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Por Fabian Chacur

Lá pelos idos de 1998, eu era colaborador da extinta revista Cavaco, especializada em samba, e tive a oportunidade de entrevista Almir Guineto no apartamento onde ele morava na época, no bairro de Santa Cecília, em São Paulo. De forma hospitaleira, o cara me ofereceu um suco. Como estava um calor daqueles, tomei rapidinho, e ele me ofereceu outra dose logo a seguir, com a frase clássica: “toma mais, porque por esse preço…”. Essa figuraça infelizmente nos deixou nesta sexta-feira (5), aos 70 anos.

Almir Guineto nasceu no Rio de Janeiro em 12 de julho de 1946, e é cria do Salgueiro. Nos anos 1970, no entanto, também passou a frequentar a sede do Bloco Cacique de Ramos, onde se enturmou e fez amizade com figuras emergentes do porte de Zeca Pagodinho, Ubirany, Bira Presidente e outros do mesmo porte. No fim daquela década, ele integrou por um curto período de tempo dois grupos. O primeiro foi os Originais do Samba, de Mussum e Cia, fundado pelo seu irmão Chiquinho e que gravou algumas de suas composições.

O Grupo Fundo de Quintal completa a dobradinha. Guineto marcou presença no primeiro álbum desse verdadeiro Butantã do samba (só tinha e só tem cobras), Samba é No Fundo de Quintal (1980). Vale lembrar que ele foi a rigor o músico que introduziu o banjo no samba, uma das várias inovações geradas pelo Fundo de Quintal. Ou seja, fica difícil qualificar o trabalho dele como “samba de raiz”, pois, embora tivesse forte ligação com as tradições deste gênero musical, ele no entanto apostou nas inovações e ajudou-o a progredir ainda mais.

Em 1981, fez muito sucesso com a música Mordomia, que defendeu no Festival MPB-Shel de 1981, da Globo, faixa de destaque de seu primeiro álbum solo, O Suburbano, lançado naquele mesmo ano pela efêmera divisão brasileira da gravadora K-Tel. Em 1985, estourou com Jiboia, e depois com Caxambu e diversas outras, em seus trabalhos individuais, sempre com sua voz grave e repleta de swing e personalidade, ora apostando no bom humor, ora no romantismo.

Grande amigo de Zeca Pagodinho, ele inclusive gravou em 1999 um autointitulado álbum pela Universal Music graças à indicação do parceiro. Ótimo interprete, ele no entanto teve mais sucesso como compositor, tendo sido parceiro na autoria de maravilhas do porte de Coisinha do Pai, Corda no Pescoço, Pediu ao Céu e inúmeras outras, gravadas por Beth Carvalho, Alcione, Zeca e outras feras do samba. Almir foi vítima de problemas renais crônicos, agravados por diabetes. Uma dessas perdas mais do que lamentáveis. Que descanse em paz!

Mordomia– Almir Guineto: