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Joyce Moreno relê seu álbum de estreia de forma sublime

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Por Fabian Chacur

Como forma de comemorar seus 50 anos de carreira e 70 de vida, ambas muito bem vividas, Joyce Moreno teve uma ideia bem interessante. A cantora, compositora e violonista carioca resolveu regravar na íntegra o seu álbum de estreia, lançado em 1968 e autointitulado. Uma forma de concretizar aquele pensamento que às vezes temos, do tipo “como eu teria feito o que fiz aos 20 anos com a maturidade de hoje?” O resultado é o CD 50, lançado pela Biscoito Fino.

Joyce, o álbum, equivale a uma estreia promissora, mas com algumas arestas, especialmente se levarmos em conta o que essa incrível artista faria nos anos posteriores ao seu lançamento. Os arranjos orquestrais são classudos, mas nem sempre adequados, e sua voz soava afinada, mas sem a personalidade e a forte assinatura própria que os anos de estrada bem aproveitados lhe proporcionariam. De quebra, com seu violão sem destaque, só como pano de fundo.

Em 50, o excelente repertório do disco de 1968 recebe um tratamento mais minimalista, embora sofisticado e criativo, tendo como estrutura básica a incrível banda que a acompanha há muitos anos, formada por ela na voz e violão, o marido Tutty Moreno na bateria, Rodolfo Stroeter no contrabaixo e Hélio Alves no piano. Um time entrosadíssimo que se entende perfeitamente, com muito swing e sem nunca pecar pelo excesso. As canções mandam, sempre.

Temos também diversos convidados especiais que se encaixam feito luva nas faixas das quais participam. Gente do porte de Francis Hime, André Mehmari, Marcos Valle, Danilo Caymmi, Roberto Menescal, Zélia Duncan, Fabio Peron e Pedro Miranda. Em quatro faixas, Joyce deixa seu icônico violão de lado e se concentra nos vocais, dando aos convidados a tarefa de assinar esses arranjos musicais.

O resultado mescla bossa nova, samba, chorinho e canções com sutileza, categoria, swing e aquele jeito solto que marca o melhor da obra da autora de Feminina, Mistérios e tantos outros clássicos da MPB. Composições próprias como Não Muda Não e Me Disseram convivem bem com canções de então jovens amigos como Paulinho da Viola, Toninho Horta, Francis Hime, Marcos Valle e Ruy Guerra.

Há momentos particularmente arrepiantes, como Anoiteceu, parceria de Francis Hime e Vinícius de Moraes lançada naquele álbum de estreia e que faria sucesso em 1978, quando Hime a regravou em seu álbum Passaredo e a mesma entrou na trilha de novela global Sinal de Alerta, e Bloco do Eu Sozinho, de Marcos Valle e na qual o autor faz uma participação simplesmente perfeita nos teclados e arranjo.

No papel de faixas-bônus, temos duas composições inéditas que trazem em suas letras uma espécie de diálogo com a Joyce de 1968 e uma declaração de intenções da atual Joyce Moreno. A primeira é Com o Tempo, parceria dela com Zélia Duncan e belo dueto dessas talentosas artistas. A segunda, que fecha o álbum, é a irresistível A Velha Maluca, na qual a artista esbanja bom humor e deixa claro que ainda vem muita coisa pela frente. Como duvidar disso?

No fim das contas, 50 serve como bela recriação para aquele primeiro LP, mostrando ao mesmo tempo um presente incrível apontado para um futuro que promete muita coisa boa. Sem nunca ter se traído em termos artísticos, Joyce Moreno construiu uma carreira respeitada no Brasil e no exterior. Quem apostou naquela talentosa menina de 1968, como o saudoso Vinícius de Moraes, deve se orgulhar dessa trajetória repleta de luz e som do bom. Que bela “Velha Maluca” de responsa aquela jovem morena promissora se tornou!

Bloco do Eu Sozinho– Joyce Moreno:

Sting mergulha em rock e folk no ótimo álbum 57th & 9th

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Por Fabian Chacur

Desde o lançamento de Sacred Love (2003), Sting deixou de lado o pop rock mais explícito em sua carreira solo. Nesse período, lançou trabalhos com faceta erudita ou de folk mais tradicional, como os ótimos If On a Winter’s Night (2009) e The Last Ship (2013), ou mesmo de inspiradas e interessantes releituras sinfônicas de canções de sua autoria em Symphonicities (2010). Mas, agora, é hora de rock, bebê! E chega às lojas o ótimo 57th & 9th. Bem roqueiro, mas com folk na mistura, também.

O título do CD alude a uma esquina localizada em Nova York e próxima dos estúdios em que as gravações ocorreram. No encarte, Sting explica o quanto gosta de andar a pé, especialmente no caminho rumo ao trabalho, pois é nesses momentos que reflete e pensa de forma mais apurada. Como o álbum foi concretizado em um período de três meses, algo rápido para os padrões atuais de estrelas, dá para se imaginar que várias canções possam ter surgido durante esses passeios.

Acompanhado pelo excelente guitarrista Dominic Miller, que é seu braço direito há décadas, além de feras do porte de Vinnie Colaiuta (bateria) e integrantes do grupo The Last Bandoleros, Sting nos oferece dez novas canções que trazem como marca aquela simplicidade sofisticada que sempre marcou a sua obra, indo desde o rock mais básico a canções folk, e um momento com elementos árabes no meio.

A coisa começa a mil por hora, com a contagiante I Can’t Stop Thinking About You, que possui ecos de clássicos do The Police como Truth Hits Everybody e Can’t Stop Losing You. Com um riff poderoso de guitarra, a vibrante 50.000 é uma assumida homenagem a David Bowie, Glenn Frey e Prince, músicos que sabiam como poucos fazer músicas para entreter grandes plateias. One Fine Day, um rock balada, traz letra de inspiração ecológica com abordagem extremamente inteligente.

Não faltam outros momentos excelentes neste álbum. As baladas acústicas na melhor tradição folk Heading South On The Great North Road e The Empty Chair, o rockão estradeiro Petrol Head e a envolvente Inshallah, por exemplo. São canções sempre enfocando temas atuais, como ecologia, relações amorosas e mesmo a crise dos refugiados na Europa, mas sem nunca resvalar na apelação.

A edição lançada no Brasil de 57th & 9th é a Deluxe, o que significa uma capa digipack dupla, encarte luxuoso com ficha técnica completa, letras e textos de Sting sobre as canções e também três faixas adicionais. São elas uma versão mais folk rock de I Can’t Stop Thinking About You (apelidade de LA Version por ter sido gravada em Los Angeles), outra de Inshallah gravada em Berlim e uma ao vivo de Next To You, clássico do The Police, com participação dos The Last Bandoleros.

O álbum atingiu a posição de número 9 ao ser lançada nos EUA em novembro, prova de que Sting continua atraindo a atenção do grande público. Nada mais justo, pois aos 65 anos, idade completada por ele no último dia 2 de outubro, este grande artista prova mais uma vez continuar sendo não só um mero cantor e compositor, mas alguém preocupado em sempre oferecer o melhor aos fãs. Ele já está fazendo shows para divulgar o disco. Tomara que passe por aqui.

50.000– Sting:

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