celia aquilo que a gente diz capa cd-400x

Por Fabian Chacur

É fácil dizer que Celia merece muito mais reconhecimento do que teve até hoje, em seus mais de 40 anos de carreira. Fácil porque se trata da mais pura verdade. Difícil entender a razão pela qual ela é tão pouco vista na mídia. Enfim, lamentar é triste. Melhor é celebrar, e este sentimento positivo surge ao se ouvir Aquilo Que a Gente Diz, mais recente CD da cantora paulistana, lançamento do selo Nova Estação com distribuição Tratore.

Com produção a cargo de Thiago Marques Luiz, esse batalhador cuja missão parece ser exatamente a de dar a grandes cantoras o tratamento luxuoso que merecem, Aquilo Que a Gente Diz equivale a uma verdadeira aula de classe, emoção e refinamento musical, sem que isso signifique sofisticação excessiva ou dificuldade para o ouvido médio absorver. Que nada. Disco bom de se ouvir, e de ponta a ponta. Basta dar uma oportunidade ao mesmo.

Com arranjos cirúrgicos que primam pelo bom gosto e assinados por Rovilson Pascoal, Alexandre Vianna e Yuri Queiroga, a moldura sonora se mostra adequada para abrigar a voz de Celia. E é aí que a coisa fica perfeita. A experiente intérprete sabe com raro talento desempenhar a difícil tarefa de ser ao mesmo tempo doce e incisiva, suave sem ser chata, melódica sem ser melosa e contundente sem cair na gritaria ou nos maneirismos tecnicistas mais tolos.

Poucas intérpretes merecem ser definidas como estilistas, e Celia é sem sombra de duvida uma delas. Estilo puro, de quem não perde tempo tentando seguir modismos efêmeros ou imitando quem está nos primeiros lugares das paradas de sucesso. Isso deve explicar o porque cada palavra que interpreta soa clara, cristalina, assimilável por todos.

O repertório do novo trabalho traz quatro músicas inéditas e seis releituras, oriundas de autores de várias gerações. Entre Amigos (Joyce), Aquilo Que a Gente Diz (Alzira E e Tiago Torres da Silva), Deus Dará (Zeca Baleiro) e Tanto Nó (Ivan Lins e Fátima Guedes) são as ótimas inéditas, que se somam a regravações impecáveis de maravilhas como Dois Rios (Samuel Rosa, Lô Borges e Nando Reis), Opus 2 (Antônio Carlos & Jocafi) e Eu Sou Aquele Que Disse (Sergio Sampaio).

Célia é tão craque que conseguiu dar nova vida a Não Existe Amor em SP, do super-mega-ultra-totalmente superestimado Criolo, ou Crua, do talentoso mas irregular Otto. Ambas ficaram muito bacanas na sua voz. Após várias e várias audições do CD, só posso torcer para que mais gente descubra esse trabalho tão consistente e tão deliciosamente musical, no qual a inspiração e o respeito ao publico são as tônicas.

Vale o toque: em 2011, a Warner lançou de forma quase secreta e em formato álbum duplo em sua série Sucessos em Dose Dupla os dois primeiros LPs da carreira de Celia, ambos autointitulados e lançados em 1971 e 1972. São incríveis, nos quais a ainda muito jovem intérprete já se mostrava madura e formada. Só as faixas Boca do Sol (Arthur Verocai e Vitor Martins), Para Lennon e McCartney (Lô Borges, Fernando Brant e Márcio Borges) e Detalhes (Roberto e Erasmo Carlos) já valeriam a aquisição, mas os discos são bons de ponta a ponta. Compre antes que sumam de catálogo, se é que já não sumiram…

Célia (1971)- CD em streaming na integra:

Célia (1975)- LP em streaming na íntegra: