Ringo Starr

Por Fabian Chacur

Nesta terça-feira (7), um certo Richard Starkey não só completou 75 anos de idade como garantiu que continuará tocando o instrumento musical que o tornou famoso mundialmente, a bateria. Bela notícia para os fãs do melhor rock and roll. E porque, em pleno 2015, ainda há quem o considere um músico medíocre, um mero sortudo, um quase coitado? Qual seria a razão?

Antes de qualquer coisa, Ringo Starr, um cara que merece mais do que ninguém usar “estrela” como sobrenome, é um sobrevivente. Em seus tempos de criança e adolescente, teve sérios problemas de saúde que davam a entender que o cara não duraria muito. Provavelmente todos os médicos que previam isso já estão do outro lado do mistério. E o cara aí, firme e forte, para nossa felicidade.

Mas vamos ao que interessa. Qual seria a razão pela qual acham esse cara um baterista ruim? Pois vamos aos argumentos contrários a essa tese pateta. Logo de cara: o cara entrou nos Beatles em 1962, e foi a partir daí que a maior banda de todos os tempos engatou uma terceira rumo ao estrelato. Ele era a peça que faltava. Exata, perfeita.

Vale lembrar que Pete Best foi sacado do time basicamente por suas limitações musicais. Se Ringo fosse ruim, não teria sido aprovado por John, Paul, George e principalmente por George Martin, o produtor do grupo. Mais: se aprovado em uma primeira instância, não teria durado muito. Afinal, eles nem se conheciam há tanto tempo assim. Não eram amigos quase que de infância, como os outros três. O que custaria dar um cartão vermelho a ele?

Ouvir os discos dos Beatles em sequência é admirar uma banda que já surgiu em um patamar alto e que, a cada novo trabalho, crescia a olhos vistos em termos técnicos e artísticos. Pode ser que individualmente não fossem os melhores músicos, mas, juntos, formavam um time simplesmente imbatível, capaz de façanhas musicais incríveis.

Vale a lembrança: John, Paul, George e Ringo sempre atuaram a favor das canções, e nunca em nome de egocentrismos típicos de outros músicos tecnicamente mais proficientes, mas que simplesmente não sabem a hora de parar de jogar notas fora. Nos Beatles isso nunca ocorreu. Cada acorde, cada vocalização, cada harmonia sempre tinha uma função positiva.

E Ringo era peça chave nessa história toda. Como uma banda com a diversidade de criação dos quatro de Liverpool poderia ter um baterista ruim? Como tocar rock and roll básico, country, soul, heavy metal, rock progressivo, vaudeville etc etc etc (e tome etc!) sem ter um cara versátil tomando conta da parte percussiva e rítmica? Com os resultados obtidos pelos Beatles, impossível.

Se no grupo que lhe deu fama mundial o cara arrebentou, não decepcionou na carreira solo. Emplacou singles e álbuns no 1º lugar das paradas de todo o mundo, maravilhas como Ringo (1973), Goodnight Vienna (1974) e Stop And Smell The Roses (1982), por exemplo, e hits como Photograph, It Don’t Come Easy, Six O’Clock e Wreck My Brain?

Se todos esses argumentos já não bastassem, a partir de 1989 o cara criou a All Starr Band, na qual tocou ao lado de alguns dos maiores e mais famosos músicos do cenário roqueiro. Entre outros, já marcaram presença por lá Levon Helm, Rick Danko, Peter Frampton, Jack Bruce, Joe Walsh, Billy Preston, Todd Rundgren, Mark Farner, Gary Brooker, Eric Carmen, Gregg Lake, Colin Hay, Steve Lukather etc (e tome outros inúmeros etc).

Você acha em sã consciência que esse povo todo tocaria na banda do Ringo se o considerassem um músico ruim, só pela grana? E vale a lembrança de que Starr também gravou com gente do porte de B.B. King, por exemplo, além de ser o único ex-Beatles a ter participado dos trabalhos de seus três ex-colegas.

Se depois de todos esses argumentos alguém continuar se atrevendo a rotular Ringo Starr como “músico medíocre” ou “o cara mais sortudo do mundo da música”, desculpem-me, mas não vou ficar aqui perdendo o meu tempo com a ignorância alheia. Ou melhor, a falta de capacidade de avaliar a musicalidade alheia. Prefiro ficar ao lado de gente como Ian Paice, do Deep Purple, um dos inúmeros fãs ilustres de Mr. Starkey. E estarei bem acompanhado.

Abbey Road- The Beatles-álbum na íntegra:

Blast From Your Past (coletânea) na íntegra- Ringo Starr: