Por Fabian Chacur

Minha mãe era fã incondicional de música, da clássica à popular, e costumava ter sempre uma boa trilha sonora para seus afazeres de dedicada dona de casa que era. Eu, quando criança, tive a honra de ouvir com minha eterna dona Victoria vários de seus LPs.

Entre eles, um dos favoritos era Chorinhos em Desfile (1959), lançado pela gravadora Copacabana e creditado a Altamiro Carrilho e Seu Conjunto Regional. Era o “disco do passarinho”, devido à sua bela capa, com uma ave cantando nos galhos de uma árvore, em foto colorida que você pode ver ilustrando este post.

Esse álbum incluía 11 faixas, entre as quais maravilhas como Tico-Tico No Fubá (Zequinha de Abreu), André de Sapato Novo (André Victor Corrêa) e Canarinho Teimoso (Altamiro Carrilho e Ary Duarte), só para citar algumas que permanecem firmes na minha memória musical.

Através desse disco fantástico, gravado pelo flautista fluminense Altamiro Carrilho quando ele tinha 35 anos de idade, conheci um dos gêneros musicais mais cativantes da música brasileira, o chorinho, com seus improvisos, melodias deliciosas, predominância instrumental e berço/inspiração de músicos brilhantes, entre os quais o próprio AC.

Infelizmente, esse verdadeiro gênio da flauta e da música popular nos deixou no dia 15 (quarta-feira), vítima de um câncer no pulmão, e irá se juntar a minha saudosa mãe (1926-1996), apenas uma entre as inúmeras fãs desse verdadeiro gênio da música.

Altamiro Carrilho começou a tocar ainda muito jovem, aos 5 anos, e no decorrer dos anos passou a se dedicar à flauta e ao estudo da música, enquanto trabalhava como farmacêutico. No início dos anos 50, passou a atuar como músico em tempo integral.

Além de gravar inúmeros discos, entre os quais o citado Chorinhos em Desfile, Carrilho também atuou como músico de estúdio, sendo utilizado por grandes astros e sempre em posição de destaque em incontáveis gravações antológicas.

Dois de seus momentos marcantes como flautista estão nas gravações originais de estúdio de dois grandes clássicos da MPB, Detalhes (1971), de Roberto Carlos, e Meu Caro Amigo (1976), de Chico Buarque. Só essas duas participações bastariam para que eu o considerasse um gênio. E ele fez muito, mas muito mais.

Tive a honra de entrevistar esse monstro sagrado da música brasileira lá pelos idos de 1992, e fiquei cativado por sua simpatia e simplicidade, características que o marcavam também no intercâmbio com músicos mais jovens, dividindo seu talento com generosidade e inteligência.

Altamiro Carrilho (21.12.1924-15.8.2012) é mais um músico do primeiríssimo escalão da MPB que nos deixa. Sorte que temos os discos e vídeos para matarmos a saudade. Entre os quais Chorinhos em Desfile, que eu herdei da Dona Victoria. Que herança maravilhosa!

André de Sapato Novo, com Altamiro Carrilho:

Meu Caro Amigo, com Chico Buarque e Altamiro Carrilho:

Detalhes, com Roberto Carlos (flauta tocada por Altamiro Carrilho):