Mondo Pop

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Jerry Adriani: um ser humano adorável e um grande artista

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Por Fabian Chacur

Conheci Jerry Adriani pessoalmente lá pelos idos de 1986, quando iniciava a minha carreira como jornalista e crítico especializado em música. Foi em uma entrevista coletiva na antiga gravadora Polygram (hoje, parte do conglomerado Universal Music), na qual o cantor paulistano divulgava seu então recém-lançado LP Outra Vez Coração. Tenho até foto desse encontro. Nascia ali uma grande admiração pelo ser humano por trás do artista já tão famoso naquela época.

Jerry infelizmente nos deixou neste domingo (23) às 15h30, conforme divulgação feita por seus familiares. Ele combatia um câncer e também esteve internado devido a uma trombose sofrida em uma de suas pernas. Os últimos registros fotográficos divulgados o mostravam muito abaixo do seu peso habitual, e com uma aparência abatida. Uma pena.

Após aquele primeiro contato com Jerry, tive a oportunidade de entrevista-lo em diversas outras ocasiões. Suas marcas registradas: simpático, bonachão, bem-humorado e sempre com boas histórias para contar. Nunca vou me esquecer de uma dessas ocasiões, ocorrida em um barzinho, em São Paulo, na região dos Jardins.

Já no fim do bate-papo, surgiu do nada um gato por ali. Jerry não disfarçou o seu incômodo pelo bichano estar nas cercanias de onde estávamos sentados, e deu a genial e divertida justificativa: “sabe como é, meu nome artístico é Jerry, que é um rato…”. A capacidade de soltar essas pérolas era infindável. Tive a oportunidade de entrevista-lo até no apartamento que mantinha em São Paulo, e assinei o press-release que acompanhou o álbum Rádio Rock Romance, que ele lançou em 1996.

Jair Alves de Souza, seu nome de batismo, nasceu em São Paulo, no bairro do Brás, em 29 de janeiro de 1947. Seu primeiro álbum, Italianíssimo (1964), só com músicas em italiano, marcou o início de sua carreira discográfica, que renderia inúmeros fruto. Seu estouro coincidiu com o da era da Jovem Guarda, e mesclou rocks românticos, baladas e canções pop, sempre tendo sua belíssima e bem colocada voz como ponto de destaque.

No fim dos anos 1960, ele foi o responsável pela mudança de um então ainda desconhecido Raul Seixas para o Rio de Janeiro. Jerry o havia conhecido em Salvador, pois havia sido acompanhado em shows por lá pelo grupo que o roqueiro mantinha na época, Raulzito e os Panteras. Raul não só produziria alguns de seus discos na gravadora CBS (hoje, Sony Music) como também comporia alguns sucessos para o cara, como Doce Doce Amor, Tudo o Que é Bom Dura Pouco e Tarde Demais.

Ao contrário de outros artistas da era da Jovem Guarda, Jerry conseguiu se manter sempre em evidência, graças ao profissionalismo, à capacidade de renovar o repertório e também ao espírito positivo. Em 1985, por exemplo, a banda Legião Urbana estourou com a música Será, e muitos comparavam a voz de seu cantor, Renato Russo, com a de Jerry. Ele curtiu a comparação, elogiou o colega e, em 1999, gravaria o álbum Forza Sempre, com releituras de músicas da Legião com a participação de músicos que haviam tocado com Renato.

Versátil, Jerry apresentou programas e trabalhou como ator em filmes, novelas e séries de TV, sempre com um desempenho elogiado. Em 1990, ele gravou um álbum incrível, Elvis Vive, interpretando versões em português para alguns dos grandes hits de Elvis Presley. Seu mais recente trabalho, Outro (2016), gravado ao vivo e feito em parceria com o Canal Brasil, mostrava o cantor investindo em um repertório mais sofisticado. Aguardem em breve resenha deste trabalho por aqui.

Georgia On My Mind (ao vivo)- Jerry Adriani:

Morre John Wetton, o incrível cantor e baixista de prog rock

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Por Fabian Chacur

John Wetton era aquele tipo de músico que fazia os concorrentes passarem vergonha na hora de comparar os currículos. Afinal de contas, esse cantor, compositor e baixista inglês tocou com alguns dos mais importantes grupos de rock de todos os tempos, especialmente em termos de rock progressivo. Ele nos deixou nesta terça-feira (31), aos 67 anos, após uma longa batalha contra o câncer.

Mesmo com problemas de saúde, ele não deixou de trabalhar nos últimos tempos. Inclusive, ele deveria começar em breve uma turnê com uma das bandas que o tornou famoso, a Asia, que faria shows em dobradinha com o Journey. Ele anunciou no dia 11 de janeiro que não poderia participar dos primeiros shows por determinação médica, sendo substituído pelo amigo Billy Sherwood (do grupo Yes). O músico também estava se dedicando a relançamentos de trabalhos-solo.

Além disso, está previsto para sair no dia 24 de fevereiro o lançamento de um novo trabalho do Asia, Symfonia- Live In Bulgaria 2013, que sairá em CD duplo e DVD. Os relançamentos de seus trabalhos-solo, assim como a disponibilização de gravações raras e/ou inéditas dele, estavam sendo realizadas por um selo próprio, o Primary Purpose.

Nascido na Inglaterra em 12 de junho de 1949, John Wetton começou no cenário do rock tocando em grupos como o Mogul Trash. Em 1971, entrou na banda Family, a qual acabou deixando em 1972 para aceitar um convite imperdível: ser o novo baixista e vocalista do King Crimson, seminal time de rock progressivo que naquele momento partia para uma nova formação. Ao lado de Robert Fripp (guitarra) e Bill Brufford (bateria), lançou três discos seminais do prog rock: Larks Tongue In Aspic (1973), Starless And Bible Black (1974) e Red (1974).

Com a separação do Crimson em 1974, Wetton ficou até 1977 participando de vários trabalhos alheios, tocando baixo com o Roxy Music em uma turnê da banda (ele aparece no incrível álbum Viva!, lançado por esta banda em 1976) e também participando (entre 1974 e 1978) de discos solo de Bryan Ferry e Phil Manzanera. Em 1975 e 1976, fez parte do Uriah Heep, com o qual gravou dois álbuns, entre eles o elogiado Return To Fantasy (1975).

Em 1977, Wetton cria a banda U.K. ao lado de outros músicos badalados, como Bill Brufford (Asia, King Crimson), Eddie Jobson (Roxy Music) e Alan Holdsworth. Com o fim da banda, em 1980, ele lança o seu primeiro disco solo, Caught In The Crossfire, que é elogiado mas não consegue boas vendagens. Aí, surgiria um projeto campeão de vendas para compensá-lo de forma massiva.

Era o Asia, que trazia ele como cantor e baixista ao lado de Geoff Downess (ex-Buggles e Yes, teclados), Steve Howe (guitarra, ex-Yes) e Carl Palmer (bateria, ex-Emerson, Lake & Palmer). O grupo tornou-se um verdadeiro fenômeno de vendas do pop-rock, vendendo milhões de discos, atingindo o primeiro lugar da parada nos EUA e ficando por lá durante nove semanas e se tornando o álbum mais vendido de 1982 pela Billboard, com hits como Heat Of The Moment e Only Time Will Tell.

A partir daí, já mais do que consagrado, John Wetton se dividiu entre o lançamento de trabalhos-solo, de um álbum em dupla com Phil Manzanera e inúmeros outros projetos bacanas. Em 1997, saiu My Own Time: The Authorized Biography Of John Wetton, de autoria de Kim Dancha. Wetton esteve no Brasil em 1991 com o Asia, onde fez alguns shows. Ele conseguiu superar o vício de bebidas alcoólicas, e ajudava outras pessoas com esse problema sério.

Do It Again (ao vivo)- John Wetton e Phil Manzanera:

Victor Mendes lança o seu 1º CD solo, o belo Nossa Ciranda

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Por Fabian Chacur

Atualmente com 29 anos de idade, Victor Mendes começou a tocar ainda criança. Oriundo da cidade de São José dos Campos (SP), ele integrou durante três anos a banda de rock Ethama, com a qual gravou dois CDs independentes. Depois, foi estudar História na USP, em São Paulo, e ficou um pouco mais distante do mundo musical.

Felizmente, esse distanciamento não durou muito, e ele voltou a tocar e cantar, com o Trio José e agora também em carreira-solo. Seu primeiro trabalho nesse novo formato, Nossa Ciranda, acaba de sair, com uma sonoridade melódica e muito consistente. Leia entrevista com esse promissor nome da nossa música popular:

Mondo Pop- Antes de lançar este trabalho solo, você gravou três CDs, com os grupos Ethama e Trio José. Fale um pouco sobre esses discos, de como foi a sua participação neles e como você as avalia.
Victor Mendes
– Minha primeira experiência em estúdio foi na adolescência, com a banda de rock Ethama. Chegamos a gravar dois discos com canções autorais e, apesar de jovens, já levávamos bastante a sério o que fazíamos. Mas foram discos que não saíram fisicamente e acabaram ficando apenas como um registro. Já com o Trio José, em 2014, tínhamos um projeto muito bem definido, de musicar os poemas de Juca da Angélica. Eu dividi a produção do disco com Danilo Moura. Aprendi muito durante as gravações, a pensar os arranjos, descobri as dificuldades e facilidades que eu tenho dentro do estúdio. Tivemos que pensar na concepção do disco, foi um projeto muito interessante e que rende frutos até hoje. Em ambos, participei como músico, compositor, cantor e produtor.

Mondo Pop- Você pretende a partir de agora se dedicar apenas à carreira-solo ou pensa em fazer isso paralelamente à participação em algum grupo? E o que te levou a optar por lançar um álbum solo, ou a seguir exclusivamente esse rumo, se for a sua opção a partir de agora?
Victor Mendes
: Durante as gravações do disco do Trio José, passei por um processo de amadurecimento dentro do estúdio, e no final das gravações estava bem mais a vontade para gravar. Como eu já tinha um repertório pronto, pois muitas das canções já haviam sido compostas mesmo antes do disco do Trio José, sentia necessidade de gravá-las, poder divulga-las, compartilhar com mais gente aquelas canções que eu fazia. Além dessas canções, outras músicas de parceiros também entraram no disco, e eram canções que eu já cantava há algum tempo, mas nunca tinham sido gravadas.
Quando componho uma música, já penso em quase todo o arranjo, desde o violão até a instrumentação. Isso também contribuiu para que eu fizesse um disco solo, com a minha concepção. Esse trabalho não exclui outros. Ainda continuo com o Trio José, estamos planejando um show em homenagem ao compositor capixaba Sergio Sampaio em breve. Eu acompanho a cantora Karine Telles no violão num show que em breve voltará pros palcos, conheci há pouco tempo a cantora e compositora argentina Gaby Echevarria e estamos montando um show juntos também! E pra mim, quando mais música, melhor! É só administrar o tempo! (risos)

Mondo Pop- Você gravou o álbum durante um período de quase dois anos. Houve algum tipo de modificação de seu projeto inicial em função disso ou você conseguiu manter a linha musical que pretendia seguir? Quais foram as principais dificuldades para viabilizar esse projeto?
Victor Mendes
: Inicialmente, era pra ser um disco de voz, violão e viola. Pensei dessa maneira inclusive para ser mais viável e barato. Mas aos poucos percebi que ficaria bom colocar percussão em uma música. Gostei. Gravamos em seis. E percussão sem baixo não fica muito bom. Aí, entrou o baixo acústico. E percebi que com a participação dos músicos o disco ganhou muito, ficou mais rico, os arranjos que pensei ficaram mais bonitos. No final das contas, o disco teve percussão, baixo, flauta, rabeca, violão slide e participações especiais. Sim, fugiu dos planos iniciais, mas ficou muito melhor do que um trabalho idealizado somente por mim. As maiores dificuldades para se gravar um disco independente, além do dinheiro, acho que é conseguir organizar o tempo de todos que participam. Muitas vezes, as agendas dos músicos não coincidem, pois todos trabalham muito, isso atrasa o processo. Quando se faz um disco com mais estrutura, agenda, prazos, ou com um orçamento maior, fica mais fácil de organizar as agendas. Fora isso, tudo ocorreu muito bem, foi um trabalho muito gostoso de se fazer.

Mondo Pop- Você se manteve distante da música durante um período, dedicando-se exclusivamente aos estudos de história. Quando retomou, mudou alguma coisa em sua concepção musical?
Victor Mendes
: Sim, muito. Durante o curso de história na USP, pude conhecer muita gente importante e que mudou minha concepção musical. Paulo Nunes e Saulo Alves são os mais importantes. Eles me ensinaram muita coisa e despertaram o meu interesse para a música brasileira, da obra de artistas como Milton Nascimento, Guinga, Sérgio Sampaio e Dercio Marques, que me fizeram olhar para minhas origens, a cultura caipira de São José dos Campos, e a beleza da cultura popular que existe em todo lugar. Nessa época em que estudava no curso de história, não me distanciei da música. Na verdade, foi o momento eu que eu descobri a música que queria fazer, que me identifico, e até hoje tento me expressar através dela.

Mondo Pop- O CD Nossa Ciranda traz a participação de três cantoras. Como surgiu essa ideia?
Victor Mendes
: A sugestão inicial foi do Ricardo Vignini, dono do estúdio Bojo Elétrico, onde gravei o disco. Todas as cantoras são grandes amigas e, de alguma maneira, tem uma ligação com a música que cantam. A Karine Telles já vinha cantando Negra Lua nas cantorias que fazemos de vez em quando na casa do Paulo, a música a escolheu. A Roberta Oliveira é uma amiga de longa data. Hoje em dia, nos encontramos pouco, mas convivemos bastante numa época, e a canção Filho de Ogum, da Maria Ó, já fazia parte do nosso repertório, as duas são grandes amigas, e quando decidi gravar a música logo pensei nela, a energia que ela transmite cantando é muito forte. E a Paola Albano é uma grande amiga, ela é professora de canto e me ajudou muito nas gravações. A canção que ela canta comigo é de autoria de Danilo Moura, seu namorado. Eles me mostraram a música em dueto, e não tive dúvidas em “roubá-la” para o meu disco (risos).

Mondo Pop- Como você trabalha como compositor? Sempre faz as melodias? Pega os versos de outros autores e põe música neles ou é o contrário (dá suas melodias para que as letras sejam encaixadas posteriormente)?
Victor Mendes
: Normalmente, o Paulo me manda as letras, primeiro. Aí eu pego uma delas e começo a tocar e cantar algo que me vem na cabeça, às vezes funciona muito bem e a música fica pronta. Mas, muitas vezes, eu vou criando melodias no violão, algumas ideias de harmonia, de levada, e quando tenho algo mais concreto, vou procurar alguma letra que possa se encaixar na música. Já aconteceu de eu fazer uma música inteira (sem letra) e o Paulo me mandar uma letra que se encaixava perfeitamente na harmonia. Foi sorte. Agora, estamos querendo inverter o processo, vou mandar as melodias pro Paulo colocar letra, acho que vão surgir músicas bem diferentes.

Mondo Pop- O disco traz dois temas instrumentais. Você pensa em lançar futuramente um álbum só com esse tipo de composição? E como surgiu a ideia de incluir essas duas neste CD?
Victor Mendes
: A Correria é uma música antiga, foi um dos primeiros temas que fiz na viola e gosto muito dela. Eu fiz quando estava ouvindo muito a música latino-americana. A Rio Manso eu fiz muito lentamente, fiz a primeira parte, e depois de anos terminei, como ideias que foram se juntando até formar uma música. Não pensei em gravar um álbum só de músicas instrumentais, eu gosto de cantar, gosto de me comunicar com as letras. Como nesse disco eu tinha total liberdade para escolher o repertório, decidi incluir esses dois temas. Eu escutei muita música instrumental, o disco do Quarteto Novo, por exemplo, foi crucial para minha formação, os discos instrumentais de viola do Almir Sater, Ivan Vilela. E acho que para o ouvinte, os temas instrumentais ajudam a compreender a concepção sonora do disco, é uma outra maneira de se comunicar.. só com a música.

Mondo Pop- Com a popularização dos MP3 e outros formatos digitais, há quem preveja o fim do formato álbum. No entanto, esse tipo de obra continua sendo lançada, inclusive por músicos jovens como você. O que você pensa sobre isso?
Victor Mendes
: O disco físico ainda é importante, inclusive para conseguirmos trabalhar, vender shows, divulgar o trabalho, ele dá um caráter mais maduro e profissional para a obra. Além disso, acho muito importante o disco ter uma unidade estética, tanto na música quanto na arte gráfica, o disco ainda é um suporte físico para isso. Isso é muito interessante, pois a música não é um objeto material, como um quadro, mas o disco, o encarte, dão um suporte material, visual, para essa arte que se descola no tempo e desaparece. Não há nada melhor, para quem gosta de música, do que ouvir um disco com o encarte na mão, lendo quais músicos tocaram nas faixas, quem produziu, onde foi gravado. O MP3 ajuda muito na divulgação das músicas, mas acaba fragmentando essa unidade da obra, tão importante e tão cuidadosamente pensada pelos músicos.

Mondo Pop- Fale um pouco sobre as suas preferências musicais (autores, gêneros musicais etc), e como isso se refletiu no disco Nossa Ciranda.
Victor Mendes
: Tenho muitas referências musicais e que influenciam muito no meu trabalho, como Milton Nascimento, Gilberto Gil, Dori Caymmi, Vitor Ramil, Jorge Drexler, Jorge Fandermole, Dércio Marques, Renato Braz, Mercedes Sosa, Heraldo Monte… Todas essas influências, creio, têm em comum algo que busco na minha música, que é se inspirar no que há de mais simples, mais popular, e fazer disso algo universal, sem amarras, ser ao mesmo tempo tradicional e inovador. Acompanho muito a carreira de todos, desde a escolha dos repertórios, arranjos, interpretação.

Remo Bom– Victor Mendes:

Paul Kantner: como eu virei fã do incrível Jefferson Airplane

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Por Fabian Chacur

Mais uma vez faço um post doloroso aqui em Mondo Pop. Meus ídolos andam dando adeus ao mundo em doses muito grandes, nos últimos tempos. Desta vez, foi Paul Kantner, cantor, guitarrista e compositor americano, criador de uma de minhas bandas favoritas, a Jefferson Airplane. Ele nos deixou nesta quinta-feira (28), vitima de falência múltipla de órgãos, após ter tido um ataque cardíaco no início desta semana. Perda mais do que lamentável.

Em 1978, como parte integrante da trilha sonora da novela global O Pulo do Gato, a música Count On Me fez sucesso no Brasil. Ao comprar esse LP, tive contato pela primeira vez com uma música do que chamaria de “Família Airplane”. Com a nave mãe, ou seja, o Jefferson Airplane, só fui ter contato lá pelos idos de 1982-1983. E foi graças ao amigo jornalista Ayrton Mugnaini Jr., em duas ações decisivas por parte dele.

A primeira foi me vendendo, a preço módico, raras edições da seminal revista brasileira Rock, dos anos 70, com biografias bacanas de várias bandas, entre elas a Jefferson Airplane. Ao ler sobre eles, fiquei curioso para saber como era o som dos caras, e o Mug, de forma generosa, emprestou-me os dois Lps que tinha do grupo americano, After Bathing At Baxter’s e Volunteers. Aí, como diria o poeta, danou-se. Vício!.

O próximo passo foi ir nos sebos da vida atrás desses dois discos e também dos outros do JA. Foi duro, visto que apenas o primeiro saiu por aqui, e era até mais raro do que os importados. Aos poucos, completei a coleção, lá pelos idos de 1985. Nem é preciso dizer que, na onda, acabei também indo atrás de vários trabalhos do Jefferson Starship e de outras configurações musicais envolvendo integrantes do JA.

Paul Kantner era uma espécie de mestre zen da banda, que criou em 1965 em San Francisco com o também genial cantor e compositor Marty Balin. Desde o início, a sonoridade dos caras apontava para novos rumos em termos sonoros, embora tenha começado mais próximo do folk rock com boas harmonias vocais a la Byrds e The Mamas And The Papas. O 1º disco, Jefferson Airplane Takes Off (1966), apontava nessa direção.

Naquele mesmo ano, duas trocas na formação se mostraram decisivas na orientação musical do grupo. A boa cantora Signe Anderson deixou a carreira musical, e foi substituída por Grace Slick, até então vocalista do grupo Great Society e que trouxe com elas as músicas White Rabbit e Somebody To Love. A outra alteração veio com a saída do adaptado baterista Skip Spence (que depois montaria a ótima banda Moby Grape, tocando guitarra e cantando).

Se Kantner era o compositor intelectualizado e ligado a ficção científica e temas do gênero, Marty Balin era paixão pura, especialmente na hora de cantar. Grace tornou-se a parceira ideal para harmonizar com os outros dois, em combinações vocais ácidas, ardidas e repletas de beleza. Mas que atingiam o auge graças ao acompanhamento instrumental de seus colegas de time: Jack Casady (baixo) e Jorma Kaukonen (guitarra).

Unidos ao novo baterista, Spencer Dryden, com suas influências jazzísticas, Casady e Kaukonen acresceram ao som do Airplane uma imprevisibilidade matadora. Isso, sem cair em uma maluquice completa. Som psicodélico de primeira, provavelmente o melhor feito no cenário musical americano. E Surrealistic Pillow (1967), seu segundo álbum, os levou aos primeiros lugares da parada ianque.

After Bathing At Baxter’s veio ainda em 1967, e é provavelmente o meu álbum favorito de rock psicodélico, levando ainda mais longe as ousadias do álbum anterior e entrando em uma fusão sonora que inclui até elementos de bossa nova, dá pra encarar? Nunca vou me esquecer da primeira vez que ouvi esse álbum. E que fique registrado: nunca me vali de drogas para ouvir os discos do grupo. Desnecessários esses aditivos para apreciar música tão ousada e boa.

Em 1968, veio Crown Of Creation, espécie de síntese da concisão de Pillow com a piração de Baxters, gerando outro trabalho clássico. E em 1969, era a vez do engajado Volunteers, com sua enfurecida faixa título e maravilhas como Wooden Ships (parceria de Paul Kantner com os amigos David Crosby e Stephen Stills), mantendo a aeronave nas alturas da qualidade musical. De quebra, suas participações nos festivais de Monterey (1967) e Woodstock (1969) os projetaram ainda mais perante os roqueiros mais antenados.

Vale ainda citar o álbum ao vivo Bless Its Pointed Little Head, lançado em 1969 e um belo registro dessa fase áurea do Airplane, com direito a versões turbinadas e aceleradas de seus hits e também algumas faixas inéditas na interpretação do grupo, como a deliciosa Fat Angel, de Donovan Leich, e The Other Side Of This Life, do grande compositor Fred Neil, o autor da célebre Everybody’s Talking, trilha do filme Midnight Cowboy e gravada por Harry Nilson.

Aí, veio a tempestade. Inicialmente com a participação da banda no desastrado festival de Altamont, promovido em 1969 pelos Rolling Stones nos EUA, no qual Marty Balin foi atacado em pleno palco. Parecia o prenúncio de tempos não muito bons. E para a banda não foram mesmo. Balin saiu fora, Spencer Dryden também, e quando voltou, em 1971, o Airplane não era mais o mesmo. Lançou dois discos de estúdio irregulares (Bark, de 1971 e Long John Silver, de 1972) e o ao vivo Thirty Seconds Over Winterland (1973) e saíram de cena.

Em 1970, no entanto, surgia a semente do que viria a ser o futuro de Paul Kantner. Ele resolveu aproveitar um período de parada do Airplane e gravou e lançou naquele mesmo ano o primeiro disco solo, Blows Against The Empire, com temática de ficção científica, ótimas músicas como Mau Mau (Amerikon), Have You Seen The Stars Tonite? e A Child Is Coming e participações especiais de gente como Grace Slick, Jack Casady, Jerry Garcia, Mickey Hart e David Freiberg.

O álbum veio creditado a Paul Kantner e Jefferson Starship, nome de certa forma brincando com a temática futurista das canções incluídas nele. Mas esse nome acabou sendo escolhido por Kantner para a banda que sucederia o Airplane. Antes, Kantner lançaria álbuns em dupla com a então esposa Grace Slick e também um com o casal e o músico David Freiberg. Seria o embrião para o que viria a seguir.

Com uma proposta um pouco mais pop, mas não menos roqueira, o Jefferson Starship lançou seu primeiro álbum em 1974, Dragonfly, com boa repercussão e músicas bacanas como Ride The Tiger, uma das grandes composições de Paul Kantner. Dos tempos do Airplane, sobraram Kantner, Slick e, na última hora, Balin. O álbum seguinte, Red Octopus, chegou ao primeiro lugar na parada americana, façanha que a nave original só conseguiu nas paradas de singles.

Até o início dos anos 80, o Jefferson Starship continuou frequentando as paradas de sucesso, com hits como Count On Me e Jane. Até que Paul Kantner resolveu sair fora do time, que a partir dali virou Starship, mantendo apenas Grace Slick dos bons tempos e emplacando hits mais pop como We Built This City e Sarah.

Enquanto isso, Paul Kantner montou uma nova banda com dois ex-colegas de Airplane, a KBC Band, ao lado de Marty Balin e Jack Casady. Rendeu um único (e bacana) disco em 1986. Aí, em 1988, a surpresa: a volta do Airplane com sua formação clássica (sem Spencer Dryden), para o lançamento de um único disco (autointitulado) e nada muito além disso. Paul Kantner voltou a ficar mais visível a partir de 1992.

Foi naquele ano que ele reviveu a marca Jefferson Starship, inicialmente com o nome adicional The Next Generation. Shows vieram, com participações de antigos colegas da família Airplane, como Grace Slick, Jack Casady e Marty Balin. Em 1999, lançaram o ótimo CD Windows Of Heaven, incluindo faixas como a empolgante I’m On Fire, de Paul Kantner e participação destacada de Grace Slick nos vocais. O último CD de inéditas, Jefferson’s Tree Of Liberty, saiu em 2008.

Em 2013, o Jefferson Starship esteve no Brasil e tocou no Manifesto Bar, em São Paulo, no dia 8 de agosto. Na formação, além de Paul Kantner, outro conhecido: David Freiberg, que integrou o Airplane em sua fase final e o Starship nos anos 1970. Infelizmente, o ingresso caro me impediu de ver o show. Ah, se arrependimento matasse…

Ouça Blows Against The Empire- Paul Kantner e Jefferson Starship:

Wooden Ships– Jefferson Airplane:

Ride The Tiger– Jefferson Starship:

Jack Bruce, mestre do baixo e da música, morre aos 71 anos

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Por Fabian Chacur

Nem acreditei quando fui escalado, em 2012, para entrevistar via telefone o célebre cantor, compositor e baixista britânico Jack Bruce. Ele estava agendado para tocar no Brasil, o que ocorreu em outubro daquele ano. A entrevista foi deliciosa (leia aqui) e o show do mestre da música em São Paulo, idem na mesma data (leia crítica aqui). Infelizmente, não o veremos mais. Ele nos deixou neste sábado (25) aos 71 anos, vítima de doença hepática. Descanse em paz, gênio brilhante!

Nascido em 14 de maio de 1943 em Glasgow, Escócia, Jack Bruce teve uma carreira brilhante como cantor e compositor, e é considerado um dos grandes virtuoses do baixo não só no rock, como em qualquer outro estilo musical. Mondo Pop deu uma geral em sua carreira e em seus pontos altos quando ele nos visitou em 2012 (leia aqui).

Normalmente, as matérias publicadas em jornais são editadas a partir de um texto de maior tamanho enviado pelo jornalista. No caso de minha entrevista com Jack Bruce para a Folha de S.Paulo, não foi diferente. A edição ficou bacana, mas omitiu algumas declarações do agora saudoso músico britânico. Para os curiosos, segue abaixo, na íntegra, o texto original da entrevista, sem os cortes posteriores:

“Jack Bruce, baixista e vocalista de um dos mais importantes grupos da história do rock, o Cream, enfim irá tocar no Brasil. Ele se apresenta em São Paulo no dia 24 de outubro (quarta-feira) no Teatro Bradesco ao lado da sua Big Blues Band.
Em entrevista exclusiva por telefone à Folha, o músico escocês confessou que não sabe o que esperar do público brasileiro.
“Não tenho a mínima ideia do que eu encontrarei aí, mas faz tempo que eu desejo tocar no Brasil”, diz.
Ele virá acompanhado por uma banda composta por sete músicos, com a qual gravou recentemente um álbum duplo ao vivo (“Live 2012”), e promete dar uma geral em suas cinco décadas de estrada, incluindo hits do Cream como “Sunshine Of Your Love”.
Os arranjos das músicas tendem para o blues, embora tenham fortes elementos de rock, soul e jazz no meio. Bruce diz que não é chegado a rótulos.
“Comecei a tocar ainda jovem, e desde o começo o meu grande prazer era improvisar, independente do gênero musical que toco. Aliás, eu não toco jazz, toco Jack”, diz, rindo.
Entre os inúmeros músicos com quem já trabalhou em sua carreira, Bruce destaca o baterista Tony Williams (1945-1997), considerado um dos melhores da história do jazz e com o qual tocou na banda Lifetime na década de 1970.
“Ele morreu jovem demais! Era um gênio, o maior gênio com quem toquei durante a minha carreira. Gravei o álbum “Spectrum Road” (2012) em homenagem a ele, ao lado de Vernon Reid (Living Colour, guitarra), John Medesky (Medesky, Martin & Wood, teclados) e Cindy Blackman Santana (bateria)”, diz.
“Não me culpem pelo heavy metal!”
Mesmo tendo um currículo longo e repleto de realizações, Jack Bruce costuma ser lembrado com mais frequência por ter feito parte do Cream, ao lado de Eric Clapton e Ginger Baker. Ele acha isso normal.
“O Cream foi uma ótima banda. Levamos a linguagem do blues para um rumo pop. Acho Eric Clapton um grande guitarrista, seus solos são ótimos, ele toca com muita paixão e amor. Foi a minha grande oportunidade de tocar em uma banda de rock de sucesso. Mas eu queria fazer outras coisas, por isso o grupo durou pouco”.
Ele só faz uma ressalva em relação a quem considera o trio britânico, que esteve na ativa entre 1966 e 1968 e teve um breve retorno em 2005, um dos criadores do heavy metal.
“Não me acho o pai do heavy metal, não. Culpem o Led Zeppelin por isso!”, disse, rindo bastante.
Outra parceria que Bruce relembra com carinho foi a que o ligou a Ringo Starr nos anos 1990. Ele integrou uma das várias formações da All Starr Band, ao lado de Ringo, Peter Frampton, Todd Rundgren e Gary Brooker, entre outros.
Das novas gerações, Bruce elogia muito o guitarrista Joe Bonamassa, com quem tocou ao vivo há alguns anos, e revela que adoraria gravar com ele, assim como com a cantora Christina Aguilera.”

Dance The Night Away – Cream:

Sunshine Of Your Love- Cream:

Morre o genial Marcio Antonucci, dos Vips

Por Fabian Chacur

Morreu nesta segunda-feira (20) o cantor, compositor e produtor musical Márcio Antonucci, que se tornou conhecido nacionalmente como integrante da dupla Os Vips (à esquerda na foto ao lado), ao lado do irmão Ronald. Ele tinha 68 anos de idade, e foi vítima de infecção generalizada, após vários dias internado em Angra dos Reis (RJ) devido a uma pneumonia. Ele deve ser velado e enterrado no Rio nesta quarta-feira (22).

Tive a honra de entrevistar o simpático e talentoso Márcio “Vip” Antonucci em 1995, quando foi lançada a caixa de cinco CDs 30 Anos de Jovem Guarda. Nunca vou me esquecer de uma declaração genial que ele me deu, relacionada ao fato de Roberto Carlos não ter participado da coletânea e da inclusão da música Quero Que Vá Tudo Pro Inferno na mesma.

“Enquanto negociamos para que o Roberto participasse do projeto, eu admiti deixar Quero Que Vá Tudo Pro Inferno fora do projeto, pelo fato de ele ter pegado bronca dessa música. Quando finalmente ele recusou o convite, não tive dúvida e não só incluí a música na coletânea, como coloquei o elenco inteiro do projeto para cantá-la”, disse. Simpático, passou a mim o número do telefone de sua casa e se ofereceu para qualquer tipo de consulta musical que eu precisasse. Um gentleman.

A carreira dos Vips teve início na primeira metade dos anos 60, influenciada por duplas como os Everly Brothers e pelos Beatles, de quem os irmãos Antonucci gravaram algumas versões. Suas vocalizações deliciosas ajudaram a emplacar hits certeiros como Faça Alguma Coisa Pelo Nosso Amor e a fenomenal A Volta, de Roberto Carlos, provavelmente o maior sucesso pop de 1966 no Brasil e relida nos anos 2000 com muita categoria pelo Rei.

Após o fim da Jovem Guarda, período em que fizeram muito sucesso, os Vips continuaram fortes durante os anos 70, o que provam sucessos do naipe de Cada Segundo (de Antônio Carlos & Jocafi e parte da trilha da novela global O Primeiro Amor) e Só Até Sábado, sempre apostando em vocais caprichados e letras românticas e bem-humoradas.

Com o tempo, Márcio ampliou seus horizontes profissionais, e se tornou produtor de programas de TV e também diretor musical na Rede Globo, Record e SBT. De forma despretensiosa, gravou um disco ao vivo com os Vips em 1991, intitulado A Volta e lançado pela gravadora global Som Livre. O álbum, no entanto, surpreendeu e estourou, retomando com tudo o sucesso da dupla com o irmão camarada Ronald.

Sempre atencioso e ajudando os colegas de Jovem Guarda, Márcio foi o nome por trás do lançamento de 30 Anos de Jovem Guarda, caixa com cinco CDs que trouxe regravações respeitando os arranjos originais dos grandes sucessos daquelas “jovens tardes de domingo” e ajudou vários de seus colegas a conseguirem gravar novamente em uma grande gravadora, no caso a Polygram (hoje Universal Music).

A compilação vendeu muito, e acabou abrindo as portas para o lançamento em 1999 de outro projeto na mesma linha, A Discoteca do Chacrinha, outra produção de Márcio desta vez focada em hits populares dos anos 70 relidos por nomes como Odair José, Amado Batista, Peninha, Wando, Fernando Mendes, Waldick Soriano, Genival Lacerda, Paulo Diniz, Jerry Adriani e Claudia Telles, entre outros.

Entre os pontos altos da trajetória dos Vips está o fato de eles terem gravado em 1968 a primeira versão de É Preciso Saber Viver, que depois voltaria às paradas de sucesso na releitura do autor, Roberto Carlos, e com os Titãs, nos anos 90. Márcio Antonucci deixou três filhos, entre os quais Bruno, que anunciou a morte do pai via Facebook. Eis uma perda daquelas enormes para a música brasileira. Descanse em paz, Márcio!

Cada Segundo– Os Vips:

A Volta – Os Vips:

Só Até Sábado – Os Vips:

Faça Alguma Coisa Pelo Nosso Amor – Os Vips:

Documentário mostra o genial Levon Helm

Por Fabian Chacur

A distribuidora Kino Lorber lançará nos EUA no dia 8 de outubro de 2013 nos formatos DVD e Blu-ray o documentário Ain’t it For My Health: A Film About Levon Helm. Dirigido por Jacob Hatley, trata-se de um filme sobre o saudoso e genial baterista, cantor e compositor americano Levon Helm (1940-2012), um dos integrantes da seminal banda americana The Band.

O documentário traz cenas registradas por seus produtores durante quase três anos, entre 2007 e 2010, quando Helm, mesmo lutando contra um câncer na garganta que quase levou de vez a sua voz, conseguiu se recuperar o suficiente para lançar os álbuns solo Dirt Farmer (2007) e Electric Dirt (2009), que lhe renderam boas vendagens, troféus Grammy e grande reconhecimento por parte de crítica e público.

O músico americano é flagrado em sua casa, tocando e se relacionando com amigos como o ator e cantor Billy Bob Thornton e com a filha Amy, com quem começou a recuperação de voz fazendo backing vocals, inicialmente, para depois retomar os microfones. Também foram utilizadas cenas de arquivo registrando o artista em seus tempos de The Band, no mítico Festival de Woodstock em 1969 e em participação no Ed Sullivan Show.

Único americano na formação original do The Band, que foi criado no Canadá, Levon Helm se destacou como grande vocalista e um baterista excepcional. Além de atuar no The Band, que viveu o seu auge nas décadas de 60 e 70, ele também teve uma elogiada carreira solo e trabalhou como ator em diversos filmes, entre os quais Coal Miner’s Daughter (1980), cinebiografia da cantora country Loretta Lynn.

Diagnosticado com câncer na garganta em 1998, Levon teve de passar por inúmeras sessões de radiação e sofreu absurdamente, ficando um bom tempo sem poder cantar ou até mesmo falar. Sua luta contra a doença foi valorosa, e mesmo tendo sido finalmente vitimado por ela em 19 de abril de 2012, ele ao menos conseguiu gravar novos discos e ter um fim mais do que digno.

Veja os trailers de Ain’t In It For My Health: A Film About Levon Helm:

Morrem Emílio Santiago e sua voz de veludo

Por Fabian Chacur

Poucas vezes a frase clichê “o Brasil amanheceu de luto” se encaixou com tanta precisâo para definir uma situaçâo específica. No caso, a morte na manhâ desta quarta-feira (20) do cantor Emílio Santiago, um dos grandes estilistas da história da MPB. Ele tinha 66 anos e estava internado na UTI do Hospital Samaritano, no Rio, tentando se recuperar de um AVC sofrido no último dia 7.

O intérprete estava sofrendo com problemas de saúde há alguns anos, mas parecia estar novamente em forma. Ele apareceu pela última vez na TV no programa Encontros com Fátima Bernardes, na Globo, no dia 4, e ninguém poderia imaginar que seu fim estivesse tâo próximo. Seu corpo está sendo velado na Câmara dos Vereadores do Rio e será enterrado amanhâ (21) às 11h no cemitério do Caju.

Emílio Santiago nasceu no dia 6 de dezembro de 1946, e se formou em direito. Paralelamente, cantava na noite, e teve grande destaque ao participar do quadro de calouros musicais do programa do apresentador Flávio Cavalcanti na primeira metade dos anos 70. Ele lançou seu primeiro álbum em 1975, e seu primeiro sucesso, o delicioso samba swingado Nega, fez parte da trilha sonora de uma novela global.

Em 1982, vivenciou um grande momento ao interpretar a música vencedora do festival global MPB Shell 1982, Pelo Amor de Deus, de autoria da dupla Paulo Debetio e Paulinho Rezende. Mas o estouro em termos comerciais veio mesmo a partir de 1988, com a série de álbuns Aquarelas Brasileiras, composto por releitura de clássicos da MPB e algumas músicas novas.

Saigon, gravada por ele em um desses trabalhos campeôes de vendagens, tornou-se seu maior sucesso em termos comerciais. Ele brincava, definindo essa bela cançâo como a sua Conceiçâo (hit definitivo de Cauby Peixoto), aquela música que nunca ficava de fora de seus shows. Ele, por sinal, a interpretou em sua última apariçâo televisiva. Versátil, tirava de letra os mais diversos estilos musicais, especialmente cançôes românticas.

Com um delicioso timbre vocal, a chamada voz de veludo, de tâo suave e boa de se ouvir, Emílio era também uma figura extremamente querida no meio musical devido à sua simpatia, educaçâo e simplicidade. Tive a honra de entrevistá-lo algumas vezes e pude constatar essas qualidades. Parece clichê, mas lá vai: ele irá fazer muita falta, como cantor e como ser humano.

Pelo Amor de Deus, com Emílio Santiago, na final do MPB Shell 1982:

Morre Roberto Silva, um estilista do samba

Por Fabian Chacur

Em 1976, eu era um assíduo ouvinte de um programa de rádio comandado por Alfredo Borba, radialista e produtor musical. Ele adorava tirar sarro de artistas que achava ruins, e seu lema era “o programa que não tem jabaculê!”, ou seja, que não aceitava suborno para tocar determinadas músicas.

Lógico que todo artista a merecer elogios por parte dele acabava me atraindo a atenção. E um deles era um certo sambista chamado Roberto Silva, cuja interpretação da música Escurinho, de Geraldo Pereira, regravada naquele ano no disco Roberto Silva Interpreta Haroldo Lobo, Geraldo Pereira e Seus Parceiros (Copacabana, 1976), sempre tocava lá.

Desde então, quando tinha apenas 15 anos, aprendi a respeitar esse sambista, nascido no dia 9 de abril de 1920 no Rio. Pois ele infelizmente nos deixou neste domingo (9) no Rio, aos 92 anos, deixando quatro filhos e inúmeros fãs nos quatro cantos do país.

Denominado O Príncipe do Samba por seu estilo classudo de interpretar esse seminal gênero musical, Roberto Silva começou a gravar nos anos 40, e emplacou sucessos como Descendo o Morro, Maria Tereza, O Baile Começa Às Nove, Falsa Baiana e Escurinho, entre outros.

Seo Roberto influenciou muita gente boa, entre eles Paulinho da Viola, que por sinal esteve presente no velório e no enterro do cantor, ocorrido ontem mesmo no cemitério de Inhaúma, subúrbio do Rio onde ele morava há muitos anos. Descanse em paz, mestre!

Ouça Falsa Baiana, com Roberto Silva:

Ouça Escurinho (ao vivo), com Roberto Silva:

Morre o ótimo cantor Marcos Roberto

Por Fabian Chacur

Morreu no último dia 21 (sábado) em Osasco (SP), aos 71 anos o cantor paulistano Marcos Roberto. Ele se tornou conhecido nacionalmente ao participar do programa Jovem Guarda, e foi vítima de insuficiência renal.

Nascido em São Paulo em 26 de junho de 1941, Marcos começou a cantar no coral de uma igreja. Sua primeira gravação ocorreu no selo Young, do pioneiro do rock brasileiro Miguel Vaccaro Netto, no início dos anos 60.

O sucesso veio a partir de 1965, graças a músicas como Vá Embora Daqui, É Tão Fácil Dizer, Agora é Tarde, Súplica, Onda de Cangurú e Fim de Sonho.

As canções que gravava na época eram compostas por ele em parceria com Dori Edson e também por amigos como Sérgio Reis e Tommy Standen (que estouraria nos anos 70 com o pseudônimo Terry Winter).

Com o tempo, foi deixando para trás o estilo rockmântico típico da Jovem Guarda e aderiu ao romantismo mais escancarado e à música sertaneja. E foi nessa praia que conseguiu seu maior sucesso, A Última Carta, que segundo a extinta gravadora Copacabana teria vendido dois milhões de cópias no início dos anos 80.

Dono de um vozeirão e aparentemente uma excelente pessoa, ele perdeu sua esposa, Márcia, em 2011, o que teria contribuído para o declínio de sua saúde.

Uma boa amostra de seu talento está na hoje rara coletânea em CD Vitrola Digital-Marcos Roberto, lançada em 2001 e trazendo seus maiores sucessos dos tempos da Jovem Guarda.

Ouça Vá Embora Daqui, com Marcos Roberto:

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