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Gal Costa tem LP Água Viva relançado em vinil caríssimo

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Por Fabian Chacur

Sabe a brincadeira do “tenho duas notícias, uma boa e a outra ruim?”. Pois cabe feito luva na notícia a seguir. Comecemos com o lado positivo. A Universal Music acaba de disponibilizar na sua loja virtual uma reedição de Água Viva (1978), um dos álbuns mais bem-sucedidos da carreira da saudosa Gal Costa. A parte negativa: cada exemplar custa a bagatela de R$ 169,90, fora o frete (saiba mais aqui).

Ou seja, para quem não estiver nadando em dinheiro, quem sabe valha mais a pena ir atrás de uma edição em CD, ou mesmo de um exemplar em vinil da época ou de outra reedição mais antiga e menos, digamos assim, salgada em termos de preço. Vai do bolso de cada um.

Em termos musicais, Água Viva é um álbum impecável. Seus maiores sucessos são Folhetim (Chico Buarque), que Gal interpretou em um capítulo da novela global Dancin’ Days (1978), e Paula e Bebeto (Milton Nascimento e Caetano Veloso), esta última uma belíssima homenagem ao amor sem preconceitos, fronteiras ou restrições.

Com um total de 12 faixas, traz também um delicioso dueto de Gal com Gonzaguinha em uma composição deste, o sacudido forró moderno O Gosto do Amor. A releitura de Olhos Verdes (Vicente Paiva), sucesso em 1950 na voz de Dalva de Oliveira é outro destaque, entre composições assinadas por craques como Dorival Caymmi, Milton Nascimento, Chico Buarque, Gilberto Gil, Suely Costa, Moacyr Albuquerque, Ruy Guerra e Abel Silva.

O Gosto do Amor– Gal Costa e Gonzaguinha:

Ana de Hollanda mostra as músicas de Vivemos em SP

Foto: Leo Aversa

Foto: Leo Aversa

Por Fabian Chacur

Em novembro de 2021, Ana de Hollanda lançou em CD e também nas plataformas digitais pela gravadora Biscoito Fino o seu 5º álbum, Vivemos. Agora, chegou a hora de fazer a turnê de divulgação desse trabalho, e os primeiros shows ocorrerão em São Paulo, mais precisamente nesta quinta (12) e sexta (13), sempre às 20h30, no Sesc Avenida Paulista (avenida Paulista, nº 119- Bela Vista), com ingressos de R$ 9,00 a R$ 30,00.

Vivemos é totalmente autoral, com as letras de Ana sendo musicadas por craques da nossa música do porte de Cristóvão Bastos, Leandro Braga, Lula Barboza, Lucina, Marcelo Menezes, Nilson Chaves, Nivaldo Ornelas e Simone Guimarães. O experiente Bastos, por sinal, foi o diretor musical do álbum, e marcará presença no show tocando piano, ao lado de João Lyra (violão, viola caipira e violão de aço) e Zé Leal (percussão).

O repertório do show traz músicas do novo álbum como Outono, Botucuxi, Verão Que Ficou, Fantasias e O Que Deixei Cair, além de composições de Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Caetano Veloso e do seu irmão famoso, ninguém menos do que Chico Buarque.

Fantasias (clipe)- Ana de Hollanda:

Chico Buarque aparece sob vários ângulos em novo livro

MEU CARO CHICO capa 400x

Por Fabian Chacur

Durante o processo de pesquisa para a realização de Revela-te Chico- Uma Fotobiografia (2018), seu autor, Augusto Lins Soares, encontrou depoimentos e textos diversos sobre Chico Buarque, todos muito interessantes. Surgia ali a semente para Meu Caro Chico-Depoimentos (256 páginas, preço médio R$65), não por acaso lançado agora pela mesma Editora Francisco Alves responsável pela comercialização do 1º livro do autor de Construção, A Banda- Manuscritos de Chico Buarque de Hollanda (1966).

Esta nova publicação equivale a uma espécie de perfil de Chico Buarque criado a partir da visão de 60 pessoas diferentes, entre músicos, intelectuais, jornalistas, cineastas, escritores, amigos etc. Temos textos que abrangem desde o ano de 1966 até os dias de hoje, sendo alguns produzidos especialmente para o livro do arquiteto, diretor de arte e autor de fotobiografias pernambucano.

O elenco não poderia ser mais variado, e inclui desde o pai do artista, o intelectual Sérgio Buarque de Hollanda, até o funkeiro Rafael Mike, que participou da faixa Caravanas, gravada pelo astro em 2017. Entre outros, temos aqui textos de Caetano Veloso, José Saramago, Vinícius de Moraes, Cacá Diegues, Clarice Lispector, Bruna Lombardi, Tom Jobim, Clara Nunes, Carlos Drummond de Andrade, Glauber Rocha, Maria Rita Kehl e Bob Wolfenson.

Os textos vão desde curtos depoimentos sobre Chico até descrições de experiências pessoais com ele, análises um pouco mais extensas de trabalhos específicos (álbuns, canções etc) e pequenas revelações sobre suas características pessoais. Drummond, por exemplo, faz uma crônica sobre A Banda no momento em que a canção se tornava mania nacional em 1966. O fotógrafo Bob Wolfenson, por sua vez, conta como conseguiu fazer uma foto do cantor com o peito à mostra. E por aí vai.

Lógico que alguns dos textos são mais significativos do que outros, mas até isso nos proporciona um retrato bastante interessante do artista, no sentido que vermos o que ele despertou em cada uma dessas 60 pessoas tão diferentes entre si, mas todas admiradoras deste grande cantor, compositor, músico e escritor brasileiro. Mesmo quem já leu tudo o que há de disponível sobre Chico Buarque (e não é pouca coisa) certamente encontrará saborosas novidades neste ótimo Meu Caro Amigo-Depoimentos.

Meu Caro Amigo (ao vivo na TV)- Chico Buarque:

Miguel Vaccaro Netto, um pioneiro do pop brasileiro

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Por Fabian Chacur

A cena musical brasileira perdeu um grande nome nesta terça-feira (22). Trata-se de Miguel Vaccaro Netto. Ele nos deixou aos 87 anos de causa não revelada. Talento versátil, ele foi jornalista, apresentador de programas de rádio e TV e também criador do célebre programa Não Diga Não, espécie de game show que fez sucesso por onde foi exibido. Ele também criou no final dos anos 1950 o primeiro selo dedicado à música jovem no Brasil, o Young.

Fora da esfera musical, foi ele quem negociou a transmissão via TV para o Brasil do jogo de despedida de Pelé do futebol, partida na qual o New York Cosmos, time que o maior craque de todos os tempos defendeu nos EUA, jogou em Nova York contra o Santos em 1º de setembro de 1977. Ele atuou como repórter de campo naquela partida, vencida pela equipe americana pelo placar de 2 a 1 com um gol do Rei do Futebol.

Em 2003, tive a honra de entrevistar o Miguel para o site da extinta revista Audio Plus. Sóbrio, generoso e com uma memória impressionante, ele me contou algumas de suas muitas histórias, envolvendo artistas como Chico Buarque e João Gilberto. Como homenagem a esta figura fantástica, segue abaixo o texto deste importante encontro que tive com o agora saudoso Vaccaro. R.I.P.

Entrevista
Miguel Vaccaro Netto

Ele revelou Chico Buarque, João Gilberto, Celly Campello….

Por Fabian Chacur

O Repórter Esso, espécie de Jornal Nacional dos anos 60, valia-se do bordão “testemunha ocular da história” como marca registrada. O jornalista, radialista e produtor Miguel Vaccaro Netto poderia perfeitamente valer-se de tal frase como mote de sua trajetória profissional. Só que não teríamos uma definição precisa, pois ele não só presenciou, como também atuou diretamente no surgimento de inúmeros artistas e movimentos musicais no Brasil, especialmente durante as décadas de 50, 60 e 70.

Entre outros, revelou e lançou na mídia Chico Buarque de Hollanda, João Gilberto, Celly Campello, Demétrius, Gilbert e dezenas (centenas, na verdade) de outros nomes. Apresentou programas de rádio e televisão campeões de audiência, além de criar o divertido game show Não Diga Não, no qual a pessoa precisa ficar dois minutos sem falar as palavras não ou né, algo muito mais difícil do que parece.

Às vésperas de completar 70 anos de idade (n. da r.: o que ocorreu no dia 7 de setembro de 2003), com ótima saúde e memória invejável, ele continua mais ativo do que nunca, com vários programas na televisão e capitaneando o serviço Discos Impossíveis, que se propõe a localizar aquele disco raro (seja CD, vinil ou DVD) que você tanto deseja, entregando-o em sua casa. Em entrevista exclusiva a Audioplus, Miguel nos conta deliciosas histórias de sua vitoriosa carreira.

Audioplus- Você iniciou sua carreira ainda muito jovem, como jornalista. Conte como acabou se envolvendo com a música.
Miguel Vaccaro Netto
– Comecei meu trabalho como jornalista aos 17 anos, e aprendi na melhor escola da época, que era a redação do jornal Última Hora, comandado por Samuel Wainer. Dali, passei para o rádio, embora continuasse fazendo colunas para jornal. Na segunda metade dos anos 50, tinha três programas em emissoras de rádio, um na Record, outro na Panamericana (hoje, Jovem Pan) e o terceiro na Rádio América. O da Record era o Disc Disco, apresentado ao vivo da meia noite às duas, que, de repente, tornou-se uma coisa louca, de tanta repercussão. O crédito desse programa entre os jovens tornou-se muito forte, a ponto de muitos irem ao estúdio, no bairro do Aeroporto, para ver sua transmissão. Muitos dos jovens que iam lá me levavam acetatos ou fitas, perguntando se eu não queria ouvi-los. Isso me incentivou a selecionar o que havia de melhor entre aqueles novos valores, e a colocá-los no ar, especialmente no programa da Jovem Pan, que era apresentado à tarde.

Audioplus- No final dos anos 1950, você criou um selo próprio, o Young. A motivação ocorreu por causa dessa efervescência toda?
Miguel Vaccaro Netto
– Na época, eu já fazia um trabalho com o Henrique Lebendiger, presidente da Fermata, editora musical, indicando novidades da Europa que poderiam ser lançadas por aqui. Naquela época, havia iniciado a transmissão do Festival de San Remo, da Itália, para o Brasil. Aí, sugeri a ele que criasse uma gravadora, e fizemos uma sociedade na palavra, no “fio da barba”, como se dizia na época, sem contrato assinado. Foi criada, então, a gravadora Fermata, e no início eu indicava artistas da Europa e dos EUA, lançamos por aqui gente como Chubby Checker, o rei do Twist, por exemplo. Sabendo que existia muita gente nova de valor, também sugeri a criação de um selo voltado especialmente para eles. O Lebendiger só concordava se eu assumisse a coisa como um todo, da seleção dos artistas às gravações e à divulgação, e eu aceitei. Passei a ser praticamente o “factótum” (faz tudo) de lá. O novo selo foi batizado de Young, e ganhou o slogan “O Disco da Juventude”. Além do pessoal que me mandava material, eu também ia a colégios em busca de revelações.

Audioplus- Muita gente boa foi revelada dessa forma, não é?
Miguel Vaccaro Neto
– Sem dúvida. Lembro que, uma vez, fui em um festival realizado no Colégio Santa Cruz, e conheci um garoto muito tímido, que tinha 17, 18 anos, mas muito bom, com potencial enorme. Ele cantava e se acompanhava ao violão. Como na Young eu só gravava músicas em inglês, vi que o tal garoto não se encaixaria lá, mas, mesmo assim, tinha um outro destino para ele em mente. Esse garoto começou a frequentar a casa da então minha noiva, com a qual posteriormente me casei e de quem depois me separei. Começamos a nos reunir lá, que era bem grande, e eu não o ensinei, pois essas coisas você já tem por si próprio, mas fiz uma lapidação do talento natural dele, investindo em postura de palco, entrada em cena, posição de violão, postura física e até mesmo na maneira de se expressar, de pôr a voz para fora da maneira correta. O trabalho durou seis meses. Quando vi que ele estava preparado, e não serviria mesmo para a Young, eu o levei para a Fermata. Esse tal jovem gravou a música A Banda, e se tornou Chico Buarque de Hollanda. Você não tem idéia de como ele era tímido, era terrivelmente tímido.

Audioplus- E na Young, quem surgiu por lá, e como era o espírito do selo, em termos de repertório?
Miguel Vaccaro Netto
– A Young lançava canções em inglês, interpretadas por brasileiros. Lancei na Young muita gente, como Demétrius, que descobri em um colégio, Marcos Roberto, Dori Edson, Hamilton Di Giorgio, Regiane, Nick Savoia, Gato (que depois foi músico do Roberto Carlos) e também grupos vocais e/ou instrumentais como Teenagers, Avalons (o primeiro grupo instrumental brasileiro de rock a gravar discos), The Rebels etc. A Young existiu sob o meu comando entre 1959 e 1963, mais ou menos. Quando o Lebendiger vendeu a Fermata e a RGE para a Som Livre, pensei que a Young tivesse ido junto, fiquei até chateado com ele. Nos anos 70, usavam o selo Young para lançamentos nacionais e internacionais voltados para o público jovem, mas eu não tinha mais nada a ver com ele.

Audioplus- Existe uma procura, por parte dos colecionadores, pelas gravações da Young da sua época. Você tem planos de relançá-las? Legalmente, existe algum tipo de impedimento em relação a isso?
Miguel Vaccaro Netto
– Com o passar dos anos, o material lançado pela Young se tornou cult, os colecionadores de fato procuram muito esses discos. No final de 2003, conversando com o Hélio Costa Manso, diretor da Som Livre e líder do grupo Sunday, que fez sucesso nos anos 70, perguntei sobre os direitos referentes à Young. Ele falou com o João Araújo, presidente da gravadora global, e me informou posteriormente que a Young continua sendo minha, que posso fazer o que quiser com o seu acervo. Então, penso em fazer no futuro um CD duplo com as principais músicas do selo.

Audioplus- Como radialista, você faz parte de uma linhagem de DJs que de fato entendiam de música, que tinham prazer em descobrir novos talentos, e que eram ouvidos pelas gravadoras. É verdade que foi você quem tocou músicas do João Gilberto em rádio pela primeira vez? Como é o seu relacionamento com esse artista tão importante e ao mesmo tempo tão folclórico?
Miguel Vaccaro Netto
– Sem falsa modéstia, eu, nos anos 50 e 60, era o DJ de mais prestígio por aqui, além de ter as minhas colunas em jornais lidas com interesse pelo pessoal das gravadoras. O João Gilberto foi de fato lançado por mim, em meu programa. A Odeon na época me chamou para ouvir o primeiro disco dele, o 78 rotações com Chega de Saudade. Ouvi, e afirmei para o Oswaldo Gurzoni, diretor da gravadora na época, que seria um grande sucesso, e que eu queria lançá-lo em primeira mão. O Gurzoni gostava mesmo de música, vibrava com cada novo lançamento, e me autorizou a fazer o lançamento. Criei toda uma expectativa em torno disso, durante quase um mês, no meu programa. Aí, Chega de Saudade foi pro ar, e o resultado é o que todos sabem, um clássico da MPB. Eu e o João nos tornamos muito amigos. A última vez que eu o vi foi em 1970, quando ele morava no México e fui ser o presidente de honra do júri de um festival de música por lá. Após o final do evento, ele nos convidou (fui com os cantores Claudya e Marcos Roberto) para jantar, e também para nos mostrar a Cidade do México. Sei que eram três da madrugada, e ele ainda estava mostrando a cidade para nós, a pé! (risos). Ele é uma pessoa muito culta, e fala muito. Às cinco da madrugada, estávamos despencando de sono, e ele nos levou para a sua casa. A Claudya se acomodou e dormiu de qualquer maneira. Eu e o Marcos Roberto não tivemos a mesma sorte, pois o João queria jogar pingue-pongue, o que, mesmo com todo aquele sono, tivemos de fazer, sendo que ele ainda estava com uma disposição incrível. (risos).

Audioplus- Nos últimos anos, você tem apresentado o Programa Miguel Vaccaro Netto na TVCom (exibida pela Net, Sky e outras emissoras pelo Brasil), no qual o mote é a participação de artistas dos anos 50, 60 e 70. Como tem sido essa experiência?
Miguel Vaccaro Neto
– Muito boa. No formato atual, estamos no ar há três anos, e já fomos até imitados, e mal, diga-se de passagem, pelo Ratinho. Tive a oportunidade de entrevistar os grandes nomes desse período. Inclusive, um momento que me marcou foi a última entrevista feita com Celly Campello, que, ao lado do irmão Tony, tive a oportunidade de lançar em meu programa de rádio, nos anos 50. Gravamos essa entrevista meses antes de sua morte, e a Rede Bandeirantes chegou a exibi-la na íntegra, como homenagem. Ela morreu em março de 2003. Passaram pelo programa artistas como Benito Di Paula, Os Vips, Os Incríveis, Eduardo Araújo, Tony Campello, Marcos Roberto, Silvinha Araújo e inúmeros outros daquela época áurea da música jovem no Brasil. Nele, também faço o game show Não Diga Não, que em breve deve também ir para a tevê aberta. E estrearei na Alltv, de Alberto Lucchetti Neto, o programa Discos Impossíveis, no qual entrevistarei pessoas que possuem discos raríssimos, mostrando-os, contando como os obtiveram e tocando trechos dos mesmos.

Audioplus- Aliás, aproveitando o gancho, fale-nos sobre esse serviço criado por você, o Discos Impossíveis. Como surgiu a idéia, e do que se trata?
Miguel Vaccaro Netto
– Bem, tudo começou quando muita gente me ligava, pedindo para informar onde poderiam encontrar discos dos artistas que participavam do meu programa. No início, não pensava em mexer com isso, apenas fazia a ligação entre as pessoas e os artistas, para que elas pudessem ser atendidas. Até que percebi existir um grande filão aí, e me propus a encontrar esses discos para as pessoas. O nome Discos Impossíveis, cuja marca inclusive registrei, dá bem a medida. Não importa o que for, se vinil, CD ou mesmo DVD, é só ligar e encomendar que a minha equipe sai à caça. Após uma matéria publicada na revista Veja São Paulo, a procura tornou-se ainda maior, cheguei a receber entre 800 a 900 pedidos em apenas 15 dias. Até agora, não houve item que a gente não tivesse encontrado, sendo que a demora vai de alguns dias a um mês e meio, dependendo da raridade do que se procura.

Audioplus- Você ajudou na consolidação do chamado mercado de música jovem no Brasil. Como encara isso?
Miguel Vaccaro Netto
– Tenho uma convicção bem consolidada de que nada acontece fora de hora. Na ocasião (final dos anos 50), havia uma demanda muito grande pela música americana por aqui, era o auge do Dick Clark (American Bandstand) nos EUA, e meu, por aqui. Senti que havia um vácuo, gente muito boa que não tinha espaço, e criei a Young, era o momento. Isso desencadeou muita coisa, propiciando o clima para a pré-Jovem Guarda, a própria Jovem Guarda, quando se criou esse rótulo (música para a jovem guarda, para o jovem) e a pós-jovem guarda. Hoje, não sinto mais esse clima propício. Existe um mix tão grande de hits de qualidade duvidosa que não há um perfil definido de música brasileira ou americana. Outro dia conversava com um amigo, o cantor e ator Gilbert, e comentávamos que nada mais dura na área musical. Hoje, as coisas surgem e vão embora como um cometa, não deixam marca. Na época, o comunicador tinha por obrigação direcionar o público para o que houvesse de qualidade, e era mais fácil, pois qualidade artística era o que não faltava. Atualmente, um fenômeno como os Tribalistas de Marisa Monte, que conciliaram apelo comercial e qualidade artística, é muito raro. Há um excesso de informação via internet, rádio e televisão, as pessoas não tem tempo de assimilar tudo isso, e passam a ter um gosto descartável. A oferta maior do que a procura tornou o mercado sem sabor, tanto os radialistas quanto as pessoas das gravadoras infelizmente caem lá de para-quedas, não entendem nada.

Veja especial do programa do Miguel sobre a gravadora Young:

Francis Hime conta histórias sobre suas canções clássicas

Francis Hime 400x

Por Fabian Chacur

Há mais de cinco décadas as canções de Francis Hime embalam os sonhos, romances e as vidas de inúmeros brasileiros. São clássicos que ele compôs ao lado de outros craques da nossa música durante esse tempo todo. Como forma de compartilhar a feitura de algumas dessas pepitas musicais, o artista estreia nesta quarta (13) às 19h uma webserie na qual contará as histórias de algumas delas. O programa tem como título Trocando em Miúdos- As Minhas Canções, o mesmo do livro que lançou há algum tempo.

“A ideia é abordar não apenas a feitura de cada canção, mas também as influências e circunstâncias que as cercam. Serão encontros semanais, onde eu discorrerei sobre uma determinada obra”, explica o artista.

Como não poderia deixar de ser, o primeiro episódio abordará Trocando em Miúdos, grande clássico de seu repertório composto com um de seus parceiros preferenciais, Chico Buarque, e que expressa o fim de uma relação amorosa com rara precisão e sensibilidade.

Os temas de alguns dos próximos episódios, cujas gravações tem como cenário o estúdio situado na casa de Francis, já estão definidos. No dia 20, por exemplo, a canção em foco será Sem Mais Adeus, escrita com o eterno poeta Vinícius de Moraes.E no dia 27, teremos Parceiros, escrita com o grande Bituca de Três Pontas, Milton Nascimento.

“Na sequência, virão canções que fiz com Ruy Guerra, Olivia Hime, Paulo Cesar Pinheiro, Geraldo Carneiro, Cacaso, Gilberto Gil , Thiago Amud, Guinga, Zelia Duncan e muitos outros, já que uma das características do meu trabalho é gostar de compor com muitos parceiros”, adianta Francis.

Suas incursões por trilhas feitas para cinema e teatro e no universo da música erudita ganharão alguns episódios. A webserie Trocando em Miúdos- As Minhas Canções poderá ser conferidas nos canais @francishimeoficial no Instagram e Facebook e nos canais oficiais da Blooks Livraria (@blookslivraria).

Trocando em Miúdos– Francis Hime:

Chico Buarque tem o primeiro compacto de vinil relançado

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Por Fabian Chacur

Há relançamentos musicais em formato físico que tem como grande atrativo o seu conteúdo artístico. Outros, porém, tornam-se um fetiche para colecionadores, pois não trazem nada além de suas embalagens como atrativos. E esse último é o caso do novo produto colocado no mercado pela Polysom na série Clássicos em Vinil. Em parceria com a Som Livre, eles nos proporcionam uma reedição do 1º disco de Chico Buarque.

Lançado originalmente no formato compacto simples de vinil em 1965 pela hoje extinta gravadora RGE, o single traz as músicas Pedro Pedreiro no lado A e Sonho de Um Carnaval no lado B. Ambas seriam incluídas no LP de estreia do artista, autointitulado e disponibilizado para o público em geral naquele mesmo ano com grande repercussão.

Pedro Pedreiro tem forte conteúdo político, e infelizmente se mostra mais atual do que nunca, com seus versos incisivos “esperando, esperando, esperando o trem, esperando o aumento para o mês que vem, esperando um filho pra esperar também”.

Por sua vez, Sonho de Um Carnaval participou do festival de música da extinta TV Excelsior também em 1965, interpretada por Geraldo Vandré. Não ganhou, mas ao menos conquistou o coração do artista nordestino, que a gravaria posteriormente.

O bacana do compacto simples é a sua capa vintage, indicando a rotação (33 RPM), com tipologia estilosíssima e uma foto do artista novinho, ainda na altura de seus 20 anos de idade. Garanto que os fanáticos pelo grande astro da MPB adorariam ter esse item em sua coleção, nem que seja apenas para decorar sua parede ou estante.

Pedro Pedreiro– Chico Buarque:

Chorinhos em Desfile agora no céu, Altamiro

Por Fabian Chacur

Minha mãe era fã incondicional de música, da clássica à popular, e costumava ter sempre uma boa trilha sonora para seus afazeres de dedicada dona de casa que era. Eu, quando criança, tive a honra de ouvir com minha eterna dona Victoria vários de seus LPs.

Entre eles, um dos favoritos era Chorinhos em Desfile (1959), lançado pela gravadora Copacabana e creditado a Altamiro Carrilho e Seu Conjunto Regional. Era o “disco do passarinho”, devido à sua bela capa, com uma ave cantando nos galhos de uma árvore, em foto colorida que você pode ver ilustrando este post.

Esse álbum incluía 11 faixas, entre as quais maravilhas como Tico-Tico No Fubá (Zequinha de Abreu), André de Sapato Novo (André Victor Corrêa) e Canarinho Teimoso (Altamiro Carrilho e Ary Duarte), só para citar algumas que permanecem firmes na minha memória musical.

Através desse disco fantástico, gravado pelo flautista fluminense Altamiro Carrilho quando ele tinha 35 anos de idade, conheci um dos gêneros musicais mais cativantes da música brasileira, o chorinho, com seus improvisos, melodias deliciosas, predominância instrumental e berço/inspiração de músicos brilhantes, entre os quais o próprio AC.

Infelizmente, esse verdadeiro gênio da flauta e da música popular nos deixou no dia 15 (quarta-feira), vítima de um câncer no pulmão, e irá se juntar a minha saudosa mãe (1926-1996), apenas uma entre as inúmeras fãs desse verdadeiro gênio da música.

Altamiro Carrilho começou a tocar ainda muito jovem, aos 5 anos, e no decorrer dos anos passou a se dedicar à flauta e ao estudo da música, enquanto trabalhava como farmacêutico. No início dos anos 50, passou a atuar como músico em tempo integral.

Além de gravar inúmeros discos, entre os quais o citado Chorinhos em Desfile, Carrilho também atuou como músico de estúdio, sendo utilizado por grandes astros e sempre em posição de destaque em incontáveis gravações antológicas.

Dois de seus momentos marcantes como flautista estão nas gravações originais de estúdio de dois grandes clássicos da MPB, Detalhes (1971), de Roberto Carlos, e Meu Caro Amigo (1976), de Chico Buarque. Só essas duas participações bastariam para que eu o considerasse um gênio. E ele fez muito, mas muito mais.

Tive a honra de entrevistar esse monstro sagrado da música brasileira lá pelos idos de 1992, e fiquei cativado por sua simpatia e simplicidade, características que o marcavam também no intercâmbio com músicos mais jovens, dividindo seu talento com generosidade e inteligência.

Altamiro Carrilho (21.12.1924-15.8.2012) é mais um músico do primeiríssimo escalão da MPB que nos deixa. Sorte que temos os discos e vídeos para matarmos a saudade. Entre os quais Chorinhos em Desfile, que eu herdei da Dona Victoria. Que herança maravilhosa!

André de Sapato Novo, com Altamiro Carrilho:

Meu Caro Amigo, com Chico Buarque e Altamiro Carrilho:

Detalhes, com Roberto Carlos (flauta tocada por Altamiro Carrilho):

Morre Magro Waghabi, do grupo MPB 4

Por Fabian Chacur

Morreu nesta quarta-feira (8) Antonio José Waghabi Filho (1943-2012), o Magro Waghabi, integrante do MPB 4, um dos mais importantes e talentosos grupos vocais da história da música brasileira de todos os tempos.

Segundo nota publicada no site oficial do quarteto por um de seus integrantes, Aquiles, Magro foi vítima de um câncer contra o qual lutou durante 10 anos.

O grupo gravou e lançou há pouco Boleros-Contigo Aprendi, álbum dedicado a versões em português de boleros clássicos. No citado site (www.mpb4.com.br), existe um post com comentários de Magro referentes ao material registrado no novo CD deles.

O MPB 4 teve sua gênese em 1962 no Centro de Cultura Popular da Universidade Federal Fluminense, em Niterói (RJ), onde estudavam Ruy (primeira voz), Magro Waghabi (segunda voz e direção musical), Aquiles (terceira voz) e Miltinho (quarta voz).

A banda registra o ano de 1965 como seu início na trajetória profissional. Naquele ano, participaram do programa O Fino da Bossa e conheceram Chico Buarque, com quem fizeram inúmeros shows e gravação, entre elas a magnífica Roda Viva.

Inspirados em grupos vocais brasileiros anteriores como Os Cariocas, o MPB 4 rapidamente desenvolveu um estilo próprio de vocalizações, no qual os arranjos e direção musical de Magro se mostraram decisivos.

Outra marca registrada do quarteto sempre foi o extremo bom gosto para selecionar repertório, de autores como Chico Buarque, Caetano Veloso, João Bosco, Milton Nascimento e tantos outros. Também ajudaram a revelar novos talentos, entre os quais Kleiton & Kledir, e a resgatar clássicos da música brasileira.

O grupo gravou álbuns antológicos, entre os quais destaco Bons Tempos, Heim? (1979) e Vira Virou (1980), e estiveram na linha de frente da MPB no combate à Ditadura Militar.

Meu álbum favorito deles é o sensacional Cicatrizes, de 1972, do qual fazem partes clássicos do porte de Partido Alto (Chico Buarque), Pesadelo (Maurício Tapajós e Paulo Cesar Pinheiro), Bom Dia Boa Tarde Boa Noite (Jorge Ben), Canto de Nanã (Dorival Caymmi) e a faixa título, gravadas com arranjos irrepreensíveis e vocalizações matadoras.

Outro momento mágico do MPB 4 é Porto (Dori Caymmi), da trilha da novela global Gabriela (1975), na qual se valem de vocalizações para interpretar uma melodia maravilhosa.

Embora tenha vivido o seu auge de popularidade nos anos 70 e 80, o MPB 4 manteve-se na ativa com muita competência nas últimas décadas, lançando inclusive um álbum, MPB 4 e a Nova Música Brasileira (2000), no qual faziam releituras de músicas de compositores da então nova safra da MPB, como Lenine, Zélia Duncan e Zeca Baleiro.

Ouça Porto, com o MPB 4:

Ouça Pesadelo (ao vivo), com o MPB 4:

Ouça Partido Alto (ao vivo), com o MPB 4:

Generosos extras tornam o DVD de Uma Noite Em 1967 ainda melhor do que o ótimo documentário

Por Fabian Chacur

Uma Noite Em 67 é um dos melhores documentários já feitos tendo a música popular brasileira como tema.

O filme dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil retrata de forma brilhante o 3º Festival da Música Popular Brasileira, realizado pela TV Record em 1967 e um marco na história de nossa música.

Já escrevi em Mondo Pop sobre a atração.

Agora, tive a oportunidade de conferir a edição em DVD, que merece a palavra sublime como adjetivo a denotar sua alta qualidade.

Aos 85 minutos do filme, foi acrescentado mais ou menos o mesmo tempo de extras.

Esse material amplia o universo abordado pelo documentário de forma magnífica.

Temos, por exemplo, entrevistas com alguns dos integrantes da atuante plateia daquele evento, entre os quais a incrível jornalista Telé Cardim, que rouba a cena com seu carisma e deliciosas memórias.

Foram 12 as músicas finalistas da competição musical. As cinco primeiras foram abordadas no documentário.

Seis das outras sete ficaram para os extras, com direito a detalhes bacanas sobre cada uma delas e a execução das mesmas na íntegra.

Só ficou faltando Ventania, de Geraldo Vandré, que sequer é citada no filme ou nos extras.

Certamente para evitar problemas legais que poderiam ser causados pelo polêmico autor e intérprete. Mas não faz falta…

No segmento intitulado Causos, temos histórias adicionais daquele festival e também da época, contados por Chico Buarque, Caetano Veloso, Marília Medalha, Ferreira Gullar e outros.

Uma Noite em 67, o DVD, é uma fantástica viagem a uma era em que a música no Brasil era encarada como algo que ia muito além de simples notas em partituras interpretadas por seres humanos iguais a nós.

Este DVD equivale a uma verdadeira aula de história e música feita de forma fluente, gostosa e cativante.

Um presentão que todo fã de música popular brasileira de verdade precisa dar para si.

Ouça Ponteio, a vencedora do festival:

Coleção Chico Buarque da Abril é um luxo

Por Fabian Chacur

Chico Buarque é indispensável em qualquer discoteca que se preze. Em seus melhores trabalhos, temos a MPB em estado de graça, com padrão internacional de letras, melodias, arranjos, tudo.

Levando essa constatação óbvia em conta, a editora Abril lançou na semana passada a Coleção Chico Buarque. São 20 álbuns lançados pelo fantástico cantor, compositor e músico carioca em seus quase 50 anos de carreira.

Cada álbum original chega às bancas de jornais e outros pontos de venda com capa dura, encarte luxuoso repleto de fotos, texto sobre os discos, contextualização de época, letras de todas as músicas incluídas e fichas técnicas. Respeito total ao consumidor.

Os volumes podem ser adquiridos separadamente ao excelente preço de R$7,90 (o primeiro volume) e R$ 14,90 (os outros). Também está disponível uma caixa na qual os discos-livros podem ser guardados, encontrável nos pontos de venda.

A coleção abrange desde o início da carreira de Chico Buarque, na metade dos anos 60, até o recente Carioca. Seus mais importantes trabalhos estão aqui, sem exceção.

Já saíram até agora Chico Buarque, de 1978 (inclui Apesar de Você, Feijoada Completa, Trocando Em Miúdos e Cálice) e o seminal Construção (1971), na minha humilde opinião o melhor disco da história da MPB, com as fantásticas Construção, Olha Maria, Deus Lhe Pague e Cotidiano como destaques.

A possibilidade de adquirir os volumes semanalmente equivale a um parcelamento que torna viável a aquisição de todo o pacote, além de também permitir ao fã mais exigente selecionar o que de fato lhe interessa.

Apesar de genial, Chico também tem discos não tão consistentes, e alguns deles fazem parte da coleção, como Uma Palavra (1995), Per Un Pugno Di Samba (1970, gravado na Itália). De qualquer forma, um disco fraco do autor de As Vitrines é melhor do que 90% das obras completas de muita gente boa por aí.

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