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Kleiton & Kledir se dividem entre um belo resgate e boas novidades

kleiton & kledir espanhol 400x

Por Fabian Chacur

Os projetos de Kleiton & Kledir para 2020 eram muitos. Como forma de celebrar seus 40 anos de carreira como dupla, eles preparavam um show ao lado da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Também estavam no programa o lançamento de uma biografia e de um filme, além de uma exposição. De quebra, continuariam fazendo seus bem-sucedidos shows com o Nenhum de Nós e o projeto Casa Ramil, reunindo eles com os outros representantes musicais do clã. Aí…

Bem, aí veio a pandemia do novo coronavírus, e tudo, como diria uma canção deles, foi por água abaixo. Pelo menos por enquanto. Enquanto as coisas não se normalizam, os irmãos permanecem há sete meses em suas casas no Rio de Janeiro (RJ), tocando, compondo e reservando energias para tirar a diferença dessa paralização em 2021.

Enquanto isso, eles aproveitam para resgatar o álbum En Español, lançado em 1985 apenas na Argentina e agora devidamente disponibilizado nas plataformas digitais. Nele, releituras em castelhano de 11 músicas de seus três primeiros álbuns, com direito às participações especialíssimas dos ícones da musica argentina Mercedes Sosa e Leon Giecco.

De quebra, também lançaram em single a canção inédita Paz e Amor, com participação especial de seus verdadeiros padrinhos musicais, o grupo MPB-4, com clipe feito com celulares e de forma remota (veja aqui).

Para falar desses e de outros temas, incluindo boas e reveladoras recordações do grupo que lançou os gaúchos na cena musical brasileira, os Almôndegas, Mondo Pop levou um delicioso papo com Kledir.

MONDO POP- Como tem sido para você e o Kleiton esse período de pandemia do novo coronavírus?
KLEDIR
– Estamos mais de sete meses sem nos ver e sem fazer shows. Parou tudo! Mas estamos em casa e bem, apesar de tudo, especialmente perto do que está acontecendo no mundo, com gente morrendo, com esse louco no poder… É tanta ignorância, e muita gente se deixa levar, com o grande capital só se preocupando com os lucros.

MONDO POP- Vocês acabaram de lançar em single uma canção inédita, Paz e Amor, na qual contam com a participação do MPB-4, grupo com o qual vocês tem forte relação de amizade e profissional. Fale um pouco sobre essa música e seu significado.
KLEDIR
– Mesmo com todas as limitações impostas pela pandemia e pelo confinamento, ficou um vídeo lindo. Tudo surgiu de forma muito espontânea. É possível um mundo melhor, é um resgate do ideal hippie. Os movimentos solidários que tem ocorrido precisam continuar, a ignorância precisa ser combatida. De verdade, não só nas redes sociais. Apesar das drogas usadas naquela época, a filosofia hippie tinha coisas positivas. Estão acabando com o mundo pelo lucro a qualquer custo, acabando com a natureza. O preço que estamos pagando é muito alto, com a rejeição aos povos que são obrigados a imigrar, e com poucos bilionários se beneficiando disso.

MONDO POP- Como foi concebido o álbum En Español? A ideia era mesmo lançá-lo apenas na Argentina, na época? E porque a capa dele é igual ao do seu 4º álbum, lançado em 1984?
KLEDIR
– A gente tinha acabado de lançar aquele disco com aquela capa, e quando surgiu a ideia do disco em espanhol, resolvemos usá-la de novo, foi feita pelo artista plástico Nelson Felix em cima de uma foto do Frederico Mendes. A nossa gravadora na época não se entusiasmou com o projeto, lançou só pra cumprir contrato. Era pra sair no México, EUA, Espanha e Argentina, mas não cumpriram o contrato, no fim das contas.

MONDO POP- Esse relançamento só irá ocorrer nas plataformas digitais ou haverá versão física?
KLEDIR
– Agora, só digital, mesmo. Depois, pode ter versão física, para vendermos em shows. Eu, para meu uso particular, prefiro as plataformas digitais, tem tudo lá. Ouço no meu computador com duas caixas de som.

MONDO POP- Como foram realizadas as gravações de En Español? Vocês aproveitaram as bases instrumentais utilizadas nos discos lançados anteriormente no Brasil? E como foram feitas as versões?
KLEDIR
– Usamos as bases instrumentais das gravações dos discos brasileiros. Houve remixagens, como em Paixão, por exemplo, com os metais logo de cara, acho que ficou melhor do que a gravação em português. Os vocais foram refeitos. As versões foram feitas pelo Edmundo Font, que atualmente é embaixador do México na Bolívia, e é um poeta maravilhoso. Ele era cônsul do México no Rio de Janeiro quando o conheci. Fizemos o trabalho juntos, foi prazeroso e difícil, porque o espanhol tem muitas variantes, era preciso usar palavras mais universais, que pudessem ser compreendidas em todos os países onde o disco fosse lançado. E tem a métrica, a prosódia que tinha de coincidir com a parte melódica. Mas deu tudo certo.

MONDO POP- O álbum teve as participações especiais dos argentinos Mercedes Sosa e Leon Giecco. Como surgiu a ideia de convidá-los para gravar com vocês?
KLEDIR
– A Mercedes era um ídolo máximo para nós, que a conhecemos em 1981 em Cuba, quando participamos com ela de um festival em Varadero. Ela gravou Vira Virou em 1984 em um de seus discos, Sera Possible El Sur? (1984), com a nossa participação especial. Fizemos vários shows juntos, um deles no estádio do Velez Sarsfield para mais de 100 mil pessoas. Tinha muito carinho conosco, me achava muito magro, dizia que eu deveria comer carne (n.da r.: Kledir é vegetariano), que o cantor tem de ter força física. Ela faz uma falta danada! O Leon Giecco a gente conheceu através de um produtor. Ele é da nossa geração, mistura o pop rock com a música da Argentina, algo que fazemos também, só que com a música brasileira.

MONDO POP- Como foi a repercussão de En Español na Argentina, na época em que foi lançado?
KLEDIR
– O disco não foi bem de vendas, a gravadora não fez nada para divulgá-lo, muita ignorância por parte deles. Burrice, mesmo, pois pouco depois os Paralamas do Sucesso estouraram por lá, e isso poderia ter acontecido conosco. Era para termos feito uma turnê para divulgar esse disco, mas não tivemos apoio, espero que um dia possa ser possível. Acho importante a aproximação com os outros países latinos, acho que vivemos de costas para o resto da América Latina, é uma coisa muito ruim.

MONDO POP- Como foi a série de shows que vocês fizeram com o Nenhum de Nós? Vocês pensam em lançar algum registro dessas apresentações?
KLEDIR
– Adoramos o Nenhum de Nós, nosso encontro foi muito prazeroso. Todos os shows que fizemos tiveram lotação esgotada. Foi gravado em áudio e em vídeo, a ideia é lançar futuramente.

MONDO POP- Embora os Almôndegas tenham se separado há mais de 40 anos, ainda são lembrados por muita gente, incluindo um público bem mais jovem. Olhando com os olhos de hoje, como você encara a carreira da banda, e porque houve a separação?
KLEDIR
– Os Almôndegas foram a nossa grande escola, é um clássico. Foi onde aprendemos tudo, até a fazer sucesso sem subir no salto alto. Quando começamos a dupla, logo após a separação, estávamos prontos para seguir adiante. O grupo acabou porque, na verdade, sempre fomos uma dupla, sempre juntos, sempre colados um no outro, e demoramos para perceber isso, tanto que, no grupo, fizemos poucas músicas em parceria. O grupo começou quando estávamos na faculdade, e aos poucos foi virando profissional. O grupo, na verdade, mal nasceu e já começou a morrer. O Pery Souza, por exemplo, saiu logo no começo. Nosso pianista mudou para Israel. Depois, entrou o João Baptista. Quando viemos para o Rio, o Quico Castro Neves não quis vir. O Zé Flávio, que no início era um grande compositor (é o autor de Canção da Meia Noite e outros hits do grupo), entrou na banda e deixou de compor para se tornar um excelente guitarrista. Aliás, no começo da dupla o Zé Flávio e o João Baptista participavam da nossa banda de apoio, ficaram conosco uns três ou quatro anos, era meio Almôndegas. O grupo não acabou por brigas e continuamos amigos, tanto que hoje temos até um grupo de whatsapp. É o que sobrou! (rsrsrrsrsrs)

Siembra (Semeadura)– Kleiton & Kledir e Mercedes Sosa:

Aqui, dos Almôndegas, enfim sai em CD

Por Fabian Chacur

Dos quatro álbuns lançados pelo extinto grupo gaúcho Almôndegas, apenas um teimava em não aparecer no formato CD. Graças ao selo Discobertas, distribuído pela Warner Music, essa lacuna enfim foi preenchida.

Trata-se de Aqui, o segundo álbum do grupo que revelou os irmãos Kleiton e Kledir Ramil. Lançado em 1975 no formato vinil, apenas algumas faixas do disco haviam saído no formato digital, em coletâneas. Uma delas (de 1994), pasmem, com a capa do Aqui, embora só inclua algumas faixas dele. Coisas da indústria fonográfica nacional…

Agora, temos o álbum na íntegra, com capa original, reprodução do encarte, letras e ficha técnica completa. Só faltou mesmo um texto contextualizando o disco dentro da excelente obra da banda, extinta em 1979.

Curiosamente, Aqui traz o maior sucesso da carreira do grupo de rock rural gaúcho, a maravilhosa Canção da Meia-Noite, que se tornou conhecida nacionalmente como tema da novela global Saramandaia.

O disco é uma deliciosa obra na qual o time então integrado pelos irmãos Ramil e também João Batista (baixo elétrico e vocais) e Gilnei Silveira (percussão) investe em uma sonoridade basicamente acústica na qual misturam rock, folk e a música gaúcha tradicional.

Além de Canção da Meia-Noite, escrita pelo guitarrista Zé Flávio, que teve várias músicas de sua autoria gravadas pelo grupo antes de entrar oficialmente no time em 1977, o álbum inclui maravilhas como Haragana, Séria Festa, Elevador, Amor Caipira e Trouxa das Minas Gerais e Gaudêncio Sete Luas.

Os outros álbuns dos Almôndegas são Almôndegas (1975), Alhos Com Bugalhos (1977) e Circo de Marionetes (1978) e saíram no formato CD na década passada, o primeiro pela Warner e os outros dois pela Universal Music. Valem o preço que vocês pagarem neles, pois estão fora de catálogo e só estão disponíveis em sebos e lojas com bons estoques.

Veja clipe com Canção da Meia-Noite, com os Almôndegas:

Autorretrato Kleiton & Kledir- coisinhas gerais

kleiton_kledir2Por Fabian Chacur

Alguns detalhes adicionais sobre Autorretrato:

***Quando apresenta a música Tudo Eu no DVD, Kledir fala: “minha mulher agora implicou. Ela acha que essa música foi feita pra ela. Vai ver que foi mesmo…..” Corajoso, o nosso amigo! Ótima, Tudo Eu tem espírito musical parecido com uma canção de Crosby Stills & Nash, Long Time Gone, de 1969. Confira e compare:

http://www.youtube.com/watch?v=_PFCgAhZEO8&feature=PlayList&p=79D897B03BFD27EB&playnext=1&playnext_from=PL&index=96

***A capa de Kleiton e Kledir (1986), o disco anterior de inéditas, tinha fotos dos dois separados. No LP de vinil, era um na capa e outro na contracapa. Autorretrato mostra os dois lado a lado, com metade do rosto de cada um. No encarte do CD, os rostos se misturam, como se fosse um quebra-cabeça se completando. Seriam mensagens sobre o estado de espírito da dupla em cada época? Antes, rumo à separação, agora, mais unidos do que nunca?

***A bela balada folk Estrela Cadente traz em sua letra versos que eu já conhecia de outro lugar. É da música Sonho de Papel, que faz parte do inconsciente coletivo de todos os fãs de festas juninas. Eis os versos citados pela dupla: “acende a fogueira do meu coração”.

***Polca Loca é mais uma bela experiência da dupla no sentido de modernizar os ritmos tradicionais gaúchos. Ficou com cara de ska, extremamente dançante e com elementos eletrônicos, e lembra o espírito de duas outras ótimas fusões desse gênero, contidas no álbum Kleiton & Kledir (1984): Bailão e Roda de Chimarrão.

***Embora morem há décadas no Rio de Janeiro, os irmãos Ramil sempre homenageiam seu Rio Grande do Sul. Neste disco, é com a bela Pelotas. Antes, já tivemos Deu Pra Ti, Lagoa dos Patos e Beira Rio, entre outras.

***Os solos de violino de Kleiton são uma das marcas do som da dupla. Neste CD, são destaques das faixas A Dança do Sol e da Lua e Estrela Cadente. Confiram. O cara toca muito e sabe como poucos utilizar esse instrumento em um contexto pop.

***Letras sobre a importância da amizade são recorrentes no trabalho da dupla. Autorretrato, a canção, é provavelmente a melhor de todas, superando de longe a versão de Bridge Over Troubled Water, de Paul Simon, que com eles se tornou Corpo e Alma e foi gravada no CD Kleiton & Kledir (1983).

***As canções Só Pra Te Ver e Ao Sabor do Vento guardam sutis elementos de, respectivamente, Saiçú (Segredo do Meu Coração- de 1983) e Navega Coração (1980). Isso se chama assinatura musical.

***Eu devo ter gostado muito deste CD/DVD para escrever tanto sobre ele!  Chega! E uma dica: ouçam Autorretrato. Agora!

Autorretrato de Kleiton e Kledir- O DVD

Por Fabian Chacur

Como forma de registrar também eAutorretrato capa DVDm imagens o CD Autorretrato, Kleiton & Kledir resolveram gravar este DVD. Com o apoio da produtora Pandorga e do Canal Brasil, apresentaram as 13 músicas no estúdio, com os músicos que participaram de cada uma delas marcando presença na dublagem. Mas não se trata de apenas a filmagem dos músicos tocando. De forma extremamente criativa e inteligente, o diretor Edson Erdmann soube mesclar os registros de estúdio com efeitos, cenas externas e outros elementos, criando verdadeiros videoclipes para cada canção. Antes de cada música, os irmãos Ramil falam sobre a criação de cada, suas motivações etc. A ordem das músicas, curiosamente, é diferente da do CD. O DVD abre com a faixa título e é encerrado com A Dança do Sol e da Lua, ou seja, começa e termina com canções mais agitadas. Já no CD, o início cabe a A Dança do Sol e da Lua, com a mais tensa Tudo Eu fechando a porteira. Um dos pontos altos do DVD é a faixa Eva, cuja letra foi feita a partir de nomes de mulheres. A dupla divide a cena com as meninas do grupo As Chicas, e tem até um cidadão vestido de mulher para ilustrar o momento “biba” da letra. Nos extras, a música ganha o nome de Adão (a versão masculina de Eva), e os vocais ficam por conta das Chicas, que por sinal lançaram seu disco de estréia em 2007 (Quem Vai Comprar o Nosso Barulho?)e são muito boas. Outra música que teve sua versão audiovisual muito bem realizada é Pelotas, belo ode à cidade natal dos manos, que traz cenas de lá. O making of é dos mais interessantes, e nos oferece uma boa visão do relacionamento de Kleiton & Kledir como músicos e irmãos. O DVD equivale a um bom complemento desse ótimo CD Autorretrato.

Confira o videoclipe de Pelotas:

http://www.youtube.com/watch?v=3W00YCgOVPU

Autorretrato de Kleiton e Kledir- O CD

kleiton_kledirPor Fabian Chacur

Desde 1986 Kleiton & Kledir não gravavam um disco só com músicas inéditas. A escrita acaba de ser quebrada, com Autorretrato. Muita coisa aconteceu nesses 23 anos. Primeiro, uma separação de dez anos. Depois, três discos. Dois (1997) trazia cinco (boas) inéditas e sete releituras discutíveis de sucessos. Clássicos do Sul (1999) reuniu 14 releituras de belos standards da música gaúcha de todos os tempos. Ao Vivo (2006, também saiu em DVD), foi gravado ao vivo em Porto Alegre, trouxe 12 hits da dupla, 2 dos tempos do seminal grupo que os lançou nos anos 70 (Almôndegas) e duas inéditas.

E aí, valeu esperar tanto? Sim! Felizmente! Autorretrato não apresenta grande ruptura em relação ao estilo de Kleiton & Kledir e sua original fusão de folk, rock, pop, MPB e música regional gaúcha (esta última, cada vez mais como uma espécie de tempero). É a reafirmação de tudo o que já fizeram, mas sem cair na autoindulgência, no “como é lindo o meu umbigo”. Soa como um trabalho feito de forma prazerosa, com tesão ilimitado. Tem delicadeza, romantismo, otimismo, saudade, profissão de fé na vida, e também uma pitada de insatisfação. A produção do britânico Paul Ralphes (tocou no grupo Bliss, e produziu Kid Abelha e Engenheiros do Hawaii, entre outros), é extremamente cuidadosa, reforçando os timbres de cada instrumento e valorizando os pontos altos dos irmãos Ramil no aspecto sonoro, que são suas belas vocalizações, solos vocais também impecáveis e o violino de Kleiton. Das canções, curiosamente as mais diferentes do estilo habitual deles foram escolhidas para abrir e fechar o CD. A Dança do Sol e da Lua é bem dançante e com jeitão de mantra indiano como bem definiu Kleiton, e começa a festa com alto astral. Por sua vez, a balada rock agressiva Tudo Eu equivale ao desabafo de Kledir referente a uma hipotética relação amorosa na qual ele só carrega o piano, embora também queira tocá-lo. A balada folk Estrela Cadente lembra positivamente Almôndegas, enquanto a faixa que dá nome ao disco é uma deliciosa profissão de fé na amizade que lembra a estrutura de Maria Fumaça, embora bem diferente em termos musicais.  Eva lembra as experiências latino-africanas de Paul Simon, com ritmo quebrado e irresistível e letra exaltando essas mulheres maravilhosas, como diria o finado apresentador Jota Silvestre. Disco lindo, para se ouvir muitas e muitas vezes, como, aliás, tenho feito.

Videoclipe de Autorretrato:

http://www.youtube.com/watch?v=osL7qe0vBPc

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