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Jane Duboc faz show à tarde nesta quarta-feira (14) no RJ

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Por Fabian Chacur

Sessão da Tarde Musical é o projeto que terá início nesta quarta-feira (14) às 16h no Rio de Janeiro, mais precisamente no Teatro Prudencial (rua do Russel, nº 804- Glória-RJ). O objetivo é oferecer shows intimistas de grandes artistas em um horário alternativo. E a convidada para inaugurar a coisa toda não poderia ter sido melhor escolhida. Trata-se de Jane Duboc, uma das melhores cantoras brasileiras. Os ingressos custam R$ 90,00 (inteira) e R$ 45,00 (meia- saiba mais aqui).

A apresentação terá Jane cantando e tocando violão e teclados, tendo a seu lado o baixista Jefferson Lescowich. O repertório incluirá hits de sua carreira como Besame e Valsa dos Clowns e também standards da música do porte de As Time Goes By e Moon River, além de uma homenagem ao saudoso Burt Bacharach, que nos deixou há pouco e é um dos ídolos da cantora paraense.

Nina Wirtti, Áurea Martins, Zé Luiz Mazziotti e Ana Costa são outros artistas que integrarão o elenco de Sessão da Tarde Musical nos próximos meses.A produção do projeto ficou a cargo de Flávio Loureiro.

Valsa dos Clowns– Jane Duboc:

Rita Lee, 75 anos, a rainha do rock e da alegria em geral

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Por Fabian Chacur

Rua Joaquim Távora, Vila Mariana, São Paulo. Ali, uma certa Rita Lee Jones viveu e foi criada em sua infância e adolescência. Uma das filhas mais ilustres do bairro de onde eu também vim. Curiosamente, no entanto, só fui conhecê-la pessoalmente no centro de São Paulo, mais precisamente no dia 12 de maio de 1987, em entrevista coletiva realizada no Hilton Hotel para divulgar o recém-lançado álbum Flerte Fatal.

Eu usava uma camiseta amarela do The Cure, e não só peguei um autógrafo dela como também tirei uma foto ao seu lado. Foi uma entrevista até calma, embora tivesse um clima pesado no ar por causa de uma crítica sobre o álbum no qual o polêmico Luis Antonio Giron ironizou a artista, definindo o seu momento de carreira como uma “menopausa criativa”. Grosseria pura, que ela acabou tirando de letra.

Tive mais uma ou duas oportunidades de entrevistá-la nos anos seguintes, uma delas no antigo Palace, também com direito a registros fotográficos. Sempre simpática, franca e sem rodeios.

E estive em 1991 no apartamento em que ela morava na época, ao lado da Praça Buenos Aires, na região central de São Paulo, mas para entrevistar não ela, mas seu parceiro de vida, o grande músico Roberto de Carvalho, um dos caras mais simpáticos e gentis que já tive a honra de conhecer nesse meio de pessoas nem sempre tão gentis e simpáticas.

Todas essas recordações rondam a minha cabeça nesta triste terça-feira (9), quando foi divulgada a partida dessa icônica Rita Lee, aos 75 anos. Ela lutou bravamente contra um câncer, e estava entre os seus entes queridos na hora da despedida. Uma figura que já estava eternizada na história da nossa cultura como um todo, mas que agora sai de cena, para tristeza geral.

Fiz uma geral em sua trajetória quando do lançamento da caixa Rita, há alguns anos (leia aqui), Mas vale ressaltar algumas das marcas registradas dessa artista tão peculiar e tão genial.

Rita se tornou nacionalmente conhecida integrando os Mutantes, um dos grupos mais criativos e marcantes da história do rock brasileiro. Ao sair da banda, no qual era uma coadjuvante de luxo para os irmãos Arnaldo e Sérgio Dias Baptista, mergulhou em uma carreira solo na qual pôs pra fora toda a sua personalidade inquieta, genial e irreverente.

Com o Tutti-Frutti e depois tendo como seu braço direito o também parceiro de vida Roberto de Carvalho, Rita construiu uma discografia na qual o rock foi misturado com r&b, folk, pop, jazz e MPB com uma assinatura própria repleta de irreverência, bom humor, sarcasmo e astúcia.

Sua galeria de hits foi enorme, e seus shows no início dos anos 1980 ajudaram a abrir as portas para os mega-espetáculos de rock no Brasil, com apresentações em ginásios e estádios e produções sofisticadas. Sem o estouro de Rita Lee, a Blitz certamente não teria estourado e aberto as portas para a geração roqueira dos anos 1980.

Além disso, Rita também mostrou que as mulheres tinham o direito de arrombar a festa e tomar conta da coisa toda em termos de sucesso. Sem Rita Lee, o Brasil fica ainda mais triste e careta, embora felizmente viva novamente dias de esperança. Que sua obra linda e pra cima possa nos ajudar a dar a volta por cima e voltarmos a ser um Brasil com S. Saudade da nossa eterna ovelha negra!

Lá Vou Eu– Rita Lee:

Gal Costa tem LP Água Viva relançado em vinil caríssimo

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Por Fabian Chacur

Sabe a brincadeira do “tenho duas notícias, uma boa e a outra ruim?”. Pois cabe feito luva na notícia a seguir. Comecemos com o lado positivo. A Universal Music acaba de disponibilizar na sua loja virtual uma reedição de Água Viva (1978), um dos álbuns mais bem-sucedidos da carreira da saudosa Gal Costa. A parte negativa: cada exemplar custa a bagatela de R$ 169,90, fora o frete (saiba mais aqui).

Ou seja, para quem não estiver nadando em dinheiro, quem sabe valha mais a pena ir atrás de uma edição em CD, ou mesmo de um exemplar em vinil da época ou de outra reedição mais antiga e menos, digamos assim, salgada em termos de preço. Vai do bolso de cada um.

Em termos musicais, Água Viva é um álbum impecável. Seus maiores sucessos são Folhetim (Chico Buarque), que Gal interpretou em um capítulo da novela global Dancin’ Days (1978), e Paula e Bebeto (Milton Nascimento e Caetano Veloso), esta última uma belíssima homenagem ao amor sem preconceitos, fronteiras ou restrições.

Com um total de 12 faixas, traz também um delicioso dueto de Gal com Gonzaguinha em uma composição deste, o sacudido forró moderno O Gosto do Amor. A releitura de Olhos Verdes (Vicente Paiva), sucesso em 1950 na voz de Dalva de Oliveira é outro destaque, entre composições assinadas por craques como Dorival Caymmi, Milton Nascimento, Chico Buarque, Gilberto Gil, Suely Costa, Moacyr Albuquerque, Ruy Guerra e Abel Silva.

O Gosto do Amor– Gal Costa e Gonzaguinha:

Gal Costa, 77 anos, um ícone da cultura e aquela voz tamanha

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Por Fabian Chacur

A morte de uma pessoa é normalmente algo triste, em quaisquer circunstâncias. Mas isso se exacerba quando se trata de alguém que estava ativa, produtiva e repleta de planos e projetos bacanas. E esse é o caso de Gal Costa, que nos deixou nesta quarta-feira (9) aos 77 anos, deixando órfãos não só o seu querido filho Gabriel como milhões de fãs espalhados pelo mundo afora. Como essa voz tamanha pode ter se calado tão de repente? Difícil de assimilar. Mais uma estrela no céu.

Desde o início de sua carreira, nos anos 1960, Maria da Graça Costa Penna Burgos dava pistas que não estava ali para uma passagem rápida e/ou provisória. Já em Domingo (1967), álbum que dividiu com o eterno parceiro musical Caetano Veloso, ficava claro que estava entrando em cena alguém que não chegava apenas para brincar, ou para ser uma burocrata da canção.

Nesses mais de 50 anos de trajetória artística, Gracinha mergulhou fundo no universo musical. Experimentou de tudo, desde a vanguarda até a canção mais popular, passando rigorosamente por todos os caminhos. Sempre com muita personalidade, com sua digital clara e facilmente distinguível. Do rock à guarânia, do jazz ao soul, do bolero à bossa nova, a moça sabia como entrar e sabia como sair, sempre com uma voz que usava com uma categoria reservada a poucas colegas de profissão.

Gravações de Gal Costa frequentaram as trilhas sonoras das vidas de todos nós, através das novelas, dos filmes, das rádios. Uma que me marcou profundamente foi Só Louco, sua inspiradíssima releitura do clássico de Dorival Caymmi escolhida como tema de abertura da minha novela favorita de todos os tempos, O Casarão (1976), e que me emociona sempre que a ouço. Mas tem muitas outras.

Essa moça de inúmeras roupagens foi uma espécie de atriz musical, incorporando o espírito das eras em que viveu, seja o Tropicalismo, os anos de chumbo da ditadura militar, o som mais pop associado à abertura política, a bossa nova revisitada e o que mais viesse. Se os discos sempre foram deliciosos, era nos shows que Gal dava o máximo de si, cativando um fã-clube extenso que ela sabia como encantar.

Gal tinha o raro dom de pegar uma composição alheia e torná-la sua, dom que Deus não proporciona a muita gente. Seu estilo de cantar influenciou muita gente, sendo que Marisa Monte é provavelmente o primeiro nome que vem às mentes de todos. Sempre aberta, dialogou com as gerações anteriores e as posteriores, além da sua própria, o que lhe proporcionou atingir um público amplo que, hoje, chora a sua perda.

Tive a honra de entrevistá-la em várias ocasiões, a partir do finalzinho dos anos 1980, e ela sempre se mostrou muito franca, acessível e receptiva. A mais recente foi em 2013 (leia a entrevista aqui).

Com os progressos da medicina atual, dava para se esperar que Gal ainda ficasse entre nós por muitos e muitos anos. Infelizmente, ela permanecerá apenas em seus inúmeros álbuns e vídeos, que nos permitirão dar uma maneirada nessa saudade imensa que certamente irá aumentar conforme a gente for se tocando de que, como disse Adriana Calcanhoto em entrevista à Globo News, “não tem mais Gal”.

Só Louco– Gal Costa:

Maricenne Costa é o tema de uma bela e essencial biografia

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Por Fabian Chacur

Na música Wild Life (Ritchie-Tom Zé), que gravou no seu seminal álbum Correntes Alternadas (1992), Maricenne Costa canta os versos “Não pago ingresso novo pro filme que eu já vi”. Uma belíssima definição para a atitude dessa brilhante cantora, compositora e atriz em sua vida e carreira. Essa trajetória é o tema de Maricenne Costa- A Cantora de Voz Colorida, de Elisabeth Sene-Costa e Laís Vitale de Castro, livro que será lançado em São Paulo nesta sexta (22) das 19 às 21h na Livraria da Vila- Shopping Pátio Higienópolis (avenida Higienópolis, nº 618/2009- Piso Pacaembu- fone (11) 3660-0230).

A ideia de realizar esta obra surgiu do desejo que Elisabeth tinha de homenagear a sua irmã, a quem admira profundamente. Com a parceria da jornalista Laís Vitale de Castro, impecável projeto gráfico a cargo de Wildi Celia Melhem (Celinha) e assessoria musical de Moisés Santana e Beto Previero, ela soube mergulhar nos momentos essenciais de uma carreira repleta de fatos importantes e realizações, e nos oferecer um resumo simplesmente impressionante, pelo rico material que contém.

Um dos pontos altos do livro fica por conta do vasto material que o ilustra, em termos de fotos e reprodução de matérias e documentos. Pois os fatos em torno de Maricenne são tão incríveis que algumas pessoas poderiam acreditar que seriam inventados, ou mesmo dignos de dúvidas. No entanto, a realidade é frequentemente muito mais impressionante do que a ficção.

E a vida da garota nascida na cidade de Cruzeiro (SP) é repleta de acontecimentos realmente impressionantes. Em 1958, por exemplo, ela, aos 22 anos de idade, venceu a 1ª edição do concurso A Voz de Ouro ABC, superando em torno de 3 mil concorrentes de todo o país. Foi uma espécie de precursor das atuais competições televisivas do tipo American Idol/Ídolos, e levou o nome de Maricenne para os quatro cantos do Brasil.

Outras cantoras teriam seguido caminhos mais tradicionais ou centrados nos interesses comerciais. Não Maricenne. Ela, a partir deste sucesso inicial, mostrou que não ficaria pagando ingresso novo pro filme que já havia visto, sempre em busca de novidades consistentes. Como ter sido, por exemplo, integrante do grupo de artistas que ajudou a criar e consolidar a bossa nova em São Paulo, como Cesar Camargo Mariano, Alaíde Costa e Théo de Barros.

É importante que esse livro seja lido. Vou ser mais geral na apresentação dessas vitórias da trajetória dessa personagem incrível. Entre outras coisas, foi a 1ª (em 1964!) a gravar uma música do então estudante Chico Buarque (Marcha Para Um Dia de Sol). Participou com destaque de alguns dos mais importantes festivais de música. Fez shows em Portugal e nos EUA, cantando, neste último, no badaladíssimo clube PJ’s, de Frank Sinatra.

Teve idas e vindas pelo caminho. Buscou a ampliação de seus conhecimentos, fazendo faculdade de serviço social e estudando arte dramática. Como atriz, participou de diversos projetos vanguardistas nos anos 1970. Quando voltou à música, recusou rever as glórias do passado, abrindo-se a criar shows inovadores e a revelar novos autores, sendo ela mesma uma compositora das mais elogiáveis.

Gravou pouco, é verdade, mas quem conhece essa obra vai concordar comigo: tudo o que gravou é essencial para quem gosta de música brasileira de qualidade. Teria sido fácil cantar bossa nova pra sempre em shows saudosistas, mas não se prestou a esse papel, gravando álbuns impressionantes pela sua diversidade e personalidade como Correntes Alternadas (1992) e Movimento Circular (2005), representantes de um pop nacional vibrante, ousado e absurdamente consistente.

Sempre trabalhadora e estudiosa, desenvolveu diversos projetos de shows e discos extremamente relevantes, entre os quais Como Tem Passado!!! (1999), no qual resgatou os primórdios da música gravada no Brasil com o apoio do historiador e jornalista José Ramos Tinhorão, e Bossa.SP (2010), no qual resgatou o lado bossa nova da São Paulo da Garoa.

Não, Maricenne não lotou estádios, não cantou no Rock in Rio, não participou de programas no horário nobre global, nem mesmo vendeu milhões de discos. No entanto, a consistência, a ousadia e a importância de seu trabalho musical deveriam tornar obrigatórias as visitas a essa obra por quem realmente quer conhecer o que temos de melhor por aqui. Servir como parâmetro, mesmo, para as novas gerações.

Ou quantos artistas podem se gabar de ter como admiradores João Gilberto (que apelidou a sua voz de colorida), Inocentes (que gravaram com ela em mais de uma ocasião), Judy Garland, Tony Bennett e Milton Nascimento, só para citar alguns? Maricenne reuniu em um mesmo álbum punk rock, blues, vaudeville, jazz, bossa nova, ska e valsa sem soar confusa ou sem rumo. Ela sempre soube dar consistência a essas misturas.

Se extremamente consistente em termos profissionais, ela nunca deu a si própria o devido valor, e chegou a contestar o esforço da irmã, dizendo que a sua carreira não merecia este livro. Meu Deus, quanta humildade! A carreira de Maricenne Costa não só merece este livro maravilhoso (e que venham outros!), como também um documentário, shows celebrando sua obra, mostras sobre essa trajetória, o relançamento de seus álbuns e singles etc.

Ela está aqui, entre nós. Que todos os fãs da música brasileira de qualidade possam dar a ela, nesse estágio de sua vida, o carinho, o acolhimento e, acima de tudo, o reconhecimento que ela merece. Maricenne Costa- A Cantora de Voz Colorida é leitura obrigatória e por demais prazerosa, especialmente se feita tendo como trilha sonora os discos desta ilustre cria de Cruzeiro e paulistana honorária.

MARICENNE COSTA- A CANTORA DA VOZ COLORIDA
DE Elisabeth Sene-Costa e Laís Vitale de Castro
Editora: Álbum de Família- contato: [email protected]
Preço: R$ 40,00 (edição preto e branco) e R$ 60,00 (edição colorida)
O lançamento em Cruzeiro (SP) será realizado no dia 6 de agosto (sábado) das 19 às 22h no Teatro Municipal Capitólio (rua Engenheiro Antonio Penido, nº 636- Centro- fone (12)-3144-1362

Wild Life (Tom Zé e Ritchie)- Maricenne Costa:

Claudya mostra seu novo álbum com um show no Blue Note SP

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Por Fabian Chacur

Como forma de celebrar 57 anos de uma carreira das mais dignas e elogiáveis, a cantora Claudya acaba de lançar o álbum A Nossa Bossa Sempre Jovem. O repertório parte de uma ideia simples, porém extremamente bem realizada: a releitura de clássicos da Jovem Guarda com arranjos em estilo Bossa Nova. Deu mais do que certo. Ela mostra esse trabalho e também dá uma geral em hits da sua carreira em show nesta quinta (7) às 20h em São Paulo no Blue Note SP (avenida Paulista, nº 2.073), com ingressos a R$ 90,00 (inteira) e R$ 45,00 (meia). Saiba mais detalhes aqui.

A escolha desse tema para o novo álbum faz todo o sentido do mundo se levarmos em conta que Jovem Guarda e Bossa Nova viveram o seu auge na década de 1960, mesmo período em que Claudya iniciou a sua carreira. Havia uma certa rivalidade entre essas duas vertentes musicais naquela época, mas hoje fica claro que ambas são muito válidas e marcantes. Uma não invalida a outra, obviamente. E o álbum desta grande cantora serve como prova de que temos, aqui, música da melhor qualidade.

Com belos arranjos a cargo do pianista e arranjador Alexandre Vianna, canções como Devolva-me, Ternura, O Caderninho e Nossa Canção ressurgem renovadas e encantadoras, com Claudya esbanjando categoria e nos oferecendo um desempenho vocal de uma classe absurda.

Nessas quase seis décadas de bons serviços prestados à nossa música, Claudya emplacou hits como Mais de 30 (de Marcos e Paulo Sérgio Valle), Deixa Eu Dizer (de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza, relida com sucesso por Marcelo D2) e Jesus Cristo (de Roberto e Erasmo Carlos). Ela também brilhou em festivais no Brasil e no mundo e estrelando o musical Evita, além de gravar mais de 20 álbuns, como Entre Amigos (1994), com o seminal Zimbo Trio. Sua participação em 2021 no programa global The Voice+, no qual chegou à semifinal, lhe trouxe de volta à mídia.

Devolva-me– Claudya:

Elza Soares, 91 anos, aquela que nunca desistiu e foi vitoriosa

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Por Fabian Chacur

Sim, Elza Soares se foi. Não, Elza Soares nunca irá. Porque uma pessoa com a sua trajetória de vida permanecerá para sempre viva nas memórias de todos aqueles que se interessam pela história cultural desse país. Teoricamente, a cantora nos deixou nesta quinta-feira (20) aos 91 anos, exatos 39 após a partida do amor de sua vida, outro imortal, o craque Garrincha. Na prática, todo aquele que se quiser entender um pouco o que é esse tal de Brasil de uma forma ou de outra precisará passar pelas páginas dedicadas a esta guerreira maravilhosa.

Não vou dar muitos detalhes de carreira, pois isso você já leu, viu ou ouviu em algum lugar. Vamos de forma mais aleatória mesmo. Elza é um grande exemplo de quem ouviu uma tonelada de nãos desde o momento em que nasceu e nunca os levou a sério. Enfrentou-os, um a um. Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar, como diria o poeta Guilherme Arantes. E como aprendeu a jogar essa danada!

Diretamente do Planeta Fome, de onde afirmou que veio ao célebre Ary Barroso, ela conquistou o mundo com seu talento absurdo. Em entrevista que fiz com ela lá pelos idos de 1995 por telefone, ela me disse que seu cartão de crédito era a sua garganta, e estava plena de razão. Com essa voz incomum, que cantou samba como se fosse jazz desde sempre e miscigenou o tempo todo, incluindo até rock, música eletrônica, blues, funk e o que viesse. Mas sempre com muita emoção, swing e personalidade. Um cartão sem limites!

Elza Soares frequentemente teve de enfrentar o preconceito, o desrespeito até de seus entes mais próximos, e mesmo a eterna vontade de julgar as ações dos outros que o público se sente no direito de ter. Nunca fugiu da raia. Punha pra fora suas dores, mas sem perder a ternura jamais. E dar a volta por cima se mostrou a sua forma de viver. Pela lei das probabilidades, deveria ter ido embora muito antes, e sem conquistar um décimo do que conquistou. No entanto…

Felizmente, essa artista brilhante não teve o destino de outros nomes importantes da nossa cultura, e conseguiu receber o reconhecimento enquanto estava aqui, entre nós. Mereceu o respeito das mais diferentes faixas etárias, tendo hoje em sua base de fãs muitos jovens fascinados por sua energia inesgotável e eterna abertura ao novo. Elza Soares nunca teve medo de ser feliz, e de lutar bravamente contra a tristeza. E ela venceu. Elza pra sempre!

Milagres(clipe)- Elza Soares e Cazuza:

Lizzie Bravo, 70 anos, cantou com os Beatles e outros fenômenos

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Por Fabian Chacur

Pode uma garota brasileira de 15 anos de idade desembarcar sozinha em fevereiro de 1967 na efervescente Londres daqueles anos psicodélicos e em alguns meses se tornar uma verdadeira testemunha ocular de um dos momento mais importantes da carreira de ninguém menos do que os Beatles? Mais: participar de uma gravação dos Fab Four? Essa foi a cereja no bolo da trajetória de Lizzie Bravo, que, no entanto, fez muitas outras coisas relevantes, como ser musa de um grande clássico da nossa música. Ela infelizmente nos deixou nesta segunda (4) aos 70 anos, vítima de problemas cardíacos.

Elizabeth Villas Boas Bravo nasceu em 29 de maio de 1951, e foi uma das primeiras brasileiras a mergulhar de cabeça no som dos Beatles, ao ouvir o álbum Meet The Beatles (1964) que seu pai trouxe dos EUA. Nascia ali uma paixão pelo grupo e, em particular, por John Lennon. E a amiga Denise Werneck teve uma ideia, logo encampada por Lizzie (cujo apelido ela tirou da música Dizzy Miss Lizzy, clássico do rock de autoria de Larry Williams e regravada pelo grupo no seu álbum Help!, de 1965): pedir aos pais de presente uma viagem a Londres.

Lizzie desembarcou em Londres em fevereiro de 1967, e logo se tornou uma frequentadora da porta dos estúdios Abbey Road, onde os Beatles gravavam seus discos, e também da casa de alguns deles. Naquela época, especialmente em Londres, os astros do rock eram muito mais acessíveis do que se tornariam não muito tempo depois, e a adolescente carioca conseguiu aos poucos se tornar uma quase amiga de John, Paul, George e Ringo.

No seu excelente livro Do Rio a Abbey Road (2015), ela relata como foi esse período no qual, afora trabalhos para conseguir se manter melhor na capital inglesa, suas tarefas básicas eram se manter atualizada sobre os lançamentos e novos rumos do grupo e também conseguir autógrafos, fotos e algumas conversas com os músicos. Na base da simpatia e da paciência, foi absolutamente vitoriosa no seu intuito, como provam as belas fotos contidas no livro.

Vale registrar que, nesse período, os Beatles viviam uma fase particularmente iluminada de sua brilhante trajetória, gravando Sgt. Peppers, Magical Mystery Tour e Abbey Road e consolidando de uma vez por todas a sua presença no panteão da música popular.

Lizzie permaneceu em Londres em dois períodos: de fevereiro de 1967 a abril de 1968, e de outubro de 1968 a outubro de 1969. Por lá, fez amizades com outros fãs e tirou a sorte grande em 4 de fevereiro de 1968, um domingo, quando Paul McCartney perguntou às garotas que estavam próximas ao estúdio Abbey Road se alguma delas conseguiria sustentar notas agudas. A nossa conterrânea afirmou positivamente, e depois levou outra amiga, a inglesa Gayleen Pease, para auxiliá-la. Dessa forma, participaram da versão original de Across The Universe.

A belíssima canção, assinada por Lennon e McCartney mas na verdade de total autoria do primeiro, acabou deixada de lado como um possível single do grupo. Em dezembro de 1969, no entanto, foi lançada como parte da coletânea inglesa No One’s Gonna Change Our World- The Stars Sing For The World Wide Fund, ao lado de gravações de dez outros artistas de ponta, entre os quais Bee Gees, The Hollies e Cilla Black.

Across The Universe entrou no repertório do álbum Let It Be (1970), mas em uma versão alterada que retirou os vocais de Bravo e Pease. Rara durante uns bons anos, a única gravação dos Beatles a incluir alguém do Brasil só voltaria a ser acessível ao entrar no repertório das duas versões do álbum Rarities (1980) e no volume 2 da coletânea Past Masters (1988).

Nem é preciso dizer que essa gravação tornou Lizzie Bravo uma figura sempre relembrada pelos fãs-clubes dos Beatles nas décadas seguintes, algo que se ampliou ainda mais com o advento da internet. Posteriormente, ela teve a oportunidade de rever Paul McCartney (em uma entrevista coletiva, em 1990, na qual o ex-beatle a reconheceu), George Harrison e Ringo Starr. Lennon, o seu favorito, infelizmente nos deixou antes de que ela pudesse reencontrá-lo.

Para quem acha que a história de Elizabeth parou por aqui, recupere o fôlego, pois vem mais coisas boas por aí. Em 1970, ao voltar ao Brasil, conheceu o cantor, compositor e músico Zé Rodrix, com o qual foi casada por dois anos. Em parceria com Tavito, ele compôs, inspirado nela, o clássico da MPB Casa no Campo, cuja gravação definitiva é a de Elis Regina. Em sua letra, a música fala de uma “esperança de óculos” (Lizzie) e o sonho de ter um “filho de cuca legal”, que veio na forma de Marya, nascida em outubro de 1971 e hoje cantora e atriz.

No decorrer de sua trajetória profissional, Lizzie foi vocalista de apoio de artistas do gabarito de Milton Nascimento, Joyce Moreno, Zé Ramalho, Ivan Lins, Djavan, Egberto Gismonti, Toninho Horta e Geraldo Azevedo, entre outros, participando de discos e shows deles. Também atuou como fotógrafa para artistas e gravadoras, e morou em Nova York de 1984 a 1994, atuando na área cultural.

O projeto de seu livro teve início em 1980, mas foi interrompido devido à trágica morte de John Lennon. Ela o retomou em 1984, novamente sem o levar adiante. Só em 2015 essa belíssima obra se concretizou, com uma tiragem inicial que se esgotou em 2017 (comprei um dos últimos exemplares, em julho de 2017. Ela preparava uma nova fornada de livros, assim como uma edição em inglês, que provavelmente serão viabilizadas por Marya.

Across The Universe (original version)- The Beatles:

Maria Bethânia: documentário Fevereiros é lançado em DVD

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Por Fabian Chacur

Em 2016, a Mangueira homenageou Maria Bethânia em seu desfile no sambódromo carioca, e conseguiu ser campeão do mais importante e badalado desfile carnavalesco do mundo. O documentário Fevereiros, dirigido por Márcio Debellian, teve como intuito não só registrar esse momento mágico na trajetória da cantora baiana, como também mergulhar em alguns aspectos fundamentais de sua vida e obra. Lançado em janeiro de 2019 nos cinemas, o filme agora chega às plataformas digitais e, ainda melhor, sai em DVD físico via Biscoito Fino.

Exibido em festivais de cinema em países como Canadá, França, Rússia, Suíça, Espanha, Itália, Chile, Uruguai, Congo e Senegal, Fevereiros detalha todo o processo de criação e realização do desfile de 2016, desde sua criação até a apoteótica vitória. Como o enredo enfatizou o ambiente familiar e religioso que envolve a vida da estrela baiana, o diretor optou por buscar flagrantes que representassem bem esse viés de sua trajetória.

As gravações se dividiram entre o Rio de Janeiro e a cidade natal da cantora, Santo Amaro da Purificação, e contam com depoimentos do irmão Caetano Veloso, Chico Buarque, o importante pesquisador Luis Paulo Simas, o carnavalesco da Mangueira Leandro Vieira e outros. Temas como o surgimento do samba, tolerância religiosa e racismo permeiam toda essa produção, feita pela Debê Produções em parceria com GloboFilmes, GloboNews e Canal Brasil.

Veja o trailer de Fevereiros:

Vanusa, 73 anos, a cantora talentosa de personalidade forte

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Por Fabian Chacur

No início dos anos 2000, estava em uma loja de CDs e vi, em um balcão de ofertas, a coletânea Grandes Sucessos, de Vanusa, lançada em 1998 pela gravadora BMG. Quando peguei o disco em minhas mãos e conferi o repertório, lembrei-me de que não tinha um único álbum dela em minha coleção, mesmo amando a sua voz. Nem é preciso dizer que comprei rapidamente esta compilação. Acho que isso ilustra como as polêmicas em torno dela ofuscaram o que ela teve de maior, que era o talento como cantora e compositora. Ela infelizmente nos deixou neste domingo (8), aos 73 anos.

Vanusa Flores Santos nasceu em Cruzeiro (SP) em 22 de setembro de 1947, e foi criada em Uberaba (MG). Sua carreira como cantora teve início com o apoio de Eduardo Araújo e Carlos Imperial, não por acaso os autores do primeiro sucesso da moça, a deliciosa Pra Nunca Mais Chorar, lançada em 1967, nos estertores da Jovem Guarda. Embora tenha tido outros hits pouco depois, o melhor mesmo viria nos anos 1970.

O auge de Vanusa teve o pontapé inicial em 1973 com o sucesso da maravilhosa Manhãs de Setembro, composição dela em parceria com o músico e produtor musical Mario Campanha, o eterno produtor das Irmãs Galvão. Em 1975, fez a gravação definitiva de Paralelas, de Belchior, estouro ao ser incluída na trilha sonora da novela global Duas Vidas.

Com uma voz potente e muito bem colocada, ela logo emplacou outras canções nas paradas de sucesso, como Amigos Novos e Antigos (João Bosco e Aldir Blanc, da trilha de Anjo Mau) e Estado de Fotografia (Malim e Sérgio Sá, da trilha de O Astro), além de uma gravação irresistível de Congênito, de Luiz Melodia. Ela até estrelou uma novela, Cinderela 77, tendo Ronnie Von como o seu par romântico.

Mulher de personalidade forte e de opiniões diretas e sem rodeios, Vanusa foi casada com dois nomes importantes da cena cultural brasileira, o cantor e compositor Antônio Marcos, nos anos 1970, e o diretor e ator Augusto César Vannucci. Curiosamente, ambos morreram no mesmo ano, 1992, e ela nos deixa no exato dia em que seria comemorado o 75º aniversário de Antônio Marcos. E Vanucci nos deixou também no mês de novembro, no dia 30.

A partir dos anos 1980, a artista infelizmente deu uma bela sumida das paradas de sucesso, voltando à mídia apenas por entrevistas apimentadas e problemas particulares. A coisa piorou muito a partir de 2009, quando ela se enrolou toda ao interpretar o Hino Nacional Brasileiro durante uma cerimônia na Assembleia Legislativa de São Paulo. Em plena era da internet, o vídeo com o registro desse momento triste viralizou, e as pessoas e a imprensa exploraram esse momento infeliz da cantora de forma cruel.

A única notícia positiva e ligada à música nesses últimos 11 anos ocorreu em 2015, quando a cantora, com o apoio de Zeca Baleiro, lançou o que viria a ser seu último álbum de estúdio, Vanusa Flores Santos. Nos últimos dois anos, Vanusa morou em uma casa de repouso em Santos, e foi vítima de problemas respiratórios. Ela deixa os filhos Amanda, Aretha e Rafael.

Paralelas- Vanusa:

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