O outro é a produção do badalado Sergio Fouad, conhecido por seus trabalhos com Titãs, Zeca Baleiro e Jota Quest.

Britto explica como surgiu essa sua colaboração com Patricia Coelho, em texto enviado à imprensa:

“Fiz essa canção dentro de um registro que tenho explorado bastante nos meus projetos solo, o da bossa nova pop. Quando o Fouad me pediu uma canção para gravar no trabalho que está desenvolvendo com a talentosa e versátil Patricia Coelho pensei imediatamente nessa composição. Adorei o resultado, o arranjo ficou com cara de bossa indie e a interpretação da Patrícia foi cirúrgica”.

Com direção de Raul Machado, o clipe traz Sérgio e Patricia em um ambiente descontraído e ensolarado que tem tudo a ver com o surf, prática esportiva pela qual a cantora se aproximou nos últimos dois anos. O single está sendo lançado pelo selo LAB 344.

Viver de Ilusão (clipe)- Patricia Coelho e Sérgio Britto:

Fall Out Boy relê o hit de Billy Joel We Didn’t Start The Fire

Fall Out Boy-400x- by Pamela Littky

Por Fabian Chacur

Em 1989, Billy Joel atingiu o 1º posto na parada norte-americana com o single We Didn’t Start The Fire, em cuja letra citava fatos e personagens marcantes da vida americana nas décadas anteriores. Em uma ideia muito interessante, a banda conterrânea Fall Out Boy acaba de lançar uma releitura desse rockão energética, substituindo os personagens da versão anterior por protagonistas e fatos desde 1989 até 2023. O resultado ficou ótimo.

Temos desde a morte de Michael Jackson até as guerras no Afeganistão, líderes políticos como Boris Johnson, ídolos do esporte como LeBron James e mesmo “Youtube Killed MTV” (O Youtube matou a MTV).

A ironia fica por conta do vídeo, com uma montagem de cenas em preto e branco em clima de guerra. Aos 24 segundos, temos a imagem que imagino ser de um certo ex-presidente brasileiro (veja aqui).

Eis a nova letra de We Didn’t Start The Fire:

Captain Planet
Arab Spring
LA Riots Rodney King
Deep fakes
Earthquakes
Iceland volcano
Oklahoma City bomb
Kurt Cobain
Pokémon
Tiger Woods
MySpace
Monsanto GMOs

Harry Potter
Twilight
Michael Jackson dies
Nuclear accident Fukushima Japan
Crimean peninsula
Cambridge analytica
Kim Jong Un
Robert Downey Jr Iron Man

We didn’t start the fire
It was always burning since the world’s been turning
We didn’t start the fire
No we didn’t light it but we’re trying to fight it

More war in Afghanistan
Cubs go all the way again
Obama
Spielberg
Explosion Lebanon
Unabomber
Bobbit, John
Bombing Boston marathon
Balloon Boy
War on terror
Qanon

Trump gets impeached twice
Polar bears got no ice
Fyre fest
Black Parade
Michael Phelps
Y2K
Boris Johnson
Brexit
Kanye West
Taylor Swift
Stranger Things
Tiger King
Ever given suez

We didn’t start the fire
It was always burning since the world’s been turning
We didn’t start the fire
No we didn’t light it but we’re trying to fight it

Sandy Hook
Columbine
Sandra Bland and Tamir Rice
ISIS
Lebron James
Shinzo Abe blown away
Meghan Markle
George Floyd
Burj Khalifa
Metroid
Fermi paradox
Venus and Serena

Michael Jordan 23
YouTube killed MTV
Spongebob
Golden State Killer caught
Michael Jordan 45
Woodstock ‘99
Keaton Batman
Bush v Gore
I can’t take it anymore

We didn’t start the fire
It was always burning since the world’s been turning
We didn’t start the fire
No we didn’t light it but we’re trying to fight it

Elon Musk
Kaepernick
Texas failed electric grid
Jeff Bezos
Climate change
White rhino goes extinct
Great pacific garbage patch
Tom DeLonge and aliens
Mars rover
Avatar
Self-driving electric cars
S-S-S-R-Is
Prince and the Queen die
World Trade
Second plane
What else do I have to say?

We didn’t start the fire
It was always burning since the world’s been turning
We didn’t start the fire
But when we are gone
It will still burn on, and on, and on
And on, and on, and on, and on, and on

We didn’t start the fire
It was always burning since the world’s been turning

We Didn’t Start The Fire (lyric video)– Fall Out Boy:

She faz seu 1º show presencial com Supla em Votorantim (SP)

She grupo estreia 400x

Por Fabian Chacur

Durante a pandemia, a extremamente competente produtora Som do Darma criou o projeto inclusivo colaborativo She, no qual foram gravados pela via remota 10 vídeos com musicistas femininas relendo clássicos de bandas femininas ou com mulheres em suas formações.

O resultado foi tão bom que surgiu a ideia de se formar uma line up da banda para shows. E a estreia vai rolar na cidade de Votorantim (SP) neste domingo (9) a partir das 15h no Parque da Pedreira, em evento que também contará com as participações de Supla e os Punks de Boutique e Eixo Central. A entrada é a doação de um litro de leite.

O quarteto traz como destaque a excelente cantora Jéssica Sirius, ex-integrante da banda Aetherea e cujo vozeirão defendeu no projeto a música I Am The Fire (do Halestorm), Thais Pancheri (baixo, da Funeral Sex), Vicky (guitarra, Wonder Maidens) e Jully Lee (bateria, ex-Nervosa). A produção cultural e direção artística do projeto She são de Susi dos Santos.

Esse time afiadíssmo mergulhará com personalidade em músicas de The Runaways, Joan Jett, L7, Hole, Garbage, Avril Lavigne, Warlock e Halestorm. No evento, também estarão à venda artigos de merchandising da She, como camisetas, bottons, adesivos e até mesmo uma marca de cerveja.

I Am The Fire (clipe)– She:

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