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Por Fabian Chacur

Como todo estilo musical que se preze, o rock and roll teve vários pais, e não surgiu da noite para o dia. Quando o single Rock Around The Clock, de Bill Haley And His Comets, atingiu o primeiro lugar na parada americana em julho de 1955, fato considerado o marco zero do início do rock and roll, muita água já havia passado por baixo da ponte musical. E um dos caras que ajudou muito na criação desse estilo musical tão amplo e de que tanto gostamos nos deixou neste domingo (23), aos 100 anos de idade. Trata-se do compositor, músico, arranjador, bandleader e produtor americano Dave Bartholomew, que nos deixou um belo legado repleto de grandes canções e gravações inesquecíveis.

Dave Bartholomeu nasceu no dia 24 de dezembro de 1918 em Edgar, Louisiana, e se mudou para New Orleans em 1933. Por lá, iniciou o seu envolvimento com a música, dedicando-se ao trompete. Ele integrou várias bandas de jazz, e, ao servir o exército em plena Segunda Guerra Mundial, uniu o útil ao agradável ao integrar uma banda militar. Com o fim do conflito, voltou à vida civil em 1945 e criou sua própria banda, Dave Bartholomew And The Dew Droppers.

Com ouvido apurado e muito talento, Bartholomew viveu a transição do jazz das big bands que se misturava ao blues e ao emergente rhythm and blues, gerando dessa forma uma nova sonoridade, dançante e energética.

Em 1949, ele foi convidado a ser o A&R (diretor artístico) da gravadora Imperial Records, e foi por lá que iniciou a parceria que o eternizou no panteão do rock com um então jovem e promissor cantor, compositor e pianista, um certo Fats Domino (1928-2017, leia mais sobre ele aqui). Juntos, compuseram The Fat Man, lançada naquele mesmo ano e considerada uma das primeiras canções a ter as características do que depois seria rotulado como rock and roll.

Durante a década de 1950 e início dos anos 1960, a parceria com Domino, cujos discos ele também se incumbiu de produzir, gerou inúmeros clássicos do início do rock, como Ain’t That a Shame (1955), Blue Monday (1954), I’m In Love Again (1956), I’m Walkin’ (1957), I’m Gonna Be a Wheel Someday (1957) e Whole Lotta Loving (1958), só para citar alguns deles.

O estilo swingado e a voz doce de Domino, aliadas aos arranjos e à produção impecável criadas pelo talentoso parceiro Bartholomew, deram a esses discos seu tom de marcos não só do rock, como da boa música como um todo.

As composições da dupla também fizeram sucesso nas regravações de grandes nomes da música. Paul McCartney, por exemplo, que homenageou Domino com Lady Madonna, releu com transparente prazer Ain’t That a Shame (que John Lennon também gravou) e I’m Gonna Be a Wheel Someday. Pat Boone chegou ao número 1 da parada americana com a mesma Ain’t That a Shame.

Sozinho ou com outros parceiros, Bartholomew escreveu outros hits bem bacanas. One Night e Witchcraft, por exemplo, entraram nas paradas de sucesso na voz de ninguém menos do que Elvis Presley. E My Ding-a-Ling, que o próprio Bartholomew gravou em 1952, atingiu o topo da parada americana em 1972 na regravação sacana e irreverente de Chuck Berry.

A partir do final dos anos 1960, Dave Bartholomew deixou as gravadoras e passou a investir em sua banda de jazz no estilo dixieland, com a qual fez vários shows e lançou alguns discos. Ele foi incluído no Rock And Roll Hall Of Fame em 1991. Mais de 12 de suas canções atingiram o Top 10 da parada americana.

A ideia dele era celebrar seus 100 anos de idade com um show em New Orleans no fim de 2018, mas seus planos não se concretizaram devido a uma internação hospitalar, prenúncio de que, infelizmente, seu fim estava próximo. Seu pioneirismo e suas ótimas canções ficam como um dos mais expressivos legados da criação desse tal de rock and roll.

Ain’t That a Shame– Fats Domino: