Por Fabian Chacur

Sylvia Patricia é presença garantida em Mondo Pop. E não é de graça. A moça está na estrada desde os anos 80, e tem entre seus fãs o saudoso Cazuza, Caetano Veloso e Nelson Motta, entre muitos outros.

A moça, que é cantora, compositora e violonista, acaba de lançar seu sexto álbum, Andante. E o alto nível habitual se manteve, para felicidade de seus fãs, que não são milhões, mas tem algo em comum: muito bom gosto.

Com sua voz macia e de timbre inconfundível, Sylvia costuma ter no folk pop com tempero brasileiro sua marca registrada. Andante ao mesmo tempo a mantém nessa linha e amplia horizontes.

O álbum soa como uma espécie de viagem musical pelo universo latino em diversos rumos. Haja Yoga, que abre o CD, equivale a uma espécie de releitura peculiar e a seu modo do estilo swingado de Jorge Ben Jor, especialmente da música Bebete Vãobora.

As Contas, que na letra faz um trocadilho impagável entre as do Senhor do Bonfim e aquelas que a gente é obrigado a pagar mensalmente, segue uma levada drum ‘n’ bossa,  e cativa logo em seus primeiros momentos.

Agua e Sal é uma versão em português de sucesso em italiano de Mina e Celentano, e curiosamente soa bastante como o estilo folk pop que sempre marcou o trabalho da talentosa baianinha. Ela reaparece como faixa bônus no final do CD, mas em remix dançante que ficou bem interessante.

Depois das Seis é um tango com direito a bandoneón. Lady Pank, apesar do título, é uma bossa pop cuja letra equivale a uma declaração de amor. Essa levada se repete em Meus Olhos, composição dela em parceria com Kal Venturi que foi gravada por Zélia Duncan em seu disco de estreia (Outra Luz), há 20 anos, quando ainda usava o nome artístico Zélia Cristina.

Samba da Janela, que tem participação especial de Armandinho Macedo no bandolim, é um sambalanço delicioso que revela a ginga de Sylvia no mais brasileiro dos ritmos.

Vibe do Bem possui fortes influências do som de Sade Adu, com aquele swing sutil, romântico e negro até a medula. Sem soar como cópia ou caricatura, que fique bem claro. Influência é influência.

Resistiré, que foi tema do filme Ata-me, de Pedro Almodóvar, é bem bacana, no melhor estilo pop castelhano, mas tem um refrão que curiosamente lembra bastante I Will Survive, eterno sucesso disco de Gloria Gaynor, até mesmo no título.

O primeiro sucesso da carreira de Sylvia Patricia foi Marca de Amor Não Sai, versão de Is It Ok I Call You Mine?, de Paul McCrane e tema do filme Fama.

Como forma de resgatar esse talento em verter músicas alheias para o português, ela desta vez pegou I Saw The Light, sucesso nos anos 70 c0m o autor, o americano Todd Rundgren, e fez a versão Eu Vi O Sol, que ficou deliciosa e também merece virar sucesso.

No geral, Andante é um álbum com sabor internacional e tempero brasileiro, no qual Sylvia Patricia prova pela milésima vez que merecia ser mais conhecida em sua terra natal. Confira, você vai me agradecer.