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Ritchie mostra duas facetas e faz shows com o trio Blacktie

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Por Fabian Chacur

Ritchie demonstra a sua versatilidade com dois shows diferentes em São Paulo, ambos no Tupi Or Not Tupi (rua Fidalga, nº 360- Vila Madalena- fone 011-3813-7404). Nesta sexta (16) às 21h30, ele se dedica a músicas do genial cantor, compositor e músico americano Paul Simon (ingressos a R$ 100,00). Já o sábado (17, a partir das 20h) será dedicado a releituras diferenciadas de seus clássicos hits dos anos 1980, em espetáculo englobando jantar e show com início a partir das 20h (ao preço de R$ 180,00).

A performance do primeiro show terá como base o repertório do álbum Old Friends: The Songs Of Paul Simon, no qual o cantor e compositor britânico radicado há décadas no Brasil releu de forma acústica alguns clássicos do repertório do autor de The Boxer, incluindo esta canção e também The Boy In The Bubble, April Come She Will, The Only Living Boy In New York, 50 Ways To Leave Your Lover e The Sound Of Silence.

No espetáculo de sábado, intitulado Ritz- Os Hits do Ritchie, o prato principal fica por conta de versões desplugadas dos maiores sucessos do pop-rocker, entre as quais Menina Veneno, Pelo Interfone, Casanova, Transas e Voo de Coração, só para citar algumas das mais celebradas pelo público, que os adquiriu em quantidades enormes nos anos 1980.

O elemento que amarra as duas apresentações fica por conta dos músicos participantes. Teremos em cena o trio Blacktie, formato pelos experientes multi-instrumentistas Mario Manga (do Premê), Fabio Tagliaferri e Swami Jr., feras que se dividem entre instrumentos acústicos os mais diversos. Completa a turma outro cara que se vira bem com vários instrumentos, Tuco Marcondes. Eles participaram do CD com músicas de Paul Simon, e dão um tratamento luxuoso e sofisticado às canções, sem cair em exageros tolos. É música de primeira.

Old Friends: The Songs Of Paul Simon- Ritchie (em streaming):

Língua de Trapo destila o seu humor único em “último” CD

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Por Fabian Chacur

Existem inúmeras maneiras de se fazer música, todas válidas e capazes de render bons frutos. Há longos 36 anos, o Língua de Trapo resolveu criar a sua, única e facilmente reconhecível por quem os acompanha nessa trajetória mais do que peculiar. Em plena forma, o combo capitaneado pelo impagável Laert Sarrumor volta ao mundo fonográfico com O Último CD da Terra (Gênesis/Arlequim), que mantém o alto padrão de qualidade de sempre. E olha que a espera foi longa!

Trata-se do primeiro álbum da banda desde ao vivo 21 Anos na Estrada (2001), e o primeiro de inéditas desde o longínquo ano de 1992, quando Brincando Com Fogo chegou às lojas. Valeu a espera. Melhor lançar poucos e bons trabalhos do que enfiar abacaxis azedos goela abaixo do público, como muitos fazem por ai. E ao menos os caras continuaram com os shows, sem a frequência desejável mas sempre com categoria.

E o que seria essa tal fórmula própria de se fazer música implementada pelos “linguistas”? Trata-se de uma incrível mistura de ritmos musicais, indo do mega-brega ao mega-chique, passando por literalmente tudo. E tudo significa chorinho, jazz, rock, jovem guarda, blues, heavy/hard rock, country, folk, samba, brega de todos os tipos, romantismo… O que amarra isso tudo é um humor que consegue a façanha de ser cáustico, ácido e virulento, sem no entanto cair na tentação politicamente incorreta do “perco a piada, mas não perco o amigo”.

As tiradas do Língua não perdoam ninguém, mas nunca com teor ofensivo. E a provável explicação para essa façanha é o fato de não levarem ninguém a sério, especialmente eles próprios. Os compositores habitualmente gravados por eles, figuras do naipe de Laert, Carlos Melo, Guca Mastrodomênico, Ayrton Mugnaini Jr. e o saudoso Cesar Brunetti (entre outros) sabem, digamos assim, manter as amizades, sem perder as piadas jamais. Jamais!

Ouvir O Último CD da Terra equivale a uma viagem pelas programações das rádios AM de antigamente, nas quais se tocavam todos os estilos musicais, sem exceção (lógico que sempre em horários específicos, no caso de alguns deles). Se há algo de que não se pode rotular esse novo álbum de “Laert e seus Comparsas” é de monótono. As molduras musicais mudam a cada nova faixa, e às vezes em uma mesma faixa, como na impagável Os Infernautas, sátira aos viciados em internet que vai do vira a la Roberto Leal ao rap sem medo de ser feliz.

Três composições são da fase inicial da banda, o período 1980-1982, e que por um motivo ou outro nunca haviam sido gravadas: Circular 46, Amor Indigente e Ratatá no Zum-zum-zum. Sempre espere o inesperado em um disco e/ou show do Língua: ode a um pombo, encontro modelo humor negro em uma fila de hospital, o canto de um mendigo, um imitador de Bob Dylan que poderia ser o sumido Belchior, um ex-fã de rock progressivo… Tem até uma releitura do Hino Nacional Brasileiro, desta vez em homenagem aos desempregados (Hino dos Desempregados).

Em texto incluído na segunda página do encarte, o grupo afirma que este será o seu último CD. Tomara que não. Afinal de contas, eles mostram aqui que ainda tem muita lenha para queimar. E quer saber? O formato compact disc ainda ficará em cena por muito tempo, tal qual os discos de vinil e mesmo as fitas-cassete, ambos vivendo um revival improvável nos últimos anos. Quem duvida estar lá na esquina uma nova era dos CDs? E que venha um novo do Língua. Que último que nada, seus preguiçosos! Me dá o mizão e vamos logo gravar outro!

Ouça trechos das músicas de O Último CD da Terra:

Trechos do show de lançamento do CD- Sesc Pompeia abril 2016:

Rick Wakeman Nunca Mais– Língua de Trapo:

Documentário resgata a bela carreira do saudoso Premê

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Por Fabian Chacur

No fim dos anos 1970, uma série de grupos e artistas surgiram no cenário musical paulistano e injetaram uma forte dose de inovação e ousadia naqueles ainda anos de chumbo. Uma das principais bandas desse cenário, a saudosa Premeditando o Breque (depois, virou Premê), acaba de ser relembrada em um belo documentário, Quase Lindo, que estreou durante o festival de documentários É Tudo Verdade. Um belo e necessário resgate.

Formado por estudantes da USP, o Premê trouxe como marca desde o início seu total desrespeito a convenções e limites entre estilos musicais. Misturar sem medo de ser feliz e com criatividade era a receita da banda, que em sua trajetória tocou rock, chorinho, MPB, samba, pop, funk, música erudita, música caipira e o que mais pintasse, sempre de forma bem-humorada.

Do início na cena independente paulistana ligada ao hoje mitológico Teatro Lira Paulistana e com direito a dois incensados álbuns lançados pela via indie, eles conseguiram gravar depois dois álbuns na multinacional EMI Odeon, e sempre pareciam próximos do sucesso nacional. Que, no entanto, nunca ocorreu de forma total e completa.

Algumas de suas músicas até que conseguiram boa repercussão na mídia, tipo São Paulo São Paulo, Vida Besta, Lua de Mel Em Cubatão e Rubens, mas eles nunca foram campeões de vendagens. Isso obviamente os atrapalhou no sentido de manter uma carreira sólida em termos financeiros, e a partir dos anos 1990 a banda passou a se reunir apenas de forma eventual, para tristeza de seus fãs.

Quase Lindo, o documentário, reúne material precioso que consiste em apresentações ao vivo em shows e em programas de TV, entrevistas também efetuadas na época e muita música. As canções são apresentadas reunindo trechos de várias fontes como que para mostrar as várias facetas da banda, e a edição ficou ágil, sendo possível curtir cada faixa sem que elas soem como se fossem obras do ficcional doutor Victor Frankestein.

O filme também mostra o talento dos seus integrantes, sujeitos multimídia e extremamente talentosos como Wandi Doratioto, Mário Manga, Klaus, Marcelo e Osvaldo Fagnani, todos com sólida formação musical e totalmente despidos de preconceitos tolos. Lembro que, nas passagens de som antes de shows, eles eram capazes de tocar até clássicos do rock de gente como Deep Purple e The Police, entre uma música própria e outra. Coisa de músicos muito bons!

A opção por aproveitar mais o material antigo e não incluir muitos depoimentos feitos especialmente para o filme feito pelos diretores Alexandre Sorriso e Danilo Moraes torna o documentário ainda mais importante, pois resgata imagens e sons absolutamente perdidos por aí, de emissoras as mais distintas possíveis. Ourivesaria pura! E o clima é sempre para cima, sem cair em nostalgia pura ou na frustração pela falta do estouro que nunca veio.

A única preocupação fica por conta da divulgação de Quase Lindo (por sinal, título do segundo álbum do Premê). Será que conseguirá entrar em circuito comercial? Do jeito que as coisas andam, não parece uma opção muito viável. Seja como for, fica a torcida para que isso ocorra, e também para que role o lançamento em DVD. O Premê merece!

Rubens– Premê:

Marcha da Kombi– Premê:

Balão Trágico– Premê:

São Paulo São Paulo– Premê:

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