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Primavera nos Dentes mostra remake de Secos & Molhados

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Por Fabian Chacur

Nada melhor do que presenciar uma banda composta por músicos experientes e talentosos pegar um repertório consagrado e muito bem formatado, como o do Secos & Molhados, e dar a ele novas e criativas feições. É isso o que o Primavera nos Dentes nos ofereceu em seu ótimo trabalho de estreia, de 2017. Ele se apresentam em São Paulo nesta quinta (22) e sexta (23) às 21h no Sesc Pompeia (rua Clélia, nº 93- Pompéia- fone 0xx11-3871-7700), com ingressos de R$ 9,00 a R$ 30,00.

O projeto Primavera nos Dentes surgiu em 2016, e tem como integrantes Charles Gavin (bateria, ex-Titãs), Paulo Rafael (guitarra, ex-Ave Sangria e braço direito há mais de 40 anos de Alceu Valença), Duda Brack (vocal), Felipe Pacheco Ventura (violino e guitarra) e Pedro Coelho (baixo). O seu álbum de estreia, lançado em CD, vinil e versão digital pela gravadora Deck, traz onze canções extraídas dos dois primeiros álbuns de estúdio dos Secos & Molhados, lançados em 1973 e 1974 com a sua formação original.

Os ótimos remakes das canções do lendário trio setentista serão tocadas pelo quinteto carioca em seus dois shows no Sesc Pompeia, entre os quais Sangue Latino, Rosa de Hiroshima, Fala, O Vira, O Patrão Nosso de Cada Dia e Primavera nos Dentes (faixa que batizou a banda). Também está no repertório uma músicas que não entrou no disco deles, El Rey, integrante do álbum de 1974 dos S&M.

Primavera nos Dentes- ouça o álbum em streaming:

Alucinação (Belchior) ganha a reedição em vinil via Polysom

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Por Fabian Chacur

A Polysom, em parceria com a Universal Music, acaba de lançar uma reedição no formato vinil de 180 gramas de um dos grandes clássicos da nossa MPB. Trata-se de Alucinação, do saudoso Belchior, álbum que chegou originalmente às lojas em 1976 e foi responsável pelo estouro do cantor, compositor e músico cearense. O disco integra a série Clássicos em Vinil, que prioriza títulos essenciais da discografia brasileira.

Recentemente, a Universal Music relançou este mesmo título no formato CD, na caixa Três Tons de Belchior, que também inclui os álbuns Melodrama (1987) e Elogio da Loucura (1987). Trata-se de um desses trabalhos bons de ponta a ponta, e que é absolutamente necessário nas discotecas de quem gosta de boa música, seja em que formato for (leia a resenha do relançamento em CD aqui).

Fotografia 3×4– Belchior:

Hyldon lançará o seu novo CD só de inéditas em novembro

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Por Fabian Chacur

Boa notícia para os fãs da soul music à moda brasileira. Está previsto para sair em novembro, ou seja, no próximo mês, o novo trabalho do cantor, compositor e músico Hyldon. O título já está definido, As Coisas Simples do Mundo, assim como a gravadora, a Deck. A capa e o trabalho gráfico do CD ficaram por conta com designer Flavio Albino e do fotógrafo Daryan Dornelles.

Gravado em estúdio com a banda que o acompanha em shows, o disco traz dez composições de autoria do artista, sendo todas as letras escritas por ele e algumas melodias assinadas por Cris Delano, Alex Moreira, Luiz Otávio e Alex Malheiros. Hyldon adianta que as músicas tem como tema família, amizade, memórias afetivas e paixões, e que será um prazer sair para uma turnê com os mesmos músicos que gravaram com ele este álbum.

Com mais de 40 anos de estrada, Hyldon é conhecido como um dos mestres da soul music tupiniquim, ao lado de Tim Maia, Cassiano e Claudio Zoli. Em seu repertório, temos canções sublimes do porte de Na Rua Na Chuva Na Fazenda (Casinha de Sapê), As Dores do Mundo e Na Sombra de Uma Árvore, todas de 1976. Sempre na ativa, continua lançando novos trabalhos e feito shows pelos quatro cantos do país.

Ouça o CD Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda, do Hyldon, na íntegra:

Caixa traz gravações inéditas de Ivan Lins da década de 70

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Por Fabian Chacur

Ivan Lins teve na década de 1970 o período decisivo em sua brilhante carreira. Foi durante aqueles anos que ele deixou de ser apenas um artista promissor para se inserir com força entre os grandes nomes da MPB, gravando discos essenciais e cativando o público. O selo Discobertas celebra os 70 anos de idade do artista e lança Ivan Lins Anos 70, caixa com três CDs de gravações inéditas do genial cantor, compositor e pianista carioca.

O material contido neste ótimo lançamento registra dois momentos distintos na carreira do autor de Madalena. Os volumes 1 e 2 trazem gravações feitas ao vivo em dois shows realizados em 1975, o primeiro (sem especificação do mês) em Curitiba (PR) e o outro em São José do Rio Preto (SP), este último no mês de novembro. São apresentações que marcam a primeira turnê mais extensa do artista, que estreava uma nova banda de apoio, a Modo Livre.

Além de Ivan nos vocais e piano, o grupo trazia Gilson Peranzzetta (teclados, que seria a partir dali seu braço direito nos próximos dez anos), Ricardo Pontes (flauta e sax), Fred Barboza (baixo) e João Cortez (bateria). O grupo surgiu para acompanha-lo depois do lançamento do álbum Modo Livre (1974), e se mostra em pleno processo de entrosamento nesses dois registros ao vivo.

A edição de som não nos permite deduzir se os shows foram gravados na íntegra ou não, mas a inclusão de falas de Ivan em algumas partes acaba sendo bem informativa, como no momento em que no show de Curitiba ele anuncia que iria cantar três músicas que seriam lançadas em seu próximo álbum, o então ainda inédito Chama Acesa. Apenas quatro músicas se repetem no repertório dos dois shows: Abre Alas (primeira parceria e primeiro hit escrito com Vitor Martins), Acender As Velas (Zé Ketti), Nesse Botequim (Ivan Lins e Vitor Martins) e Quero de Volta o Meu Pandeiro (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza).

No set list, o artista demonstra rebeldia ao deixar de lado seus hits mais impactantes até então, as músicas Madalena e O Amor é Meu País, substituídas ou por canções ainda inéditas em discos dele, ou composições de Zé Kéti (Opinião é a outra, além de Acender as Velas), ou ainda temas instrumentais compostos por ele e/ou integrantes da banda. Os improvisos são frequentes, e o resultado dos dois shows no geral é bem bacana, com qualidade de áudio ótima.

Para o terceiro CD, foram reservadas 12 gravações feitas por Ivan em 1978 no estúdio Eldorado, em São Paulo. Por Cima dos Ossos (Ivan Lins-Ronaldo Monteiro de Souza) é inédita. As Minhas Leis, Esse Pássaro Chamado Tempo, Eu Preciso de Silêncio e Desalento (todas parcerias de Ivan com Ronaldo) foram gravadas por outros intérpretes e nunca haviam entrado antes em um álbum do próprio autor.

A Visita (Ivan Lins-Vitor Martins) entraria em outra versão no seminal álbum Nos Dias de Hoje, lançado naquele mesmo 1978. Temos as instrumentais Gaivota e Procurando Inês/Minas de Mim, assinadas só por ele. Acender as Velas, de Zé Kéti, é curiosamente a única música que aparece nos três CDs, em versões diferentes.

Completam o repertório do CD de estúdio O Sol Nascerá (Cartola e Elton Medeiros), O Amor em Paz (Tom Jobim e Vinícius de Moraes) e Não Me Diga Adeus (Paquito, Luiz Soberano e Correa da Silva). As performances são no esquema piano e voz, sendo que em quatro delas temos a participação da cantora e atriz Lucinha Lins (então casada com ele) nos vocais, todas muito boas. O clima intimista domina e encanta.

A apresentação da caixa é simpática, os encartes trazem as letras das canções e algumas fotos legais, mas deixa a desejar no sentido de que não temos textos com informações mais detalhadas sobre as gravações ou mesmo as contextualizando em relação à carreira do astro carioca.

O crédito da música Chega no encarte e na contracapa também está errado, pois a música é só de Ivan, e não da dupla Ivan Lins-Vitor Martins. Mas são deslizes perdoáveis, se levarmos em conta a preciosidade do material contido aqui. Uma homenagem à altura desse grande Ivan Lins, um gênio da música popular brasileira.

Quero de Volta o Meu Pandeiro– Ivan Lins:

Chega– Ivan Lins:

A Visita– Ivan Lins:

Morre Nicholas Caldwell, um dos integrantes dos Whispers

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Por Fabian Chacur

Morreu nesta terça-feira (5) aos 71 anos Nicholas Caldwell, um dos criadores da banda americana The Whispers, há mais de 50 anos na estrada e uma das mais bem-sucedidas da história da black music mundial. Ele lutava com problemas cardíacos há algum tempo, e fez sua última performance com o grupo no dia 19 de dezembro de 2015 no Microsoft Theater, Los Angeles, em programa que também incluía a cantora Stephanie Mills e o The Temptations Revue Featuring Dennis Edwards.

O talento de Nicholas era diversificado. Além de importante nas vocalizações da banda, ele também era responsável por suas coreografias em shows, além de assinar ao menos dois hits românticos da banda, as belas Lady e Say Yes. Simpático e gentil, ele foi apelidado pelos amigos de “gentle giant” (gigante gentil), apelido também em função de sua estatura. A barba era sua marca visual.

Nicholas (o primeiro, da esquerda para a direita, na foto acima) nasceu em 5 de abril de 1944 na cidade de Laurinda, na Califórnia, mudando-se depois para Los Angeles. E foi lá que ele conheceu os irmãos gêmeos Walter e Wallace Scotty Scott, por sua vez oriundos do Texas. O grupo vocal foi complementado logo a seguir, ainda em 1964, por Marcus Hutson (de Kansas City) e Gordy Harmon.

Com seu estilo musical investindo na soul music e em outras vertentes da música negra americana, os Whispers não estouraram do dia para a noite. Seu primeiro sucesso na parada de música negra nos EUA rolou em 1970 com Seems Like I Gotta Do Wrong. No período, eles gravaram discos pelos selos Dore, Clock e Janus. Em 1973, mudança: sai Gordy Harmon, substituído por Leaveil Degree.

Outra alteração no rumo do quinteto se mostrou decisivo em termos comerciais. No mesmo 1973, eles assinaram com a gravadora Soul Train Records, do empresário Dick Griffey. Foi lá, e posteriormente no outro selo criado por Griffey em 1978, o Solar Records (sigla para Sound Of Los Angeles Records), que os Whispers conheceram seus maiores sucessos em termos comerciais.

Sempre se renovando e atento às mudanças musicais que ocorriam no cenário pop, os Whispers incorporaram elementos de funk e especialmente de disco music à sua sonoridade, e isso os tornou reis das pistas de danças, graças a hits matadores como And The Beat Goes On, It’s a Love Thing, In The Raw, Tonight e This Kind Of Lovin’, entre outros. A parceria com o produtor Leon Silvers III, do grupo The Silvers, foi decisiva nesse sentido.

Em 1987, eles conseguiram seu maior sucesso em termos de paradas de sucesso com a irresistível Rock Steady, primeiro megahit assinado por uma dupla que rapidamente se tornaria um verdadeiro pote de ouro pop: LA Reid e Babyface. A partir daí, o grupo se distancia dos primeiros postos dos charts, mas se mantém forte em termos de shows.

No início dos anos 1990, Marcus Hutson saiu do grupo, sem ser substituído, já sofrendo com problemas de saúde que o vitimaram em 2000. Não se sabe como o grupo agirá em relação à perda de Nicholas Caldwell, pois ainda não tivemos um comunicado oficial por parte da banda, que tem diversos shows agendados para 2016. Ao vivo, contam com uma banda de apoio composta por oito músicos de primeira linha.

Uma boa amostra do poder de fogo dos Whispers ao vivo está contido no excepciona DVD Live From Vegas (2007), que saiu no Brasil pela Norfolk Filmes-NFK. O show é um banho de qualidade musical e de cena, com direito a cantores carismáticos como os irmãos Scott, as coreografias e belas vozes de Degree e Caldwell e uma banda impecável, liderada por Grady Wilkins. Tudo leva a crer que o grupo continuará na ativa, mas vamos aguardar.

Rock Steady– The Whispers (1987):

And The Beat Goes On– The Whispers (1980):

In The Raw– The Whispers (1982):

Emergency– The Whispers (1982):

Make It With You– The Whispers (1987):

Lady – The Whispers (1979):

Autobiografia mostra a louca vida do genial Nile Rodgers

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Por Fabian Chacur

Após ler as quase 300 páginas de Le Freak, autobiografia de Nile Rodgers, que saiu no exterior em 2011 e só agora chega ao mercado brasileiro em versão em português, a impressão que fica é de que esse genial guitarrista, compositor e produtor americano é protagonista de um verdadeiro milagre.

Afinal de contas, como um garoto, fruto de um relacionamento entre uma mãe totalmente destrambelhada e viciada com um pai ainda mais drogado e ausente, que cresceu entre as ruas, lares de avós, tias e eventualmente da mãe biológica e que esteve sempre cercado de viciados, traficantes, ladrões, assassinos e quetais conseguiu não só sobreviver como se tornar um dos grandes nomes da história da música pop? Como? Só por milagre de Deus mesmo…

A autobiografia do coautor de Le Freak, Good Times, Everybody Dance e tantos outros clássicos da música pop possui um tom bem franco e bem-humorado, no qual em nenhum momento ele procura julgar as pessoas que o criaram da pior forma possível. Felizmente, ele soube achar um caminho próprio, a música, e se deu bem nele.

A vida pessoal e seus dramas tem prioridade no livro. Lógico que temos relatos do trabalho de Nile com o grupo que o tornou famoso, o Chic, sua incrível parceria com o genial baixista e compositor Bernard Edwards, os discos que produziu para Diana Ross, Madonna e David Bowie e participações em shows e outros eventos. Mas o lado escuro prevalece.

Noitadas de bebidas, drogas e mulheres, as amizades nem sempre muito saudáveis, a proximidade da morte, as eventuais internações, está tudo lá. Para quem gostaria de ler mais sobre o Nile Rodgers músico e produtor, recomendo outro livro que serve como complemento indispensável para Le Freak, o ótimo Everybody Dance- Chic And The Politics Of Disco (2004- Helter Skelter Publishing), de Daryl Easlea, que conta com a colaboração de Rodgers e mergulha fundo nessa área da atuação do músico. Pena que não tenha ainda uma edição em português.

Mesmo assim, Le Freak é obrigatório para quem quer descobrir um pouco mais sobre o cara por trás dessa guitarra irresistível e influente, e suas incríveis composições e produções. Pena que o enredo se encerre no momento em que Rodgers descobre ser portador de um tipo agressivo de câncer, em 2011, deixando um ponto de interrogação no ar.

Para felicidade geral de todos os seus milhões de fãs, ele está vencendo essa batalha, e conseguiu nesses quatro anos voltar às paradas de sucesso com suas participações nos hits Move Yourself To Dance e Get Lucky, do Daft Punk, e gravar um novo álbum do Chic, no qual aproveita gravações inéditas de arquivo e novos takes. Ele também continua fazendo shows. Que possa ir bem além dos 63 anos que viveu até agora!

E fica uma frase do astro, que mostra bem sua perspicácia: “Não é bom viver no passado, mas é um bom lugar para se visitar, e se você for lá, eu estarei lá”. O mote do novo álbum do Chic é tempo, e Rodgers tem vivido cada dia como se fosse ser o seu último, porque um dia, será o último mesmo, como ele diz em seu livro. Repito: que demore bastante!

I’ll Be There – Chic:

I’ll Be There– pequeno making of do CD:

My Forbidden Lover– Chic:

Everybody Dance– Chic:

The Land Of The Good Groove– Nile Rodgers:

Yum Yum– Nile Rodgers:

Caixa traz quatro ótimos CDs do hoje badalado Odair José

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Por Fabian Chacur

De uns anos para cá, Odair José finalmente passou a ter o respeito que merecia como cantor, compositor e músico. A ponto de a Universal Music lançar no mercado Quatro Tons de Odair José, luxuosa caixa com quatro álbuns inéditos em CD lançados entre 1972 e 1975, sua fase áurea em termos de sucesso comercial. Mas a coisa nem sempre foi assim, caros amigos.

Em 1988, quando entrei no mundo do jornalismo diário como repórter e crítico musical do hoje extinto Diário Popular, ninguém queria saber do cara. Mas eu queria. E sugeri ao meu editor de então, o brilhante Osvaldo Faustino, que fizéssemos uma entrevista com o autor de Pare de Tomar a Pílula. O cara, sempre aberto, deu-me a autorização, e lá fui eu atrás da fera, todo feliz.

Na época, o artista goiano vivia uma fase não muito favorável em sua carreira, e era contratado da gravadora RGE. Liguei para a assessora de lá na época, uma figura simpática chamada Ielda, e fiz o meu pedido para entrevistar o artista dela. A moça ficou uns bons segundos muda, provavelmente sem acreditar no que ouvia. E deu show de bola.

Ela simplesmente trouxe Odair José na redação do Diário, que ficava na rua Major Quedinho, centro de São Paulo. Nem acreditei quando vi a fera ali, na minha frente. A entrevista foi deliciosa, realizada lá pelos idos de 1988, e nela minha admiração por esse artista aumentou ainda mais, por sua simplicidade e honestidade.

Acho que, modéstia à parte, dei sorte a ele, pois não muitos anos depois ele foi redescoberto pelas gravadoras e outros artistas. A partir dos anos 90, Odair começou aos poucos a ser reverenciado, e isso resultou em álbum-tributo de artistas do rock alternativo, disco produzido por Zeca Baleiro e a chance de tocar na íntegra ao vivo na Virada Cultural seu ótimo e polêmico álbum O Filho de José e Maria (1977).

E enfim chegamos à caixa recém-lançada. Sua importância é enorme, pois ela inclui o material que tornou Odair José um dos grandes nomes da música popular, acima da média no gênero. Ele era conhecido em 1972 graças ao sucesso de Eu Vou Tirar Você Desse Lugar, na qual relata sua paixão por uma prostituta. Mas faltava algo a ele. Algo fundamental.

Ele queria se livrar das amarras dos arranjos bregas e travados propostos pela gravadora do Rei Roberto Carlos, a CBS, que só dava liberdade ao autor de Detalhes. Com esse objetivo, ele aceitou a proposta da Polydor, selo popular da gravadora Philips (hoje Universal Music). O presidente da gravadora, o genial André Midani, deu-lhe a liberdade. E nascia um mito.

Falando de temas reais e até então pouco explorados como amores por empregadas domésticas, as restrições trazidas pelo uso da pílula anticoncepcional e as duras separações dos casais, Odair ganhou como moldura instrumental o auxílio de músicos extremamente talentosos, entre eles o trio Azymuth, que se tornaria célebre por seu funk-soul-mpb pouco depois e o soul brother brasileiro Hyldon.

De quebra, Odair buscou inspiração em artistas fora do universo do chamado brega, entre eles Neil Diamond, Paul McCartney, Crosby Stills & Nash, além, é óbvio, do velho mestre Roberto Carlos. O resultado: canções de forte apelo popular, mas ao mesmo tempo com embalagem refinada e repletas de detalhes sofisticados.

Assim Sou Eu… (1972), Odair José (1973), Lembranças (1974) e Odair (1975) são álbuns repletos de músicas legais, tanto os sucessos como outras músicas menos conhecidas, mas tão legais quanto. São discos para se curtir um a um, faixa a faixa, arranjo por arranjo, letra por letra. E a caixa inclui as letras, capas originais e livreto com ótimo texto.

Cristo Quem É Você?, Eu Queria Ser John Lennon, Deixe Essa Vergonha de Lado, Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula), Que Saudade de Você, A Noite Mais Linda Do Mundo (A Felicidade), Dê Um Chega Na Tristeza, é muita música boa. Para quem é preconceituoso em relação a Odair José ouvir e chegar à conclusão de que o cara é um mestre da canção popular.

A Noite Mais Linda do Mundo (Felicidade)– Odair José:

Cadê Você – Odair José:

Caixa com álbuns clássicos do grupo Mutantes sai em breve

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Por Fabian Chacur

Está prevista para sair no dia 29 de julho uma caixa dedicada a um dos grupos mais importantes da história do rock brasileiro, os Mutantes. A compilação reúne os álbuns lançados pela banda em sua fase áurea, entre 1968 e 1972, mais o póstumo Tecnicolor (gravado em 1970 mas lançado apenas em 1999) e uma coletânea contendo raridades e colaborações do grupo com outros artistas.

Os discos de carreira incluídos no pacote são Os Mutantes (1968), Mutantes (1969), A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado (1970), Jardim Elétrico (1971) e Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets (1972). Tecnicolor só saiu em 1999 e foi gravado na Europa em 1970.

A coletânea Mande Um Abraço Pra Velha, criada especialmente para integrar esta caixa, mescla gravações raras lançadas em compactos de vinil a colaborações da banda com artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil. As faixas são: Domingo no Parque, Canção Pra Inglês Ver/Chiquita Bacana, Ando Meio Desligado (versão compacto), The Rain The Park And Other Things, Cinderella Rockfella, Glória Ao Rei Dos Confins do Além, Baby, Saudosismo, Marcianita, A Voz do Morto, Lady Madonna, Mande Um Abraço Pra Velha e Ando Meio Desligado.

Ouça Mande Um Abraço Pra Velha, com os Mutantes:

Série resgata dois clássicos do genial Edu Lobo

Por Fabian Chacur

Edu Lobo é um dos grandes gênios da história da nossa amada música popular brasileira. Só não é mais badalado e reverenciado por sua conhecida aversão ao contato constante com a mídia. Discreto, foge da badalação como o capeta da cruz. Sua obra, no entanto, é tão consistente como a de outros mestres da MPB. Boa prova é a recém-lançada caixa Dois Tons de Edu Lobo (Universal Music).

Filho do também compositor Fernando Lobo (autor de Chuvas de Verão e outros clássicos da MPB), Edu nasceu em 29 de agosto de 1943 e se tornou conhecido no cenário musical muito cedo. Ele estourou nas paradas de sucesso com a música Ponteio, vencedora do Festival da Record de 1967. Ao invés de aproveitar aquele momento em termos comerciais, preferiu estudar e aprofundar seus conhecimentos musicais. Ele é parceiro musical de gente como Chico Buarque, Gianfrancesco Guarnieri, Cacaso e muitos outros do mesmo altíssimo gabarito.

Se perdeu em popularidade, ganhou em reconhecimento entre os colegas e em consistência artística. Com profundo conhecimento teórico, ele no entanto não se distanciou da música popular, em uma original mistura que inclui bossa nova e os ritmos nordestinos. Aliás, ele foi um dos responsáveis por forró, baião e outras variações da cultura nordestina ganharem sofisticação, sem perder a alma.

O produtor e pesquisador Thiago Marques Luiz reuniu em Dois Tons de Edu Lobo dois dos melhores, mais importantes e mais bem-sucedidos em termos comerciais álbuns da carreira desse grande artista. No formato caixa, com direito a embalagem luxuosa, encartes repletos de informações e as letras e fichas técnicas completas de cada canção, temos aqui Camaleão (1978) e Tempo Presente (1980).

Lero-Lero, um dos maiores sucessos comerciais da carreira de Edu Lobo e tema da novela global Sinal de Alerta, é a faixa mais conhecida de Camaleão. Prova de que é possível unir melodia bela e acessível, ritmo sofisticado e cativante e uma letra poética e direta, sem rodeios. Chega a ser inacreditável imaginar que essa música fez sucesso radiofônico na época.

O álbum conta com canções maravilhosas do naipe de O Trenzinho do Caipira (Bachianas Brasileiras nº2), versão com letra da obra de Villa-Lobos, Coração Noturno, Sanha da Mandinga, a releitura de seu clássico dos anos 60 Memórias de Marta Saré e duas instrumentais simplesmente cativantes, a faixa-título do álbum e Bate-Boca.

O grupo Boca Livre, então iniciando de forma decisiva sua ascensão rumo ao estrelato, marca presença em várias faixas de Camaleão e também de Tempo Presente, assim como o brilhante Antônio Adolfo. Aliás, os dois álbuns possuem boas semelhanças estruturais, incluindo dez faixas cada, sendo dois temas instrumentais (no caso de Tempo Presente, as belas Balada do Outono e Rio das Pedras).

Tempo Presente tem como diferenciais o fantástico dueto de Edu com Joyce Moreno em Rei Morto Rei Posto (Joyce também é coautora da faixa-título) e o incrível bate-bola vocal entre o autor de Ponteio e Dori Caymmi na envolvente Desenredo, que tem ecos de O Trenzinho do Caipira. Os grupos vocais Viva Voz e MPB-4 também estão presentes nesses trabalhos.

Com uma voz doce e sempre utilizada de forma inteligente, melódica e envolvente, Edu toca violão e se dedica com afinco aos arranjos e à escalação dos músicos, fazendo dessa forma aquilo que se convencionou chamar de “disco de produtor”, ou seja, no qual o astro da companhia procura também delegar espaços bacanas para que outros músicos participem com brilho de seus discos, sempre com ótimos resultados.

Camaleão e Tempo Presente são discos maravilhosos, daqueles que se recusam a envelhecer e que são marcos de um tempo em que músicas com esse alto gabarito não só eram reconhecidas pelos críticos como também conseguiam ocupar espaços nas programações de rádio, hoje algo praticamente impossível em meio ao domínio de gêneros mais popularescos e imediatistas. Que, provavelmente, sairão de cena rapidinho, ao contrário da obra de Edu Lobo, cada dia mais importante e boa de se ouvir.

Ouça Lero-Lero, com Edu Lobo:

Elton John lança o setentista The Diving Board

Por Fabian Chacur

Elton John é daqueles artistas raros no mundo da música pelo fato de possuir uma obra extensa e repleta de êxitos em termos artísticos e comerciais. Aos 66 anos de idade, continua mais ativo do que nunca, como prova o lançamento de mais um álbum de inéditas, The Diving Board. Pode não ser o seu melhor trabalho, mas é bastante respeitável, com direito a algumas músicas muito interessantes.

Comecemos a análise pelas peculiaridades. A primeira é a ausência dos músicos Davey Johnstone (guitarra) e Nigel Olsson (bateria), presença constante em seus álbuns desde os anos 70 e também nos shows (tocaram com ele no Brasil em seu show realizado no último mês de fevereiro, por exemplo). Em seus lugares, músicos de estúdio, entre os quais o baixista e produtor Raphael Saadiq (ex-Tony!Toni!Toné) e o guitarrista Doyle Bramhall II (conhecido por seus trabalhos com Eric Clapton).

A sonoridade do álbum remete aos discos iniciais de Elton no setor baladas, com influências de gospel e música clássica e clima ora introspectivo, ora soul que marcaram álbuns como Elton John (1970) e Madman Across The Water (1971). São músicas com menos apelo pop do que os grandes hits do astro britânico, mas consistentes e repletas de espaços para o piano.

Aliás, o ponto alto do autor de Rocket Man neste álbum é mesmo o piano, com direito a arranjos fluentes, envolventes e caprichados em cada música. O ponto negativo fica por conta da voz do mestre, que nos últimos 13 anos perdeu boa parte de sua cristalinidade dos bons tempos, tornando-se mais áspera e menos melódica, algo bem nítido, por exemplo, na faixa My Quicksand. Ao vivo, essa deficiência se mostra ainda mais evidente.

Mesmo assim, o álbum nos traz momentos muito bacanas, como A Town Called Jubilee, Take This Dirty Water, Voyeur, Home Again e Mexican Vacation (Kids In The Candlelight). Em algumas canções, os backing vocals ajudam a dar uma disfarçada no timbre “pato rouco” do Elton John atual, dando uma roupagem inclinada para a gospel music tradicional, praia em que ele sempre mostrou talento.

A edição lançada no Brasil, em belíssima capa digipack que não inclui uma única foto do músico, tem quatro faixas bônus: a inédita Candlelit Bedroom e versões ao vivo de Home Again, Mexican Vacation (Kids In The Candlelight) e The New Fever Waltz. The Diving Board é um disco à altura do mito Elton John, e certamente agradará muito seus fãs mais fieis, embora provavelmente não lhe traga novos entusiastas. Uma obra para conhecedores que se disponham a ouvir mais de uma vez para ir aos poucos descobrindo suas belas filigranas.

Veja Elton John ao vivo no Brasil em fevereiro de 2013:

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