otis redding 400x

Por Fabian Chacur

Monterey Pop (1968), fantástico documentário sobre o festival de Monterey realizado em 1967, é um dos registros máximos da música popular em todos os tempos. Dirigido pelo genial D.A. Pennebaker, traz inúmeros momentos marcantes. E um dos exponenciais fica por conta da participação de um sujeito que, se estivesse vivo, completaria nesta quinta-feira (9) 80 anos de idade. Otis Redding não viveu isso tudo, mas a música dele, sim, e permanecerá viva enquanto houver mundo e pessoas com sensibilidade capazes de captar toda a sua energia positiva.

Nascido em Dawson, Georgia (EUA) em 9 de setembro de 1941, Otis é mais um desses frutos maravilhosos cultivados nas igrejas americanas frequentadas pelos negros. Nelas, aquela fé intensa, fruto de tanto sofrimento e injustiças impetradas a eles no decorrer de décadas e mais décadas, tomou o formato de uma música feita para desabafar, para armazenar energias e para ajudá-los a enfrentar a dura realidade. Durante décadas, permaneceu naquele ambiente.

A partir principalmente da década de 1950, elementos do que se convencionou chamar de música gospel começaram a pular a cerca dos campos religiosos e se endereçar ao meio secular, gerando caras amarradas por parte dos pastores e fiéis radicais e muita excitação por parte de quem começou a ouvir esse filho bastardo, que logo ganhou o nome de soul music. Os pais são diversos, mas o máximo é provavelmente o imenso Ray Charles. E alguns nomes foram fundamentais na consolidação desse estilo musical.

Nem é preciso dizer que Otis Redding foi um deles. Seu período de gravações foi bem curto, entre 1960 e 1967, quando morreu em um acidente de avião, mais precisamente no dia 10 de dezembro de 1967. No entanto, seu legado é absolutamente fundamental, pois ele conseguiu como poucos unir a intensidade e a devoção da música gospel original com uma categoria absoluta no trato de melodias e letras dignos da melhor música pop.

Meu momento favorito da espetacular performance dele em Monterey, que gerou um documentário próprio do próprio Pennebaker, é quando ele afirma que vai dar uma acalmada no clima do show e cantar uma música mais lenta. No caso, a impressionante I’ve Been Loving You Too Long (To Stop Now), uma das mais intensas declarações de amor jamais transformadas em música e letra.

O desempenho de Redding é de deixar todo mundo resfolegante, tamanho o tsunami de energia oferecido pelo cantor. Ele domina completamente o palco, os músicos e o público, com direito a uma repetição em quatro tempos da paradinha clássica da música que simplesmente nos deixa incrédulos. “Não, esse cara não conseguiu fazer isso!”. Mas fez. E como fez! Quando acaba, a platéia se rende, vibrando, gritando, aplaudindo, ciente de que presenciou um momento histórico.

Shake, Try a Little Tenderness, Respect,Mr. Pitiful, a deliciosa (Sittin On) The Dock Of The Bay (esta lançada de forma póstuma), enfim, o legado deixado por ele em seus 26 anos de vida nos mostra que em determinados momentos a música pode ir além de mero entretenimento e se transformar em verdadeiro alimentador de almas, dando-nos força para seguir adiante. A música de Otis tem esse poder. Desfrute disso, sem contra-indicações.

I’ve Been Loving You Too Long (live in Monterey)- Otis Redding: