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Cassiano, 77 anos, o cara de voz doce e canções envolventes

cassiano cuban soul 18 kilates

Por Fabian Chacur

“Para o amigo Fabian com o abraço da rapaziada do Dancing Club, junto com minha amizade, felicidades- 26-3-1992”. Essa é a dedicatória, seguida pelo estilosíssimo autógrafo, de um certo Genival Cassiano que está na capa da minha versão em vinil do álbum Cedo ou Tarde (1991), que marcava a volta desse grande nome da soul music brasileira após uns bons anos fora de cena. Um belo disco, por sinal. Infelizmente, Cassiano, esse genial cantor, compositor e músico nos deixou nesta sexta (7) às 16h30, mais uma vítima desse terrível novo coronavírus.

Naquele dia, Cassiano dava entrevistas para divulgar o show de lançamento daquele trabalho no Sesc Pompeia (SP). Lançado em LP, CD e fita-cassete, trazia basicamente releituras de grandes momentos do songbook deste artista nascido em Campina Grande (PB) em 16 de setembro de 1943 e radicado desde 1949 no Rio de Janeiro. Participaram do álbum, entre outros, Sandra de Sá, Luiz Melodia, Marisa Monte, Djavan e Claudio Zoli.

O melhor momento deste trabalho é a fantástica releitura de Eu Amo Você, cuja versão mais conhecida é a de Tim Maia em seu autointitulado álbum de estreia, lançado em 1970. Este álbum, por sinal, é um marco na carreira de Cassiano, pois além de tocar guitarra no mesmo, tem outras canções de sua autoria no repertório, entre elas o megahit Primavera (Vai Chuva).

Antes, ele já havia gravado dois LPs como integrante do grupo vocal Os Diagonais, sucessor do Bossa Trio, o seu conjunto anterior. O estouro de suas composições gerou o interesse das gravadoras, e ele lançou dois discos solo bem legais mas com menos repercussão do que mereciam, Imagem e Som (1971) e Apresentamos Nosso Cassiano (1973). Mas a sorte logo sorriria a seu favor.

Em 1975, a maravilhosa balada soul A Lua e Eu, escrita em parceria com o também cantor e guitarrista Paulo Zdanowski, incorpora como poucas a saudade de um grande amor que saiu da nossa rota, e se torna um imenso sucesso em todo o país ao entrar na trilha sonora da novela global O Grito. No ano seguinte, integraria o repertório do mais bem-sucedido álbum de Cassiano, Cuban Soul 18 Kilates, que trazia também outro clássico perene na carreira do artista.

Trata-se de Coleção, outra parceria com Zdanowski com tempero soul classudo e mais uma vez remetendo a um amor que não deu certo e deixou marcas. Desta vez, no entanto, de uma forma mais ácida e irônica, embora no fim ele não negue que continua amando a garota em questão. Outro hit que, em 1977, ganhou fama nacional na trilha de outra novela da Globo, desta vez Loco-Motivas. O céu seria o limite para o nosso herói?

Infelizmente, não. Vítima de tuberculose em 1978, teve de extrair um pulmão e ficou durante mais de uma década fora dos holofotes, embora vez por outra tivesse um hit nas paradas de sucessos, como Morena, gravada por Gilberto Gil em seu álbum Luar (A Gente Precisa Ver o Luar), de 1981, e escrita em parceria pelos dois craques da nossa música.

Lembro muito bem que na entrevista que me concedeu, Cassiano me disse nas entrelinhas que Cedo ou Tarde não o havia agradado tanto quanto gostaria, especialmente por causa da produção de Líber Gadelha, que não deu a ele toda a autonomia que gostaria. Inclusive, quando disse a ele que minha faixa favorita no álbum era Eu Amo Você, uma das três que ele gravou sem convidados e com o apoio de sua banda, a Dancing Club, ele abriu um belo de um sorriso e me agradeceu (as outras faixas foram Rio Best-Seller e Intro III-Instrumental).

A partir daqui, Cassiano passou a aparecer de forma bem mais esporádica, embora suas canções nunca tenham sido esquecidas. Em 1999, por exemplo, sua canção Férias deu nome ao álbum lançado naquele ano por um de seus seguidores e amigos, o grande Claudio Zoli. Além dos hits já citados, ele tem inúmeras outras composições de grande beleza, entre as quais Cedo ou Tarde, Salve Essa Flor, De Bar em Bar, Salve Essa Flor e Setembro.

Junto com nomes como Tim Maia, Hyldon e Claudio Zoli, Cassiano foi a prova de que o brasileiro conseguiu com muita criatividade e qualidade artística enveredar pelo universo da black music americana acrescentando swing e fortes elementos da música e da poesia brasileira nessa mistura. Gênio, é assim que merece ser designado, sem nenhum exagero. Já está fazendo uma falta danada, mestre. Mande um abraço pro Tim Maia!

Eu Amo Você (1991)- Cassiano:

A Globo arrebentava nas trilhas das novelas!

por Fabian Chacur

Em 1971, surgia a gravadora Som Livre, cujo objetivo inicial era lançar os discos com as trilhas sonoras das novelas da Rede Globo de Televisão. Desde então, o selo se mantém firme, com altos e baixos.

Mas uma coisa é certa: no quesito trilhad de “telelágrimas”, termo usado pelos críticos de tevê nos anos 70, os discos lançados naquela década continuam sendo total e completamente imbatíveis.

Se você não tem idade para lembrar e gostaria de saber se o que estou escrevendo aqui é a mais pura verdade ou um montão de bobagens, vale uma dica, e daquelas quentes.

Em duas ocasiões, nos anos 2000 (2001 e 2007), a Som Livre colocou no mercado pela primeira vez no formato CD cerca de 40 das  melhores trilhas de novelas dos anos 70 e 80. Um pacote finíssimo.

Pois bem. Em uma loja de discos situada na rua Augusta, em São Paulo, na direção do centro e quase ao lado do finado hotel Caesars Park, você encontra vários títulos dessa coleção por um preço ridículo.

São maravilhas que valem muito mais. Loco-Motivas, por exemplo, reúne 14 faixas da atração exibida originalmente em 1977 e estrelada por Walmor Chagas, Lucélia Santos, Aracy Balabanian e Eva Todor.

O repertório é sublime. Tem soul music a brasileira com Cassiano (a certeira Coleção) e Cláudia Telles (Eu Preciso Te Esquecer), rock brasileiro finíssimo com Erasmo Carlos (Filho Único) e Rita Lee (Loco-Motivas)…

Pop brasileiro instrumental de altíssimo quilate com a Banda Black Rio (Maria Fumaça, o tema de abertura da novela) e Azimuth (Voo Sobre o Horizonte), MPB marcante com Gonzaguinha ( a lírica Espere Por Mim, Morena)…

Temos a versão original de Enrosca, com o autor Guilherme Lamounier. Sim, é aquela mesma depois regravada com bem menos competência por Fábio Jr. e Sandy & Júnior, entre outros menos cotados.

E tem também o sumido gaúcho Hermes Aquino (com a pop de tempero lusitano Desencontro de Primavera), Edu Lobo (a introspectiva Consideramos), César Costa Filho (o samba bem-humorado Consumatum Est) e Marília Pera (Alô Alô Brasil, do então desconhecido Eduardo Dussek).

Loco-Motivas é daquelas trilhas que você ouve de ponta a ponta, sem tirar uma única faixa, independente de ter visto ou não a tal novela. A música contida aqui se sustentou, depois de todos esses anos.

Outras dicas certeiras, sem entrar em detalhes de cada disco (faço isso outro dia): Te Contei?, O Bem-Amado, O Primeiro Amor, O Espigão, Cuca Legal… Compre logo, pois isso tudo já está fora de catálogo. Ou seja, quando sumir de vez das lojas, só pagando uma fortuna. Não digam que não avisei…

obs.: as trilhas internacionais também eram ótimas. Mas a Som Livre não pretende relançá-las, alegando ter problemas com a liberação dos direitos autorais. Ou seja, as dos anos 70 e 80, só em vinil, mesmo…

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