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Pure McCartney: bela viagem pela obra de um gênio musical

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Por Fabian Chacur

Coletâneas costumam ser encaradas de forma não muito positiva por críticos e fãs mais radicais de música. O argumento é sempre o mesmo: seria uma forma de apresentar uma obra de forma fatiada, com escolhas nem sempre justificáveis e frequentemente mostrando um retrato nada fiel do artista enfocado. Questão de opinião. Para mim, coletâneas são, quando bem feitas e bem planejadas, belas obras de entrada para obras musicais. Eis a função que Pure McCartney, álbum duplo que acaba de sair no Brasil, pode cumprir em relação ao trabalho de Paul McCartney.

Pure McCartney pode ser encontrado no exterior em três formatos: o mesmo CD duplo com 39 faixas, uma caixa com 4 CDs (contendo 67 faixas) e vinil quádruplo com 41 faixas. Todas essas alternativas seguem o mesmo conceito, conforme explica texto escrito pelo próprio Macca no encarte que acompanha os lançamentos: “uma coleção de minhas gravações tendo em mente nada além de ser algo divertido para se ouvir, ou talvez para ser ouvida em uma longa viagem de carro, ou em um evento em casa ou ainda uma festa com amigos”. Simples assim.

Dessa forma, fica fácil entender o porque vários sucessos marcantes ficaram de fora, preteridos em alguns casos por músicas não tão conhecidas. O repertório cobre toda a carreira solo do ex-beatle, indo desde 1970 até 2014. Para aquele fã que tem tudo do artista, só cinco itens mais interessantes: os remixes de Ebony And Ivory, Say Say Say, Here Today e Wanderlust, e a belíssima Hope For The Future, lançada em 2014 para a trilha do vídeo game Destiny e disponível anteriormente apenas no exterior em um single de 12 polegadas de vinil.

O repertório não foi ordenado de forma cronológica, o que nos proporciona saborosas idas e vidas por fases bem distintas do trabalho do artista. A curiosidade fica por conta de a primeira e a última faixa em todos os formatos serem as mesmas e oriundas do primeiro álbum solo do astro britânico, McCartney (1970), respectivamente Maybe I’m Amazed e Junk. Isso não deve ser obra do acaso…

As músicas contidas nesta compilação reforçam um sonho que muitos fãs do autor de Yesterday gostariam de realizar: ter a chance de ver um de seus shows só com material da carreira-solo, sem canções dos Beatles. Nada contra o repertório maravilhoso dos Fab Four, mas é que McCartney tem tantas músicas boas de 1970 para cá que seria bem bacana poder ouvir ao vivo uma Heart Of The Country, por exemplo, ao invés da milésima interpretação de Hey Jude.

Ouvir Pure McCartney é uma bela oportunidade de se curtir a incrível versatilidade de um grande talento. Power ballad em Maybe I’m Amazed, disco music em Coming Up, soul-jazz em Arrow Through Me, folk puro em Junk, pop delicioso em Listen To What The Man Said, rock na veia em Jet, rock eletrônico em Save Us, lirismo puro em Here Today

A variedade de estilos é incrível, sempre com grande qualidade técnica e artística. E acredite: com o material que sobrou, mesmo se levarmos em conta a caixa com quatro CDs, ainda restou material bom o suficiente para justificar pelo menos umas quatro compilações do mesmo gênero, sem repetir faixas e com a mesma força.

O único problema para o neófito que se meter a ouvir Pure McCartney é acabar se viciando no som do cara, e por tabela sair atrás de toda a sua obra. É disco pra burro!!! Mas pode ter certeza de que vale a pena colecionar. Tipo do vício sem contraindicações. E reforço o ponto: ótimo para desancar quem acha que o trabalho solo de Paul McCartney não está a altura do que ele fez nos Beatles. Não? Pense outra vez!

Arrow Through Me– Wings:

Dear Boy– Paul McCartney:

Hope For The Future– Paul McCartney:

Álbum ao vivo dos Beatles vai enfim sair em CD, com bônus

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Por Fabian Chacur

Live At The Hollywood Bowl, disco lançado originalmente em vinil em 1977 e um dos únicos álbuns oficiais dos Beatles nunca relançados, enfim ganhará sua versão em CD. A informação é do site americano da Billboard. O álbum chegará às lojas no dia 9 de setembro, em versão com 17 faixas, quatro a mais do que a edição original, além de um inédito e luxuoso livreto com 24 páginas e trazendo fotos inéditas e texto do premiado jornalista americano David Fricke.

Esse disco, cuja capa original ilustra este post, é histórico. Trata-se do primeiro lançamento oficial de gravações ao vivo dos Fab Four, feitas em agosto de 1964 e agosto de 1965 em shows realizados no Hollywood Bowl, em Los Angeles, Califórnia (EUA). Os registros foram feitos com apenas três pistas de gravação, e trazem como marca registrada a incrível gritaria dos fãs americanos durante toda a apresentação.

Gilles Martin, filho do lendário e saudoso produtor dos Beatles, George Martin, e Sam Okell foram incumbidos de, a partir das fitas originais, melhorar a qualidade sonora, e afirmam terem conseguido cumprir a missão no resultado final. Quatro músicas foram adicionadas à nova versão de Hollywood Bowl: You Can’t Do That, Baby’s In Black, I Want To Hold Your Hand e Everybody’s Trying To Be My Baby. Além de versões em CD e digital, lançadas simultaneamente, o álbum também sairá em vinil de 180 gramas no dia 18 de novembro.

O lançamento ocorrerá uma semana antes do que o filme Eight Days a Week: The Touring Years, de Ron Howard, que é um documentário sobre a fase 1962-1966 dos Beatles, concentrada nos shows realizados pela banda naquela fase, apelidada de Beatlemania. A foto da capa do novo LP e do cartaz do filme foi feita pelo tour manager da turnê americana Bob Bonis. O lançamento original atingiu o segundo lugar nos EUA e o primeiro no Reino Unido, na época.

Lista das músicas da nova versão de Live At The Hollywood Bowl:

1. Twist and Shout [30 August, 1965]

2. She’s A Woman [30 August, 1965]

3. Dizzy Miss Lizzy [30 August, 1965 / 29 August, 1965 – one edit]

4. Ticket To Ride [29 August, 1965]

5. Can’t Buy Me Love [30 August, 1965]

6. Things We Said Today [23 August, 1964]

7. Roll Over Beethoven [23 August, 1964]

8. Boys [23 August, 1964]

9. A Hard Day’s Night [30 August, 1965]

10. Help! [29 August, 1965]

11. All My Loving [23 August, 1964]

12. She Loves You [23 August, 1964]

13. Long Tall Sally [23 August, 1964]

14. You Can’t Do That [23 August, 1964 – nunca antes lançada]

15. I Want To Hold Your Hand [23 August, 1964 – nunca antes lançada]

16. Everybody’s Trying To Be My Baby [30 August, 1965 -nunca antes lançada ]

17. Baby’s In Black [30 August, 1965 – nunca antes lançada]

The Beatles Live At The Hollywood Bowl:

The Beatles Live At The Hollywood Bowl (versão não oficial):

Paulo Miklos deixa Titãs para seguir o seu próprio caminho

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Por Fabian Chacur

Os Titãs anunciaram na manhã desta segunda-feira (11) mais uma alteração em sua formação. Desta vez, quem sai do time é o cantor, compositor e músico Paulo Miklos, por razões pessoais e com o intuito de se dedicar em tempo integral a seus próprios projetos. O trio de fundadores ainda restantes (Sérgio Britto, Tony Bellotto e Branco Mello) seguirão adiante com a banda, e terão como músicos convidados o guitarrista Beto Lee (filho de Rita Lee e Roberto de Carvalho) e o baterista Mário Fabre.

Não chega a ser uma surpresa a decisão de Paulo Miklos. Sua agenda tem ganho cada vez mais tarefas desde que começou a se dedicar com sucesso ao cinema, como ator, em filmes como O Invasor (2001), Boleiros 2 (2006), É Proibido Fumar (2009) e Dá Licença de Contar (2015). De quebra, estreou no teatro em 2015 como protagonista do espetáculo Chet Baker: Apenas Um Sopro, além de atuar em programas de TV e rádio e também em publicidade. O cara é fera!

Como artista solo, paralelamente à atuação nos Titãs, ele lançou os CDs Paulo Miklos (1994) e Vou Ser Feliz e Já Volto (2001), além de fazer shows temáticos, como um dedicado ao repertório de Noel Rosa. Nos Titãs, tocava sax, baixo e guitarra, além de ser vocalista de voz poderosa, destacada em sucessos como Diversão, Bichos Escrotos e É Preciso Saber Viver. Vai ser duro para seus colegas seguirem em frente sem ele.

Desde o início de sua carreira, há 34 anos, os Titãs já sobreviveram a várias alterações. O primeiro a sair, antes mesmo do lançamento de seu álbum de estreia, foi Ciro Pessoa. Em 1985, André Jung (bateria) iria para o Ira! e seria substituído pelo ex-baterista daquela mesma banda, Charles Gavin. A estabilidade no time se manteria até 1992, quando Arnaldo Antunes bateria suas asas, rumo a uma carreira solo.

Em 2001, uma tragédia se incumbiu de gerar nova mudança na formação da banda, com a morte de Marcelo Fromer. No ano seguinte, o baixista Nando Reis resolveu seguir os passos de Arnaldo Antunes rumo a uma carreira individual de muito sucesso. Charles Gavin deixou os amigos em 2010 para se dedicar a outros projetos, e agora, é a vez de Paulo Miklos. Boa sorte para Britto, Mello e Bellotto, e que eles sejam bem-sucedidos em manter bem cotado o nome dessa ótima banda.

Diversão– Titãs:

Bichos Escrotos– Titãs:

Vou Tirar Você Desse Lugar– Titãs:

Greatest Hits-Queen é o disco mais vendido no Reino Unido

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Por Fabian Chacur

Nunca o Queen teve tanta razão por cantar a música We Are The Champions como agora. Segundo informação divulgada pela parada de sucessos oficial do Reino Unido, a Britain’s Official Albums Charts, que completou 60 anos de existência este ano, o álbum mais vendido da história daquela parte do mundo é Greatest Hits, da banda do saudoso Freddie Mercury. O disco vendeu 6.1 milhões de cópias por lá desde que foi lançado, em 1981.

Primeira coletânea a dar uma geral nos principais sucessos do grupo britânico, concentrando-se na fase entre 1973 e 1980, Greatest Hits teve versões com ligeiras mudanças de repertório em outros países. No Brasil, por exemplo, a faixa Seven Seas Of Rhye deu lugar a Love Of My Life, na versão ao vivo do álbum Queen Live Killers, certamente a canção de maior sucesso do quarteto por aqui. Essas alterações estratégicas tiveram a autorização do próprio grupo, na época.

Outro álbum de Brian May e sua turma, não por coincidência Greatest Hits II (1991), também entrou na lista dos 10 mais de todos os tempos no Reino Unido, precisamente na posição de número 10. E já que o tema desta conversa é compilações, outra ocupa o segundo lugar. Trata-se de Abba Gold- Greatest Hits, do grupo sueco Abba, que saiu em 1991 e vendeu até o momento em torno de 5.2 milhões de copias.

Nomes bem familiares aos fãs do rock e da música pop completam a lista. Michael Jackson marca presença com dois trabalhos, Thriller (1982), o 6º colocado, e Bad (1987), na posição de número 9. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles, é o terceiro posicionado, com 5.1 milhões de cópias vendidas. Bem mais recente, 21 (2011), da estrela britânica Adele, está no quarto posto, com 4.7 milhões de cópias comercializadas.

Da geração anos 1990, só entrou nesse seleto time o Oasis, com o trabalho que o consagrou no Reino Unido e no resto do mundo, (What’s The Story) Morning Glory (1995) que abiscoitou o 5º posto nesse chart mais do que nobre. The Dark Side Of The Moon (1973), clássico da carreira do Pink Floyd, atingiu o sétimo lugar, enquanto Brothers In Arms (1985), do Dire Straits, um dos discos mais vendidos da década de 1980, completa a lista, na posição de número 8.

Another One Bites The Dust– Queen:

Bicycle Race– Queen:

We Are The Champions– Queen:

The Monkees estão de volta à parada dos EUA com novo CD

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Por Fabian Chacur

No ano em que completa 50 anos de carreira, os Monkees comemoram tal efeméride com um feito elogiável. Good Times!, seu novo álbum de inéditas e primeiro desde Justus, de 1996, chegou à parada da revista Billboard, a bíblia da indústria fonográfica mundial, direto na 14ª posição em sua semana de lançamento. É a sua melhor performance desde 1968, quando The Birds, The Bees And The Monkees atingiu o 3º posto.

Nada mais justo para um álbum que foi concebido de forma bastante feliz. Ele conta com a produção de Adam Schlesinger, líder da banda Fountains Of Wayne, e mescla faixas gravadas originalmente entre 1967 e 1968 e que só foram completadas agora com gravações absolutamente inédita de canções feitas para eles por autores de gerações mais recentes, como Andy Partridge, do XTC, Rivers Cuomo, do Weezer, Noel Gallagher, do Oasis, e Paul Weller, do The Jam.

Nele, temos a participação dos quatro integrantes originais da banda criada em 1966 pelos produtores Bob Rafelson e Bert Schneider e coordenado musicalmente por Don Kirschner para estrelar uma série televisiva. O programa fez tanto sucesso que o grupo, originalmente feito para ser um tipo de xerox dos Beatles em sua fase Help!, tornou-se um grande sucesso no mundo real, com quatro álbuns e três singles no número um nos EUA e milhões de cópias vendidas em todo o planeta.

Davy Jones, o único inglês do grupo e que nos deixou em fevereiro de 2012, marca presença no álbum com a faixa Love To Love (de Neil Diamond), gravada originalmente nos anos 1960. Harry Nilsson (1941-1994) é outro que marca presença de forma póstuma no CD, tocando piano na ótima faixa-título do CD, que é de sua autoria. Outro autor bacana que marca presença no disco é Bem Gibbard, da banda alternativa Death Cab For Cutie.

A sonoridade do álbum em suas 13 faixas (existem outras quatro distribuídas como bônus em versões diferentes do disco para vários países) é bem próxima da dos anos de ouro do grupo, uma mistura de rock melódico, folk e pop com aquelas melodias mágicas e vocalizações muito legais, especialmente as feitas por Micky Dolenz. A performance de Peter Tork e Mike Nesmith é também muito legal, em faixas ótimas como You Bring The Summer (Andy Partridge), She Makes Me Laugh (Rivers Cuomo) e I Wasn’t Born To Follow (Gerry Goffin e Carole King).

You Bring The Summer– The Monkees:

She Makes Me Laugh– The Monkees:

Wasn’t Born To Follow– The Monkees:

Tito Jackson segue a trilha de sucesso de seus oito irmãos

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Por Fabian Chacur

Quando se pensa na célebre família Jackson americana, o nome de Michael, o eterno Rei do Pop, é o primeiro a ser lembrado. Mas todos os nove irmãos e irmãs conseguiram algum sucesso comercial. Na verdade, só faltava um obter êxito sozinho. Agora, não falta mais. Trata-se de Tito, que era o guitarrista do Jackson 5/The Jacksons e que nunca havia lançado um trabalho solo. Seu single Get It Baby, com participação do rapper Big Daddy Kane, entrou esta semana em duas paradas da Billboard, a bíblia da indústria fonográfica mundial.

Get It Baby é a primeira canção a ser divulgada do álbum Tito Time, o primeiro CD solo do também cantor e compositor nascido em 15 de outubro de 1953, previsto para ser lançado em outubro pelo selo Spectra Music Group. O single atingiu o nº30 na parada Billboard + Twitter e nº26 na Adult R&B Songs. As informações foram divulgadas esta semana na versão online da Billboard americana, e mostram que o álbum tem tudo para obter boa repercussão quando chegar ao mercado.

E essa não é a única notícia envolvendo Tito. No mês de maio, ele esteve no Rio de Janeiro gravando um clipe ao lado de Mart’nália no Morro Dona Marta, no lugar onde seu irmão gravou cenas do clipe da música They Don’t Care About Us e onde hoje temos uma estátua do autor de Billie Jean. Ele também gravou cenas na Bahia. A canção, intitulada Winning By Giving, renderá fundos para uma fundação beneficente.

A história de sucesso dos Jacksons nas paradas de sucesso começou em 1969, quando o single I Want You Back saiu e em pouco tempo atingiu o primeiro lugar nos EUA, fato que outros três compactos do Jackson 5 repetiriam. O legal é que eles obteriam também sucesso em suas tentativas individuais. Michael, o líder do clã, teve 29 hits nos EUA, sendo que 13 deles abocanharam o primeiro lugar nos charts.

Logo a seguir vem Janet, com 27 hits, sendo 10 primeiros lugares. Jermaine, que era o segundo na hierarquia do Jackson 5, conseguiu 17 hits pop, sendo dois deles top 10. A maluquete Latoya obteve 9 na parada r&b/hip hop. A irmã mais tímida Rebbie obteve 7. Randy teve 3, enquanto Marlon e Jackie obtiveram 2 cada. E, agora, Tito pode se gabar de também ter o seu. Será o primeiro de uma série? Veremos, pois tudo é possível nesta família Jackson.

Veja entrevista com Tito sobre Get It Baby:

Ouça um trecho de Get It Baby, ao vivo:

Corina Magalhães explora do seu jeito a mineirice no samba

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Por Fabian Chacur

Tem mais uma mineira das boas no samba. Trata-se da cantora Corina Magalhães. Com 32 anos de idade e natural da cidade de Cambui (MG), a moça estreia em disco de forma segura e inspirada, mostrando que se preparou muito bem para executar essa tarefa, algo que infelizmente muitos artistas não fazem em seus primeiros trabalhos. O álbum, intitulado de forma simples e direta Tem Mineira no Samba, é um verdadeiro banho de swing, classe e sutileza. Bom demais da conta!

O conceito por trás do CD que abre a discografia desta intérprete é simples, mas muito bem desenvolvido. Ela selecionou 13 composições de autores mineiros de várias épocas, mais uma, Guerreira, escrita por dois cariocas (João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro), que, no entanto, foi feita e gravada pela mais famosa e bem-sucedida sambista mineira de todos os tempos, a saudosa Clara Nunes.

Com um repertório muito bem selecionado, o próximo passo foi criar uma moldura musical adequada e que se afastasse do óbvio, e nisso Corina mais uma vez se mostrou craque. Sua concepção musical temperou o baticum sambista com bons elementos de chorinho e especialmente de jazz, apostando na sutileza, nas nuances e em um delicioso diálogo entre voz e instrumentos em vários momentos, algo típico dos intérpretes jazzísticos mais bem dotados.

O resultado é um disco que flui gostoso a cada faixa. Uma grande qualidade desta mineirinha é o fato de se valer de um registro vocal doce e suave sem cair em uma mesmice, ou seja, sem se lambuzar de doçura e correr o risco de nos oferecer um trabalho sem variações e proibido para diabéticos. Nada disso. Corina prova que é possível ser suave e ao mesmo tempos nos oferecer variações de timbre e interpretação das mais expressivas, sem gritar ou exagerar.

Corina se porta bem na árdua missão de nos oferecer novas leituras para algumas músicas bem conhecidas, como Sem Compromisso (Geraldo Pereira-Nelson Trigueiro), Ai Que Saudade da Amélia (Ataulfo Alves-Mário Lago), Escurinho (Geraldo Pereira) e Falsa Baiana (Geraldo Pereira). Todas elas aparecem aqui de roupa nova, não se assemelhando a releituras anteriores e soando muito legais.

As três que ela pinçou da obra dos geniais João Bosco e Aldyr Blanc ficaram matadoras. São elas Casa de Marimbondo, Prêt-a-Porter de Tafetá e A Nível de…, esta última um dos momentos mais bem-humorados e sarcásticos da dupla mineiro-carioca. Em Aqui é o País do Futebol (Milton Nascimento-Fernando Brant), a intérprete dá uma aula no quesito suavidade-tensão, trocando de registros com uma categoria absurda.

Das novas gerações, boa representante é a deliciosa Galo e Cruzeiro, do versátil Vander Lee. E tem três do mestre Ary Barroso, Faceira, Camisa Amarela e Morena Boca de Ouro. E quer saber? Melhor você ir atrás e descobrir por si só esta bela obra, uma das estreias mais consistentes dos últimos anos. Muita cantora por aí tem se metido a cantar samba atualmente, mas poucas com esta consistência, esta categoria e essa fluência. Coisa muito, mas muito fina mesmo!

obs.: ah, e também merece muitos elogios a apresentação visual do CD, simplesmente espetacular, com direito a belíssima capa tripla no formato digipack, com direito a um belo encarte com as letras e ficha técnica. Coisa de primeiro mundo.

Aqui é o País do Futebol– Corina Magalhães:

Guerreira– Corina Magalhães:

Faceira– Corina Magalhães:

CD Coleção traz raridades da trajetória de Marisa Monte

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Por Fabian Chacur

Marisa Monte sempre se disse contrária ao formato coletânea de sucessos. Como forma de encerrar a parceria de seu selo Phonomotor Records com a Universal Music/EMI, a cantora optou por uma compilação norteada por outro conceito, o de reunir não hits, mas canções que a cantora e compositora carioca registrou em discos alheios e que estavam espalhados por aí. Nasceu, assim, Coleção, que curiosamente equivale a seu melhor álbum desde Tribalistas (2002).

A primeira fase da carreira discográfica de Marisa Monte foi simplesmente arrasadora. Com os álbuns MM (1989), Mais (1991) e Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão (1994), ela conseguiu renovar a MPB e se tornar um caso raro de artista que conseguia fazer um trabalho consistente em termos artísticos e ao mesmo tempo disputar com força total os primeiros lugares das paradas de sucesso. A combinação perfeita e sonhada por todos e concretizada por poucos.

A partir do mezzo ao vivo mezzo de estúdio Barulhinho Bom- Uma Viagem Musical (1996), as coisas mudariam de feição. O marco é o fraco Memórias, Crônicas e Declarações de Amor (2000), redundante, autoindulgente e com direito a coisas como Amor I Love You, popularesca até a medula. Com exceção do ótimo projeto Tribalistas (2002), que gerou um belo CD, tornar-se-ia difícil pescar boas músicas nos poucos trabalhos que a cantora lançaria nos anos seguintes.

Os lançados simultaneamente Infinito Particular e Universo Ao Meu Redor, de 2006, são de uma inconsistência assustadora, enquanto O Que Você Quer Saber de Verdade (2011) consegue diluir ainda mais o que já não era lá essas coisas. E isso após anos de espera. Ou seja, a artista não pode alegar pressão de gravadora ou coisa que o valha para justificar tal conteúdo fraco. Felizmente, nos shows a mistura das poucas músicas novas boas com várias dos bons tempos e alguns covers mantiveram o alto padrão dos anos de ouro de 1988 a 1996.

Temos em Coleção 13 faixas gravadas entre 1993 (Alta Noite, na versão incluída no disco solo de Arnaldo Antunes, Nome) e 2015 (Chuva no Mar, do CD Canto, de Carminho). São muitas coisas boas. Ilusão, por exemplo, dueto gravado ao vivo em 2011 com a ótima Julieta Venegas. Ou Esqueça (Forget Him), hit da Jovem Guarda que Marisa regravou em 2003 para a trilha do filme A Taça do Mundo é Nossa.

A versão da clássica Carinhoso, que reúne Marisa e Paulinho da Viola, no melhor estilo voz e violão, estava relegada apenas ao belo documentário O Meu Tempo é Hoje (2003). E David Byrne aparece na curiosa e quase divertida Waters Of March, versão bilíngue do clássico Águas de Março de Tom Jobim registrado em 1996 para o CD beneficente Red Hot + Rio. Coleção ficou uma coletânea muito boa de se ouvir.

O álbum, no entanto, não reúne todas as faixas de Marisa Monte perdidas por aí. Sem pesquisar a fundo, posso citar três delas: a deliciosa Mais Um Na Multidão, dueto com Erasmo Carlos registrado em 2001 no álbum Pra Falar de Amor, do Tremendão, Flores, gravada ao vivo e lançada no álbum dos Titãs Acústico MTV em 1997, e Sábado à Noite. Esta última merece um parágrafo próprio.

Lançada em 1985 na trilha do filme Tropclip, Sábado à Noite, de Sérgio Sá (o autor de Eu Me Rendo, hit com Fábio Jr, entre outras) foi a primeira música gravada e lançada oficialmente por Marisa Monte, com apenas 18 anos na época. Trata-se de uma faixa constrangedora, um funk pop cheio de clichês do gênero. Pior: Marisa aparece nela como se fosse mera coadjuvante. A música tem 3m52 de duração, sendo que ela aparece em míseros 35 segundos, mais precisamente dos 2m01 até os 2m36. Não é de se estranhar que isso não faça parte de Coleção

Carinhoso– Marisa Monte e Paulinho da Viola:

Waters Of March– Marisa Monte e David Byrne:

Ilusão (Ilusión)– Marisa Monte e Julieta Venegas:

Sábado à Noite- Marisa Monte (da trilha de Tropclip-1985):

Rock rural de Tuia atinge sua maturidade em Reverso Folk

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Por Fabian Chacur

O rock rural surgiu no Brasil no início dos anos 1970. Seu provável pai foi o trio Sá, Rodrix & Guarabira, que misturou com categoria rock, country, folk e música brasileira. Desde então, surgiram bons seguidores do estilo, como Renato Teixeira, Zé Geraldo, Tavito, Luiz Guedes & Thomas Roth etc. Tuia Lencioni é um dos bons nomes atuais do setor, e com seu novo CD, Reverso Folk, prova chegar à maturidade em termos musicais.

Com mais de 20 anos de estrada, Tuia foi anteriormente integrante da banda Dotô Jeka, onde ficou por uma década. Em 2011, lançou seu primeiro trabalho individual, o CD/DVD Tuia Ao Vivo. Em 2013, veio o CD gravado em estúdio Jardim Invisível (leia entrevista sobre o disco aqui). Para promover esses discos, muitos shows, que lhe permitiram ampliar seu público alvo e se aprimorar profissionalmente.

O resultado dessa estrada toda é visível e audível em Reverso Folk. Se os trabalhos anteriores já eram ótimos, esse aqui apresenta sutilezas diversas. Procura ir além do já rico universo do rock rural, flertando com o pop e não fechando portas estilísticas, o que é sempre uma atitude interessante por parte de um criador. A essência de sua veia musical, no entanto, permanece a mesma: um som romântico, positivo, pra cima, poético e sonhador. Coisa de quem sabe o que quer e sabe como fazer.

Três convidados mais do que especiais marcam presença no CD. Zé Geraldo brilha no irreverente rock Ainda a Mosca, uma evidente homenagem ao estilo cáustico do saudoso Raul Seixas. As harmonias vocais de Tavito se sobressaem na bela Vermelho Coração, e o pioneiro roqueiro rural Guarabira ajuda Tuia a mostrar uma nova faceta de Flor, canção que em sua versão original abre Jardim Invisível e que, nesta feliz releitura, curiosamente encerra Reverso Folk.

Com suas dez faixas, o novo trabalho de Tuia, que inaugura a sua parceria com a Sony Music, proporciona ao ouvinte um clima rural, harmônico e cativante em uma época tão conturbada e difícil como a atual, na qual irmãos brigam com irmãos por nada e muitos caçam os restos de nada para não passar fome. Que Reverso Folk possa inspirar coisas boas a todos, com sua doçura e sua incrível fé na vida.

Flor– Tuia e Guarabira:

A Cor do Dia– Tuia:

Espetáculo SamBRA retorna a SP para homenagear o samba

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Por Fabian Chacur foto: Tânia Voss

Uma homenagem ao centenário do samba em mais de duas horas de pura energia e diversão. Eis um resumo possível de SamBRA- O Musical- 100 Anos de Samba, musical que voltou a São Paulo em temporada cujo início ocorreu no último dia 6 e que permanecerá por aqui até o dia 5 de junho, sempre de sexta a domingo (21h sextas e sábados, 19h domingos) no Theatro Net São Paulo- Shopping Vila Olímpia (rua Olimpíadas, nº 360- Vila Olímpia- fone 0xx11-4003-1212), com ingressos de R$ 25,00 a R$ 150,00 (mais informações: www.theatronetsaopaulo.com.br).

SamBRA- O Musical- 100 Anos de Samba já passou anteriormente por São Paulo e também pelo Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Brasília, Porto Alegre e Curitiba, visto nessas cidades por mais de 40 mil pessoas. No Reveillon de Copacabana, no Rio, no final de 2015, atingiu um incrível público de mais de um milhão de espectadores, algo inédito em termos de audiência para um musical ao ar livre no Brasil.

O espetáculo foi escrito por Gustavo Gasparani, que também é o diretor e, na atual temporada, o ator que se incumbe dos papéis antes interpretados pelo cantor e compositor Diogo Nogueira. Versátil, Gasparani pesquisou a fundo para apresentar uma visão abrangente e intensa do universo do samba, desde suas origens em Pelo Telefone (o primeiro samba gravado) até a consagração apoteótica na avenida com as escolas de samba durante o Carnaval.

Com cenário luxuoso e um elenco composto por 17 atores e 20 músicos, o espetáculo inclui 70 músicas cantadas e outras 25 que ligam as canções em forma de textos. Obras de Pixinguinha, Donga, Sinhô, Cartola, Martinho da Vila, João Nogueira e Paulinho da Viola, entre muitos outros grandes mestres, fazem parte da trilha sonora dessa verdadeira celebração ao mais brasileiro de todos os ritmos, demonstração de criatividade e paixão da nossa arte popular.

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