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Made in Japan (Deep Purple) volta em bela versão deluxe

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Por Fabian Chacur

Made in Japan, do Deep Purple, costuma ser presença certa nas listas dos melhores álbuns ao vivo da história do rock. Com toda a justiça. Quem por ventura ainda não entende o porque este álbum é tão cultuado tem agora a oportunidade de conferir uma Deluxe Edition lançada no Brasil pela Universal Music que reforça a qualidade deste trabalho sublime.

Em 1972, o grupo inglês de heavy metal vivia um momento iluminado de sua existência, provavelmente o auge da chamada mark II, segunda formação de sua história e iniciada em 1969. Faziam parte dela o carismático vocalista Ian Gillan, o incrível guitarrista Ritchie Blackmore, o excepcional tecladista Jon Lord, o seguro baixista Roger Glover e o potente baterista Ian Paice. Um timaço com talento acima da média.

O grande mérito do Deep Purple sempre foi a capacidade de dosar o pique e a simplicidade do rock and roll com improvisações criativas e dignas do jazz e da música erudita, gerando uma sonoridade própria que influenciou gerações de outros músicos nos anos que viriam. Técnica e garra em um único e generoso pacote musical cultuado até hoje.

As sete faixas de Made in Japan foram gravadas em três shows realizados no Japão nos dias 15 e 16 de agosto de 1972 em Osaka e um terceiro no dia 17 de agosto do mesmo ano em Tokyo, este último no lendário Budokan Hall. Uma é do primeiro show, quatro do segundo e duas do terceiro, montadas de forma a soar como um único espetáculo.

As releituras “live” de Highway Star, Child In Time, Smoke On The Water, The Mule, Strange Kind Of Woman, Lazy e Space Truckin’ acrescentam adrenalina aos já ótimos registros de estúdio, mantendo o formato básico de cada música e acrescentando a elas com brilhantismo novos solos, novos duelos instrumentais e novas interpretações vibrantes do cantor Ian Gillan. De tirar o fôlego.

Essa sublime Deluxe Edition traz, além da versão remasterizada do álbum original, um segundo CD com os bis de cada show, com direito a três versões de Black Night, duas de Speed King e uma de Lucille, esta última cover do hit do roqueiro Little Richard. Uma ótima ideia, pois essas interpretações são também bastante legais e diferentes entre si, com nuances entre uma e outra versão.

A bela embalagem digipack do álbum é em cartão duro e abre em quatro partes. Além de trazer fotos expressivas, o encarte conta com prefácio de Slash e um belíssimo texto assinado por Malcom Dome repleto de informações das mais interessantes. Uma delas é simplesmente inacreditável: nenhuma das fotos usadas na capa, contracapa e encarte do CD foram tiradas nos shows japoneses!

Sim, é isso mesmo que você leu. As imagens são de shows realizados em Londres na mesma época, e a explicação dada pela produção do disco fica por conta de o público no Japão na época ficar muito distante do palco e sentado, impossibilitando registros que fossem compatíveis com a energia do show. Temos também outra peculiaridade surpreendente.

A foto na contracapa traz, agitando na plateia e na direção de Ritchie Blackmore, um loirinho cabeludo de 14 anos que, tempos depois, iria se tornar também um astro do rock. Trata-se de Phil Collen, guitarrista do Def Leppard, que no texto incluído no encarte afirma que aquele show foi uma das razões que o levaram a querer se tornar um músico de rock.

Indispensável em qualquer discoteca básica roqueira decente, Made in Japan é a prova definitiva de que em determinados estilos do nosso amado rock and roll o que vale mesmo é a capacidade de se entrar em um palco e ir além das expectativas, acrescentando qualidade ao que já era bom na sua origem. Arrepiante e seminal.

Ouça Made in Japan, do Deep Purple, em streaming:

Nubia Maciel mergulha muito bem em outros sons em CD

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Por Fabian Chacur

Nubia Maciel é, há dez anos, a vocalista do Samba de Rainha, grupo feminino que lançou os ótimos CDs Vivendo Samba e Contrariando a Regra e possui público cativo em seus shows, especialmente em São Paulo. Como forma de ampliar seus horizontes musicais, a cantora e compositora lança seu primeiro disco solo, Uma Qualquer, e dá um banho de versatilidade e bom gosto.

A vocação de Nubia enquanto artista sempre me pareceu ser não cair em clichês e não repetir posturas alheias. No Samba de Rainha, seu jeitão de cantar o mais brasileiro dos ritmos apresenta uma forte atitude roqueira, que me levou a apelida-la de “Cássia Eller do samba”. Neste primeiro trabalho solo, ela novamente surpreende o ouvinte com uma abordagem original.

O objetivo deste CD era um mergulho na música pop, com direito a elementos de rock, música latina, soul e o que mais pintasse, inclusive algumas pitadas de samba aqui e ali. Nubia optou por uma postura mais sutil em termos vocais se comparada com o seu trabalho no Samba de Rainha, e nos oferece um outro lado da sua voz que soa muito legal e muito cativante também.

Os arranjos das nove faixas primam pela irreverência, no sentido de não seguir cânones rígidos para cada estilo. O envolvente pop-rock Eu Amei, que abre o CD, por exemplo, traz uma participação marcante de trombone, instrumento inesperado para este tipo de música. Tal riqueza de detalhes permeia cada canção, com originalidade e consistência.

O repertório, que se divide entre composições de Nubia com vários parceiros e obras de pessoas do seu círculo de amizades musicais, é certeiro, primando pelo bom gosto. Como é Bom Esse Amor, Às Vezes Não, Uma Qualquer, Alvo Errado, é uma faixa mais bacana do que a outra, com direito a letras simples falando sobre temas com os quais todos podemos nos identificar, especialmente as tais idas e vindas do amor.

A produção, a cargo do badalado Gustavo Ruiz, deu o toque perfeito para que esse projeto pudesse se tornar tão bem resolvido, e permite que a inclusão de ritmos tão distintos entre si (incluindo bolero) não se choquem ou naufraguem na primeira esquina. Os músicos participantes apostam na simplicidade sofisticada, agregando muito valor ao CD.

Se torcemos para que o Samba de Rainha continue firme e forte pelos anos que virão, esta primeira investida solo de Nubia Maciel prova que ela pode perfeitamente levar uma carreira paralela de grande importância, e na qual dá vasão a estilos que não poderia explorar no grupo. Um plano perfeito, que abre horizontes para os dois lados.

Às vezes não (clipe)- Nubia Maciel:

Já Não Te Quero Mais– Nubia Maciel:

Mike Garson participa de CD autoral de André Frateschi

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Por Fabian Chacur

Nos últimos anos, o cantor André Frateschi se tornou bastante conhecido por capitanear o projeto Heroes, dedicado com brilhantismo ao trabalho de David Bowie. Ele agora se prepara para lançar o primeiro álbum autoral, Maximalista, previsto para sair no início de agosto. Nele, uma surpresa daquelas: a participação do pianista e tecladista Mike Garson.

Os fãs mais fieis de David Bowie certamente sentiram um arrepio ao ler esse nome. Para quem não sabe, Mike Garson é simplesmente o músico responsável pelo espetacular solo de piano no clássico hit Alladin Sane, um dos mais cultuados da história do rock. Mais: tocou em álbuns seminais do Camaleão do Rock, como Alladin Sane (1973), Young Americans (1975), Black Tie White Noise (1993) e Reality (2003), só para citar alguns desses clássicos marcantes.

Tudo começou quando Frateschi fez um contato com Garson e lhe mandou algumas músicas, convidando-o para participar do álbum. O músico gostou tanto do que ouviu que marcou presença em seis faixas, a saber: Queda, Tudo Vai Dar Tempo, Eu Não Tenho Saco, Gosto da Raiva, Isso é Coisa Pra Homem e É Tudo Nosso. De quebra, ainda compôs e gravou para o brasileiro a faixa Soul Searching, também incluída no CD.

Maximalista é um CD duplo com 15 faixas produzidas no estúdio 12 Dólares por Fábio Pinczowski e Mauro Motoki. O premiado quadrinista Fábio Moon criou duas imagens exclusivas que foram utilizadas no projeto gráfico do álbum. Nem é preciso dizer que a expectativa em torno do álbum autoral de Frateschi é grande, ainda mais depois do anúncio desse convidado mais do que especial. Que aval!

Cracked Actor (David Bowie), ao vivo, com André Frateschi:

Caixa com álbuns clássicos do grupo Mutantes sai em breve

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Por Fabian Chacur

Está prevista para sair no dia 29 de julho uma caixa dedicada a um dos grupos mais importantes da história do rock brasileiro, os Mutantes. A compilação reúne os álbuns lançados pela banda em sua fase áurea, entre 1968 e 1972, mais o póstumo Tecnicolor (gravado em 1970 mas lançado apenas em 1999) e uma coletânea contendo raridades e colaborações do grupo com outros artistas.

Os discos de carreira incluídos no pacote são Os Mutantes (1968), Mutantes (1969), A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado (1970), Jardim Elétrico (1971) e Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets (1972). Tecnicolor só saiu em 1999 e foi gravado na Europa em 1970.

A coletânea Mande Um Abraço Pra Velha, criada especialmente para integrar esta caixa, mescla gravações raras lançadas em compactos de vinil a colaborações da banda com artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil. As faixas são: Domingo no Parque, Canção Pra Inglês Ver/Chiquita Bacana, Ando Meio Desligado (versão compacto), The Rain The Park And Other Things, Cinderella Rockfella, Glória Ao Rei Dos Confins do Além, Baby, Saudosismo, Marcianita, A Voz do Morto, Lady Madonna, Mande Um Abraço Pra Velha e Ando Meio Desligado.

Ouça Mande Um Abraço Pra Velha, com os Mutantes:

Morre Vange Leonel, da faixa Noite Preta e do grupo Nau

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Por Fabian Chacur

Morreu na tarde desta segunda-feira (14) aos 51 anos a cantora, compositora, colunista e ativista LGBT Vange Leonel. Ela foi vítima da metástase de um câncer no ovário descoberto há apenas 20 dias, e estava internada no Hospital Santa Isabel/Santa Casa, em São Paulo. A artista deixa a jornalista Cilmara Bedaque, companheira há quase 30 anos.

Vange ficou conhecida no meio underground paulistano nos anos 80 integrando a banda Fix-Pá. Logo a seguir, criou o grupo Nau com Zique (guitarra), Beto Birger (baixo) e Mauro Tad Sanchez, que em pouco tempo foi convidado a participar da coletânea Não São Paulo II, do selo Baratos Afins. Antes da compilação sair, no entanto, o quarteto foi contratado pela CBS/Sony Music.

Nau (1987), primeiro e único LP lançado pelo quarteto paulistano, entrou para a história como um dos melhores álbuns de rock dos anos 80, combinando hard e heavy rock com refinamento e muito pique. Bons Sonhos é um dos destaques deste álbum, que levou o grupo a ter ótimas matérias e a ser capa da revista independente paulistana Som & Imagem, da qual este repórter era o editor à época.

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Mesmo com tantos elogios e tendo feito ótimos shows, entre os quais um antológico no Sesc Pompeia na mesma programação que incluía outra banda clássica daquele período, o 365, o Nau acabou saindo de cena sem o reconhecimento que merecia. O seu único LP e a participação em Não São Paulo II são seus únicos registros oficiais.

Em 1991, Vange Leonel voltou à cena novamente pela Sony Music, mas com um álbum solo homônimo no qual investia em dance music à sua moda. O grande destaque do CD foi Noite Preta, faixa que acabou como tema de abertura da novela global Vamp e se tornou seu maior sucesso comercial. Bom exemplo de música de qualidade que atraiu as massas.

Infelizmente a trajetória solo de Vange também não teve continuidade em termos de sucesso, e ela acabou se tornando mais conhecida por sua atuação como colunista defendendo os direitos do público LBGT em veículos como a Folha de S.Paulo. Neles, esbanjou bom senso e a capacidade de tratar de temas delicados com sensibilidade.

Madame Oráculo– Nau:

Bons Sonhos– Nau:

Noite Preta– Vange Leonel:

Pedro Lima une belas canções e improviso em CD Liberdade

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Por Fabian Chacur

Há 15 anos trabalhando no meio musical, Pedro Lima é conhecido como produtor, guitarrista e compositor. Ele atua na área de jingles, além de ter gravado com nomes importantes da atual cena musical, como Marina de La Riva, Fabiana Cozza, Thaís Gullin, Luciana Mello e Simoninha, entre outros.

Ele também desenvolve uma carreira solo que acaba de gerar seu segundo fruto, o CD Liberdade, no qual investe em sete composições individuais, uma inusitada parceria com a escritora Hilda Hilst e o standard do jazz americano The Best Is Yet To Come. Um trabalho sofisticado e muito bom de se ouvir.

Em entrevista exclusiva a Mondo Pop, Pedro Lima fala sobre o novo álbum (sucessor de Se Você Diz Não) e também sobre outros fatos relativos à sua bem-sucedida trajetória profissional.

Mondo Pop-Quais as principais diferenças entre Liberdade e Se Você Não Diz, seu primeiro trabalho solo?
Pedro LimaSe Você Diz Não é de 2009, um outro momento musical pra mim. Estava mais preocupado em ser mais popular. Foi produzido por um outro músico. Já em Liberdade eu mesmo o produzi e me preocupei menos em ser popular, quis valorizar os improvisos. Quis também mostrar mais meu lado instrumentista.

Mondo Pop- Para mim, Liberdade consegue conciliar um repertório de canções com bons espaços para improvisações, algo não tão fácil de se fazer. Esse era o seu objetivo com esse álbum?
Pedro Lima– Sim!! Há muitos instrumentistas da cena paulista fazendo solos no disco. Eu mesmo improviso em algumas faixas.

Mondo Pop- O álbum foi gravado durante um período de quase quatro anos. O conceito que você tinha em relação a ele mudou durante todo esse período ou se manteve?
Pedro Lima– O conceito se manteve, porque era calcado nas canções. Algumas músicas apareceram mais para o final do processo, como foi o caso de Leve Comigo.

Mondo Pop- Que critérios você seguiu para escolher os músicos que participaram do CD?
Pedro Lima– Amizade e afinidade com eles.

Mondo Pop- Como surgiu a ideia de reler o standard The Best Is Yet To Come?
Pedro Lima– Sempre adorei esse standard americano. As gravações de Frank Sinatra e Joshua Redman me marcaram muito.

Mondo Pop- Leve Comigo também foi gravada como Dance Avec Moi, com letra em francês, para o projeto Marie Madeleine Music (leia resenha desse CD aqui). Fale um pouco de como surgiu essa música, e compare as duas versões.
Pedro Lima– Essa música surgiu por encomenda para esse projeto para a Luciana Mello cantar. Eu gostei muito do resultado e resolvi fazer também uma versão em português. A versão em português é mais simples, só de voz e violão, resgatando esse formato no qual investi durante um tempo tocando em bares em Londres.

Mondo Pop- Você participa de trabalhos alheios e também atua na área de jingles publicitários. Isso te ajuda a ampliar os horizontes musicais, te dá uma visão mais eclética da música?
Pedro Lima– Sim! Aprendi a ficar bem mais eclético! O lema de quem trabalha com trilha é: “trilheiro não tem praia, tem barquinho”. Na ideia de que visita diversas praias musicais, mas não se apega a nenhuma.

Mondo Pop- Como surgiu a ideia de musicar os textos da Hilda Hilst na canção Tu Não Te Moves de Ti? Há planos de outras experiências desse tipo com textos dela ou de outros autores?
Pedro Lima– Acho difícil musicar poesia. Fiz uma livre adaptação de um livro de prosa de Hilda. Acho o trabalho dela incrível, mas não sei se me aventuraria a musicar poesia mesmo.

Mondo Pop- Você recentemente atuou no projeto Marie Madeleine Music (leia resenha do CD aqui), que concilia de forma criativa e original o lado promocional da boutique gourmet com um conteúdo musical que também soa bem fora desse contexto. Fale um pouco da importância dessa experiência para você.
Pedro Lima– Foi muito bacana, porque envolveu músicas originais com letras em francês. Considerando o estilo de cada intérprete, e tendo liberdade criativa. Foi muito bom compor e arranjar sob encomenda.

Mondo Pop- Você fará shows para divulgar Liberdade? Se a resposta for afirmativa, como serão esses shows e que músicos estarão com você no palco?
Pedro Lima– Sim, estamos planejando um lançamento muito em breve. Infelizmente não poderei colocar todos os músicos no palco, mas uma boa parte deles estará presente.

George Michael dá aula como intérprete em Symphonica

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Por Fabian Chacur

Até janeiro de 1991, este crítico que vos tecla encarava George Michael como um bom artista. Após presenciar os dois shows protagonizados por ele no Rock in Rio II, passei a respeitá-lo não só como um astro pop, mas especialmente como um excepcional intérprete, capaz de pegar músicas alheias e dar a elas um tempero todo seu. Coisa que poucos conseguem.

Esse lado do cantor e compositor britânico já cinquentão aflora novamente, e de forma intensa, em seu novo CD, Symphonica, que acaba de sair no Brasil pela Universal Music em versão standard, com 14 músicas. No exterior, a edição Deluxe traz três faixas adicionais, e também temos no exterior uma edição “pure audio blu-ray”, com qualidade superior de áudio.

Symphonica, como o título já entrega, mostra o autor de Careless Whispers e tantos outros hits acompanhado por um grupo pop e também por uma orquestra montada especialmente para a ocasião. Os registros foram feitos ao vivo durante a turnê 2011/2012 do artista, com gravações essencialmente feitas no mitológico Royal Albert Hall, em Londres, e algumas em Nova York.

O álbum em sua edição standard conta com apenas seis composições próprias do ex-integrante do grupo Wham!, entre os quais Praying For Time, Cowboys And Angels e One More Try, e onze covers escolhidos a dedo, só para variar, e fugindo de obviedades. Standards, por exemplo, temos, entre outros, My Baby Just Cares For Me (conhecida na voz de Nina Simone) e Brother Can You Spare a Dime (hit com Bing Crosby).

Na área pop, Michael deu uma aula de pesquisa. Idol, por exemplo, é uma composição de Elton John e Bernie Taupin integrante do álbum Blue Moves (1976) desconhecida pelos fãs dos hits do astro pop. Let Her Down Easy, por sua vez, faz parte do CD Symphony Or Damn, grande trabalho do cantor e compositor britânico Terence Trent D’Arby que saiu em 1993 e, mesmo sendo tão bom, passou batido por público e crítica. Não por George Michael.

Ao contrário do que ocorre com alguns artistas quando são acompanhados por orquestra, Mr. Michael não deixa o momento luxuoso lhe subir a cabeça. Suas interpretações são precisas, repletas de emoção, domínio de cena e técnica impecável. O que ele faz com The First Time Ever I Saw Your Face, primeiro hit de Roberta Flack, é coisa de craque, de quem ouviu muito a canção e descobriu novas nuances nela.

A performance comercial de Symphonica até o momento foi brilhante no Reino Unido, onde atingiu o primeiro lugar, e pobre nos EUA, não passando do número 60 nas listas dos mais vendidos da terra de Barack Obama. Mas isso é detalhe. Vale lembrar que este foi o último trabalho do genial produtor Phil Ramone, morto em 2013 e conhecido por atuar com Paul McCartney, Billy Joel e inúmeros outros.

Se você é fã de música pop sofisticada, bem arranjada e ao mesmo tempo acessível ao ouvido médio, não pode deixar de ouvir Symphonica, mais uma prova de que George Michael é muito mais do que aquele cantor de sucesso que se manteve nos primeiros postos das paradas pop nos anos 80 e metade dos 90. O cara é um artista com pedigree clássico, dos bons mesmo, sempre oferecendo o máximo a seus fãs.

Ouça Let Her Down Easy, com George Michael:

Tuia Lencioni grava música e um clipe com Guarabira; veja

tuia-400xPor Fabian Chacur

Duas gerações da música folk brasileira se uniram em novo videoclipe. De um lado, Gutemberg Guarabira, um dos pioneiros do gênero no Brasil e integrante do duo Sá & Guarabira e do seminal trio Sá, Rodrix & Guarabira. Do outro, Tuia Lencioni, que desde os anos 90 ajuda a ampliar os horizontes do folk brasileiro. O resultado não podia ter sido melhor.

Apresentados pela produtora Thelma Lucas, Guarabira e Tuia se entenderam rapidamente, e a possibilidade de um trabalho conjunto não demorou a surgir. A música escolhida foi Flor, de Tuia e uma das faixas de seu mais recente CD solo, Jardim Invisível (leia entrevista com o cantor e compositor falando sobre a carreira e esse álbum aqui).

Filmado por Fernando Bozo e editado por Lisia Campos, o clipe é despojado e flagra os dois cantores durante as gravações em estúdio dessa nova versão de Flor, com clima de pura amizade e colaboração. A nova gravação será trabalhada nas rádios dedicadas à MPB, e existem boas chances de novos encontros entre Tuia e Guarabira para shows.

Veja o clipe de Flor, com Tuia Lencioni e Guarabira:

Novo CD de Fernanda Takai é delicioso e surpreendente

Por Fabian Chacur

Além de integrar o Pato Fu, Fernanda Takai iniciou há alguns anos uma carreira solo paralela, na qual desenvolve sonoridades distintas das que marcam a banda que a tornou conhecida nacionalmente há mais de 20 anos. Na Medida do Impossível, lançado pela gravadora Deck com patrocínio do projeto Natura Musical, é mais um banho de delicadeza, criatividade e sensibilidade desta talentosa cantora e compositora.

As 13 faixas incluídas no novo trabalho individual da vocalista do Pato Fu se dividem basicamente em três grupos: composições inéditas dela com novos parceiros, versões de canções em outras línguas das mais variadas origens e releituras de canções da era da Jovem Guarda e do universo que alguns rotulam como música brega, mas que pode ser chamado de música popular de fato.

Com produção a cargo do marido e colega de Pato Fu John Ulhôa, o álbum, que Takai definiu de forma bem-humorada como de “menininha” em entrevista a Mondo Pop(leia aqui), tem como eixo os vocais delicados, afinadíssimos e envolventes da moça, daqueles que a gente reconhece logo nos primeiros segundos de audição.

Das inéditas, se sobressaem a tocante Partida, a certeira Quase Desatento (parceria com Cliério Ferreira e Marina Lima) e Seu Tipo (composta em dobradinha com Pitty). As releituras incluem pérolas de Benito Di Paula (Como Dizia o Mestre), Trio Ternura (Liz) e Reginaldo Rossi (Mon Amor Meu Bem Ma Femme, dueto de Takai com Zélia Duncan), enquanto no setor versões o ponto alto é Pra Curar Essa Dor, de George Michael (Heal The Pain) e alvo de bela dobradinha com Samuel Rosa (Skank).

Os arranjos vocais e instrumentais conseguem ser sofisticados e detalhistas sem cair na monotonia ou no excesso de elaboração que às vezes mata as melhores intenções artísticas. Aqui, felizmente a mistura dá certinho, e os músicos não se excedem em momento algum. E vale elogios à belíssima embalagem digipack que acompanha o CD. Takaizinha se mostra melhor do que nunca nessa bela incursão não tão solo assim.

Ouça Na Medida do Impossível na íntegra em streaming:

Kappa Crucis mostra força do rock paulista com novo CD

Por Fabian Chacur

Já vai longe o tempo em que só nas capitais brasileiras é que surgiam bandas de rock de real qualidade e consistência artística. O interior do estado de São Paulo, por exemplo, é um dos grandes celeiros do rock pesado do nosso país. Uma das bandas mais bacanas desse cenário, a Kappa Crucis, acaba de lançar seu 2º CD, Rocks, verdadeira tour de force em termos de consistência artística e criação roqueira.

Lógico que tanta qualidade não poderia ter surgido do nada. A banda iniciou sua carreira na cidade de Apiaí (SP) em meados dos anos 90, e lançou cinco trabalhos no formato demo até sentir que era a hora de apresentar um CD cheio. Isso ocorreu em 2009 com Jewel Box (nome em inglês da caixinha que abriga os CDs), que trouxe músicas extraídas das demos e também faixas inéditas,

Bastante elogiado, o álbum agora é sucedido por Rocks, que conta com a formação que podemos considerar a clássica da Kappa Crucis: F. Dória (bateria, vocal de harmonia), G. Fischer (guitarra e vocal principal), R. Tramontin (baixo e vocal de apoio) e A. Stefanovitch (teclados e vocal de apoio). Gravado no Ger Som Estúdio, situado na cidade de Itapeva (SP) e masterizado no estúdio Vertex C em Montereal no Canadá, o álbum esbanja qualidades.

O som do quarteto tem como base o heavy metal, mas vai muito além em termos de sonoridades, mostrando influências do Deep Purple em sua fase inicial (anos 1960), Uriah Heep, rock sulista americano dos anos 70, Black Sabbath (fases Ozzy e Dio), psicodelismo e até mesmo o grunge do Soundgarden (também filhotinhos do Black Sabbath). Uma mistura bacana, original e inspirada.

Os vocais frequentemente seguem o clima épico do metal dos anos 80, sempre bem concatenados. Os músicos esbanjam bom senso e qualidade técnica, solando com categoria e concisão quando os espaços surgem e criando um invólucro sonoro original e digno do que se faz de melhor no rock pesado em termos mundiais na atualidade. Cada faixa traz suas próprias surpresas e nuances, em um trabalho detalhista e feito no capricho.

Os duelos guitarra/teclados em What Comes Down, o delicioso clima rock balada de Invisible Man, a energia bruta bem lapidada de Flags And Lies e o clima rock sulista ianque total de When The Legs Are Wheels são bons momentos de um álbum forte, consistente e prova mais do que sólida da força que o heavy rock ganhou no Brasil nas últimas décadas. Rocks é um dos melhores CDs de rock pesado do ano.

Veja a pré-produção de Flags And Lies, do Kappa Crucis:

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