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Por Fabian Chacur

Grant Hart, baterista, vocalista e compositor da seminal banda americana Husker Du, nos deixou nesta quinta-feira (14), aos 56 anos. Ele lutava nos últimos meses contra um câncer no rim, que infelizmente não teve como ser curado. Diversos músicos lamentaram essa inestimável perda, entre eles Bob Mould, seu ex-colega de banda, que divulgou sua tristeza nas redes sociais, conforme ótima matéria da edição online do jornal Star Tribune, da cidade americana de Minneapolis (leia aqui).

Em uma dessas tristes coincidências, o único show de Hart em São Paulo completará quatro anos de sua realização nesta sexta-feira (15). Foi um evento incrível, no qual o artista americano mostrou seu enorme talento e encantou os inúmeros fãs presentes à Galeria Olido (leia a resenha deste show histórico aqui). E o ingresso foi gratuito!

Grantzberg Vernon Hart nasceu em 18 de março de 1961. Ele montou o Husker Du na cidade de Minneapolis, a mesma que deu ao mundo o genial Prince, em 1979. Junto com Bob Mould (guitarra e vocal) e Greg Norton (baixo), o baterista, cantor e compositor resolveu investir em um punk rock bastante agressivo, que ganhou o rótulo de hardcore. O primeiro single do grupo, com as faixas Statues e Amusement, saiu em 1981. O primeiro álbum, o ao vivo Land Speed Record (1982), é um registro básico, cru e hardcore até a medula.

Com o tempo, o Husker Du ampliou os seus horizontes e criou uma sonoridade que pode ser definida de forma geral como se fosse uma mistura do Black Flag com os Byrds. Álbuns como Zen Arcade (1984) e Flip Your Wig (1985) os tornaram bastante conhecidos no meio underground do rock americano, a ponto de atrair a atenção da gravadora Warner, que resolveu apostar nos rockers feiosos e gordinhos, mas muito talentosos.

Candy Apple Grey (1986), a estreia deles na Warner, é uma obra-prima, na qual essa fusão de folk-rock clássico com hardcore soa simplesmente perfeita. Hart e Mould eram os compositores do grupo e também se alternavam como vocalistas principais. Dois craques. Mas as canções de Hart, maravilhas como I Don’t Want To Know If You’re Lonely e Sorry Somehow, são as melhores, poderosos diamantes sônicos bem lapidados, sem perder a energia, nem a ternura, jamais.

Infelizmente, nem esse clássico, nem o seu ótimo sucessor, Warehouse: Songs And Stories (1987), conseguiram bons números de venda. Em 1987, ou seja, há exatos trinta anos, eles acabaram se separando, especialmente devido a brigas entre Hart e Mould, rivalidade que se manteve por muitos e muitos anos e impediu qualquer chance do retorno da banda. E aquela praga que frequentemente atinge pioneiros na música os pegou em cheio.

Logo após o seu fim, bandas como Pixies e, especialmente, Nirvana, beberam com categoria em sua fonte e conseguiram colher os frutos em termos comerciais e de popularidade que foram negados ao Husker Du. Após o fim da banda, Grant Hart iniciou uma carreira-solo com o excelente Intolerance (1989), que este que vos escreve tem autografado pelo autor.

Hart ainda criou a banda Nova Mob, que se manteve por algum tempo na ativa e lançou alguns discos, mas sem sucesso. Depois, retornou à carreira-solo. Seu último trabalho individual foi The Argument (2013). Naquele mesmo ano, foi feito o documentário Every Everyting- The Music, Life & Times Of Grant Hart, de Gorman Bechard (o mesmo de Color Me Obsessed-2011, sobre os Replacements, outra banda seminal de Minneapolis), dando uma geral em sua vida.

Bob Mould voltou a se aproximar do ex-colega de banda nessa fase final. Inclusive, anunciaram há uma semana o lançamento, previsto para novembro deste ano, de Savage Young Du, caixa com três CDs trazendo gravações inéditas da fase inicial do Husker Du. Em julho deste ano, em um de seus últimos shows (ou quem sabe o último), em Minneapolis, Hart teve a participação de integrantes do Soul Asylum, Babes In Toyland e Run Westy Run. Leia mais sobre ele aqui.

Em entrevista concedida em 2009 ao Star Tribune, o músico, que foi amigo de Patty Smith e Willian S. Burroughs, deu uma declaração que pode servir como um belo epitáfio: “Acho que o trabalho que eu produzi durante a minha vida irá mais do que reparar o mundo por alguma inconveniência que eu tenha causado”. Descanse em paz.

Candy Apple Grey- Husker Du (ouça em streaming):