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George Israel celebra 40 anos de estrada com show em SP

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Por Fabian Chacur

George Israel celebra 40 anos de carreira com um show cujo título já entrega a intenção básica: Baile do George #40. Ele mesclará músicas do Kid Abelha, grupo que criou em 1981 e que o tornou famoso nacionalmente, com outras composições suas e também músicas alheias que tem a ver com a sua formação em termos musicais. A apresentação será nesta sexta (11) às 22h30 em São Paulo no Blue Note São Paulo (avenida Paulista, nº 2073- 2º andar- saiba mais aqui).

Cantor, compositor e saxofonista, George Israel escreveu várias músicas com Cazuza, entre elas Brasil, Solidão Que Nada, Burguesia e Amor Amor. Aliás, um de seus três discos solo, 13 Parcerias Com Cazuza (2010), reúne algumas dessas canções, gravadas ao lado de convidados especiais como Elza Soares, Paulo Ricardo, Marcelo D2 e Ney Matogrosso.

No Kid Abelha, George foi coautor de hits como Lágrimas e Chuva, Amanhã é 23, Grand’ Hotel, No Seu Lugar e Eu Tive Um Sonho, entre outros. Além de participar de gravações de Ritchie, Paralamas do Sucesso, Biquini Cavadão e Bliz, ele também criou grupos paralelos como Os Britos e os Roncadores.

Eu Tive Um Sonho (ao vivo)- George Israel:

Walter Franco, genial coração tranquilo e malucão de festival

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Por Fabian Chacur

Os festivais de música se tornaram uma febre no Brasil a partir da metade da década de 1960, graças especialmente ao fato de terem sido promovidos por emissoras de TV e transmitidos para todo o país. Ajudaram a divulgar novos nomes, mas também firmaram alguns estereótipos negativos que prejudicaram carreiras. Walter Franco, que nos deixou nesta quinta (24) aos 74 anos, certamente foi um dos mais prejudicados nesse processo perverso que teve origem no mitológico Festival da Record de 1967.

Espécie de avô dos reality shows do século XXI, aquele tipo de competição musical logo apostaria em encaixar seus competidores em padrões. Tipo o galã (Chico Buarque, por exemplo), o moderno (Caetano Veloso), a espevitada (Elis Regina), o simpático carismático (Jair Rodrigues) e por aí vai.

O cantor, compositor e músico Sérgio Ricardo, ao ser furiosamente vaiado quando interpretava sua inusual composição Beto Bom de Bola naquele festival da Record de 1967, o levou a uma reação furiosa e totalmente inesperada: quebrou o violão e jogou seus restos na plateia.

Como seria de se esperar, naquele momento surgia mais um personagem a ser preenchido na escalação dos próximos certames similares. Denomino esse elemento de “malucão de festival”, tarja que passaria a ser imposta a todo competidor que nos oferecesse um trabalho fora dos padrões mais habituais.

De certa forma, Gilberto Gil foi atirado nesse fosso ao defender a depois eliminada Questão de Ordem em festival de 1968, gerando a indignação de Caetano Veloso e seu ácido discurso no meio de É Proibido Proibir.

Surgem os tais de “malditos”

Mas quem melhor se encaixou neste novo perfil foi Walter Franco no Festival Internacional da Canção da Globo de 1972. Afinal de contas, nada mais experimental e fora do padrão habitual do que Cabeça, uma música genial e minimalista que tocava na ferida da pressão que o chamado mundo moderno fazia nas pessoas, e da importância de se cuidar para não explodir. Ao ver aquilo, em horário nobre, o público entrou em parafuso, e a emissora amou estereotipar aquele cabeludo tão criativo.

Pode-se dizer que essa é a origem do rótulo “malditos”, que depois seria usado para abranger artistas como o próprio Franco, Jards Macalé (que também encarnou o “malucão” em festivais), Jorge Mautner, Sérgio Sampaio e outros artistas criativos e rebeldes. Denominação negativa que dava a entender que se tratava de caras doidos, irascíveis e fora do senso comum que mereciam ser devidamente marginalizados. Como fizeram mal a gente tão talentosa!

Walter Franco voltaria, “apesar de tudo”, ao papel no Festival Abertura, promovido pela Globo em 1975, com sua bela Muito Tudo, homenagem a John Lennon e João Gilberto, e também no caótico festival da Tupi, em 1979. Nesta última, trouxe a roqueira e virulenta Canalha, cujo refrão dava ao público presente a chance de por prá fora a agonia daqueles anos de ditadura militar ainda brava e repulsiva. Ficou em segundo lugar.

Aliás, acho que naquele evento o papel do malucão ficou mesmo a cargo de Arrigo Barnabé e sua Sabor de Veneno, que o público jurava ser sabor de outra coisa menos saborosa e gritava na hora do refrão o nome…

Muito além de apenas experimental e polêmico

Eis o porque Walter Franco ficou com esse estigma de maldito. No entanto, seu incrível experimentalismo, registrado de forma direta no cultuado álbum Ou Não (1972, aquele com a mosca na capa), era apenas uma de suas facetas. O roqueiro vibrante, por exemplo, deu as caras com tudo em Revolver (1975), um dos melhores trabalhos do rock setentista.

Ele também sempre se mostrou capaz de escrever canções delicadas, melódicas e com letras de uma profundidade filosófica marcante, como Coração Tranquilo, Vela Aberta, Respire Fundo e Serra do Luar. Atraiu fãs dos mais distintos, o que o fato de ter sido regravado por nomes tão diferentes entre si como Chico Buarque, Leila Pinheiro, Oswaldo Montenegro, Ira!, Camisa de Vênus, Pato Fu e Titãs (com quem fez shows) serve como prova.

A qualidade da herança musical deixada por Walter Franco em seus poucos (e bons) álbuns é um legado que vai muito além do que rótulos como “maldito” ou “malucão de festival” podem dar a entender. Filho do poeta e político Cid Franco e nascido em São Paulo em 6 de janeiro de 1945, sua figura simpática e tranquila será reverenciada pelos fãs da melhor música brasileira, e certamente redescoberta por muitos a partir dessa sua partida.

Ouça Revolver na íntegra em streaming:

Luiz Ayrão celebra 50 anos de carreira com um álbum digital

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Por Fabian Chacur

Luiz Ayrão ficou conhecido nacionalmente primeiro como o autor de dois grandes sucessos de Roberto Carlos, Ciúme de Você e Nossa Canção, ainda nos anos 1960. Na década de 1970, foi a vez de o cantor tornar-se conhecido, interpretando hits próprios como O Lencinho, Os Amantes, Porta Aberta e Bola Dividida, entre outros. Como forma de celebrar 50 anos de uma carreira elogiável, ele lança nesta sexta (24) Um Samba de Respeito, trabalho com sete faixas que será distribuído pela Universal Music nas plataformas digitais, sem formato físico previsto.

A primeira música a ser divulgada traz o cantor e compositor ao lado de dois Zecas ilustres, o Pagodinho e o Baleiro, no delicioso samba de breque intitulado Tentação de Malandro. Ele dá uma geral sobre essa música:

“Esta é uma composição bem das raízes do samba de breque. O autor é o meu pai, com o qual, infelizmente, convivi apenas por 13 anos. Fala da reflexão de um bom malandro da década de 1940, diante de uma mulher irresistível, de seu homem, malandro mau e valente, e do poder despótico dos delegados de polícia daquela época”.

O álbum traz também Alcione e Diogo Nogueira em Um Samba Merece Respeito, Péricles (ex-Exaltasamba) em Oxitocina, Xande de Pilares (ex-Revelação) em No Cravo e na Ferradura, a formação atual dos Demônios da Garoa em Fina Ironia, o cantor e compositor mineiro Toninho Geraes em Pétalas de Rosa e o histórico cantor e compositor carioca Monarco em Pobre Passarinho, escrita pelo veterano sambista especialmente para Luiz Ayrão.

Tentação de Malandro– Luiz Ayrão, Zeca Baleiro e Zeca Pagodinho:

Johnny Alf e sua essência são as marcas de dois álbuns digitais

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Por Fabian Chacur

Alfredo José da Silva, embora sóbrio, não era um nome muito charmoso para um dos grandes nomes da história da nossa música. Felizmente, ele atendeu a sugestões de amigos e tornou-se Johnny Alf, denominação muito mais classuda. E deu muito certo. Esse grande cantor, compositor e pianista carioca, que completaria 90 anos no próximo dia 19, mas que infelizmente nos deixou em 2010, construiu uma obra sólida e densa que merecia ser bem mais cultuada do que é. A Kuarup acaba de disponibilizar em todas as plataformas digitais dois álbuns inéditos deste gênio, intitulados O Autor e O Intérprete.

Para alguns dos maiores especialistas no tema, entre eles o jornalista Ruy Castro, Johnny foi o pioneiro da bossa nova, misturando com criatividade e sutileza samba e jazz já no início da década de 1950. Versátil, ele sabia não só compor com desenvoltura como também tocar um piano personalizado, além de reler com classe canções alheias. Um artista de primeira, que habitualmente rendia o máximo ao vivo, nos palcos da vida, com uma categoria reservada a poucos.

Os dois álbuns digitais trazem faixas extraídas de gravações ao vivo realizadas no início dos anos 2000 pertencentes ao acervo do produtor e empresário Nelson Valência, que trabalhou por muitos anos com Johnny Alf. Esse material foi pesquisado pelo consagrado produtor musical e jornalista Thiago Marques Luiz, que se incumbiu de selecionar o repertório que chegou aos produtos finais.

O álbum O Autor nos traz dez das composições mais icônicas do nobre songbook do artista carioca, com direito a Rapaz de Bem, O Que é o Amor, Eu e a Brisa e Ilusão À Toa. O Intérprete, por sua vez, nos oferece suas certeiras releituras de maravilhas alheias do porte de Corcovado, Chega de Saudade, Desafinado, Valsa de Eurídice, Alguém Como Tu e The Shadow Of Your Smile.

Totalmente à vontade e em excelente forma, tanto vocal como instrumental, Johnny aparece no formato do trio de jazz, acompanhado por um guitarrista e um baterista. Suas performances tem total DNA jazzístico, respeitando as melodias mas não se negando a improvisos deliciosos e a belos solos de piano e guitarra aqui e ali. Em alguns momentos, ele fala com a plateia, dando informações sobre as músicas. A qualidade de áudio é das melhores.

O material merecia ter lançamento físico, com direito a um encarte com texto informativo redigido por Thiago e uma capa aproveitando as simples, porém muito belas e eficientes imagens que ilustram as versões digitais, mas só o fato de essas gravações raras chegarem à tona e estarem agora disponíveis para todos os fãs da melhor música brasileira já merece fartos aplausos.

O Intérprete- Johnny Alf (ouça em streaming):

Recado (1978), de Gonzaguinha, celebra 40 anos muito essencial

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por Fabian Chacur

Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (1945-1991) teve como marca a sensibilidade à flor da pele. Essa característica o levava a atingir os extremos, indo do extremamente ácido ao incrivelmente doce às vezes em uma mesma canção. Puro coração. Sujeito que se indignava com as injustiças, que tinha paixão por se apaixonar, por viver, por “andar por esse país pra ver se um dia descanso feliz”, como bem retratam os versos de Vida de Viajante, parceria do pai Gonzagão com Hervê Cordovil que fez grande sucesso em 1979, em versão incluindo pai e filho nos vocais.

Sua poesia era direta e sem rodeios, enquanto em termos melódicos e rítmicos suas canções apresentavam influências de música nordestina, jazz, rock, bossa nova, samba, bolero e o que mais aparecesse.

Em uma discografia repleta de preciosidades, Recado, lançado em 1978 e seu sexto álbum, se sobressai por várias razões, a começar pela maravilhosa faixa título, espécie de carta de intenções de Gonzaguinha enquanto ser humano. “Se é para ir, vamos juntos, se não é já não tô nem aqui”, finaliza esse clássico da MPB, com sua levada bossa nova e o piano marcante de Gilson Peranzzetta, conhecido por também participar de discos essenciais de Ivan Lins, um dos raros parceiros de Gonzaguinha e seu amigo fiel desde sempre.

A única composição alheia é O Que Foi Feito Devera, de Milton Nascimento (provavelmente o maior ídolo do artista carioca) e Fernando Brant, relida de forma brilhante e com a participação do próprio Milton no violão e vocais.

O romantismo intimista é a marca de Lindo, balada jazzística sublime em sua sutileza, enquanto a mãe do astro carioca, uma cantora da noite que morreu quando ele era ainda muito criança, vítima de tuberculose, é homenageada de forma tocante em Odaléia Noites Brasileiras, balada voz e piano.

A indignação do artista com a infeliz e então recente declaração dada por Pelé, dizendo que, para ele, “brasileiro não sabe votar”, gerou E Por Falar No Rei Pelé…, uma espécie de “MPB heavy metal” na qual ele toma as dores do povão, com versos ácidos e certeiros como “craque mesmo é o povo brasileiro carregando esse time de terceira divisão”.

E o final fica com a magnífica Petúnia Resedá, sacudida mistura de rock e forró que fez sucesso na releitura de Simone. E tem a voz. Fora dos padrões convencionais, Gonzaguinha cantava com paixão, assinatura própria e muita, mas muita personalidade. Lá do fundo, das entranhas, paixão total.

E vale destacar também o elenco de músicos presentes neste álbum. Além de Gilson Peranzzetta nos teclados, também temos Fredera (guitarra), Toninho Horta (guitarra), Luis Alves (baixo), João Cortez (bateria), Danilo Caymmi (flauta), Mauro Senise (flauta), Paulo Jobim (flauta), Ronaldo Alvarenga (percussão) e Novelli (baixo), com produção a cargo do compositor Ronaldo Bastos, parceiro de Milton Nascimento em vários clássicos da MPB.

Recado é daqueles discos padrão vinho: sua audição melhora, com o decorrer dos anos. Clássico da MPB que você precisa conhecer, ouvir de novo e degustar com prazer. E paixão, obviamente.

Recado- Gonzaguinha- ouça o álbum em streaming:

Francis Hime e piano em show retrospectivo em São Paulo

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Por Fabian Chacur

Existe um pequeno clube de artistas no cenário da música brasileira que podem ser considerados incontestáveis, tamanha a qualidade de sua obra. O canto, compositor, pianista, arranjador, produto e maestro carioca integra essa elite musical, com uma carreira que já ultrapassou os 50 anos. Um privilégio vê-lo em ação. Ele toca nesta sexta (19) em São Paulo no Tupi Or Not Tupi (rua Fidalga, nº 360-Vila Madalena- fone 0xx11-3813-7404), com ingressos a R$ 130,00.

Intitulado Álbum Musical, o espetáculo trará o artista em sua essência, tendo no palco apenas ele e seu piano. O repertório trará alguns de suas principais composições, clássicos perenes da MPB do porte de Atrás da Porta, Trocando em Miúdos, Meu Caro Amigo, Passaredo e Pivete.

Com 79 anos de idade, Francis foi amadurecendo sua carreira musical paralelamente à faculdade de engenharia, na qual se formou. Mas a música falou mais alto. Um de seus parceiros iniciais foi ninguém menos do que Vinícius de Moraes, e composições suas participaram de vários festivais na segunda metade dos anos 1960. Em 1969, casou-se com a cantora e compositora Olivia Hime e foi para os EUA, onde estudou orquestração, regência, composição e trilha sonora.

Em 1973, lançou seu primeiro trabalho solo, autointitulado e bastante elogiado. Com Passaredo (1977) e Se Porém Fosse Portanto (1978), conseguiu grande sucesso comercial, aliado à inclusão de músicas de sua autoria em trilhas de novelas e filmes.

Os hits são muitos: Passaredo, Trocando em Miúdos, Quadrilha, Meu Caro Amigo, Atrás da Porta e outros, vários compostos em parceria com Chico Buarque. Suas melodias elaboradas e cativantes, sempre acompanhadas de letras inspiradas, trazem influências de chorinho, samba, bossa nova, música erudita e muito mais. Um craque da canção.

Passaredo (ao vivo)- Francis Hime:

Leny Andrade incorpora belas composições de Fred Falcão

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Por Fabian Chacur

Fred Falcão era ainda um jovem compositor em busca de reconhecimento quando a já badalada cantora Leny Andrade entrou em seu caminho, lá pelos idos de 1966. Ela o aconselhou a mostrar Vem Cá Menina para o consagrado grupo Os Cariocas, e foi exatamente isso o que ele fez, e se deu bem. Agora, mais de 50 anos depois, os bons amigos se reúnem para um projeto delicioso: Leny Andrade Canta Fred Falcão-Bossa Nossa (Biscoito Fino).

Desde que se conheceram, muita coisa aconteceu na vida dos dois personagens deste álbum. Fred Falcão teve suas músicas gravadas nas décadas de 1960 e 1970 por nomes do gabarito de Wilson Simonal, Vanusa, Maysa, Clara Nunes, Beth Carvalho, Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga, Os Cariocas, Pery Ribeiro, Boca Livre, Golden Boys e outros. Advogado de ofício, deixou a música de lado por algum tempo, mas não para sempre, pois não faria sentido.

Incomodado por não ter seu nome associado a canções que escreveu e fizeram sucesso, ele resolveu gravar álbuns reunindo sua obra interpretada por ele e amigos famosos. Nesse clima, surgiram os CDs Imparceria (2006), Voando na Canção (2011) e Nas Asas dos Bordões (2014). E foi quando este pernambucano radicado no Rio preparava novas composições para um novo CD que Leny voltou à cena.

Considerada uma das melhores cantoras brasileiras e com fãs nos quatro cantos do mundo, admirada não só no cenário da bossa nova e MPB como também pelos jazzistas, Leny Andrade já havia participado de um dos CDs de Fred. Ao mandar as novas canções para ela escolher uma delas, a intérprete se ofereceu para gravar o álbum inteiro, proposta irrecusável que Fred obviamente não perdeu tempo em aceitar rapidamente. Surgia assim este admirável CD.

Com um repertório de 12 músicas maravilhosas, escritas sozinho ou com os parceiros Carlos Costa, Aroldo Medeiros, Ed Wilson, Lysias Ênio e Nelson Wellington, Fred deixou seu lado músico de lado e montou um time do tipo seleção, integrado por Jorge Helder (baixo), Lula Galvão (violão e guitarra), Rafael Barata (bateria) e João Carlos Coutinho (produção musical, arranjos, piano e acordeom), concentrando-se na direção artística e seleção/composição do repertório.

Com essa escalação e esse material, a probabilidade de termos em mãos um projeto impecável era imensa, e se concretizou sem maiores temores. As músicas viajam por variações bacanas da bossa nova, indo desde temas mais rítmicos como outros mais introspectivos e líricos, com os músicos demonstrando um swing e entrosamento de dar gosto, aproveitando alguns instantes para improvisos deliciosos, sem nunca deixar as composições em segundo plano.

E temos, obviamente, a estrela da companhia, Leny Andrade, esbanjando emoção, técnica e bom gosto em cada interpretação. No auge de seus 75 anos, soa como se fosse uma jovem com fome de bola, e ao mesmo tempo relaxada e tranquila, oferecendo às belas composições de Fred Falcão vida plena e vigorosa. Ela, vamos combinar, incorporou cada uma delas. Que beleza sem fim!

Difícil destacar só uma ou duas das músicas do CD, mas para não ficar em cima do muro, vamos de O Amor Pegou na Veia, Alô Donato, Tons de Ipanema e a faixa-título. E não nos esqueçamos das letras, que abordam as várias fases do amor e também mergulham nas lembranças e referências da Bossa Nova com sensibilidade e charme. Leny Andrade Canta Fred Falcão- Bossa Nossa é um disco que já surge clássico, um bálsamo para a alma em tempos tão conturbados como os atuais.

Bossa Nossa– Leny Andrade:

Glau Piva lança álbum com as músicas de Caetano Júnior

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Por Fabian Chacur

O escritor, compositor e pianista Caetano Júnior escolheu uma forma bastante peculiar de desenvolver a sua carreira musical. Ao invés de interpretar ele próprio as suas canções, faz parcerias com cantoras, que se incumbem dessa missão. O primeiro álbum nesse formato teve Larissa Cavalcanti no papel de intérprete, Pele Morena e Azul- Larissa Cavalcanti Canta Caetano Júnior (2015- leia entrevista com ela aqui). O segundo acaba de sair: Novo Rumo- Glau Piva Canta Caetano Júnior, com distribuição da Tratore.

O cenário sonoro, desta vez, soa um pouco diferente. No CD anterior, o repertório tinha como base a MPB, especialmente samba e música nordestina. Como a cantora, compositora e musicista paulista Glau Piva, envereda por um lado mais pop-rock com tempero MPB, sendo Novo Rumo um título bem apropriado. Com sete trabalhos anteriores, nos quais também explorou seu lado compositora, a artista desta vez dedicou-se exclusivamente a suas facetas de cantora e musicista.

Mais uma vez a produção ficou a cargo do talentoso e experiente Alexandre Fontanetti, conhecido por seu trabalho com Rita Lee e inúmeros outros artistas e que também se incumbe de tocar guitarra, da mixagem e da engenharia de gravação. No elenco, músicos do porte de Thadeu Romano, Ubaldo Versolato, Gerson Tatini e o genial Mario Manga (do Premê), este último responsável por dois belíssimos arranjos de cordas. Glau toca violão, cavaquinho e guitarra, enquanto Caetano se incumbe de piano acústico e teclados.

O repertório de 13 composições de Caetano Júnior envereda por um pop-rock bem próximo da MPB, com direito a letras líricas e românticas, melodias delicadas e boas variações rítmicas. O clima ora soa como o dos tempos iniciais do rock brasileiro, ora como do pop-rock dos anos 80 em sua vertente baixos teores. Com voz suave e bem colocada, Glau se incumbe com eficiência da função de “porta-voz” do compositor, especialmente em faixas como Novo Dia, Nuvem Branca, Serenata e Entre Meias Palavras, Soluços. Uma boa parceria. E fica a curiosidade para saber como será o próximo trabalho deste inquieto Caetano Júnior.

Saiba mais sobre o álbum Novo Rumo, de Glau Piva e Caetano Junior:

Luiz Melodia: o adeus a esse mestre inclassificável da MPB

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Por Fabian Chacur

Que tipo de música fazia Luiz Melodia? MPB? Samba? Blues? Jazz? Soul? Rock? Ou na verdade uma mistura inclassificável desses e de outros gêneros musicais? Boa pergunta. Mas em um ponto todos concordamos: o cara era dono de um swing genial. Esse grande talento infelizmente nos deixou na madrugada desta sexta(4), aos 66 anos, após lutar contra um câncer na medula óssea. E eu tive a honra de presenciar seu último show, realizado na cidade de Jaú (SP). Leia a resenha aqui .

Nascido no Rio de Janeiro em 7 de janeiro de 1951, Luiz Carlos dos Santos (seu nome de batismo) é cria do Morro do Estácio. Desde o começo, seu samba se mostrava diferente, embora sempre baseado nos grandes nomes da história desse gênero musical. Ele se tornou conhecido inicialmente como compositor, ao ter sua Pérola Negra gravada por Gal Costa. Em 1973, gravou o primeiro álbum, intitulado também Pérola Negra e muito elogiado pela crítica especializada

O sucesso de fato veio em 1975, quando sua música Ébano foi finalista e teve destaque no Festival Abertura, promovido pela Rede Globo. Logo a seguir, Juventude Transviada, faixa de seu segundo álbum, o genial Maravilhas Contemporâneas (1976), foi incluída com destaque na trilha da novela global Pecado Capital, e a repercussão lhe valeu um estouro de proporções nacionais.

Sem se deixar contaminar pelo vírus negativo que às vezes o sucesso incute nos artistas, Melodia desenvolveu uma obra consistente e sólida, na qual unia ótimas composições próprias a releituras personalizadas de músicas alheias, entre as quais Negro Gato (Getúlio Cortes), hit de Roberto Carlos nos tempos da Jovem Guarda que o swingado carioca tomou para si com uma personalidade tal que muitos pensam que essa canção é de autoria dele.

Após uma década de 1980 na qual ficou mais distante da mídia, embora lançando bons trabalhos, ele voltou às paradas de sucesso em 1991 ao regravar com personalidade Codinome Beija-Flor, de Cazuza, outra canção que entrou em trilha de novela global,O Dono do Mundo. A partir daí, atraiu as atenções das novas gerações e gravou até CD/DVD em parceria com a MTV. E seus shows continuaram irresistíveis.

Após fazer o show em Jaú (SP) em julho, que ele encarou mesmo já demonstrando não estar tão bem, Luiz Melodia passou por exames e descobriu o câncer de medula óssea que o afastou de cena. Em março, ele fez um transplante de medula, que infelizmente não atingiu o objetivo esperado. Se ele sai de cena em termos físicos, a herança musical que nos deixa é de valor incalculável e será cultuada enquanto houver gente com bom gosto musical na face da terra.

Juventude Transviada– Luiz Melodia:

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