marisa monte colecao capa-400x

Por Fabian Chacur

Marisa Monte sempre se disse contrária ao formato coletânea de sucessos. Como forma de encerrar a parceria de seu selo Phonomotor Records com a Universal Music/EMI, a cantora optou por uma compilação norteada por outro conceito, o de reunir não hits, mas canções que a cantora e compositora carioca registrou em discos alheios e que estavam espalhados por aí. Nasceu, assim, Coleção, que curiosamente equivale a seu melhor álbum desde Tribalistas (2002).

A primeira fase da carreira discográfica de Marisa Monte foi simplesmente arrasadora. Com os álbuns MM (1989), Mais (1991) e Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão (1994), ela conseguiu renovar a MPB e se tornar um caso raro de artista que conseguia fazer um trabalho consistente em termos artísticos e ao mesmo tempo disputar com força total os primeiros lugares das paradas de sucesso. A combinação perfeita e sonhada por todos e concretizada por poucos.

A partir do mezzo ao vivo mezzo de estúdio Barulhinho Bom- Uma Viagem Musical (1996), as coisas mudariam de feição. O marco é o fraco Memórias, Crônicas e Declarações de Amor (2000), redundante, autoindulgente e com direito a coisas como Amor I Love You, popularesca até a medula. Com exceção do ótimo projeto Tribalistas (2002), que gerou um belo CD, tornar-se-ia difícil pescar boas músicas nos poucos trabalhos que a cantora lançaria nos anos seguintes.

Os lançados simultaneamente Infinito Particular e Universo Ao Meu Redor, de 2006, são de uma inconsistência assustadora, enquanto O Que Você Quer Saber de Verdade (2011) consegue diluir ainda mais o que já não era lá essas coisas. E isso após anos de espera. Ou seja, a artista não pode alegar pressão de gravadora ou coisa que o valha para justificar tal conteúdo fraco. Felizmente, nos shows a mistura das poucas músicas novas boas com várias dos bons tempos e alguns covers mantiveram o alto padrão dos anos de ouro de 1988 a 1996.

Temos em Coleção 13 faixas gravadas entre 1993 (Alta Noite, na versão incluída no disco solo de Arnaldo Antunes, Nome) e 2015 (Chuva no Mar, do CD Canto, de Carminho). São muitas coisas boas. Ilusão, por exemplo, dueto gravado ao vivo em 2011 com a ótima Julieta Venegas. Ou Esqueça (Forget Him), hit da Jovem Guarda que Marisa regravou em 2003 para a trilha do filme A Taça do Mundo é Nossa.

A versão da clássica Carinhoso, que reúne Marisa e Paulinho da Viola, no melhor estilo voz e violão, estava relegada apenas ao belo documentário O Meu Tempo é Hoje (2003). E David Byrne aparece na curiosa e quase divertida Waters Of March, versão bilíngue do clássico Águas de Março de Tom Jobim registrado em 1996 para o CD beneficente Red Hot + Rio. Coleção ficou uma coletânea muito boa de se ouvir.

O álbum, no entanto, não reúne todas as faixas de Marisa Monte perdidas por aí. Sem pesquisar a fundo, posso citar três delas: a deliciosa Mais Um Na Multidão, dueto com Erasmo Carlos registrado em 2001 no álbum Pra Falar de Amor, do Tremendão, Flores, gravada ao vivo e lançada no álbum dos Titãs Acústico MTV em 1997, e Sábado à Noite. Esta última merece um parágrafo próprio.

Lançada em 1985 na trilha do filme Tropclip, Sábado à Noite, de Sérgio Sá (o autor de Eu Me Rendo, hit com Fábio Jr, entre outras) foi a primeira música gravada e lançada oficialmente por Marisa Monte, com apenas 18 anos na época. Trata-se de uma faixa constrangedora, um funk pop cheio de clichês do gênero. Pior: Marisa aparece nela como se fosse mera coadjuvante. A música tem 3m52 de duração, sendo que ela aparece em míseros 35 segundos, mais precisamente dos 2m01 até os 2m36. Não é de se estranhar que isso não faça parte de Coleção

Carinhoso– Marisa Monte e Paulinho da Viola:

Waters Of March– Marisa Monte e David Byrne:

Ilusão (Ilusión)– Marisa Monte e Julieta Venegas:

Sábado à Noite- Marisa Monte (da trilha de Tropclip-1985):