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Tom Jobim, um maestro soberano e um ser humano como todos nós

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Por Fabian Chacur

Imagino o orgulho de quem teve a honra de entrevistar mitos do mundo da música como Elis Regina, Adoniran Barbosa, Ary Barroso, John Lennon e David Bowie, por exemplo. Esses infelizmente não fazem parte do meu currículo. Mas não posso reclamar, pois Paul McCartney, James Taylor, Cazuza, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Luciano Pavarotti e Gonzaguinha estão nele. E um certo Tom Jobim, também.

Tom, que nos deixou há 25 anos, mais precisamente no dia 8 de dezembro de 1994, aos 67 anos, é um dos nomes mais importantes da história da nossa cultura popular. Conhecido e venerado nos quatro cantos do mundo, poderia ter sido um cara arrogante e difícil, pois tinha currículo para justificar isso. No entanto, primava pela simplicidade, bom humor e gentileza, tendo deixado belas recordações para quem teve a oportunidade de conviver com ele.

Descobri por conta própria essas características em um dia lá pelos idos de 1988. O Maestro Soberano iria fazer um show ao ar livre no Parque do Ibirapuera ou outro local do gênero no fim daquela semana, e meu editor na época no hoje extinto Diario Popular, de São Paulo, pediu para que eu tentasse entrevistá-lo. O artista estava hospedado no hotel Maksoud Plaza, e resolvi arriscar.

Ao ligar, pedi à telefonista do hotel que me transferisse para o quarto de Tom Jobim. Normalmente isso não costuma ocorrer de forma imediata quando você procura alguém ilustre, mas me dei bem aqui. E quem me atendeu foi o próprio. “Oi, Tom, aqui é o Fabian, do Diario Popular. Gostaria de fazer uma entrevista com você por telefone sobre o show de domingo, seria possível?”.

“Oi, Fabian, bom dia. Olha, agora (liguei para ele por volta das 11 horas da manhã) eu não tenho como te atender. Será que você poderia me ligar de novo por volta das 14h? Aí eu certamente estarei disponível para conversar com você”. Concordei sem mais rodeios e coloquei o fone no gancho, crente de que, no horário combinado, ele certamente não estaria, ou alguém me daria algum tipo de desculpa e ficaria por isso mesmo.

A minha expectativa negativa não era em razão de pessimismo. É que, normalmente, esse tipo de entrevista só costuma ocorrer quando um assessor de imprensa entra em cena, e é esse profissional quem oferece ao jornalista uma oportunidade como essa. Difícil você conseguir direto com o artista, no caso de alguém com o porte de um Tom Jobim. Ainda mais para um jornal como o Diario, que não tinha (injustamente, por sinal) o respeito dado a concorrentes na época como a Folha, o Estadão, o Globo, Jornal da Tarde e Jornal do Brasil.

Preparado para a missão, mas cético sobre se a mesma seria concretizada, liguei na hora combinada. E não é que Tom me atendeu? Mais: ainda me pediu desculpas por não ter me atendido na tentativa anterior! Aí, iniciei o papo, delicioso por sinal, que durou uma meia hora, mais ou menos.

De tudo o que perguntei, lembro basicamente da resposta que ele me deu ao questioná-lo sobre os direitos autorais que tinha ganho no exterior com Garota de Ipanema e tantos outros sucessos marcantes. Ele me explicou que os valores eram muito menores do que as pessoas imaginavam, e justificou: “Fabian, na época eu era jovem, a gente não lia aquelas letrinhas miúdas dos contratos…”

Reencontrei esse gênio da música no finalzinho de 1989 ou no começo de 1990, não sei precisar exatamente a data, quando Tom foi nomeado o primeiro reitor e presidente de conselho da então Universidade Livre de Música, criada pelo na ocasião governador do estado de São Paulo Orestes Quercia.

Era uma entrevista coletiva, realizada no mesmo Maksoud Plaza, hotel situado próximo à avenida Paulista e um dos mais badalados naquele período. Aí, foi pessoalmente, e aquela simpatia do primeiro encontro se mostrou ainda mais forte, além do carisma e inteligência desse ilustre entrevistado.

A principal marca daquele segundo (e, infelizmente, último) encontro com o autor de Wave ficou em sua parte final. Estava fazendo aquela matéria junto com a fotógrafa Patricia Gatto (o site dela está aqui), uma fã assumida do nosso entrevistado. No final, ela me pediu para que eu tirasse uma foto dela com Tom.

Fotógrafo amador, no máximo, resolvi encarar o desafio pela amizade com ela, uma excelente profissional e muito simpática. Para ser sincero, não me lembro se o resultado prestou, mas fiz o possível. E vacilei feio, também, por não ter pedido um autógrafo ao Tom. Marquei uma bobeira clássica!

Vale lembrar que meu primeiro contato com a música de Tom Jobim ocorreu de forma curiosa, quando tinha 10 anos de idade e meu irmão comprou um exemplar do Disco de Bolso, projeto pioneiro do Pasquim que trazia, como brinde, um compacto simples de vinil com duas músicas.

No lado A, a primeira versão de Águas de Março, em andamento bem mais rápido do que o de gravações posteriores. Do lado B, a intensa Agnus Sei, de um cantor, compositor e violonista mineiro ainda desconhecido, de nome João Bosco.

Gostava tanto daquele compacto que, alguns meses depois, quando nossa professora de português do ginásio pediu a cada aluno escolher uma música para tocar na classe durante uma aula, não vacilei em escolher Águas de Março.

Os coleguinhas não curtiram tanto quanto eu ouvir esse hoje clássico da música brasileira, mas eu amei, e nunca poderia imaginar que, quase 20 anos depois, teria esses contatos bacanas com seu autor.

Águas de Março– Tom Jobim e Agnus Sei– João Bosco:

Vem aí coleção em homenagem a Tom Jobim

Por Fabian Chacur

Chegará às bancas de jornal e outros postos de venda no próximo dia 14/4 uma coleção que certamente irá chamar a atenção dos fãs da melhor música brasileira, e especialmente da bossa nova. Trata-se da Coleção Folha Tributo a Tom Jobim, com 20 volumes que trazem CDs dedicados ao repertório do eterno Antonio Brasileiro, em interpretações dele e de outros nomes importantes da música.

A coleção traz títulos da carreira solo do autor de Águas de Março e também outros gravados em parceria com um ou mais parceiros, trabalhos coletivos e mesmo compilações com grandes nomes da música relendo suas composições. Também foram incluídos alguns títulos de outros artistas que tiveram participação fundamental de Tom como arranjador, músico ou autor, e alguns lançamentos póstumos.

Os dois primeiros volumes (que serão vendidos juntos a R$ 16,90; os outros volumes custarão esse mesmo valor, mas individualmente) são o póstumo Tom Canta Vinícius Ao Vivo (2000) e The Composer Of ‘Desafinado’ Plays (1963), gravado visando o mercado internacional na época, com ótima repercussão. A seleção de álbuns é bem representativa e abrangente, dando uma geral certeira na carreira do saudoso Maestro Soberano.

Os próximos volumes, em ordem numérica e com previsão de lançamento semanal, serão os abaixo discriminados:

3- Elis & Tom (1974- com Elis Regina)

4- Passarim (1987)

5- Wave (1967)

6- Getz/Gilberto (1963- com Stan Getz e João Gilberto)

7- O Tempo e o Vento (1985- trilha da minissérie global)

8- Tide (1970)

9- Matita Perê (1973)

10- Rio Revisited (1989- com Gal Costa)

11- Edu & Tom (1981- com Edu Lobo)

12- Tom Jobim Ao Vivo Em Montreal (2007-ao vivo-póstumo)

13- Antonio Carlos Jobim and Friends (1996-ao vivo-póstumo)

14- The Astrud Gilberto Album (1965- da cantora Astrud Gilberto; Tom participa como músico e compositor)

15- Caymmi Visita Tom (1965- com Dorival Caymmi e os filhos)

16- Tom, Vinícius, Toquinho, Miúcha (1977 – com Vinícius de Moraes, Toquinho e Miúcha)

17- Canção do Amor Demais (1958- de Elizeth Cardoso- Tom participa como músico e arranjador)

18- Antonio Brasileiro (1994)

19- Tom no Feminino (2008- coletânea com várias intérpretes)

20- Tom Masculino (2008- coletânea com vários intérpretes)

Ouça Águas de Março, com Tom Jobim e Elis Regina:

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