Por Fabian Chacur

Tive a honra de presenciar ao vivo e a cores o início do Língua de Trapo, na gloriosa Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, em 1980. Com uma proposta impagável de misturar bom humor, crítica social escrachada e uma musicalidade versátil e consistente, o grupo chega aos 33 anos de idade esbanjando vitalidade, como ficou claro no show realizado por eles no Centro Cultural São Paulo na noite deste sábado (5).

Laert Sarrumor, cantor, compositor e líder da banda desde sempre, é um dos grandes intérpretes da música brasileira de qualquer tipo. Tem ótima voz (que continua tinindo e trincando), espetacular presença de palco e um bom humor que parece resistir a toda e qualquer tentativa desse nosso país surreal de cravar uma estaca em sua seminal banda.

A formação do grupo para esse show no sempre simpático Centro Cultural São Paulo trouxe mais um fundador do time, o cantor, músico e compositor Guga Domênico, outra figurinha carimbada daquelas jovens noites de dias de semana na Cásper, e se mostrou em plena forma ao lado do velho amigo e parceiro, assim como os outros ótimos músicos, com destaque para mais um veterano, Serginho Gama, guitarrista e violonista soberbo.

Fazer música bem humorada sem descambar para a baixaria ou para a falta de musicalidade é algo muito difícil, e saber dosar o escracho com as notas musicais corretas e energia sempre foi uma façanha que o Língua de Trapo nunca deixou de concretizar em seus seis CDs (dois gravados ao vivo) e inúmeros shows nesses anos todos. Irreverentes e politicamente incorretos, mas sem perder a classe jamais. E que classe!

Durante uma hora e meia, os Línguas nos ofereceram desde clássicos de seu impagável repertório como as fantásticas Hitler, Plano Diabólico, Homem da Minha Vida, Os Metaleiros Também Amam e Xingu Disco como inéditas bem bacanas como o rap Armano e Sogro da Sasha e versões hiárias para País Tropical (que virou País Amoral) e Pau de Arara (Cara de Pau de Arara, na nova roupagem).

Fica difícil acreditar que um grupo tão criativo, vibrante e com uma obra tão bacana e inteligente como o Língua tenha dificuldade de conseguir locais para tocar e mostrar toda a sua competência. Coisas de um Brasil do qual eu particularmente não me orgulho, no qual o clichê “para os amigos, tudo, para os inimigos, (in)justiça” parece ser a pedra de toque.

Seja como for, fica claro que Laert e sua turma são mais teimosos do que mulas. Só nos resta torcer para que o Língua de Trapo continue incomodando os poderosos e metidos a besta e agradando quem tem uns neurônios a mais na cachola e também gosta de dançar com música bacana e rir com um senso de humor simplesmente avassalador. Que venha o próximo show, o próximo CD, o próximo tudo!!!

Veja o Língua de Trapo ao vivo no Sesc Pompéia em maio de 2013: