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Fred Falcão mostra o seu lado regional no CD Ser Tão Brasil

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Por Fabian Chacur

Após lançar o antológico álbum Leny Andrade Canta Fred Falcão-Bossa Nossa (leia a resenha aqui), o cantor, compositor e músico Fred Falcão volta com outro trabalho digno de ser devidamente apreciado. Trata-se de Ser Tão Brasil- Canções de Fred Falcão (Fina Flor), no qual traz como mote o lado mais regional de sua inspiração, ele que é pernambucano de Recife e radicado há décadas no Rio de Janeiro. Mais brasileiro, impossível.

Compositor inspirado e versátil, Fred foi gravado por artistas de áreas bem distintas, como Clara Nunes, Boca Livre, Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga e Os Cariocas, entre outros. É exatamente essa capacidade de enveredar por vários estilos musicais com jogo de cintura que ele nos apresenta neste novo CD, no qual também dá vasão ao seu lado cantor e se mostra muito competente nessa área, dando conta do recado.

Inteligente, deu um espaço significativo no álbum para um bom valor da nova geração, a cantora Mariana Brant, sobrinha do grande e saudoso poeta mineiro Fernando Brant, um dos melhores parceiros de Milton Nascimento. Ela marca presença em cinco das doze faixas do álbum, emprestando a elas seu tom doce e bem utilizado, com destaque para as envolventes Valsa Sertaneja, Ser Tão Brasil e Faca de Ponta. A moça prova ter um ótimo potencial que tem tudo para gerar belos frutos.

Além de Mariana, o álbum traz outras presenças importantes. Entre outros, temos aqui Rildo Hora (harmônica), Elias Muniz (vocal), Manno Góes (vocal), Dirceu Leite (flauta e clarinete), Jaime Alem (viola caipira e viola 12 cordas), Lula Galvão (violão e guitarra), Jorge Helder (baixo), Jurim Moreira (bateria) e Marcelo Costa (percussão). Os arranjos e regências foram divididos por João Carlos Coutinho e Geraldo Vianna, com resultado expressivo e classudo.

O repertório passa por bolero, baião, xote, toada, canções e bossa nova, esta última a especialidade de Fred, que assina todas as músicas. Entre seus parceiros, temos aqui Antônio Cícero, Manno Góes, Elias Muiz, Aluizio Reis, Carlos Henrique Costa e Ronaldo Monteiro de Souza.

As envolventes melodias foram aliadas a letras impecáveis, versando sobre as várias vertentes do amor, memórias bacanas e impressões sobre o Brasil, com direito à citação de ícones da nossa música como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Altamiro Carrilho e Ademilde Fonseca.

Ser Tão Brasil equivale a uma deliciosa viagem por um universo musical oriundo da abençoada mestiçagem brasileira, fundindo ritmos e estilos e dando origem a uma sonoridade própria, típica da nossa terra e rica por natureza. E fica o registro: intérpretes talentosos/talentosas e de bom gosto em busca de músicas de qualidade deveriam procurar Fred Falcão urgente, pois o seu songbook não só é repleto de coisas boas, como também se renova e se amplia a olhos vistos.

Ser Tão Brasil– Fred Falcão e Mariana Brant:

Dominguinhos, um xodó da música que se vai

Por Fabian Chacur

Em abril de 2011, tive a honra de cobrir o show que Dominguinhos realizou no Palco do Forró, durante a Virada Cultural 2011 (leia o texto aqui). A dignidade e energia com que ele conduziu aquela apresentação me emocionou. Pois nesta terça-feira (23) ele infelizmente nos deixou. Que perda para o mundo musical!

Naquele show o sanfoneiro já penava com um câncer contra o qual lutou durante seis longos e sofridos anos. A coisa ficou feia mesmo a partir do ano passado, e o músico oriundo de Garanhuns (PE) já estava internado desde janeiro. Era muito sofrimento para alguém que proporcionou tantas alegrias a seu povo. Chegou a hora do aconchego final.

Tomei contato direto com a música de Dominguinhos pela primeira vez através do estouro nacional da irresistível Eu Só Quero Um Xodó, parceria dele com Anastácia gravada há exatos 40 anos por Gilberto Gil e registrada pelo autor com igual competência. Anos depois, tive a honra de entrevistá-lo mais de uma vez. Que honra e que delícia. Um ótimo papo, sempre.

Nascido em 1941, Dominguinhos teve como padrinho musical o genial Gonzagão, e pode ser considerado como seu mais legítimo herdeiro. Grande e versátil músico, tinha requintes jazzísticos que o levaram a tocar em shows e gravações com luminares do naipe de Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso, Fagner, Elba Ramalho, Wagner Tiso e muitos outros.

Simpático, inteligente e extremamente humilde, Dominguinhos era daqueles raros artistas que, como o saudoso Velho Lua, encantava a todos, dos mais cultos aos mais simples, dos mais ricos aos mais pobres. A todo aquele ser humano capaz de se sensibilizar com música de qualidade tocada ao mesmo tempo com técnica e emoção.

Além de Eu Só Quero Um Xodó, compôs com parceiros do naipe de Anastácia, Chico Buarque, Gilberto Gil e Nando Cordel maravilhas como Isso Aqui Tá Bom Demais, Tenho Sede, De Volta Pro Aconchego, Xote da Navegação e Lamento Sertanejo, só para citar algumas. Também era capaz de reler com originalidade e categoria hits alheios.

De quebra, ainda apresentou, na fase final de sua vida, o essencial programa de TV O Milagre de Santa Luzia, no qual mostrava a trajetória dos maiores nomes da sanfona brasileira, desde os clássicos até os craques das novas gerações. Generoso, sempre soube dividir os louros da fama com outros colegas de profissão, tal qual seu padrinho sempre fez vida afora.

Foram mais de 55 anos de carreira que não poderiam acabar agora. Infelizmente, assim é o destino. Mas a herança que esse gênio da raça nos deixa é suficiente para que sua obra não só seja devidamente cultuada, mas que também possa inspirar novos talentos a seguir adiante essa bela missão de emocionar os fãs da música. Descanse em paz, mestre!

Ouça Eu Só Quero Um Xodó, com Dominguinhos:

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