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Livros MPBambas trazem um elenco de ótimas entrevistas

mpbambas livro capa-400x

Por Fabian Chacur

Tempo em TV vale ouro. Por isso, frequentemente entrevistas gravadas para esse veículo de comunicação costumam trazer apenas uma parte do conteúdo obtido nos papos com os alvos de suas matérias. Os dois volumes de MPBambas- Histórias e Memórias da Canção Brasileira, de autoria de Tarik de Souza e editados pela Kuarup, tem como nobre objetivo preencher uma dessas lacunas inevitáveis, e o faz de forma brilhante.

Um profissional como Tarik de Souza deveria dispensar apresentações prévias, mas como estamos no Brasil, vale falar um pouco dele. Trata-se de um jornalista especializado em música brasileira na ativa há quase 50 anos, com currículo recheado de passagens por órgãos de imprensa bacanas e autor de inúmeros livros que fazem parte das bibliotecas de quem se interessa por informações musicais consistentes e oferecidas com texto sempre impecável ao leitor.

De 2009 a 2014, Tarik apresentou no Canal Brasil o programa televisivo MPBambas, no qual trazia um grande nome da música brasileira por edição para entrevistas deliciosas. Como cada episódio comportava apenas 27 minutos de conteúdo, sobrou muita coisa boa, que ficaria apenas na memória de quem teve a honra de participar dos bate-papos. Mas Paulo Mendonça, um dos comandantes do Canal Brasil, sugeriu ao jornalista a edição em livro desse material, e graças à sua batalha, e à parceria com a Kuarup, gravadora que também enveredou pelo lançamento de livros, a ideia se tornou realidade.

Organizadas em dois volumes vendidos separadamente, as entrevistas foram divididas em 14 por exemplar, curiosamente como se fossem um disco de vinil. A abrangência dos entrevistados impressiona, pois focaliza desde monstros sagrados bem conhecidos do grande público, como Milton Nascimento, Gal Costa e Beth Carvalho, até craques musicais menos divulgados do que mereceriam, tipo Getúlio Côrtes, Billy Blanco, Sueli Costa e Doris Monteiro.

Cada entrevista é uma verdadeira viagem dentro do universo musical do personagem escolhido. Como as transcrições são integrais, elas nos possibilitam a oportunidade de conhecer características particulares de cada um deles. Tarik vem sempre com a lição de casa prontinha, e faz perguntas pertinentes e buscando esclarecer dúvidas sobre o trabalho de cada um deles, nada mais adequado para um formato do tipo enciclopédia musical brasileira audiovisual.

Quem não curte detalhes e minúcias deve ficar longe de MPBambas, os livros. Quem, no entanto, deseja descobrir muito sobre cada entrevistado, terá seu desejo saciado de forma generosa, além de deparar com fatos importantes e inusitados de cada um deles. Fofocas, boatos tolos e idiotices do gênero não entraram em cena, felizmente. Ao fim de cada leitura, você percebe que tomou contato com gente profunda, importante e que fez da arte suas vidas.

Os livros ganharam ainda mais importância pelo triste fato de que diversos dos entrevistados infelizmente partiram para o outro lado do mistério, tempos após terem concedido suas entrevistas ao programa de TV. Desta forma, viraram registros ainda mais fundamentais. Duvido que você encontre papos mais densos e registrados em livros com os hoje saudosos Dominguinhos, Paulo Vanzolini, Inezita Barroso, Billy Blanco e Ademilde Fonseca do que estes aqui.

Uma das grandes sacadas de Tarik foi uma entrevista com Chico Anysio sobre a sua rica faceta de compositor musical, que muita gente boa infelizmente desconhece. Ou de mostrar a cara de Getúlio Côrtes, autor de hits eternos como Negro Gato, O Gênio, Uma Palavra Amiga e tantos outros. MPBambas-Histórias e Memórias da Canção Brasileira Volumes 1 e 2 é para ler, reler e consultar, além de obrigatórios para estudantes e profissionais de jornalismo.

O Gênio/Pega Ladrão/ Negro Gato (ao vivo)- Getulio Côrtes:

Vejam os ótimos O Zoombido e O Som do Vinil

Por Fabian Chacur

Infelizmente, existem na televisão brasileira menos programas de qualidade sobre músicas do que gostaríamos. A maioria só quer saber de modinhas, de superficialidades e de gente dublando músicas. Sendo assim, sinto-me na obrigação de recomendar dois excelentes atrações que estão na grade do Canal Brasil, infelizmente só disponível para quem pode pagar tevê a cabo.

Zoombido estreou em maio a sua quarta temporada. Apresentado por Paulinho Moska, é exibido pelo canal às quintas (21h30), sextas (16h) e sábados (13h). O apresentador é cantor, compositor e músico, e parte de uma ideia simples, porém muito bem realizada.

Em bate papos sempre descontraídos, Moska procura saber de seus convidados, sempre compositores do primeiro escalão da nossa música, detalhes sobre o início de carreira, como ocorrem as suas relações com a música e coisas assim. Geralmente, o entrevistado canta duas músicas sozinho, e divide uma terceira com o apresentador.

O cenário é sempre o mesmo, uma espécie de sala de estar na qual entrevistado e entrevistador ficam sentados, com violão à mão. Moska esbanja simpatia e carisma, e faz com que o papo seja sempre interessante.

Destaco a abertura, na qual uma música falando exatamente sobre o ato de compor é interpretada por vários de seus entrevistados, um verso cada, gente do gabarito de Guilherme Arantes, Kiko Zambianchi, Herbert Vianna, Danilo Caymmi e Evandro Mesquita. Uma delícia de se ver e ouvir.

O Som do Vinil, que pode ser conferido às sextas (21h30) e sábados (13h30) tem como mestre de cerimônias Charles Gavin (foto), ex-baterista dos Titãs e um dos responsáveis, nos anos 90 e 2000, por dezenas (centenas, na verdade) de resgates de discos seminais na história da música tupiniquim.

Inspirado nessa sua tarefa admirável e também no genial Classic Albums da Castle Rock (que conta a história de clássicos do rock mundial), ele entrevistas pessoas envolvidas na gravação de alguns desses álbuns memoráveis da música brasileira, com direito a entrevistas com os músicos, produtores, compositores etc.

Já estiveram por lá Lulu Santos, Ivan Lins, Lenine, Lady Zu, Dóris Monteiro e diversos outros, sempre com direito a muitas informações de bastidores, entrevistas bem conduzidas e uma leveza bem adequada.

Lógico que Classic Albums é muito melhor, mas especialmente porque tem mais tempo (uma hora cada episódio, contra meia horinha da atração brasileira) e mais recursos financeiros a seu favor. Mas Gavin se vira muito bem com o que tem em mãos.

Ver sempre esses dois programas e ajudá-los a ter boa audiência é fazer uma profissão de fé na qualidade dos programas musicas da tevê brasileira, e também de incentivar a criação de outros do mesmo alto nível.

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